Do Blog do Leopoldo Vaz • segunda-feira, 25 de abril de 2016 às 11:10  

ATLAS DO ESPORTE EM BARRA DO CORDA

Leonardo Delgado

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

 

1835 – A cidade de Barra do Corda, fundada em 3 de maio, no porto da Sapucaia, na confluência dos rios Corda e Mearim, por Manoel Rodrigues de Melo Uchoa – cearense nascido em Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção; pai de sete filhos; consta que morreu paupérrimo, em Barra do Corda, no dia 7 de setembro de 1866.  Está localizada no centro geográfico do estado do Maranhão e na confluência dos rios Corda e Mearim, atualmente tem 82 mil habitantes. O primeiro rio possui águas claras e frias, enquanto o segundo tem águas esverdeadas e mornas. A palavra que dá nome ao rio e a cidade vem da quantidade de cipós, que se enrolam nas margens em forma de corda. Já o Mearim se torna totalmente navegável depois da confluência. A economia na cidade é centrada no setor agropastoril, na qual predominam as plantações de arroz. O município costuma surpreender o turista, que se depara com infraestrutura que inclui bancos, hotéis e restaurantes.

         Nomes da cidade: Santa Cruz da Barra do Corda, Barra do Rio das Cordas e Barra do Corda. O nome “Corda” é em razão do rio Corda então conhecido como rio “Capim”.

1839 Lei n° 85/1839, que trata de “um plano de civilização e catequese” através da autorização da implantação de três missões (duas no Alto Mearim e um no Alto Grajaú)

1845 Decreto Imperial n° 426/1845, Cria as diretorias parciais de índios de Barra do Corda, Alpercatas e Foz do Grajaú, as quais concorreram para facilitar a navegação nos rios na área de influência dessas missões e diretorias

1888  fundado ‘O Norte’, primeiro jornal do Norte do país, fundado em 1888, por Dr. Isaac Martins. Funcionou até 1940

1896  fundada a missão indígena de Alto Alergre com o objetivo expresso de “civilizar” as “cidadelas da barbárie” existentes nas matas do centro do Maranhão à 70 km de Barra do Corda, onde se situa o povoado crioli. Estimava-se a existência de 10 mil indígenas habitantes em torno de Alto Alegre.

1901 13 de março – Massacre de Alto Alegre pelos índios Guajajaras:. Guajajára significa “donos do cocar” e Tenetehára, “somos os seres humanos verdadeiros”.

 

À Secretaria Municipal da Juventude, Esporte e Lazer compete o planejamento, coordenação e execução da política municipal de esportes, lazer e de juventude, incumbindo-lhe, ainda: I – fomentar o desporto municipal, através da promoção e apoio a programas, eventos e competições desportivas; II – incentivar a prática do esporte, especialmente entre os jovens e crianças; III – difundir a prática do esporte e do lazer nas comunidades em geral; IV – criar, manter e incentivar a utilização plena dos equipamentos esportivos e áreas de lazer e esporte do Município; V – através da Coordenadoria da Juventude, interagir e articular com órgãos da administração municipal e da sociedade, para incluir nas suas políticas e ações, questões de interesse da juventude. http://aquabarra.com.br/jebc/#

 

Desde 3.000 a.C – as corridas (Atletismo) aparecem no Maranhão anterior ao período colonial, através da Corrida de Toras – pertencente ao grupo de provas de revezamentos – dos Índios Kanelas Finas – pertencente à etnia Jê, presentes por estas terras há pelo menos cinco mil anos. Das famílias lingoculturais, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Kanelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989). Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação deTIMBIRAS“, e se dividem em dois ramos principais, segundo seu habitat – Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas “pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados”, conforme afirma TEODORO SAMPAIO (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando SPIX e MARTIUS (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, “… gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.”. 1946 – NIMUENDAJÚ estuda os Kanelas, e descreve a corrida de toras como sendo uma forma de honrar as almas mortas. 1964 – SCHULTZ segue a interpretação de NIMUENDAJÚ (1946), em suas investigações sobre os Krass, mas enfatiza também o “caráter esportivo”. Os RANKAKOMEKRAS confirmam que a tora seria uma alma dos mortos.  Mas “… a alma do morto (megaro) teria se transformada numa moça e agora se encontraria na palmeira Buriti…”. 1969 – STAHLE, ao estudar os Kanelas, encontrou a corrida de toras como “culto da morte”, pois “… todas as toras são consideradas ‘representantes dos mortos’ e a corrida de toras possibilita uma ‘ressuscitação das toras como forma de garantia da vida para além da morte para os mortos”; estabeleceu que a época  das corridas corresponderia ao início das chuvas. 1984 – JUNG & BRUNS ao analisarem os aspectos rituais das corridas de longa duração em diferentes culturas e épocas afirmam ser “ uma outra forma de corrida religiosa … a chamada corrida do tronco dos índios Jês no Brasil meridional … A corrida podia ser um rito ou também ter caráter profano. Os participantes podiam ser homens, mulheres ou inclusive crianças”. 1989 – DIECKERT & MEHRINGER afirmam que as corridas de toras são realizadas durante os cinco diferentes ciclos festivos “que ocorrem na época das secas, de março a setembro”. as formas de movimento dos índios Canelas se manifestam num contexto de ritual (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b; JUNG & BRUNS, 1984).

Ver Box 1; ver também:

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/06/corrida-de-toras-pratica-dos-guaretis-e-caicaizes-1685-1687/

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2011/02/13/a-corrida-entre-os-indios-canelas/

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/02/23/atlas-do-esporte-no-maranhao-3/

 

1884 – O Colégio Popular, de Issac Martins, oferecia em seu programa aulas de Ginástica, de corridas e de natação, esta realizada no Rio Corda, como se vê desse anuncio no Diário do Maranhão de 7 de março de 1884:

 

 

Ao expor seu programa, Issac Martins informa que para as aulas de ginástica dispunha de amplo pátio para os exercícios de ginástica e ‘correria’ – Atletismo? – e para a natação, as águas puras e cristalinas do Rio Corda. Temos aqui outra informação importante – as aulas de natação, em escola do interior do Estado – Barra do Corda – em uma escola popular:

 

É o seguinte o programa escolar:

 

Entre os colégios, a natação surge facultativamente em setembro de 1861, quando é publicado o Regulamento do Colégio Paraense, em Belém, no qual se prevê que o ensino da dança, desenho, música, ginástica e natação, que não é obrigatório,será feita em aulas com a duração de hora e meia

 

DÉCADA DE 1940  criada a Colônia Agrícola Nacional do Maranhão, em Barra do Corda. Seu administrador, Eliezer Moreira, manda construir escolas em cada um dos núcleos agrícola que contasse com 50 crianças em idade escolar; foram criadas escolas nos núcleos do Naru, Barro Branco, Unha de Gato, Cateté de Cima e Cateté de Baixo, Canafistula, Passagem Rasa, Suja Pé, Seridó, Uchoa, Conduru, Mamui, Centro do Ramos, e outros.

A unidade colonizadora hoje denominada Núcleo Colonial Barra de Corda substituiu a antiga Colônia Agrícola Nacional do Maranhão, criada pelo Decreto-lei n.° 10.325 de 27 de agosto de 1942 e fundada pela extinta Divisão de Terras e Colonização, órgão a que eram afetos os serviços de colonização, antes do INIC. Cumpre aqui esclarecer a diferença que distinguia então uma Colônia Agrícola de um Núcleo Colonial. As Colônias Agrícolas eram regidas pelo Decreto-lei n.° 3.059 de 14 de fevereiro de 1941; já os Núcleos Coloniais obedeciam ao Decreto-lei n.° 2.009 de 9 de fevereiro de 1940. Ora, compulsando os diplomas legais citados, verifica-se prontamente o objetivo de cada modalidade de serviço e os aspectos em que divergiam; assim a Colônia Agrícola, destinava-se a “receber e fixar, como proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos agrícolas e, excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros“. Já o Núcleo Colonial era uma reunião de lotes medidos e demarcados, formando um grupo de pequenas propriedades rurais. No tocante às dimensões dos lotes, as colônias tinham a faculdade de demarcar áreas cem até 50 hectares enquanto que nos Núcleos estas não poderiam ultrapassar 30 hectares. Evidencie-se ainda, que nas Colônias, a terra, a casa e quaisquer benfeitorias eram concedidas gratuitamente, o que não se observava nos Núcleos Colonial (LEONARDO DELGADO)

– Em períodos certos de tempo concentrava na sede do município os alunos das escolas da Colônia para as Olimpíadas Escolares da CANM. O Maestro Moises Araújo era um dos coordenadores do evento. Centenas de crianças e de jovens disputam na velha Praça da Matriz – Praça Melo Uchoa, hoje – jogos de Voleibol, Futebol, Atletismo em suas várias modalidades, e brincadeiras tais como corrida de saco, cabra cega e outras.. A cidade parava para apreciar tais competições. Essas Olimpíadas iniciava-se sempre com um grande desfile das escolas que contava com a ajuda das irmãs capuchinhas (MOREIRA FILHO, 2008, p. 97/98).

1948  Othon Mororó Milhomem  introduz a Punga;  festeiro como ele só, escutou a ideia de Palmério Branco e Ranulfo para se fazer aquela festa que era comum em Codó. Ocorre no período de 1º a 13 de maio (ver BOX 2 –  A punga)

1979 Os Jogos Escolares de Barra do Corda foram criados pela Prefeitura Municipal,  prefeito Sr. Alcione Guimarães Silva, tendo o colégio Nossa Senhora de Fátima, como a primeira escola campeã, dos jogos, onde manteve-se campeã até o ano de 1981, pendendo o titulo para o Centro Educacional Cenecista de Barra do Corda – CNEC.

         – As provas de natação, em Barra do Corda, eram realizadas no Rio Corda, com travessias, geralmente do Porto das Pedrinhas até o Guajajara, percurso de aproximadamente 1.000 m, no período dos Jogos Escolares, agosto ou setembro, promovido pela Prefeitura Municipal.

