Ontem, falei sobre o livro, que seria lançado à noite, do Sálvio Dino… “a coluna revolucionária prestes a exilar-se – passagem pelo sul maranhense’. edição da AML, 2016. Como informei que, quando tomei conhecimento da pesquisa, coloquei à disposição material coletado sobre a passagem de um dos batalhões – possivelmente o comandado por Juarez Távora, por Paraibano.  Não recebi resposta. Fiquei curioso se dedicara algumas linhas por essa passagem, e folheando o livro, não vi qualquer menção… Utilizando-se de fontes primárias, construiu sua obra sobre esse fato, suscitado por desafio de seu pai, Nicolau…

Pois bem, vou reproduzir, mais uma vez, o que consta de meu livro, ainda inédito:

A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES POR PARAIBANO

Leopoldo Gil Dulcio Vaz; Delzuite Dantas brito Vaz; Eliza Brito Neves dos Santos – História(s) do/de Paraibano…

[…]  Sabe-se que a “Coluna Prestes”  [1] passou pelo Maranhão. Mas que parte dessa coluna passou pelo Brejo, não se tinha conhecimento até a defesa da Monografia de Graduação de Delzuite Dantas Brito Vaz[2], conforme se vê no depoimento prestado, a época, por Elisa Brito Neves dos Santos. Conta as pagina 149 e seguintes, que sua mãe fala dos “Revoltosos”, a quem estavam sujeito a receber. Seus tios estavam preparados a receber esses andarilhos dessa maneira: escondiam os cavalos, pois quando passavam trocavam os animais, pegando outros descansados. Os moradores escondiam suas montarias…

Um dia, vindos do lado do Riacho do Meio, uma turma de homens a cavalo – fortes, altos, bonitos, na descrição de sua mãe… – chega e são recebidos pelos “Paraibanos”. A avó da depoente, Joaquina Maria das Dores, teria feito comida para eles, pilando o arroz que seria servido.

Chamaram a sua presença a José de Brito Sobrinho (José Paraibano) e mandam apanhar os animais, que seriam trocados pelos deles. José Paraibano cheio de astúcia, de artimanha, saiu com uma parte desses homens pelas matas, a procura dos animais, que ele havia escondido.

Dizia Zé Paraibano que ouviam o barulho dos animais, perto de onde passavam, fazia de conta que não estava ouvindo: “mas eu não sei onde estes animais estão…” e levava aqueles homens pelas brenhas, pelos espinhos. Aquele matagal, sem estrada, sem nada; levava pelos piores caminhos. E os Revoltosos, já cansados e todos cheios de espinhos, disseram: “Não, vamos para casa, a gente não encontra esses animais, vamos para casa…”. E voltaram e assim conseguiram se livrar dos Revoltosos sem dar seus animais.

Para Elisa, era a parte chefiada pelo Juarez Távora[3], que passou por Brejo do Paraibano, em direção a Colinas[4], pela época dos festejos de Nossa Senhora da Consolação, a oito de dezembro. O que é confirmado por Pinheiro (2005), quando relata a passagem da Coluna entre Pastos Bons e Colinas, porém não faz referencia ao Brejo[5]. Aí, a Coluna se instalou, passou vários dias; depois Juarez foi preso, já em Teresina-PI.  

Na passagem pelo Maranhão a Coluna se dividiu em três. Segundo Prestes:
Foi uma verdadeira divisão estratégica. Uma parte da Coluna ficou comigo e tomamos a direção do rio Balsas, […]. Uma segunda coluna, comandada por Siqueira Campos para marchar mais ao norte […]. E uma terceira coluna, que era comandada por João Alberto, para marchar mais pelo centro. Mais todas orientadas no sentido do rio Parnaíba.

 Na Matta (Dom Pedro), Manoel Bernardino – o Lênin do Sertão – se preparava para integrar o destacamento de João Alberto e, no dia 06 de novembro de 1925 invadiu, Curador com 65 homens armados de rifle e usando todos como distintivo uma fita vermelha. Bernardino tratou todos com cortesia e solicitou de alguns comerciantes contribuição para as suas tropas. Não obtendo o resultado esperado, saiu da cidade no dia 08 (nov.) e retornou no mesmo dia à meia-noite, desta vez mais agressivo, invadiu as casas de alguns comerciantes e saqueou as mercadorias, distribuindo à população pobre o que não poderia ser levado.

