Anotações sobre a PUNGA DOS HOMENS, no Tambor de Crioula,por Marco Aur´lio Haickel 0comentário Marco Aurelio Haikel

4 de março às 23:11 ·

Dando continuidade às Breves Anotações sobre a PUNGA DOS HOMENS, no Tambor de Crioula.

2ª Parte

Nas comunidades em que o tambor é praticado por ambos os sexos, a punga dos homens ocorre em uma roda que se faz ao lado da roda das mulheres, mas não raro se imbricam e, nesse momento o enlace entre ambos os sexos, a picardia é a regra.
Geralmente a roda dos homens ocorre em um areal, o que não necessariamente acontece com a das mulheres, que pode se dá em um espaço cimentado. Isso, porque entre os homens as derrubadas, com o avançar das horas se tornam mais intensas e frequentes, daí a preferência pelo areal.
Quanto mais rural a localidade em que a Punga dos Homens é praticada, mais vigorosa é, contudo, o bom humor e a alegria são características dos baiadores.
Há lugares, como Arari, Anajatuba, entre outros, que somente homens brincam Tambor: tocam, cantam e pungam. Ao se observar quão rudimentar é a prática em tais localidades dá para entender a razão pela qual mulheres não praticam, vez que os movimentos são bruscos e as derrubadas corriqueiras, algumas vezes, não sem escaramuças, mas sempre predominando o lúdico e a brincadeira.
Aliás, tais aspectos amenizam o jogo de luta, tendo em vista que choque e vigor são usuais. A respeito, vale ressaltar uma observação de Tadeu De Obatalá, músico, militante do Movimento Negro, amigo de infância e conterrâneo de Pindaré-Mirim. Disse-me certa vez, que o seu avô, quando saia para festas de Tambor de Crioula, sua esposa – avó de Tadeu – sempre reclamava dizendo que era o mesmo ir a tais festas, para no dia seguinte reclamar de dores nos joelhos.
Nesse viés, também, certa feita, em uma das vezes em que fui ao tradicional “Tambor da Alma Milagrosa”, em Rosário, um senhor ao perceber meu interesse de entrar na Roda, se aproximou e me disse para ter cuidado, pois o que parecia inofensivo escondia na verdade, golpes violentos que, à maneira como a Punga era desferida podia machucar gravemente. Tais observações traziam consigo informações preciosas, a respeito do aspecto jogo/luta dessa prática.
De uma região para outra é possível perceber diferenças, na aplicação da punga que, assim como a Capoeira possui vários golpes. Há lugares, como já dito, que homens e mulheres praticam juntos, outros, somente mulheres pungam, a exemplo de São Luís e, outros, somente homens.
Ao longo desses anos – desde 1995 – observando e conhecendo um pouco mais da punga dos homens foi interessante notar que, quanto mais próximo às áreas urbanas, mais branda se torna sua aplicação, como é o caso de Alcântara. Ali só se desfere um leve bate coxa, apenas demonstrando possibilidade de ataque, mas sem derrubada.
Em dada região, como a do Munin,em alguns povoados ainda é possível ver a prática da Punga dos Homens realizada com cacetes, os quais servem de apoio e alavanca, para quem na condição de quem a aplica, ou, se de quem a recebe, para amenizar o impacto quando suspenso no ar chega ao chão, amortecendo-o.
De qualquer maneira o uso do cacete é cada vez mais raro, um uso ainda visto entre alguns mais velhos.
Não restam dúvidas de que tais práticas traziam consigo elementos de resistência e luta frente à forte opressão sofrida pelas classes populares, por parte da dominante, e tais aspectos, luta e resistência, causavam apreensão por parte de representantes do Poder Público, que proibiam diversas manifestações da Cultura Popular considerando-as ilegais, com previsão em diplomas legais, a exemplo do Código de Posturas de Turiaçú, de 1892. (Essa informação acerca do Código de Posturas de Turiaçú foi identificada e fornecida pela pesquisadora, historiadora e escritora, Mundinha Araújo)

 

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