1999  a Capoeira começou com o Grupo Flecha, cujo Mestre acabara de chegar de Salvador. Este foi à Barra do Corda para fazer um trabalho com os índios (por lá são muitos  das etnias: Canelas e Guajajaras). O trabalho com os indígenas não vingou, mas ele se fixou criando uma academia de Capoeira  “Regional”  na cidade. http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/angoleiros+da+barra

2005 criado pelo professor IRAPURU IRU PEREIRA o Grupo Angoleiros da Barra (GABA), sendo que o mesmo tem como metas principal a valorização da formação ampla do capoeirista e da capoeira. Em dezembro de 2005, na cidade de Barra do Corda (MA), o GAPA realizou um seminário que se propôs debater sobre “a  Educação Física e a prática da Capoeira, buscando instrumentalizar o aprendizado da Capoeira com fundamentos práticos e pedagógicos da Educação Física, sem contudo deixar de ter a clareza de que tais elementos são apenas alguns dos  variados aspectos do rico universo que se constitui a capoeira na atualidade”. Sobre o professor Irapuru, ele atualmente reside em Barra do Corda-MA, trabalha como professor de Educação Física (leigo) da rede pública de Barra do Corda-MA, é Professor de História da Uema/PQD e Professor de História e Sociologia do  Ensino Médio e da Faculdade Evangélica Meio Norte- FAEME.

2006 MARÇO – A natação em piscina de Barra do Corda, tem início, com a implantação da Escola de Natação Aquabarra, nas dependências da Associação Atlética Banco do Brasil.

2009-2012 Graduação da primeira turma de Educação Física

2010 – em 8 de Março é fundado o Cordino Esporte Clube; manda seus jogos no Estádio Leandro Cláudio da Silva. A equipe surgiu da seleção municipal de Barra do Corda, que disputava o “Copão Maranhão do Sul“, torneio intermunicipal da região. Entusiasmados, os dirigentes e a prefeitura resolveram profissionalizar a equipe, pagando todas as taxas junto à FMF e o primeiro torneio que participou foi na Segunda Divisão Maranhense de 2010. Em 2010, conquistou uma vaga para a 1ª divisão do campeonato maranhense e sua principal contratação para o restante do Campeonato Maranhense foi o meio campista Leonardo Lucena. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cordino_Esporte_Clube

2011 Mudanças regulamentares e estruturas nos JEBC, nos anos de 2011 e 2012

2012 – Assinatura do Termo de Adesão do município se comprometendo a participar do JEM’s

– Registro dos professores de educação física no CREF

2013 Implantação da proposta curricular de Educação Física no município

– Primeira turma de Especialização em Treinamento Desportivo

– Apoio financeiro por parte de órgãos governamentais no JEM’s.

–  5 de dezembro – Realizada Mesa redonda pelo IFMA de Barra do Corda para discussão do esporte

– A barra-cordense Nyeme Victória ganhou o Troféu Mirante Esporte na categoria Voleibol

– Leonardo Delgado faz uma análise do esporte e lazer em Barra do Corda, apresentando os seguintes quadros: MODELO DO SISTEMA ESPORTIVO DE BARRA DO CORDA:

 

 

2015  37ª edição dos Jogos Escolares de Barra do Corda (JEBC) realizados de 25 de junho a 3 de julho. O  IF-MA   foi o campeão geral seguido pela escola estadual C. E. Arlindo Ferreira de Lucena, e a Escola Municipal Deusdedith Cortez Vieira (tempo integral) conquistou a terceira colocação.Ao todo, 31 escolas participaram dos JEBC, dentre estabelecimentos de ensino das redes municipal, estadual e particular, além do IFMA, como instituição federal. As competições envolveram 10 modalidades esportivas nas categorias infantil e infanto-juvenil, tanto masculino quanto feminino.

– a barra-cordense Beatriz Alves conquista o troféu Mirante na categoria vôlei: As premiações dos vencedores em 25 modalidades na 10ª edição do Troféu Mirante Esporte foi realizado na noite desta quinta-feira (29), no Teatro Artur Azevedo em São Luis. Os finalistas foram indicados pelas federações e a escolha dos melhores foi feita por meio de votação popular e por jornalistas esportivos. Na categoria vôlei, a barra-cordense Beatriz Alves, 17 anos, estudante na escola Pitágoras em São Luis foi a grande vencedora, ela também disputava o titulo com outras duas atletas do estado que chegaram à final. A melhor de 2013 também foi uma barra-cordense, a Nyeme Victória que ganhou naquele ano o troféu na mesma categoria.

– Prefeitura de Barra do Corda promove a Copa Cidade Almir Neto, com times da sede e zona rural. A competição e organizada pela Secretaria Municipal da Juventude, Esportes e Lazer e pela Liga Esportiva de Barra do Corda.

– Índios Kanela, do município de Barra do Corda, representam o Maranhão nos Jogos Mundiais Indígenas na Amazônia, disputados na cidade de Palmas, capital do Tocantins, no período de 20 de outubro a 1º de novembro.

 

2016  I Simpósio em Educação Física Escolar no Município de Barra do Corda/MA, realização do curso de Extensão Universitária em Educação Física do ISETED, realizado nos dias 22 e 23 de Abril de 2016, com o tema EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR EM BARRA DO CORDA: a Formação do Currículo Base Comum e Parte Diversificada. O objetivo do evento é promover um amplo debate sobre o currículo da Educação Física Escolar em Barra do Corda, incidindo nos processos de construção de sua identidade, dentro de uma abordagem  Sociopolítica /Cultural. Com o lançamento da Base Nacional Comum Curricular (BNC), pelo MEC, cria-se tanto uma nova concepção de currículo, como se traz uma nova concepção de escola. Participantes: Irapuru Iru Pereira Tema: O GABA e a temática Étnico-Racial da Educação Física em Barra do Corda; Tema: Parte diversificada do currículo de Educação Física em Barra do Corda.
Esp. Leonardo de Arruda Delgado; Tema: O currículo da Educação Física no nível superior: Processo de formação de Professores de Educação Física. Me Amanda Ribeiro Miranda; Tema: Base Nacional Comum Curricular Doutorando Luiz Carlos Rodrigues da Silva; Tema: A História da Educação Física, Esportes, e Lazer no Maranhão e sua contribuição no Atlas do Esporte no Brasil. Dr. Leopoldo Gil Dulcio Vaz; Tema: Educação Física na Educação Indígena em Barra do Corda Doutoranda: Marinete Moura da Silva Lobo; Tema: A Avaliação na Educação Física Escolar. Paulo da Trindade Nerys Silva;

 

NATAÇÃO EM BARRA DO CORDA

Leonardo Delgado

http://cev.org.br/biblioteca/natacao-barra-corda/

1884 – Issac Martins, em seu Colégio Popular, oferecia aulas de Ginástica, de Corridas e de Natação, estas realizadas no Rio Corda, conforme de depreende de anúncios de jornais nos anos 1880

ORIGENS – As provas de natação, em Barra do Corda, eram realizadas no Rio Corda, com travessias, geralmente do Porto das Pedrinhas até o Guajajara, percurso de aproximadamente 1.000 m, no período dos Jogos Escolares, agosto ou setembro, promovido pela Prefeitura Municipal.

2006, MARÇO – A natação em piscina de Barra do Corda, tem início, com a implantação da Escola de Natação Aquabarra, nas dependências da Associação Atlética Banco do Brasil.

JUNHO – iniciado o primeiro projeto social, mediante convênio firmado entre Petrobrás e Prefeitura Municipal de Barra do Corda, atendendo 48 crianças carentes da comunidade cordina.

AGOSTO, 26 – realizado o primeiro festival de natação “Leonardo Delgado”, que contou com mais de 60 alunos, sendo essa a primeira competição de natação segunda as regras adotadas internacionalmente. – Durante o ano de 2006, ainda, ocorrem mais dois festivais internos de natação no dia 12 de novembro, e nos dias 16 – 17 de dezembro, na piscina da AABB de Barra do Corda.

2007, MARÇO – AABB-Aquabarra filia-se a Federação Maranhense de Desportos Aquáticos.

ABRIL, 21 – Trabalho conjunto com a Associação de Capoeira Flecha, realizou-se o I Festival Seletivo de Natação e Capoeira, visando definir quais seriam os atletas que iriam representar o município no JEM’s (Jogos Escolares Maranhenses).

JULHO, 7 – a Aquabarra participa da 1° Competição a Nível Maranhense, o Campeonato Maranhense de Inverno, com 11 atletas, conseguindo um total de 22 medalhas, sendo 3 de ouro, 11 de prata, 8 de bronze, e a melhor atleta na categoria Infantil Feminino (Raira Pompeu Sousa).

DEZEMBRO, 6 a 8 – segunda participação da Aquabarra no Campeonato Maranhense de verão, com um número maior de atletas (31), consegue 35 medalhas, sendo 2 de ouro, 9 de prata e 24 de bronze.

2008 – FEVEREIRO, 28 A 01 março – participação no Torneio Inicio de Natação debaixo de muita chuva, conquistamos seis medalhas de ouro, dez de prata e seis bronze, colocando doze atletas entre os melhores do estado do Maranhão.

– MARÇO, 15 – Aquabarra participa do “I Torneio Mirim Petiz e Aberto A e B”, e novamente debaixo de muita chuva a Aquabarra se destaca com a única escola do interior do maranhão a participar do Campeonato Maranhense de Natação. A competição foi realizada com a participação das escolas Mac/Nina, DM Aquatic, Aquabarra e Bom Pastor, na piscina da DM Aquatic, em São Luís. Essa é a primeira competição em piscina curta de nossos atletas, disputada nas categorias Mirim I(8 e 9 anos), Mirim II(9 e 10 anos), Petiz I(10 e 11 anos) e Petiz II(11 e 12 anos), Aberto A (12 a 16 anos) e Aberto B (maiores de 17 anos). A prova mais emocionante foi a de 100m borboleta categoria petiz, onde o atleta Ilsimar Costa Junior (Petiz I), em uma recuperação extraordinária nos últimos metros, chegando em primeiro lugar, disputado com o atleta da escola DM Aquatic, Marcos Aurélio (Petiz II). Dessa forma, Ilsimar se consagrou, como o melhor atleta maranhense petiz, nos nados de borboleta, costa e crawl. Outra atleta destaque foi Monick Milhomem, com apenas 12 anos competiu com meninas em idade 12 a 16 anos, conseguindo o segundo lugar, na prova dos 100m peito.