Pois bem, outro trecho que coletamos – o livro sobre Paraibano deve sair no próximo ano… ainda trás outro trecho da passagem da Coluna pela região:

 

A Coluna Prestes e o cavalo marchador de Sêo Sales

por Djalma Britto in http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=855

 

 Em 1926, lá estão Sêo Sales e Dona Lili, na fazenda Serra Negra, preocupados com a possibilidade de virem a ser surpreendidos pela tal Coluna, pois, segundo ouviram dizer, para manter a tropa, os líderes ou responsáveis requisitavam mercadorias, bens, animais e tudo o mais necessário, com a promessa de serem ressarcidos tão logo fossem vitoriosos em sua intentada.

 

[…] Para não serem pegos de surpresa, Sales e Lili trataram de esconder as mercadorias que possuíam em estoque e reduzir a quantidade dos gêneros nas prateleiras da loja.

 

[…] É nesse cenário que entra em cena, para espanto de todos, o Cornélio, intitulando-se emissário e negociador da Coluna.

 

[…] Deve-se esclarecer que o tal emissário era filho do “Velho Bodô”, vaqueiro da fazenda Serra Negra e homem de confiança de Sêo Sales. Dona Lili, que conhecia o Cornélio, desde que ele nasceu, pois nascera em Serra Negra, costumava passar-lhe “pitos”, ficou desconfiada e tentou demover o marido de sua credulidade.

 

[…] Coincidência é que os “revoltosos” – termo que Dona Lili se referia aos integrantes da Coluna Prestes – estavam, realmente, próximos à fazenda, distante cerca de quarenta quilômetros de Colinas, antigo Picos do Maranhão.

[…] Não tardou e os “revoltosos” chegam a Serra Negra e, como primeira providência de um dos oficiais, foi solicitar a Sêo Sales que lhe mostrasse a casa, alegando, naturalmente, que queria determinar a acomodação do pessoal que o acompanhava.

 

[…] como nada foi encontrado no local onde se afirmava ter mercadoria escondida, o clima ficou menos tenso. O oficial a que nos referimos era o Juarez Távora. Foi então servida alimentação à tropa que se arranchou como pode nas acomodações da enorme casa centenária. Maneiroso, o oficial Juarez Távora disse a Sêo Sales que tinha conhecimento de que era possuidor de um cavalo de boa qualidade, marchador e famoso e que estava requisitando o animal, que seria devolvido posteriormente. Realmente, o tal cavalo era mesmo muito bom. Servia de montaria preferida para o meu avô. Sem titubear, Sêo Sales aquiesceu e disse ao oficial que poderia utilizar o animal, se o localizasse. Começou, então, a caça ao cobiçado cavalo. Alguns soldados foram escolhidos para empreender a procura.Retornaram, horas depois, com algumas montarias, mas não exatamente o cavalo de sela do Sêo Sales.

 

[…] Assim foi a passagem da Coluna Prestes pela fazenda Serra Negra. Anos mais tarde, Juarez Távora veio a São Luís. Meu avô era deputado estadual e recebeu a sua visita. Entre amenidades, o oficial Távora dissera a meu avô que o culpado por ele ter sido preso teria sido ele.

 

Explicou: se o senhor tivesse me cedido o tal cavalo marchador, jamais teriam me surpreendido. Chamava-se Cornélio. Jamais o conhecemos. Era um irmão do pai velho que se juntou à Coluna Prestes e jamais deu notícia à família.

 

Dona Lili conta que Cornélio não permitiu que a Fazenda Serra Negra fosse ‘invadida’ pela Coluna e nem que o comércio da fazenda fosse saqueado. Era assim, com esse palavreado: ‘invasão’ e ‘saque’ que ela se referia à Coluna Prestes.

 

Mas que Cornélio foi à sede da Serra Negra para dizer a ela e ao seu Sales que a Coluna não mexeria na Serra Negra. O meu avô falava pouco sobre ao assunto, só que o seu irmão Cornélio tornou-se um seguidor do capitão Prestes e ‘caiu nesse mundão de meu Deus’ e nunca mais deu notícias à família.

