CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ

– A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA

 

Ao Sérgio Capoeira – Sergio Luis Aguiar da Costa
Sérginho é velho conhecido; licenciado (Plena) em Educação Física e Especialista em Docência do Ensino Superior, um dia o vi como Artista Popular, tocando no Tambor de Mestre Felipe, ali no CEPRAMA. Fui cumprimentá-lo e conversamos um pouco. Logo depois vim a encontrá-lo no Matroá, de Mestre Marco Aurélio e soube-o Capoeira também. Temos conversado desde então…

Nesse dia, ele e Serginho estavam conversando sobre o evento que estavam preparando – A Punga dos Homens do Tambor de Crioula. Pediram-me uma contribuição, meus escritos, sobre o tema proposto, uma vez que advogo:

(1) a existência de uma capoeira genuinamente maranhense;

(2) que essa Capoeira recebeu várias influencia, e também denominações diferentes ao longo do tempo, pelo menos desde o inicio dos anos 1800, conforme comprovado por fontes primárias;

(3) que ao identificar o surgimento dessa modalidade da lúdica e do movimento, e sua singularidade no Maranhão, aparecem várias denominações e gestos que a caracterizam e a identificam, todos comprovados por pesquisas;

(4) dentre as denominações da Capoeira – prefiro, no Maranhão, a utilização do termo “Capoeiragem”, para diferenciá-la  da ‘”Capoeira” de origem baiana, introduzida aqui por Mestre Sapo nos idos 1960 – e dentre essas denominações aparecem “carioca”, “pernada”, “punga”, que diversos pesquisadores identificam como ligadas  à Capoeiragem maranhense.

Sérginho me escreve, apresentando duas ressalvas em relação a meus escritos:

1 O debate de sábado à tarde, com a presença de mestres de Capoeira, não estava “tratando da capoeira como punga dos homens” e sim, tentando sensibilizar os Capoeiras a conhecer mais a fundo e valorizar algo que é nosso, está em nosso estado ainda de latente forma. Há muito tempo que nós do Laborarte, passamos por esse fogo cruzado com a comunidade de Capoeira. Dançamos Cacuriá, brincamos bumba-boi, dançamos Lele e felizmente, tivemos a graça de ter um MESTRE da qualidade de Mestre Felipe.

 

Bem, Serginho, o objetivo foi de:

“[…] esclarecer se tal expressão corporal é remanescente de uma forma de luta, própria de povos africanos trazidos para o Maranhão e, se há uma relação com a Capoeira, bem como, os motivos pelos quais não se faz presente entre as brincadeiras de tambor de crioula, existentes na capital do estado.” (FOLDER DO EVENTO).

 

Creio que se estava, sim, tratando da Punga dos Homens como uma Capoeiragem primitiva, e que possivelmente tenha sua origem no Tambor de Crioulo. Note que uso no masculino… E afirmo baseado em Câmara Cascudo, Carlos Cavalheiro, e outros pesquisadores do folclore brasileiro, que trazem a ‘punga’ como maranhense, ou melhor, identificada como maranhense, e sua descrição aparece em vários momentos e localidades, seus gestos, com outros nomes. Mas a raiz é uma só: a matriz africana, e sua simbiose com a indígena.

Repetindo o que já escrevi: dizia Mestre Cavalheiro:

Das diversas lutas/jogos afro-brasileiras, tem-se informação das seguintes: Em Alagoas foi chamada de bate-coxa; em Pernambuco transformou-se no passo do frevo; na Bahia era a capoeira Angola e o batuque; samba de aboio em Sergipe; samba-de-roda no interior fluminense; pernada no Rio de Janeiro; punga no Maranhão; tiririca na capital paulista e pernada no interior de São Paulo. Isso não significa que não se encontrasse o nome genérico de capoeira nessas localidades.

Não negamos, em momento algum, o que consta do folder: “[…] o aprendizado, a pesquisa e o debate em torno dessa expressão –[Punga dos Homens] -, que muito embora seja tema de interesse da Capoeiragem, também diz respeito ao público em geral, na medida em que pessoas ligadas à pesquisa, dança, artes cênicas e de lutas, audiovisual, dentre outras, buscam na arte e na cultura popular, elementos de composição para as suas mais diversas expressões.”

 

Eu fui buscar elementos que comprovassem a relação punga e capoeiragem no Maranhão; de ser a punga dos homens uma forma de capoeira primitiva; o que vi me dá essa certeza, dentro dessa hipótese levantada, e creio eu, comprovada… Sem descartar o ponto de vista, o teu, principalmente, que o vê como atividade eminentemente cultural, pertencente ao grupo de jogos dançados…

Prossegue Serginho:

Quanto a esse aspecto, nos apaixonamos pelo Tambor de Crioula. Tocar tambor, não tem explicação, ainda mais quando os três tambores se emparelham, os tocadores se conhecem, sabem o que cada um vai fazer. Nesse aspecto, descobrimos que dançar, não é apenas rebolar ou fazer caras e bocas, como atualmente já se detecta. Observando os pés da tambozeira, percebemos que quanto melhor ela é, mais a mesma acompanha as pancadas do Tambor Grande, punga certinho no meião e ainda dá tempo de fazer uns quebrados no pererengue.