– ABRIL, 5 – com apenas 3 atletas Ilsimar Costa Junior, Débora Barbosa e Monick Milhomem, a Aquabarra obtém o primeiro grande resultado da escola, na piscina do clube da Alumar, bairro Turú em São Luis. Foram 9 medalhas, sendo 7 de ouro, uma de prata e uma de bronze.

MAIO, 2 e 3 – Na capital do Tocantins-Palmas, com 11 atletas, a AABB-Aquabarra outro feito histórico, para o município de Barra do Corda, fomos consagrados como a 7ª melhor escola da competição ganhamos de escolas dos estados do Amapá, Piauí, Pará, Maranhão e Tocantins. Foram 10 medalhas no total, sendo 1 de ouro, 4 de prata, e 5 de bronze. A competição contou com a participação muito especial do treinador Sérgio Silva, da CBDA, uma das pessoas mais importantes da natação brasileira, que nos prestigiou e de um show, na direção geral da competição. Essa viagem só foi possível graças as pessoas como o empresário e pai José Augusto, o responsável pelo transporte; ao delegado Dr. Afonso pela autorização do transporte dos alunos e pais; ao escrivão de polícia, pela autorização de viagem dos menores; ao secretário de finanças da prefeitura (Pedro Teles); secretária de esporte e cultura (Tâmara Pinto) e a professora Neide Bezerra, pela hospedagem da comitiva de Barra do Corda em Palmas.

– MAIO, 16, 17 e 18 – (sexta-feira, sábado e domingo), a Aquabarra participa pela primeira vez, na piscina olímpica do Complexo Esportivo do Outeiro da Cruz, do XXXV Troféu Kako Caminha de Natação, regiões Norte e Nordeste. A competição, disputada nas categorias Mirim (I e II) e Petiz (I e II) envolveu as equipes da AABB/Recife, BNB Clube/Fortaleza, Clube do Remo/Belém, Náutico-Unimed/Fortaleza, Esporte Clube Cabo Branco/João Pessoa, Hedla Lopes Academia/Fortaleza, Nikita-Sesi Clube Português/Recife, MAC/Nina São Luís, Associação Atlética Kako Nadadores/Manaus, Adesef/Belém, Grêmio CIEF/João Pessoa, Colégio Mendel Vilas/Belém, Tuna Luso/Belém, ASSOPBM/Roraima, Aquabara/Barra do Corda-MA, DM Aquatic/São Luís, Complexo Educacional Contemporâneo, Clube Náutico Capibaribe/Recife e Apan/Amapá. Apesar de muitas dificuldades, e com apoio do Deputado Rigo Teles, conseguimos um feito, inédito para Barra do Corda, fomos a melhor escola de natação do estado do Maranhão na categoria Petiz I, com o atleta Ilsimar Costa Junior, se consagrando como o terceiro melhor atleta norte nordeste na prova de 100m borboleta. MAIO – Mais um feito histórico para a natação de Barra do Corda, foi a convocação da atleta Monick Milhomem para compor a seleção Maranhense de Natação, na copa Inter-federativa Troféu Milton Medeiros, que ocorreu em Salvador nos dias 22 a 25 de maio de 2008.

– JULHO, 4 E 5 – Campeonato Maranhense de Inverno, marcaram um ano de competições para a Aquabarra, com resultados muito expressivos, foram 3 atletas como mais eficientes, Débora Barbosa categoria mirim 1, Wanderson Araújo categoria mirim 2 e Ilsimar Costa Junior categoria petiz 1, foram 39 medalhas, 8 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze e titulo de 3ª melhor escola do Maranhão.

– JULHO, 13 – a Escola de Natação Aquabarra, Prefeitura Municipal de Barra do Corda, secretarias de Agricultura e Meio Ambiente, Esporte e Cultura, realizaram a III Etapa do Circuito Maranhense de Natação em Águas Abertas, a competição contou com a presença das equipes da Aquabarra, DM Aquatic, e Aquamax. Esse competição teve a participação especial da vereadora Nilda Barbalho, como principal incentivadora na câmara do vereadores, dos esportes aquáticos de Barra do Corda.

– AGOSTO, 2 e 3 – Seqüenciado o calendário de eventos da Federação Piauiense de Natação, realizado na piscina do Círculo Militar de Teresina, a IV Etapa dos Jogos Abertos da Fundespi – Troféu Vicente Sobrinho que contou com o apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer – Semel. A competição foi disputada em todas as categorias de natação (Mini-Mirim a Master), com provas de 25 a 200m, foi um show de organização, companheirismo e hospitalidade. O evento contou com a participação de 9 clubes da capital piauiense e uma convidada muito especial a Escola de Natação AABB/Aquabarra de Barra do Corda, única representante Maranhense, os destaques da Aquabarra foram de Monick Milhomem e Débora Barbosa, que ganharam tudo o que participaram, só as duas somaram 12 medalhas de ouro, e de Ilsimar Junior 6 de ouro e 1 de prata, no quadro geral de medalhas a Aquabarra ficou em terceiro lugar perdendo apenas para o Circulo Militar e a Ranking do Piauí , mas na contagem geral de pontos obtivemos o 4° lugar geral. Nessa competição a Aquabarra conquista a façanha de 90 medalhas, sendo 45 de ouro, 31 de prata e 14 de bronze, isso tudo, graças a vereadora Nilda Barbalho, principal incentivadora da natação de Barra do Corda.

– SETEMBRO, 3 – na sede da AABB-Aquabarra, ocorreu a competição de natação dos jogos escolares do município com mais de 100 atletas, sendo o diocesano campeã com 50 pontos, destaque para as atletas Ângela França, Monick Milhomem, Raira Sousa e Natália Kinoshita, da Aquabarra.

– SETEMBRO – 25 a 28 – os atletas da Escola de Natação Aquabarra, participaram do Troféu Walter Figueiredo Silva, na cidade de São Luis/MA. A Aquabarra participou dessa competição com 16 atletas, sendo 11 infantis, 4 juvenis e 1 Junior 1. O Troféu Walter Figueiredo, foi mais um palco de vitórias da natação cordina, que aos poucos vem se consagrado no território regional, os cordinos que treinam em piscina de 18m arrebataram três medalhas – uma de prata, duas de bronze. Destaque para as nadadoras Ângela França, segunda colocada nos 100m nado livre, terceira colocada nas provas dos 50m nado livre e Monick Cardoso, medalhas de bronze nos 100m peito. Essa competição também teve a participação de Joana Maranhão, nadado pelo Nikita/Sesi de Pernambuco.

– NOVEMBRO, 21 a 23 – realizado no Circulo Militar de Teresina, o Campeonato Piauiense de Natação. O evento contou com as melhores escolas do estado do Piauí e duas convidadas especiais do Maranhão AABB/Aquabarra de Barra do Corda e AABB de Caxias. Com muita garra e força de vontade a equipe da Escola de Natação AABB/Aquabarra trava duas grandes batalhas e alavanca a segunda colocação no campeonato piauiense de natação. A primeira batalha foi o deslocamento da delegação de Barra do Corda/Ma à Teresina/Pi, que ocasionou a desistência de 7 atletas na última hora quebrando alguns revezamentos e aumentando e muito os gastos com a viagem, a segunda batalha foi na piscina com as melhores escolas de Teresina, o Circulo Militar foi Campeã do Evento, com participações excepcionais dos atletas Vinicius Gabriel, Sthephany Andrade e Camila Ravenna, entre outros. As atletas Débora Barbosa (Mirim I) e Ângela França (Infantil I) receberam os troféus de melhor índice técnico nas provas de 50m livre, sendo que a Débora ainda quebrou 3 recordes, nos 50m livre, 50m borboleta e 50m costas, estabelecidos desde 1997, pela atleta prodígio Teresa Nascimento da Ranking Sport Center. Outro atleta que também quebrou recorde foi Ilsimar Costa Junior, nas prova de 50m borboleta, recorde que pertencia a Lauro Wilson Filho desde 2004. Os atletas Wanderson Araújo (Mirim 2), Ilsimar Junior (Petiz I), Estefane Sousa (Petiz II), Raira Sousa (Infantil II) e Gerisson Cabral(Junior I), foram os atletas mais eficientes em suas categorias.

– DEZEMBRO, 21 – a competição nas águas do Rio Corda, em Barra do Corda, que contou com 60 atletas, das principais escolas de: Barra do Corda (AABB/Aquabarra), Teresina (USMT, CMT e Eugênio Fortes). – Em 2008, o trabalho da AABB-Aquabarra teve uma projeção considerável, em relação ao ano passado. Passou de 57 medalhas para 304. De um melhor atleta para oito. Conseguiu colocar um atleta na seleção maranhense e três medalhista Norte/Nordeste de Natação, Troféus Kako Caminha e Walter Figueiredo.

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

 

 

 

BOX 1 – CORRIDA ENTRE OS INDIOS CANELAS  [1]

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

  RESUMO – Descreve-se a “corrida de toras”, praticada pelos índios Canelas, classificada como pertencente ao grupo das provas de revezamento, procurando se estabelecer ser esta a primeira atividade “esportiva” praticada no Maranhão. Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias – regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se for aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo, também deve ser aceita a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses (brasileiras).

 

Introdução

Em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida e esta sempre teve primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura, onde representam os valores e as normas sociais o mesmo ocorrendo quando levada para a esfera do lazer (lúdico).

Catharino (1995) ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil” refere-se, dentre esses trabalhos a dois que nos interessam particularmente: “O trabalho desportivo” e “O trabalho locomotor”.  Ao analisar o trabalho desportivo considera que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variáveis. Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar. Realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários:

Entre prática guerreira e desportiva há um nexo de causalidade circulativo, proporcionalmente inverso. Mais prática desportiva, menos guerra. Mais guerra, menos aquela. Causas produzindo efeito repercutindo sobre a causa. Nexo fechado, de recíproca causalidade e efeito. O trabalho-meio, autolocomotor, servia de aprendizado e adestramento – atlético que era – ao competitivo”.

Entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados:

“Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentavam de muitos vícios, ao qual a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles. Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio, mormente naquela idade”.

