AO MEU MESTRE SEBASTIÃO: TAPERA-EVIRE NÃO!!! EUSSAUAP é o correto!!!

Meu querido Mestre Sebastião, tenho em mãos, de Luiz F. F. Tavares o belissimo “A ILHA E O TEMPO – séculos e vidas de São Luis do Maranhão 1612 – 2012“, premio IV Centenário de São Luis, do Instituto Geia. Publicado em 2012.

Deparo-me, às páginas 35-36 com um erro do autor, que esperava não haver, dada a erudição e conhecimento da História do Maranhão da Comissão encarregada de avaliar as obras enviadas…

Mas está lá: “Mas nem tudo ocorrera perfeitamente bem. Na aldeia de Tapera-evire, um indio já centenário, Momboré-Uaçu, criaria um impasse aos franceses […].

Meu Mestre: esse episódio foi em Uçaguaba – antes, Miganville; depois Aldeia da Doutrina; e hoje conhecida como Vila de Vinhais, a Velha…

VEJAMOS:

Fundada a França Equinocial, a 8 de setembro de 1612, saíram a visitar a Ilha os lugares-tenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan.

As aldeias do Maranhão tinha até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a 500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro. Relata o padre Abbeville (1975): “levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho”.

O Padre Claude D’Abbeville foi quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes. Pela sua descrição, a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais foi o primeiro núcleo residencial dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. No Forte – a hoje cidade de São Luís – ficava apenas uma guarnição de oito soldados, a vigiar. Os demais, habitavam as aldeias então existentes. A primeira a ser ocupada, foi Eussauap.

Segundo Capistrano de ABREU , “EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP.

Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. (D’ ABEVILLE, 1975).

Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; 1 possuía três. Eussauap possuía quatro, sendo uma das maiores aldeias da ilha e nela existiam quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiaçu e Tapire-Evire”. – Junipar, a aldeia principal da ilha, contava com cinco principais.

É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que 4 a 6 luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí – padres – plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o Sr. de Sancy e D’ Abbeville a sua visitação.

Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado. Além da capela construíram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa.

A Eussauap de D’ Abbeville (1612) é chamada de Uçagoaba pelos padres Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615) e, a partir de 1622, recebe o nome de Aldeia da Doutrina dos padres Luís Figueira e Benedito Amodei. Em 1º. de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista dos Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757.

 

Mas vamos a outro trecho, de outro artigo que escrevi, sobre esse assunto – afinal tem anos que pesquiso a História do bairro onde moro, e venho publicando esses escritos, em vários meios, dedicados à História, especialmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão:

Vamos nos concentrar em Vinhais e em São Luis. É sabido que onde se localiza a hoje Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho, como queiram – havia um grande aldeamento indígena, quando da chegada dos franceses, Tupinambá. Era conhecida como Uçaguaba: “EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba,   que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107)[1].

Uçaguaba recebe a partir de 1594 o navegador Frances Jacques Riffault, estabalecendo ali uma feitoria: MiganVille. Jacques Riffault, personagem constante em nossa história, contava com o auxilio de seus compatriotas Charles D’Estenou – Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine, e de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado. Ambos haviam conquistado a amizade dos silvícolas, e tinham o domínio da língua nativa.

Vamos encontrar Jacques Riffault na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado “Tapuitapera” (“casa dos Tapuias”) à época de sua chegada. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos, esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612).

Dentre outros franceses, frequentava a Ilha Grande o Capitão Guérard, que em 1596 armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – o Poste chegou ao Camocim – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil.

Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto. Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: “Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai […] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade.

Segundo o sócio do IHGM Antonio Noberto, é confirma a presença de franceses pelo Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608): “Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q’ viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q’ tinhão vindo do maranhão q’ la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão”.

Em 1607 – ou 1609 – Carlos Des-Vaux retorna à França cansado de esperar por Riffault, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as “terras” de Riffault: “[…] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento […] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”.

[…]

O historiador Antonio Noberto continua: Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia)”.

Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um pseudônimo, no entender de Pianzola: “[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[…].(NOBERTO SILVA, 2011).

Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34

Continuemos com Noberto Silva (2011): “[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan”.

Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.

 

Vejamos outro artigo, também publicado:

[…]

O Vinhais Velho de hoje já recebeu diversas denominações: Uçaguaba, MiganVille, Sítio de “Monsier Pineau”; Aldeia da Doutrina, São João dos Poções, Vila Nova de Vinhais; já foi habitada por índios e por europeus; e sua História tem já mais de 400 anos: sua ocupação por europeus precede à fundação de São Luís.

A ideia, da Comissão dos 400 anos da Igreja de São João Batista, é contar essa História em sete passos, informações relevantes sobre a constituição dessa Comunidade.

 

 

PASSO 1 – ESTA TERRA TINHA DONO: OS TREMEMBÉ E DEPOIS OS

                   TUPINAMBÁ – OS PRIMITIVOS HABITANTES

 

O Maranhão é território de uma rica história de intercâmbio e conflítos entre os povos indígenas nativos e europeus – franceses, holandeses, ingleses, espanhóis e portugueses.

