Animal à solta

O mostrengo anda por aí, exibe-se à-vontade, ufano e impune.

 

Depreda os bancos, aldraba os cidadãos na política e nos órgãos de comunicação social, faz leis em seu proveito, assalta e rouba as pessoas de bem, atira-as para o desemprego e a precariedade, decreta medidas de austeridade, corta salários e pensões, destrói direitos e princípios, morde e assassina esperanças e sonhos, semeia angústias e ansiedades, insulta nas filas do trânsito, grunhe nos programas da televisão, medra até dentro da universidade.

 

Também vai ao estádio, mas prefere ficar sentado nas bancadas, onde pode dar vazão aos seus impulsos, sem ser perturbado. Quando desce ao relvado e não resiste à tentação de mostrar a sua face grotesca, é sancionado: recebe cartão amarelo e vermelho, é expulso e suspenso.

 

Afinal, o estádio não é lugar de cultivo da animalidade; é, sim, um observatório de severa vigilância, onde se constata que a besta continua feroz, que o limiar de tolerância à violência é insatisfatório, que estamos muito aquém de atingir o índice desejado de sublimação. O estádio diz-nos, pois, que não podemos afrouxar a obrigação de prosseguir o intento de civilizar o calculista, frio e inescrupuloso predador da Humanidade, vivo e pujante no meio de nós.

 

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