Após essas explicações, o Autor informa que essa seção – o trabalho desportivo – é dedicada ao trabalho competitivo entre índios, embora caçando e pescando, competissem amiúde com outros animais, considerados irracionais, o que faziam desde a infância. Sem falar nos jogos educativos:

“… jogos e brinquedos (Métraux) dedicou um só parágrafo, quase todos graças a d’Evreux, acerca dos feitos pelos Tupinambás. “Tratava-se de ‘arcos e flexas proporcionais às suas forças’. O jogo, educativo para a caça, pesca e guerra, era possível porque reunidos plantavam, e juntavam cabaças, que serviam de alvo, ‘adextrando assim bem cedo seus braços’. Assim, brincavam os meninos de 7 a 8 anos. Kunumys-mirys. As meninas, na mesma faixa etária, Kugnantins-myris, além de ajudarem suas mães, faziam ‘uma espécie de redesinhas como costuma por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais hábeis no fabrico de potes e panelas’.  

Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, MARINHO (s.d.) afirma serem a “pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios”.

O Atletismo aparece em Maranhão anterior ao período colonial, através da Corrida de Toras – pertencente ao grupo de provas de revezamentos – dos Índios Kanelas Finas – pertencentes à etnia Jê, presentes por estas terras há pelo menos cinco mil anos. O “esporte nacional dos Tapuya”, que praticavam uma corrida a pé  carregando peso, é registrado por dois historiadores franceses – Claude d´Abeville – “História da Missão dos padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de 1614; e Ives d´Evreux – “Viagem ao Norte do Brasil feitas nos anos de 1613 a 1614”, publicada em 1864.

http://www.funai.gov.br/indios/jogos/novas_modalidades.htm#005

No Brasil holandês, se distinguiam a população indígena entre os ‘brasilianos’ ou ‘brasilienses’ e os ‘tapuias’. As relações entre os holandeses e os tapuias são tratadas abundantemente nas fontes neerlandesas, como é o caso das narrativas de Gerrit Gerbranstsz Hulck, publicada em 1635: “Breve descrição dos tapuias no Brasil”; e a narrativa de viagem de Rouloux Baro em seu contato com Janduí, o chefe tapuia do Rio Grande do Norte, aliado dos holandeses:

“[…] Ao nascer do sol, o ancião ordenou às mulheres que fizessem farinha e aos homens que fossem à caça de ratos e voltassem logo após o meio-dia, a fim de correr a árvore. Obedeceram e entrementes dois tapuias trouxeram sobre suas espáduas dois troncos de árvores, de mais de vinte pés de comprimento. Tiraram-lhes a casca na chama do fogo e poliram a madeira toda em volta, sem deixar nenhum nó. E quando todo o povo regressou cada qual pintou o corpo em diversas cores. Isto feito, aqueles que tinham apanhado ratos soltaram-nos na planície, depois parte deles carregou prontamente aqueles troncos, correndo com uma velocidade inigualável atrás dos ratos. Quando um deles parecia cansado, outro o substituía sem retardar a corrida, que durou mais de uma hora. Depois de terminada, cada um que voltava contava como e de que modo perseguira, ferira e matara os ratos. O ancião Janduí correra com eles e Ra coisa maravilhosa ver um homem de mais de cem anos (segundo a opinião dos seus, de mais de 160) correr com tanta destreza.” (in “Relação da viagem de Rouloux Baro”, anexa a Pierre Moreau, História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses, Belo Horizonte, 1979, p.99, citado por MELLO, 2010, p. 269; grifos nosso).

A “Corrida das Toras” é absorvida pela Igreja Católica, e incorporada aos ritos religiosos dos padres jesuítas que chegaram ao final do século XVI. A exemplo da tradicional festa da Puxada do Mastro, em Olivança, e os mastros levantados em inúmeras festas religiosas, de hoje em dia.

(http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/)

Origem dos índios Canelas:

A ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias – Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos (CORREIA LIMA & AROSO, 1989). Esses autores, ao adotarem a sistemática de Canals (1950) – Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do nordeste asiático – Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) – ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 (mais ou menos) 120 anos.

Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) há um consenso quando da “determinação temporal” da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C.

De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato – Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 4l.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989).

Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989ª, 1994).

Paula Ribeiro (1841, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989; PAULA RIBEIRO, 2002; FRANKLIN, CARVALHO, 2005) descreve uma das principais “manifestações do lúdico e do movimento” – para usar uma expressão de Dieckert & Mehringer (1989b, 1994) -, na cultura Jê, referindo-se à música e à dança:

… enquanto as muitas mulheres guizam as comidas, dançam eles e cantam ao som de buzinas, maracás e outros instrumentos… esta dança e música noturna, melhor repetida depois da ceia, dura quase sempre até as cinco da manhã…” (p. 39).

Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação deTIMBIRAS“, e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat – Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas “pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados”, conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, “… gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.”.

Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001):

Timbira orientais:

Timbira de Araparytiua

Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal

Kr˜eyé de Cajuapára

Kre/púmkateye

Pukópye e Kr˜ikateye

Gaviões

Apányekra (Canellas de Porquinhos)

Ramkókamekra (Canellas do Ponto)

Krahó

Timbira ocidentais:

Apinayé

Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul.

Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, Marinho (s.d.) afirma serem a “pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios”.

Acreditam Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) ser “através da criação e da valorização cultural da corrida de toras… a base para a sua [dos Canelas] sobrevivência física  e cultural” .

A corrida de toras

Na etnologia sul-americana, as corridas de toras são geralmente apontadas como traço característico dos Jê ou, no máximo – levando-se em conta testemunhos acerca de povos extintos ou que as teriam realizado no passado -, estendidas ao tronco lingüístico Macro-Jê (Melatti, 1976). Nos tempos correntes, praticam-nas os jês centrais Xavante e Xerente, os Panará e os grupos timbiras.(VIANNA, 2001). Vianna (citando MARTÍNEZ-CROVETTO, 1968b), informa sobre práticas similares entre sub-grupos guaranis na Argentina e Paraguai.

 

http://torceporvoce.blogspot.com/2009/04/corrida-com-tora.html

Por outro lado, os eventos contemporâneos Jogos Indígenas têm propiciado que outros povos que vivem no Brasil passem a praticar as corridas de tora (BRITO VIANNA, 2001). Como curiosidades longínquas, é ainda interessante observar os registros sobre corridas em que se levam sobre os ombros pedras, no Assam (Índia), e mesmo outros homens, no Havaí (Damm, 1970 [1960], citado por VIANNA, 2001).

Os povos indígenas que praticam essa atividade, hoje, são os: Krahô, Xerente, e Apinajé do Tocantins, que habitam a região central do Estado de Mato Grosso em várias terras indígenas e os Gavião Parakategê e Kyikatêjê do Pará, Terra Indígena Mãe Maria. Os Kayapó do Pará e do Mato Grosso realizavam semelhante esporte que consistia em carregar e não correr com as toras. Os Fulni-ô de Pernambuco teriam praticado esse esporte no passado, de acordo com estudo do antropólogo Curt Nimuendajú. Os Kanela e os Krikati são do estado do Maranhão (FUNAI).

Entre os Krahô, Xerente, e Apinajé, a Corrida de Tora difere em diversos aspectos, obedecendo a seus ritos tradicionais de significados social, religioso e esportivo.

Para o povo Khraô, habitante de extensa faixa contínua de Cerrado no estado de Tocantins, ela está associada a algum rito e, conforme esses ritos variam os grupos de corredores, assim como o percurso e o tamanho das toras.

Essas atividades são realizadas sempre com duas toras praticamente iguais. Os participantes se dividem em dois grupos de corredores “rivais”, cabendo apenas a um atleta de cada grupo carregar a tora, revezando-se em um mesmo percurso. As corridas se realizam no sentido de fora para dentro da aldeia, nunca de dentro para fora, ou mesmo dentro dela, quando estabelecem os pontos de largada e chegada no pátio de uma casa chamada woto, uma espécie de oca preparada para todas as atividades culturais, sociais e política. É sempre realizada ao amanhecer e ao entardecer. As corridas vindas de fora acontecem geralmente no final das tardes, quando os Krahô retornam de alguma atividade coletiva (caça ou roça). A corrida de tora é praticada nos rituais, festas e brincadeiras. Nesses casos, as toras podem representar símbolos mágicos-religiosos, como durante o ritual do Porkahok, que simboliza o fim do luto pela morte de algum membro da comunidade. Pela manhã, a corrida ganha um sentido de ginásticas para a preparação do corpo. Corre-se apenas com as toras já usadas ao redor das casas, no sentido contrário do relógio. (FUNAI).

Os Xavante, do Mato Grosso, também realizam a Corrida de Tora, o Uiwed, entre duas equipes de 15 a 20 pessoas. Pintam os corpos e correm mais de cinco quilômetros, revezando-se até chegar ao Wa’rãm’ba, o centro da aldeia, e iniciam a Dança do Uwede’hõre. Na festa do U’pdöwarõ, a festa da comida, também existe a corrida com tora, mas nesse evento a tora usada é maior e mais pesada (média de 100 a 110 Km).
Os Gavião Kyikatêjê/Parakateyê, do Pará, também grandes corredores de tora, obedecem aos mesmos rituais de outros povos, mas há uma peculiaridade que é o Jãmparti (pronuncia-se Iãmparti). Trata-se de uma corrida com uma tora com mais de 100 Kg, mais comprida e carregada por dois atletas. Realizada sempre no período final das corridas de toras comuns, ou seja, aquela que é carregada por um atleta, com o sentido de harmonia e força. Em todas essas manifestações há a participação das mulheres. Não há um prêmio para o vencedor, pois somente a força física e a resistência são demonstradas. (FUNAI).

Autor(a) Roberto Castro http://br.olhares.com/corrida_de_tora_foto261655.html

 

Jung & Bruns (1984) ao analisarem os aspectos rituais das corridas de longa duração em diferentes culturas e épocas afirmam ser “outra forma de corrida religiosa… a chamada corrida do tronco dos índios Jês no Brasil meridional… A corrida podia ser um rito ou também ter caráter profano. Os participantes podiam ser homens, mulheres ou inclusive crianças”. Para esses pesquisadores, baseados em Stahle (1969), a época das corridas corresponderia ao início das chuvas. Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) afirmam que as corridas de toras são realizadas durante os cinco diferentes ciclos festivos “que ocorrem na época das secas, de março a setembro”.

NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. Mana v.7 n.2  Rio de Janeiro oct. 2001

 

 

 

 

 

 

 

 

 

http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1135/grito-do-cerrado-2004

Não descartam o contexto ritualista da corrida, que marcam os “ritos de iniciação, o regresso à aldeia após uma caçada ou também como prova de matrimônio”, não havendo surpresa em que essas corridas fossem executadas às vezes diariamente. Segundo os regulamentos, duas equipes, – representação dual da sociedade Canela onde as duas metades da aldeia, a ocidental e a oriental se “opõe” (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994) – teriam que carregar os troncos de madeira (palmeira buriti) – (DICKERT & MEHRINGER, 1989b, 1994) – em uma corrida por um caminho previamente traçado, até uma meta estabelecida, quase sempre fixada na praça da aldeia.

Bruns & Jung (1984) trazem como distância de corrida 12 quilômetros e o peso do tronco até 100 quilos. Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) dividem as corridas em longas (20 a 40 km), médias (4/5 km) e “corridas na aldeia” (850 metros). As corridas longas, de acordo com depoimento dos índios, ocorriam antigamente com mais freqüência. Os pesquisadores presenciaram uma corrida longa, de 25 km, no período em que permaneceram entre os Canelas e aproximadamente 20 corridas médias, saindo do cerrado para a aldeia, numa distância de 4/5 km, distância também corrida pelas mulheres. As toras de palmeira buriti pesavam entre 20 e 110 quilos

Indígenas XAVANTE na apresentação de Corrida de Tora feminina

Foto:Marília França – Fonte:Anna Virgínia Cunha / Tenõde Porá UCB News

CORRIDA DE TORA

As “corridas de aldeia” eram realizadas com mais freqüência, sempre por volta das 6 horas da manhã e/ou à tarde, pelas 4 horas, no caminho circular de 850 metros. Cada equipe carrega um tronco que é trocado com freqüência, já que é muito pesado para ser levado por um só corredor durante o longo trajeto percorrido. O tronco é passado do ombro de um corredor para o de outro, repetindo-se a cada 50 a 100 metros:

O objetivo da competição é transportar a tora, fazendo trocas entre os corredores – carregadores – o mais rápido possível, entre a partida e a chegada, onde ela deve ser jogada primeiro. Isso só pode ser feito quando cada membro do grupo dispor tanto de uma boa condição para a corrida como também de uma boa força para o transporte. Além disso deve acontecer uma constante combinação entre os corredores (atitude tática), sobre quando deveria ser feita a troca da tora. Além disso não pode haver perda de  tempo na troca da tora de um ombro para outro. Deve-se por esgotamento do carregador ou durante a troca. Assim sendo, sempre se combinam as coisas no grupo antes da corrida …”. (DIECKERT & MEHRINGER, 1989a, p.13).

Verifica-se, pelas regras principais, que se trata de uma corrida de revezamento aonde toda a equipe vai correndo atrás de quem leva o tronco, e têm um caráter competitivo entre os dois grupos adversários, onde o objetivo sério é: vencer (DICKERT & MERINGER, 1989a, 1989b, 1994). No entanto não há nem elogios para o ganhador, nem críticas para o perdedor (JUNG & BRUNS, 1984), pois conforme informou um dos corredores a DIECKERT E MEHRINGER (1989a, 1994) “(…) ele sempre procura não correr muito mais rápido do que o adversário. Isso poderia causar inveja e, também, haveria o perigo de um ‘feiticeiro’ (bruxo – curandeiro mau) castigá-lo…” (p. 14).

Para Jung & Bruns (1984) o significado do tronco já não é mais conhecido pelos indígenas,

“… se supõe uma relação com o culto dos mortos, onde o tronco de madeira simbolizaria os mortos. Através de se carregar consigo os mortos, nessas festas, deveria produzir-se uma união das almas dos mortos com as dos jovens, para que a força dos maiores se transferia a eles e estimule seu crescimento”.

Dieckert & Mehringer (1989a, 1994) ao procurarem o significado das corridas, encontram em Nimuendajú (1946, 2001) como sendo uma forma de honrar as almas mortas, o que é interpretado por Stahle (1969) como “culto da morte”, pois “… todas as toras são consideradas ‘representantes dos mortos’ e a corrida de toras possibilita uma ‘ressuscitação das toras como forma de garantia da vida para além da morte para os mortos”.

Já Schultz (1964) segue a interpretação de Nimuendajú (1946, 2001), em suas investigações sobre os Krass, mas enfatiza também o “caráter esportivo”.

Os RANKAKOMEKRAS confirmam que a tora seria uma alma dos mortos.  Mas “… a alma do morto (megaro) teria se transformada numa moça e agora se encontraria na palmeira Buriti…”.

Conclusão:

As formas de movimento dos índios Canelas se manifestam num contexto de ritual (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984). Por ser uma sociedade dual – onde as duas metades da aldeia se opõem -, o que determina a conseqüente formação de grupos (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994), situações de conflito são resolvidas, por exemplo, com a realização da “corrida de toras” (FEITOSA, 1983). Nela se manifestam os valores e as normas sociais (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994). São as festas que aproximam os jovens dos valores e normas culturais, que lhes permite “vivenciar” o mundo de acordo com suas leis (DICKERT & MEHRINGER, 1989b, 1994).

Parece verdadeira a interpretação de ser a corrida de tronco um  culto aos antepassados (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984), pois as regras da corrida foram ensinadas ‘pelos bisavós’ e ainda são respeitadas (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994). Há um sentido mais profundo na realização da corrida, pois aquele que “quiser viver como caçador e coletor e também como guerreiro tem que apresentar uma excelente condição física”. Por isso, essa “necessidade de sobrevivência” foi formulada (…) enquanto ‘objetivo de ensino’ para os jovens, num contexto cultural, a fim de garantir a continuação da tribo.” (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994).

Observa-se que em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984) e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico).

Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias – regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se é aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo (BRASIL, 1989; VAZ, 1991), também se deve aceitar a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses, pois quando as diversas nações européias modernas aqui chegaram por volta dos anos 1.500 já encontram diversas outras nações, sendo a mais antiga delas os Canelas.
Etnia Kanela, do Maranhão, estará na primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas. Foto: Divulgação/Sedel-MA

 

O representante do Ministério dos Esportes, Carlos Terena, foi até a aldeia Escalvada para oficializar o convite aos indígenas maranhenses. O momento coincide com a intenção do poder público local em promover a primeira edição dos Jogos Indígenas do Maranhão. A etnia Kanela vai representar o Maranhão em diversas modalidades, tais como arco e flecha, corrida com tora, lutas corporais e canoagem. Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas são organizados pelo Comitê Intertribal Indígena, com apoio do Ministério dos Esportes e da Fundação Nacional do Índio (Funai). O evento tem como objetivo integrar diferentes tribos, além de resgatar e celebrar as culturas tradicionais.

 

 

Referências bibliográficas:

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VIANNA, Fernando Fedola de Luiz Brito. A bola, os “brancos” e as toras: futebol para índios xavantes. Universidade de São Paulo Faculdade de filosofia, letras e ciências humanas, Departamento de antropologia. Dissertação de mestrado em antropologia social, sob orientação da Profa. Dra. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo, dezembro/ 2001. Disponível em

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BOX 2 – A PUNGA

PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A)

“PUNGA DOS HOMENS”

 

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

 

OrigensUm dos rituais mais populares na cultura afro-maranhense é o Tambor de Crioula, uma manifestação baseada na música e dança sensual e excitante que mistura fé e diversão. O Tambor de Crioula é, sem dúvida, uma herança que nos veio no bojo da escravidão negro-africana e não tem nenhuma conotação ritual é apenas uma homenagem em louvor a São Benedito organizada ao ar livre em qualquer época do ano para celebrar datas, momentos marcantes ou pagar promessas. Hoje, os coreiros reúnem-se em um círculo, com homens tocando tambor e cantando as toadas enquanto as mulheres interegem e dançam, fazendo uma roda, em cujo centro evolui apenas uma delas. O momento alto da evolução é a “punga” ou umbigada: batem de frente com a barriga naquela que está no centro da roda, saúdam uma companheira e a convidam para dançar; punga é uma forma de convite para que outra dançarina assuma a evolução no centro da roda. (http://www.uniblog.com.br/nacoeseaculturadacor/105607/as-africas-que-colorem-a-cultura-do-brasil-5.html).

A umbigada ou punga é um elemento importante na dança do tambor de crioula. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. (Sergio F. Ferretti. MÁRIO DE ANDRADE E O TAMBOR DE CRIOULA DO MARANHÃO. In Revista Pós Ciências Sociais. v.3 n.5 São Luis/MA, 2006, disponível em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=201&catid=56&Itemid=114).

O Tambor de Crioula é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores, havendo quem defenda a relação original do Tambor de Crioula com a capoeira. Segundo este ponto de vista, o Tambor era realizado em seus primórdios apenas por homens, escravos e libertos. Desta suposta origem, resta hoje a punga que ainda acontece entre os homens, em espaço separado do das mulheres e como um evento paralelo, em algumas situações festivas com Tambor de Crioula, notadamente no interior do estado do Maranhão. A punga realizada entre os homens é bem mais agressiva, realizada com as pernas, pés e joelhos, e visa derrubar o oponente através de rasteiras e pernadas. Uma outra hipótese similar a esta, pretende que o Tambor de Crioula, a partir de uma origem onde só os homens participavam, passou a incorporar igualmente homens e mulheres na roda da dança. Mas a punga se mantinha ainda, com seus traços originais de maior agressividade, e continuava a ser aplicada nos joelhos de dançarinos e dançarinas, indistintamente. http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do;jsessionid=6F5A37B246F9744C05554333C0050DE2?id=949).