No século XVII, a populaçõa indígena do Maranhão era formada por aproximadamente 250.000 pessoas, pertencente a cerca de 30 etnias, a maioria delas, hoje, não existindo mais. Antes dos Tupinambás, os Tremembé, havendo indícios de ocupação pelo menos de seis a nove mil anos.

Os Tremembé, originalmente nômades, viviam num território que se estendia nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya.

Os primitivos habitantes da Ilha Grande – Upaon-Açú – foram, primeiro, os TREMEMBÉ e depois os TUPINAMBÁ; esses habitavam a Aldeia de Uçaguaba.

 

PASSO 2 – UÇAGUABA

Servimo-nos de Claude d´Abbeville para identificar UÇAGUABA. Diz aquele missionário capuchinho que aqui chegando a ‘missão’ de LaRavardiére, os franceses atravessam o braço de mar, indo se fixar em um promontório onde, a 12 de agosto, uma sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia.

Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha:

“(…) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (…)”. (D’ABBEVILLE, 1975, p. 114) . (grifos nossos).

Capistrano de ABREU esclarece que:

EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba,   que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107).

Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro –

“… é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire”.

É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho “… de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu …” e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco, 80 anos antes (cerca de 1835).

Mas Uçaguaba – como vimos significando como “TERRA ONDE SE COME CARANGUEIJOS’, segundo nossos primeiros cronistas – D´Abbeville e D´Evreux – desde a última década dos anos 1500 já fora ocupada por europeus, de viersos Estados, e por iniciativa de franceses. Estamos falando de MIGANVILLE

 

Passo 3 – DE MIGAN MIGANVILLE A sítio Pineau – A CHEGADA DOS

                   FRANCESES

Miganville, de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado.

A Vila Velha de Vinhais é o núcleo habitacional mais antigo do Maranhão. Referimo-nos à ocupação por brancos, pois os Tupinambás ocupam aquele espaço há mais tempo, provavelmente desde 80 anos antes da chegada dos Franceses de La Ravardiére. Se estabeleceram aqui entre 1535 1560/70.

Jacques Riffault, personagem constante em nossa história, desde 1594 se estabelecera em Upaon-açu (Ilha de São Luís) com uma feitoria, contando com o auxilio de seus compatriotas Charles D’Estenou – Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine, e de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado. Ambos haviam conquistado a amizade dos silvícolas, e tinham o domínio da língua nativa.

Frequentava a Ilha Grande o Capitão Guérard, que em 1596 armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste, chegou ao Camocim – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo, funcionando desde então uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard.

Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil.

O historiador Antonio Noberto continua: tanto comércio fez com que bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia).

Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola:

“[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville […]”. (NOBERTO SILVA, 2011).

Continuemos com Noberto Silva (2011):

“[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com ‘duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas’. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan”.

Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.

Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos.

 

PASSO 4 – A ALDEIA DA DOUTRINA

 

Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso “haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado”.

Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa.

Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619:

A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco …”. (MORAES, 1987, p.58).

A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990) a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei:

“… Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão … desta primeira, denominada ‘Aldeia da Doutrina'”.(p. 31).

MEIRELES (1964), conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida – a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” – costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida…

Cesar MARQUES (1970), em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais – freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências – ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram:

“… foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina.

“Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’.

“Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. … foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).

 

PASSO 5 – VILA DE VINHAIS

COELHO (1990) em seu “Política indigenista no Maranhão Provincial”, ao analisar “o lugar do índio na legislação: a questão da terra”, afirma que ” a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações” e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a ” elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes”. Cita, dentre outros exemplos, que ” a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais”.

Pois bem, a antiga Aldeia da Doutrina é elevada à categoria de vila em 1o. de agosto de 1757 com a denominação de Vinhais Vila Nova de Vinhais – a nossa hoje Vila Velha de Vinhais.

Era comum darem-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal. Vinhais é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves. A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas.

O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido – já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Durante o consulado pombalino (1755-1777), um ano depois da tentativa de regicídio a D. José, o Marques de Pombal expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias (Setembro 1759), confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autônomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio.

Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757.

No ano de 1779, a Vila de Vinhais contava 630 ‘almas”; a cidade de São Luís, 13.000, a Vila do Paço do Lumiar 808, conforme regidstro na Biblioteca da Ajuda. Notícias de todos os governadores e populações das provincias do Brasil. Documento no. 2001 (54 – v. 12 no. 5).

De acordo com BARBOSA DE GODOIS (1904), o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros;   S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário.

Buscamos uma vez mais em Cesar MARQUES (1970) outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais:

“Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções.[…] [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. […] “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633).

Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário …, César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757:

“Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”.   

“O padre provincial do Carmo, Frei Pedro da Natividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará.

“O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeu que não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado não havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, ficando assim excluída da ordem de Sua Magestade.

“No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade.

“Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais.

“Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias.

“Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633)

 

[1] ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975

 

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