ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE INFÂNCIA E DEFICIÊNCIA
Antonio João Menescal Conde.
a.menescal@globo.com
Sem pretender aprofundar um tema tão amplo e que tem merecido estudos e pesquisas acadêmicas, eu gostaria de conversar com os leitores sobre infância e deficiência.
Abrangendo três perspectivas: crianças com deficiência, crianças que têm país ou irmãos com deficiência e a relação de crianças com pessoas com deficiências, espero levantar questões que possam servir como reflexão sobre as diversas nunces envolvidas.
A DEFICIÊNCIA VISTA SEM PRECONCEITOS E ESTIGMAS
Por que você anda nessa cadeira?
Você não enxerga?
O que houve com a sua perna?
A curiosidade e a naturalidade infantis fazem com que as crianças normalmente se dirijam às pessoas com alguma deficiência sem constrangimentos e com perguntas diretas e sem qualquer melindre.
Em algumas situações, essas conversas são cortadas pelos pais: “Não incomoda o moço, meu filho!” “Marquinhos, venha para cá!”, ” O senhor me desculpe, esse menino fala demais”
.
Mesmo sabendo que essas reações dos pais possam se dar sem ter no preconceito a sua motivação, por virem geralmente seguidas de repreensões, começam a incutir nas crianças conceitos de diferenciações e atitudes de distanciamento.
Logicamente, essas reações dos pais não constituem uma regra geral, mas elas são comuns e pessoas com deficiência, seus familiares, amigos e técnicos que atuam na área já se defrontaram com diversas situações similares.
A insegurança, a falta de informações e o desconforto de lidar com as diferenças humanas fazem com que esses pais, mesmo sem ter esse objetivo, comecem a incutir preconceitos e estigmas nessas novas mentes.
Ninguém, contudo, é culpado por seus preconceitos. Para superá-los, a arma é a informação. Aliás, a informação é a grande arma nessa Luta.
A CONSCIÊNCIA DA DEFICIÊNCIA EM CASA
Minha mãe e o meu pai são cegos.
Meu irmão é surdo e eu brinco muito com ele.
As crianças que têm pais ou irmãos deficientes desde muito cedo aprendem a conviver de uma maneira muito adequada com a deficiência.
Longe de estigmas e de preconceitos, conhecendo a realidade daquela determinada deficiência, essas crianças têm a perfeita noção da igualdade com respeito às diferenças. Ao mesmo tempo que reconhecem as limitações, atuam, filhos e irmãos, como companheiros e partícipes do processo familiar.
A deficiência faz parte do seu dia-a-dia e isso os torna parceiros nas interações, agentes da igualdade e força nas lutas. Essas crianças desempenham, em suas famílias, um papel importante para os seus pais ou para os seus irmãos deficientes.
Ao mesmo tempo, levam por toda a vida conceitos adequados sobre as deficiências, com potencialidade para atuarem como multiplicadores de informações e formadores de opiniões.
EU SOU CRIANÇA E DEFICIENTE
Eu nasci e sou deficiente.
Eu me sinto incluído em casa, na escola e com os meus amiguinhos. Por favor, não me excluam. Eu quero brincar, quero estudar e, principalmente, quero estar com vocês!
As crianças que nascem com uma deficiência, ou àquelas que a adquirem ainda na infância, têm de ser percebidas por suas famílias e por seus professores como crianças e como crianças com uma deficiência, exatamente nessa ordem.
Não deixar de considerar tudo aquilo que a infância e aquela determinada deficiência trazem é a estratégia básica, exatamente nessa ordem. Compreender a deficiência, perceber as limitações e, principalmente, não deixar de considerar e dar funções às potencialidades, dando oportunidades aos interesses infantis e às iniciativas do fazer e do ser capaz.
O brincar é próprio de crianças. A criança com deficiência gosta de brincar. A brincadeira faz parte do seu desenvolvimento afetivo, social, cognitivo e motor. O prazer e a alegria do brincar têm de ser oferecidos à opção da criança com deficiência.
Na escola, brincando a criança aprende, forma conceitos, adquire posturas atitudinais e se desenvolve. Brincando, a interação plena é viabilizada através da ludicidade, do prazer e da alegria.
O estar junto, o participar das brincadeiras com outras crianças é uma das primeiras de muitas interações sociais da vida. Uma limitação de origem externa nesse campo pode atuar como um fator inibidor de um adequado convívio social na adolescência e na idade adulta.
Crianças são muito diretas, autênticas. É fácil perceber os seus sentimentos e interesses. Gente grande é que é muito complicada.
Comentários
Nenhum comentário realizado até o momentoPara comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.