Originalmente as mulheres eram levadas a dançar em roda, na entrada da senzala, desviando a atenção dos senhores e encobrindo o fato dos homens estarem praticando cultos religiosos proibidos em seu interior. Não há comprovação histórica para nenhuma das teses apresentadas, mas sim, indícios que permitiram a construção destas explicações sobre as origens e a forma do Tambor de Crioula no Maranhão. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=856&Itemid=1

Outra característica do tambor, na cidade de Rosário, é a punga de homens. Ao lado da dança das mulheres, como é comum na região, grupos de homens, aos pares, realiza a punga dos homens, dando alguns passos, acompanhando a música, um tentando derrubar o outro ao chão, com uma violenta pernada, mantendo juntas as duas pernas, provocando risos e palmas da assistência. O vencedor convida logo outro parceiro para novos passos. Para os que observam, a punga dos homens pode apresentar características homoeróticas. O grupo que toca, os cantadores ao lado e numerosa assistência, envolvem os dançarinos acompanhando a animação da festa. (Sergio F. Ferretti. FESTA DA ALMA MILAGROSA, SIMBOLISMO DE UM RITUAL DE AFLIÇÃO in Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p.135-151, outubro de 2004, disponível em http://seer.ufrgs.br/CienciasSociaiseReligiao/article/download/2270/975),

Informa Mestre Bamba – Kleber Umbelino Lopes Filho – que no município de Itapecurú-Mirim, junto a remanescentes quilombolas, no Povoado de Santa Maria dos Pretos encontrou uma variação do Tambor-de-Crioula em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens” – em que utilizam movimentos semelhantes ao da capoeira. Mestre Bamba identificou semelhança entre esses movimentos com os descritos por Mestre Bimba. Descreve assim essa manifestação: os “desafiantes” ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, “provocando”, através de movimentos, como se o “chamando”, e aplica alguns golpes com o joelho – a punga –

– Pungada na Coxa -também chamado “bate-coxa”, aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a “pernada carioca” ou mesmo com o “batuque baiano”;

Pungada Mole -o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege “as partes baixas” com as mãos …

Pungada Rasteira/Corda -semelhante à “negativa de dedos (sic)”, de Bimba;

Queda de Garupa -lembra o Balão Costurado, de Bimba.

De acordo com Mestre Marco Aurélio, a Punga era prática de homens, antigamente; após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade, que passa a ser dançada por mulheres, apenas.

Alvarenga (1982) classifica como jogos coreográficos adultos, ou brinquedos musicados com finalidades de divertimento e de dança, que provam a destreza dos participantes, dizendo que conhece cinco descritos por Americano do Brasil em Goiás: o Marimbondo, a Dança dos Coatis, a Candeia, a Piranha e a Canoa. Comenta também a Capoeira, que define como jogo atlético introduzido pelos negros de Angola no Brasil e sua variante o Batuque ou Batuque-boi, em que os golpes são dados com as pernas e perde a luta aquele que cai. Ao tornar-se uma dança mais urbana os homens passam somente a tocar e cantar e as mulheres entram nas brincadeiras. Na época em que era praticado pelos homens, a característica do tambor de crioula era a pernada (http://portalcapoeira.com/Pesquisar?searchphrase=exact&searchword=pernada)

Sobre as origens da Punga, Câmara Cascudo registra o termo “Bate-coxa”, uma manifestação das Alagoas: uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”. Acredita Câmara Cascudo que o bate-coxa seja mais violento, onde os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o ê boi, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao  ouvir o ê boi do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido.

Por “capoeira” registra: jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista  que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade.

Por “Batuque” – dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, talqualmente a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola. É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos) – a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar aposição primitiva.

Do vocábulo “batuque-boi”, registra: espécie de Pernada. Bahia. Voltemos a Pernada. Câmara Cascudo informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam, os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas.

Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo  se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna.  No Rio de Janeiro já se dá o contrário – a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo.

O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada – nome que assumiu no Rio de Janeiro… Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura… A orquestra das rodas de batuque era a mesma das rodas de capoeira – pandeiro, ganzá, berimbau.

Em Câmara Cascudo, no verbete “punga”, consta: dança popular no Maranhão, capital e interior … que é a mesma “dança do tambor”. A punga é também chamada “tambor de crioula”. Há também referencia a grafia “ponga”, que como se sabe é um jogo. Crê Câmara Cascudo que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a “memória” do “tiradô” de versos. Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula, informa que pong provirá do tupi – soar, bater, ou antes soar por percussão. “O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de ‘pungas’” (p. 742-743).

Remete a Tambor: “… mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo [Tambor-de-Crioulo?]. As danças denominadas ‘do Tambor’ espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro.” (p. 850-851).

Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos “terreiros”, ao passo que: “… a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie… o Tambor-de-Crioula [já passa a usar no feminino …] é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-de-Crioula termina com a punga dos homens.”. (p. 851).

Por “Pernada”, registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira… Sua descrição, assemelha-se à da “pungada dos homens”, do Tambor-de-Crioulo(a) (p. 709). Já “bambelô” é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocáculo  quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113).

Carlos Cavalheiro, de Sorocaba afirma: “Cai por terra a teoria de que São Paulo conheceu capoeira somente no século XX. É preciso ter claro na mente como se desenvolveu a capoeira e separar em dois momentos históricos: o da informalidade e o da formalidade dessa prática. Primeiramente, devemos entender que a mesma apareceu entre os negros escravos de Angola e os primeiros registros dão conta de que se tenha desenvolvido entre os quilombolas de Pernambuco. Posteriormente, essa luta encontrou em todos os rincões do Brasil suas formas regionais: a capoeira Angola e a pernada no Rio de Janeiro, a punga no Maranhão, o bate-coxa em Alagoas, o cangapé ou cambapé no Ceará, a tiririca ou pernada em São Paulo, a capoeira de Angola (e posteriormente a Regional Baiana) na Bahia. CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. A história da capoeira em Sorocaba.  Disponível em  http://www.anovademocracia.com.br/1828.htm

“Notícias diversas também se tem do pessoal da pernada, a capoeira paulista simplificada. Em São Paulo, segundo Nenê da Vila Matilde e Geraldo Filme, era conhecida por tiririca. É a mesma pernada carioca. Sebastião Bento da Cunha, conhecido por “Carioca”, residente no bairro Santa Terezinha, em Sorocaba, alega que conheceu esse jogo com o nome de samba-de-roda, praticado em Valença e Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro. No Maranhão é conhecida por punga e está ligada ao Tambor de Crioula. Marcelo Manzatti fala da tiririca como sendo forma primitiva de Capoeira ou Pernada, praticada ao som do samba, sendo os golpes desferidos em meio aos passos da dança.”(grifos meu). CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. A história da capoeira em Sorocaba.  Disponível em  http://www.anovademocracia.com.br/1828.htm

1814/1815 referencia à umbigada (punga), relatada pelo naturalista alemão George Wilhelm Freyreiss, que faleceu no sul da Bahia. Em uma viagem a Minas Gerais em 1814 -1815, em companhia do barão de Eschwege, assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]: “Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.” (FREYREISS. Georg Wilhelm. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.  http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss  PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) – VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm)

1820 – desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente de/por homens: “Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: “quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice” (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Informa que há uma referência em Dunshee de Abranches, porém não a encontramos. Em “O Captiveiro”, Dunshe de Abranches se refere ao “Club dos Mortos”, e que os membros desse clube se envolveram nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: “… Veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos”. (p. 190-191). (grifos meus). Rasteira?  Seria a capoeira? Nada sobre o Tambor-de-crioula e a punga dos homens, nada em “A Setembrada”, nem n’ “A Esfinge do Grajaú”…

1926 foi publicada uma série de artigos sobre “Capoeira e Capoeiragem” no jornal Rio Sportivo, edições de 16/06, 19/07, 6 e 16/09, 18/10, escritos por Adolfo Morales de Los Rios.

1948 Othon Mororó Milhomem  introduz a Punga em Barra do Corda;  festeiro como ele só, escutou a ideia de Palmério Branco e Ranulfo para se fazer aquela festa que era comum em Codó. Ocorre no período de 1º a 13 de maio

2005 – Ontem, 10 de agosto, houve uma reunião do Matroá, escola de capoeira de Mestre Marco Aurélio. Mestre Patinho esteve presente, assim como Mestre Didi. Uma verdadeira aula de cultura maranhense. Presentes, também, Domingos de Deus, Luis Senzala, Bamba, Vespasiano, Aziz, Same… Conversas sobre os artigos do Jornal do Capoeira, sobre a Punga dos Homens, e novas informações e esclarecimentos … desafiados para colocarem no papel suas pesquisas – mais de oito anos – sobre essa manifestação: “Há cerca de oito anos, eu e mais outros capoeiras estamos pesquisando a punga, e posso lhe afirmar que apesar da correlação de alguns golpes com a capoeira, esta pode até ter similaridade, mas daí afirmar que é capoeira é outra coisa.” (in correspondência pessoal, de 10 de agosto de 2005). Uma certeza: punga não é capoeira, embora alguns movimentos se assemelhem… Informa Marco Aurélio: “Ano passado, participei em Salvador, de um Encontro Internacional de capoeira “GINGAMUNDO”. onde coordenei um grupo do Maranhão, com 25 (vinte e cinco) pessoas entre estas, o Mestre Felipe e outros pungueiros, entre pessoas de um Povoado de Rosário e mais outros coreiros e coreiras, algumas capoeiras angola.  Lá, estavam presentes representantes de outras lutas de origem africana, de países como Angola e Madagascar, porém, a grande vedete do encontro foi a Punga dos Homens… Estavam presentes neste encontro, além de mestres antigos, tais como João Pequeno, João Grande, Mestre Boa Gente, também haviam pesquisadores de renome como Jair Moura, Carlos Líbano Soares, Fred Abreu, Mathias Röhring Assunção, etc”.(in correspondência pessoal).