 

[1] Movimento ocorrido entre os anos de 1925 e 1927, encabeçado por líderes tenentistas que empreenderam grandes jornadas para o interior do país, procurando fazer insurgir o povo contra o regime oligárquico vigente durante a presidência de Artur Bernardes, ainda no período da República Velha. A Coluna Prestes ainda pregava ao povo a necessidade da destituição do presidente e a imediata reformulação econômica e social do país, pregando a nacionalização das empresas estrangeiras fixadas no Brasil e o aumento de salários de trabalhadores em todos os setores rurais e industriais. Em suas jornadas, que se estenderam em uma distância de por volta de 25.000 quilômetros, a Coluna Prestes foi perseguida pelas forças orientadas pelo governo, formada tanto por militares e policiais estaduais quanto por jagunços contratados, estes últimos incentivados pelas promessas de anistia aos seus crimes cometidos. Não tendo sofrido sequer uma derrota significativa nas guerrilhas contra o governo ao longo de suas incursões pelo interior do país, que se estenderam por cerca de 29 meses, a Coluna é contada pelos estrategistas militares do próprio Pentágono como uma das mais prodigiosas façanhas militares da história das batalhas de guerrilha. A Coluna Prestes foi formada por militares envolvidos em dois movimentos rebeldes anteriormente ocorridos no país: no Rio Grande do Sul, os rebeldes provenientes de uma insurreição foram derrotados inicialmente pelo governo, mas conseguiram escapar; em São Paulo, os rebeldes que haviam ocupado a cidade por 22 dias não tiveram outra escolha senão organizar uma retirada, tendo em vista os bombardeios aéreos desferidos sobre a capital paulista. Ambos os grupos rebeldes encontraram-se em suas rotas de retirada, no Estado do Paraná: os paulistas eram então liderados pelo General Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, além dos tenentes Eduardo Gomes, Juarez Távora e Joaquim Távora: os gaúchos eram então liderados Siqueira Campos, João Alberto e Luís Carlos Prestes. Todos passaram a fazer parte das lideranças da Coluna, com exceção do General Isidoro Dias Lopes que, já idoso, acabou por pedir asilo político à Argentina. O comando dos 1.500 homens reunidos deveria ser unificado: o comando militar é exercido por Miguel Costa, sendo Luís Carlos Prestes o chefe do Estado-maior. A Coluna, além de seu caráter militarista, passa a configurar um programa de reformas, que é divulgado aos povoados com os quais o movimento entrou em contato em suas jornadas. Apesar de sua invencibilidade frente às tropas do governo, a Coluna não chegou a atingir seus objetivos de provocar a rebelião popular generalizada no interior do país: o povo temia grandemente possíveis represálias do governo. Desta forma, a coluna não conseguiu derrubar o governo vigente. Porém, os tenentistas que da Coluna participaram decisivamente no quadro político do período da Revolução de 30 e, no caso de Prestes, na Intentona Comunista de 1935. Ao fim das jornadas da Coluna pelos interiores do país, muitos membros remanescentes ainda prosseguiram sua luta contra os regimes oligárquicos na Bolívia e no Paraguai. DISPONÍVEL EM http://www.algosobre.com.br/historia/coluna-prestes.html acessado em 28/01/2009.

[2] VAZ, 1990, obra citada.

[3] JUAREZ DO NASCIMENTO FERNANDES TÁVORA (Jaguaribemirim, 14 de janeiro de 1898 — Rio de Janeiro, 18 de julho de 1975) foi um militar e político brasileiro. Participou do levante militar ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em cinco de julho de 1922. Preso e condenado desertou do Exército e participou da rebelião paulista de julho de 1924. Seguiu com a Coluna Prestes, e participou da Revolução de 1930. Após esta levar Getúlio Vargas ao poder, Távora, ainda como capitão, se tornou ministro da Agricultura. Como coronel, na década de 1940, foi adido militar no Chile. Candidatou-se à presidência da república em 1955 pela UDN, mas foi derrotado por Juscelino Kubitschek. Defendia a posição que ficou conhecida como entreguista em relação à exploração de petróleo no Brasil, tendo sido o principal líder dos que se opunham à criação da Petrobras. Foi ministro dos Transportes nos governos de Getúlio Vargas, de quatro a cinco de novembro de 1930, e de Castelo Branco, de 15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967.

[4] BARROSO, Haroldo Gomes; SOUSA, Antônio de Pádua. Áreas Potenciais Para A Aqüicultura Sustentável Na Bacia Do Rio Itapecuru: Bases Para O Planejamento Com Uso Do Sistema De Informação Geográfica. Rev. Bras. Enga. Pesca 2(1), jan. 2007

[5] PINHEIRO, Raimundo Nonato. A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO. São Luis: UEMA/CECEM, 2005. Monografia de Especialização em Historia do Maranhão.r

A “REVOLUÇÃO DA MATTA”: SOCIALISMO E FUZILAMENTOS NO INTERIOR DO MARANHÃO – 1921 AUTOR: Giniomar Ferreira Almeida “Monografia apresentada ao curso de História da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA para obtenção do grau de Licenciatura Plena em História. 2003

 

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