Acostumado com a minha Remington e com o teclado do teletipo que encontrei e me adaptei trabalhando na Western (The Western Telegraph Co. Ltd.), mudei para o Rio de Janeiro para correr o mundo e sair da sombra da saia da minha mãe. Naquele momento, o mundo me parecia ter outro desenho, outro formato, mais espaço entre as pessoas, e uma violência urbana que, de tão pequena, parecia inexistir.
E, olhem, estávamos a “poucos metros” do dia 31 de março de 1964.
Maníaco por leitura, por Jorge Amado, Machado de Assis, Agatha Christie, Graciliano Ramos, passei a comprar livros em todas feiras de livros do Rio de Janeiro e de São Paulo – nunca perdi uma bienal enquanto residi no Rio de Janeiro – haja vista que apenas seis horinhas nos separavam da Cidade Maravilhosa para o Terminal do Tietê e, dali para a bienal.
No Rio, os domingos – depois que conhecemos a cidade “de cabo a rabo” – eram dedicados à leitura. Jornais eram os preferidos. Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, O Globo, Correio Braziliense, Correio da Manhã, O Dia, Gazeta Esportiva e Jornal dos Sports. Dava tempo de ler tudo, sim! Mas, O Estado de São Paulo tomava mais de 60% do tempo de leitura – pela quantidade de páginas.
De noite – ainda solteiro – dava tempo ir ao cinema e ao teatro. Lembro que, sócio de uma promotora de teatro que distribuía ingressos como bônus, ou com abatimento do valor real, assistimos por 30 dias seguidos, no Teatro João Caetano, o musical “Evita” – uma obra prima do gênero.
A segunda-feira, na volta para casa, a noite pertencia às revistas Manchete, Veja e outras.
Ler é bom. Ler informa e atualiza.
A vida sem leitura é um mundo repleto de escuridão que nos obriga a seguir o caminho apontado por outros – que nunca nos dão o direito de escolha.
Muitos lugares, conheci lendo. Viajei muito, lendo. Aprendi muito, lendo. Ler é como uma medicação da Homeopatia – cura em gotas e em pequenas doses. Mas, leia lendo. Não apenas para dizer aos outros que está lendo – lembre-se: colocar o livro debaixo do sovaco não garante leitura nenhuma.
E, é mais que verdadeiro o dito popular: quem não lê, pouco sabe, pouco ouve e pouco vê.
Neste último e longo parágrafo deste texto, rendo homenagem ao Jornal O Imparcial pela felicidade que teve ao implantar, manter e desenvolver o projeto “Leitor do futuro”, exatamente na contramão do modernismo tecnológico que ameaça fortemente a sobrevivência da leitura dos impressos. Não faz tanto tempo assim, o Jornal do Brasil “desapareceu” do pódio dos jornais impressos, e aderiu ao mundo “on line” – é a tendência. E, nessa hora que o desaparecimento nos ameaça, o jornal O Imparcial empunha armas e defende o seu terreno, tentando despertar o gosto em novos leitores. Realiza concurso literário e promete premiação aos vencedores, exatamente num momento em que o governo Estadual e o governo Municipal do Maranhão olvidam e desdenham essa necessidade.
Obrigado “O Imparcial”. Alguém precisava ser Don Quixote nessa empreitada.
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