2012 A ASSOCIAÇÃO CENTRO CULTURAL DE CAPOEIRAGEM “MATROÁ”, do Mestre Marco Aurélio (São Luis) – em parceria com o MAVAM, a SEDEL, e patrocínio da SECMA -, realizou no período de 18 a 19 de maio de 2012 o evento “A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA”. O objetivo foi de: “[…] esclarecer se tal expressão corporal é remanescente de uma forma de luta, própria de povos africanos trazidos para o Maranhão e, se há uma relação com a Capoeira, bem como, os motivos pelos quais não se faz presente entre as brincadeiras de tambor de crioula, existentes na capital do estado.” (FOLDER DO EVENTO). Segundo Mestre Marco Aurélio, o evento deverá propiciar “[…] o aprendizado, a pesquisa e o debate em torno dessa expressão –[Punga dos Homens] -, que muito embora seja tema de interesse da Capoeiragem, também diz respeito ao público em geral, na medida em que pessoas ligadas à pesquisa, dança, artes cênicas e de lutas, audiovisual, dentre outras, buscam na arte e na cultura popular, elementos de composição para as suas mais diversas expressões.”Ainda de acordo com o material de divulgação, a “Punga dos Homens” vem carecendo de investigação, pois se apresenta com rara e rasa bibliografia. Ao que parece essa manifestação da lúdica e do movimento remonta à ancestralidade do Tambor de Crioula, haja vista a expressão “quantado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice” que tão bem o define: “Genuinamente maranhense e ainda presente em algumas comunidades rurais, a punga dos homens, a depender de uma região para outra, se faz mais, ou menos, vigorosa e não ocorre em todas as brincadeiras de tambor. Acontece ao lado da roda das mulheres, geralmente em areal e quanto mais vigorosa, não é raro ver homens ao chão. Com o avançar das horas, os coreiros intensificam as pungas, preservando-se, contudo, o aspecto lúdico da brincadeira. Ressalte-se, que nessa manifestação, acontece de mulher derrubar homem”.

O pesquisador João Batista Gomes Santos Junior – Junhero – pungueiro do Centro Grande, município de Axixá  discorreu sobre ‘Ontem e hoje – refletindo a respeito da punga dos homens. Comecei por perguntar se já ouvira falar de ‘tarracá’, termo usado por Mestre Zulu, e na região da Baixada encontrando-se: “atarracado”, “atarracar’; e na região de Barreirinhas, conhecida como ‘queda”; informou que no Munin se usava do termo “queda” para o “atracamento” ou “atracado”; que se costuma praticar quando do “tapamento de palha” – da cobertura das casas -, em mutirão; assim como a punga, corre solta nestas ocasiões, já com os participes ‘tomados’ da cachaça ou “cervejinha”, e embalados pelos “cantos dos velhos” passam a desenvolver ‘as brincadeiras’: punga, atracado – ligado ou solto -, cangapé, e as vezes o futebol. Se refere às várias brincadeiras que realizam, além das citadas: Jaó, que é a pegada dentro da água, pegador, onde se suja a água e se mergulha aparecendo por detrás do oponente, subindo no mesmo; geralmente é ‘brincadeira’ de pescador, realizado nas crôas ou lavada, assim como o cangapé. Praticava-se também o ‘cacete’. Outras brincadeiras, que hoje estão praticamente desaparecidas, danças, como o Pela-porco e a Caninha Verde. Informa que essas brincadeiras vêm do ‘tempo do cativeiro’, como é o exemplo da Punga; sua organização, na região do Munin, se dava nos quilombos, e havia uma relação com os Terreiros de Mina. Praticavam-se três tipos de lutas: a punga, atracamento, cangapé, sendo que a punga acontecia fora do tambor de crioula, na ‘área da punga’.

Patinho entre na Roda e apresenta seu caqueado: aos 9 anos, ouvia na noite o bater dos tambores. Sentia medo! Seu pai, um dia, para que perdesse esse medo, levou-o para ver de onde vinha e o que acontecia – conhece a Punga, dançado pelos homens. Passa a discorrer sobre a Punga e fala da “Punga de Peito”, em que os contendores saltam e batem de peito – feito no tempo da batida dos tambores para fazer a punga: ritmo.          Faz uma correlação entre a Capoeira e a Punga, tomando por base o ritmo e o movimento, apresentando que a base é a mesma – triangulo isóscele – três lados iguais – e que na capoeira a base se apresenta com os dois pés paralelos, com a mudança para três – vértice – a mudança de passo (base) se dá movimentando-se para trás; na punga há inversão, em que a base fica atrás e o movimento se faz para a frente. Vê semelhança no ritmo de executar o movimento – se refere à pernada e alguns movimentos como o rabo de arraia, cangapé.

 

 

 

 

 

 

 

Capoeira                                             Punga

Para Mestre Euzamor – Alberto Pereira Abreu – nos passeios que a família fazia para a Ponta D´Areia, nos finais de semana, ainda nos anos 60, ao final da tarde via as rodas de Tambor de Crioula e em dado momento os homens entravam na roda com o Jogo do Cacete; quando se tornou Capoeira, começou a perceber a semelhança da Capoeira de Mestre Sapo com aquelas lembranças de criança; Sapo falava de ritmo e movimento do cabloco de pena com a movimentação da capoeira; aprendeu, então, a jogar o cacete; acredita que a origem da capoeira do Maranhão esteja no Tambor de Crioula e no Bumba-Boi; fala sobre o jogo do cacete, e de como treinava. Houve intervenções dos Mestres pungueiros, reafirmando o que vinham falando nesses três encontros – ressaltando-se que Punga era ‘brincadeira’.

Da participação de ‘Seu” Miguel, de Arari, e do Mestre José Ribeiro, estes pungueiros, não ‘conhecem’ capoeira, tanto que pediram para ver uma roda, já que se estava tratando da punga como uma capoeira primitiva. Punga, como dito, tem significado de ‘pungar tambor’, isto é, a punga dos homens, que acontece ao lado da roda do tambor de crioula, esta das mulheres. Algumas expressões usadas por esses Mestres de Punga dos Homens, que chamam atenção, como ‘queda sem cair’, e o acordo que precede a entrada na roda – bater sem machucar. No tempo do cativeiro negro saia para as brincadeiras, mas não podia voltar machucado, pois o patrão não deixaria sair novamente, dai que vêm “os acordos”, de como será o combate. Caqueado, outro termo usado, é o aviso de que vai bater, onde vai bater – se na coxa, ou se vai ser no pé – rasteira: cambito!! – Em Arari, se bate só na coxa, e a alegria é cair junto: queda dos dois. Deixaram bem claro: não se punga em solo duro ou no cimento – só na areia.

Fontes: Carlos Carvalho Cavalheiro; Luís da Câmara Cascudo – “Dicionário do Folclore Brasileiro”. 3 ed. Rio de janeiro: Tecnoprint, 1972; Marco Aurélio Haickel. Jornal do Capoeira. Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Blog do Leopoldo Vaz http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/

 

 

TAMBOR-DE-CRIOULO (A)

 

MARCO AURÉLIO HAICKEL

 

O Tambor de Crioula, manifestação popular genuinamente afro maranhense, de caráter lúdico, é tradicionalmente identificada como “festa de preto”, assim como onde houvesse instrumentos de sopro, tinha-se como “festa de branco”. Dessa forma, à exceção do período da quaresma ” hoje em dia, até nesta época ” toca-se o tambor de crioula durante o ano inteiro, seja festa ou o evento que for: Carnaval, aniversário, Divino, nascimento, São João, São Pedro, falecimento, ou mesmo uma simples confraternização de fundo do quintal. A festa de São Benedito ocorre entre agosto e novembro, tendo em vista os costumes de cada lugar, mas, sempre durante a fase da lua cheia.

Apesar de o aspecto lúdico prevalecer, brincantes (coreiros e coreiras) mais antigos, na sua quase totalidade é devoto de São Benedito, a constatar pelas centenas de grupos de tambor de crioula existentes: “Brincadeira de S. Benedito”, “Unidos de S. Benedito”, “Filhos de S. Benedito”, “Orgulho de S. Benedito”, etc., acrescentando-se que ao início de cada “brincada”, a primeira salva é dirigida ao Santo, que no culto religioso de influência africana, hegemônico no Maranhão, Mina (com tradição Jeje-Nagô), é relacionada à divindade Vodun, Avêrêkête.

Os tambores, em número de 03 (três), constituem o que se denomina parelha, assim definida: tambor do meio, meião ou socador, o tambor menor, pererengue, merengue ou crivador, seguido do tambor grande, sulador, ou roncador. O meião inicia e, marca o toque, seguido do pererengue, que faz o contratempo, logo após o tambor grande entra, com o seu roncado característico, definindo a punga.

Conforme as regiões do Estado onde o tambor de crioula se faz presente, define-se o sotaque (forma apropriada de tocar, cantar, dançar, pungar e se expressar). O sotaque, que pode representar sutis diferenças, ou mesmo nem ser percebido pelos leigos, demonstra uma forte característica entre os brincantes, assim, a depender do sotaque, o meião só começa a tocar, após o início do canto, e conforme o ritmo empreendido pelo cantador (acelerado ou compassado), ou o contrário, o meião inicia dando o ritmo e, o cantador acompanha-o, puxando o canto, mas em todo o caso, o pererengue sempre entra após o meião, fazendo o contra-tempo, logo em seguida, o tambor grande se faz ouvir, e livre para solar, evolui numa diversidade de toques até alcançar seu ápice, a punga.

Entre os sotaques mais conhecidos está o “de Guimarães”, “Alcântara”, ou “do litoral”, neste, a “brincadeira” acontece num pique frenético, outro, é o sotaque “da Baixada”, mais compassado e de rica variedade rítmica, há ainda os sotaques “de Rosário” e “do Munim”, que por fazerem parte dos caminhos dos boiadeiros, trazendo e levando gado de norte a sul, sofreram fortes influências destes, com seus aboios. Os cantos seguem a mesma tendência, podendo ser guturais ou bem definidos. O sotaque define ainda, o uso ou não de baquetas, as quais, quando se fazem presentes são repenicadas na costa do tambor grande, com mais raridade, algumas “brincadeiras” utilizam baquetas (finas e flexíveis) no couro do pererengue.

Os tipos de madeira para a confecção dos tambores são diversos, variando quanto ao peso e sonoridade, sendo umas mais leves e outras mais pesadas, a exemplo do mangue branco ou siriba, pequiá, faveira, etc. A feitura dos mesmos requer um certo ritual, que compreende desde a identificação da árvore, o sangramento desta, durante certa fase da lua, bem como outras particularidades.

Conforme o lugar, a exemplo de São Luís, a dança é exclusividade das mulheres, há, no entanto, homens que dançam, mas neste caso, requer usarem saia. A dança das mulheres se reveste de pura sensualidade e com belas evoluções, onde o ápice acontece quando a mulher, após saldar os tambores menores dançando, mostra-se de frente ao tambor grande, e os dois como que numa simbiose evoluem desafiando-se, até realizarem a punga. O toque dos tambores é predominantemente realizado por homens, apesar de que em alguns lugares a mulher toca, porém, quando se trata de tocar o tambor grande, aquela o faz ao lado deste, nunca sobre, mas, é na capital, onde já há grupos constituídos exclusivamente por jovens, que as mulheres se fazem mais presentes na batida dos tambores.

