AS CAVALHADAS E O MARANHÃO

 

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

 

Uma amiga escreve-me, via face, de que está em Pirenópolis e ontem se encantou com as cavalhadas…  Disse à ela que  já tivemos cavalhadas em São Luís …

As cavalhadas de Pirenópolis não são realizadas nesta época do ano, são feitas encenações para atender às necessidades do Turismo. Normalmente, acontece durante a Festa do Divino…

A “Festa do Divino Espírito Santo” foi trazida para o Brasil ainda no século XVI. Em Portugal, a “Festa do Divino” aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (1271-1336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer.

O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa). Esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria. Mas sem as cavalhadas…

No processo de colonização do Maranhão a Igreja teve um importante papel, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia. Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente.

Em 1678, o primeiro bispo, D. Gregório de Matos (1679-1689), foi recebido com uma festa foi,… “onde, por oito dias consecutivos houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria.”

As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices. Primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas.

A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile, de que fala um documento da Câmara de Coimbra, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas.

O termo cavalhada refere-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria e se constituíam em atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d’arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall’anello.

As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em abril de 1641, no Recife, embora haja registro de uma encamisada realizada em março daquele ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV.

Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Antonio Lopes, além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha.

A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiqüíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil.

No Mapa Cultural do IBGE, encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida.

Jomar Moraes registrar em seu “Guia de São Luís” que cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial

No Maranhão já as tivemos, as cavalhadas. Aliás, essa é uma frase que se costuma muito ouvir. Já tivemos…

A argolinha é a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 – ou abril -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.

 

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ é Professor de Educação; Mestre em Ciência da Informação; Sócio efetivo do IHGM e membro fundador da Academia Ludovicense de Letras

 

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