A punga dos homens, ao contrário da punga das mulheres (umbigada), não acontece em todas as “brincadas de tambor”, sendo encontrada mais comumente em comunidades rurais. Acontece ao lado da roda das mulheres, geralmente em areal, e conforme o lugar é aplicada com mais ou menos intensidade, quando mais vigorosa, não é raro ver homens ao chão, com menos vigor, acontece somente um leve bater de coxas, no entanto, vale ressaltar que nos lugares onde ocorrem as derrubadas, com o avançar das horas, os coreiros já sob os efeitos da cachaça, intensificam-nas em quantidade e vigorosidade, sem que haja no entanto, qualquer incidente grave.

O Maranhão, pelas suas características geográficas, em tempos remotos era um manancial natural de alimentos (até hoje, apesar do desmatamento), tornando-se morada de inúmeras nações indígenas, atualmente, espalhadas ao longo do Brasil Central. Acolheram levas de escravos insurgentes, seja nas aldeias, ou tolerando a formação de (inúmeros) quilombos, mas o certo é que desses ajuntamentos, formou-se o que comumente se reconhece como terras de índio (que não são áreas indígenas) e, terras de preto, entre estas últimas, muitas foram identificadas como verdadeiros quilombos (Projeto “Vida de Negro”, da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos) daí, que as características físicas de muitos habitantes de inúmeras comunidades rurais maranhenses, demonstram de forma singular, expressões indígenas e africanas.

A forte miscigenação ocorrida entre as populações africanas e ameríndias, somadas à cultura européia, em menor escala, derivou numa profusão de manifestações populares onde, em relação ao som, predominou a cultura africana com seus ritmos e tambores, no movimento, o predomínio tornou-se da cultura indígena, pois esteja o som sob um embalo mais frenético ou compassado, aquele se faz miúdo, e por último, não há como negar a preponderância do guarda roupa europeu, tendo em vista o pudor deste em relação à nudez indígena e, à sensualidade africana. Vale ressaltar, que ainda há muitas pesquisas a serem feitas, mas esses três elementos culturais são evidentes.

A cantoria do tambor dá-se por um cantador/puxador e, um coro respondendo, seu conteúdo, diverso e revestido de picardia, onde os cantadores costumam saudar São Benedito, fazerem choça uns com os outros, cantarem seus lugares, etc., tudo, dentro do ritmo e de uma métrica, que se não for respeitada, é simplesmente desconsiderada.

Como todas as tradições, o tambor sofreu alterações, uma delas a participação de mulheres, como forma de abrandar a repressão, uma vez que era reconhecida pela sua agressividade, sendo vista inclusive como luta, pelas “autoridades” da época. Tem-se que o termo tambor de crioula é mais recente do que a própria manifestação, uma vez que antes de 13 de maio de 1888, as mulheres com raridade, participavam, pois sendo extremamente vigorosa sua prática traduzia uma maneira de deixar os guerreiros em forma, capazes de enfrentar as adversidades da época, talvez daí tenha-se originado um ditado antigo, ainda hoje pronunciado a respeito em relação à manifestação: tocado a murro, dançado a coice e afinado a fogo.

Enquanto manifestação, não há como dissociar homens e mulheres, vez que para acontecer a brincadeira requer a participação de todos tocando, cantando, dançando, evoluindo e pungando, uma verdadeira festa, que contagia quem estiver presente.

 

 

BOX 3 – Angoleiros da Barra

Breve histórico do Grupo Angoleiros da Barra – GABA-, em Barra do Corda, Maranhão e da vida capoeirística de IRAPURU IRU PEREIRA, um de seus idealizadores

 

Jornal do Capoeira – www.capoeira.jex.com.br

Edição 63 – de 05 a 11/Mar de 2006

 

Jornal do Capoeira

São Paulo, capital

Março de 2006

 

 

 

 

IRAPURU IRU PEREIRA começou a praticar Capoeira com mestre Patinho em São Luis-MA, com quem treinou durante alguns anos. Depois foi para o interior do Estado, mais precisamente na cidade de Barra do Corda-MA, onde participou de 1999 a 2005 do Grupo Flecha. Atualmente participa da organização do Grupo Angoleiros da  Barra, o GABA CAPOEIRA, sendo tal responsabilidade desenvolvida em parceria com SAMUEL BARROSO, um exímio Capoeira da região.

Começou capoeira aos 11 anos de idade, na cidade de São Luis, sendo que o que levou-o à praticar foi um problema de saúde. Na época iniciou-se com Mestre Patinho. Aos 14 anos de idade foi acometido por doença renal que entre outras restrições proibia-o de praticar atividades físicas. Depois disso teve alguns, segundo suas próprias palavras, retornos inexpressivos.

Em 1999 mudou-se à Barra do Corda-MA, onde para manter a saúde (novamente ela), teria impreterivelmente que se tornar um atleta. Retornou à Capoeira  através de um grupo local cujo Mestre acabara de chegar de Salvador. Este foi à Barra do Corda para fazer um trabalho com os índios (por lá são muitos duas etnias: Canelas e Guajajaras). O trabalho com os indígenas não vingou, mas ele, o mestre, fixou uma academia de Capoeira  “Regional”  na cidade, onde Irapuru Iru Pereira passou a participar até meados do ano de 2005.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em paralelo a isso, IRAPURU estava se graduando em História e durante todo o curso a Capoeira se mostrou um riquíssimo objeto de pesquisa, bem como um poderoso instrumento didático-pedagógico. Tal aproximação com o mundo teórico da Capoeira, que ele mesmo chama de  “a  Capoeira jogada  fora da roda”  levou-o a tentar  somar esses elementos, principalmente os de caráter libertários e ideológicos,  ao trabalho da  Academia. Não deu em outra, por se tratar de uma Capoeira hierarquizada, e  com grandes limitações teóricas e acadêmicas, passou a  ser alijado e teve que se afastar do  grupo, que a essa altura já introduzia agarrões do jiu-jitsu nas rodas na academia. Irapuru até comenta:  nada contra o jiu-jitsu, mas tudo a favor da Capoeira pura, simples e completa.

Antes de Irapuru, vários outros capoeiras também já haviam se afastado do grupo e não tinham para onde ir, sendo então convidado por eles para colaborar na construção de uma alternativa  de Capoeira. Optaram por fazer um trabalho de Capoeira Angola, levando em conta principalmente seus aspectos ideológicos e anárquicos.

A parada não foi – não está sendo – nada fácil, pois em Barra do Corda as pessoas só conheciam a Capoeira Contemporânea e todo imaginário sobre Capoeira está relacionado com essa expressão da nossa luta-dança-luta. Os integrantes do GABA desenvolvem seus trabalhos em uma forma gratificante de autogestão e exercício da democracia, onde todos do grupo procuram de alguma forma suprir suas carências. O GABA foi criado em outubro de 2005, e seus membros não tem a pretensão de fazermos do Trabalho um “negócio”, funcionamos através de oficinas de Capoeira  ministradas em escolas e agrupamos cerca de 40 Capoeiras.

Nessa caminhada já tiveram a colaboração do Nelsinho do Laborate e de Mestre Patinho, ambos de São Luis. Para os membros do GABA, o objetivo do “Grupo não é para ensinar Capoeira, mas sim para aprender Capoeira”.  Com diz o próprio Irapuru,

“não temos pressa, com já sabemos: CAPOEIRA ANGOLA É DEVAGAR!!!!”

GRUPO ANGOLEIROS DA BARRA – GABA  Fundado em 8 de outubro de 2005 – CNPJ 07.760.468/0001-2

Rua Idaspe Perdigão Freire, n.º 16, Bairro Incra-MA -CEP 65.0950- 000 Fone (99) 9642-0020

IRAPURU IRU PEREIRA, 38 anos, é graduado em História pela Universidade Estadual  do Maranhão – Uema, professor de Educação Física da rede  pública de Barra do Corda-MA, Professor “free-lance” de História da Uema e Professor de História e  Sociologia do  Ensino Médio.

ILUSTRAÇÕES:

        1) Charles, Neuma, Irapuru e Samuel, integrantes do GABA

        2) Capoeiras do Bairro Tamarindo, periferia de Barra do Corda

 

 

 

Gilson Pacheco _ Nascido em Barra do Corda, cidade do Maranhão, o pioneiro Gilson Pacheco, 58 anos é morador do Guará há mais de 45 anos, chegou na cidade  em 1968, aos 12 anos com a família, foi morar na QE 1, primeira quadra, antes da inauguração. Formou-se  em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília, e Gestão Ambiental, atuou por muitos anos em diversas áreas esportivas de Brasília. Influente na cidade desde os anos 80, ele sempre esteve presente em projetos sociais, apoiando o lazer e cultura, mesmo com sua aposentadoria adquirida este ano, ele promete não deixar de lado seu cuidado com a população do Guará. “Sou filho desta cidade, como pioneiro tenho muitas histórias construídas aqui, e continuarei atuando na história do Guará e trazendo melhorias á comunidade”. Com o gosto pelo esporte e a preocupação com o bem-estar da comunidade, Gilson presenciava a dificuldade dos moradores em praticar o esporte e lazer dentro do Guará, foi então que criou a Academia Água e Vida, localizada na QE 40, Guará II, hoje o clube é referência em todo o Distrito Federal, para trazer conforto e acessibilidade para os amantes do hobby na cidade e região. Para os próximos anos, o empresário aposentado, planeja desfrutar com sua família a tranqüilidade de uma vida instável que conquistou ao longo dos anos com seu trabalho, mas sem esquecer das causas locais. http://blogdoamarildo.com.br/?p=4248

 

[1] Painel apresentado na III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, 1995; Artigo publicado na COLETÂNEA INDESP – DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília: Ministério Extraordinário dos esportes/Instituto Nacional de Desenvolvimento dos desportos, 1996, p. 106-111. Revisto e ampliado para esta apresentação.

 

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