 

O que é reforçado quando fala de sua motivação a querer conhecer mais a punga dos homens:

Claro que a Capoeira nos levou ao tambor e como não poderia deixar de ser, também nos levou a punga dos homens. Mas, quero que leve em consideração, que embora amantes incondicionais da Capoeira, em momento algum, uma coisa tenta se tornar outra em nossos corpos. Evidente que o que aprendemos na Capoeira, pode facilitar e muito que pretendemos aprender na punga. Aquilo que possamos aprender na punga, com certeza se manifestará na Capoeira e, quem sabe, fortaleça nossa prática enquanto Capoeira do Maranhão, uma questão de identidade para uma localidade que quase tudo de novo que se aprende vem de fora.”

 

O Mestre Sérgio Capoeira afirma que o desejo não é divulgar que a punga seja a Capoeira primitiva do Maranhão; entende que

os diversos estados em nosso país desenvolveram algumas artes de luta e que localizadas no tempo passado, nunca foram denominadas de Capoeira. Preferimos deixar a punga onde ela está dentro do Tambor de Crioula. O Capoeira que quiser aprender a punga, além de ser Capoeira, passará também a ser Coureiro, Tambozeiro ou Punga (como eles se denominam, e não “pungueiros”).

 

Concordo plenamente!!! Onde está a divergência? Quanto ao uso do termo ‘pungueiro’ foram os próprios participantes – Junhero, o próprio Marco Aurélio, que o utilizou e assimilei…

2 Quando Mestre Patinho desenhou o triangulo no chão, ele estava se referindo somente a Capoeira. Quando inverteu o triangulo, ele estava abordando aquilo que o mesmo chama de ginga invertida. Na punga não existe o triangulo e sim a base de pés juntos naquilo que denominam de “esperando” punga.

Meu Mestre, Patinho me ensinou que Capoeira é prática, e só quem a pratica tem condições de discutir, com o que concordo; mas naquele momento, Patinho fez referencia à similaridade gestual, em que ‘ginga invertida’ se assemelha à punga, no momento em que vai levar o joelho – daí a necessidade do passo a frente – saindo da base paralela, passo a frente, para elevar a outra perna, a que vai golpear; deu o exemplo, riscando o triangulo no chão, e depois repetiu o gesto com o auxílio de outro capoeira, que recebeu o golpe… Até aí, concordamos… Claro, eu não sou Capoeira, escrevo sobre a História, daí minha dificuldade em entender e descrever o gestual…

Prossegue Sérgio:

Estou plenamente de acordo com vossa pessoa, quando diz que a ascensão histórica da Capoeira “matou” diversas artes e brincadeiras de luta por esse Brasil afora. Acho que sim, a “invasão” cultural e apaixonante da Capoeira deve ter causado esse efeito. Por isso, quando detectamos que a punga dos homens sobreviveu, isto se torna mais um motivo para que tenhamos orgulho do Tambor de Crioula pertencer ao Maranhão e que mais pessoas passem a praticá-lo, inclusive nossos camaradas da Capoeira”

 

Já escrevi que concordo com Mestre Cavalheiro quando afirma que o fenômeno das academias baianas trouxe uma nova conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática, especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro. Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa… Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in Jornal do Capoeira).

     Vamos verificar algumas descrições, então, dos gestuais:

BATE-COXA – manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos” – os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o “ê boi”, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao ouvir o “ê boi” do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido.

BATUQUE [1]– dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. A tradição indica o batuque-boi[2] como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola – a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita-se o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar aposição primitiva. Havia golpes como a encruzilhada em que o atacante atirava as duas pernas contra as pernas do adversário, a coxa lisa, em que o jogador golpeava coxa contra coxa, acrescentando ao golpe uma raspa, o baú, quando as coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente.

O batuque era uma luta/dança parecida com a capoeira, onde os jogadores usavam as pernas para desequilibrar o adversário, jogada ao som de músicas, ritmada por pandeiros e bastante violenta, uma vez que muitos golpes tentavam acertar a região genital.[3]

Permita outra transcrição, e veja se lembra de algo:

“Todos os dias no Morro da Favela (onde nasceu o samba, no Rio) havia Batuque, pernadas, pessoas caídas no chão até que surgisse a polícia. Na chegada dela, o batuque rapidamente virava meio dança lenta, meio ritual. As mulheres dos batuqueiros, para disfarçar, entravam na roda (tal qual a gira dos candomblés) e, num batuque mais lento, mole, com remelexos, trejeitos sensuais e umbigadas (= semba, em Loanda) no sexo oposto, – sendo estas consideradas o ponto culminante da dança -, demonstravam estar se divertindo. Segundo Elias Alexandre da Silva Correia [4]o batuque é uma dança indecente que finaliza com umbigadas.”. (D´Avila, 2006)[5].

Para D´Ávila (2006), assim nasceu o samba-de-roda na Bahia. Mistura de um batuque com as mulheres das rodas dos candomblés, com outro batuque representado pelos homens das capoeiras. É em virtude desta fusão que, ainda nos dias atuais, verificamos ser o samba-de-roda a única modalidade de samba em que a presença do berimbau se faz notar e é tocado, tradicionalmente, quando há mulheres presentes na roda:

“[…] Quando a polícia se retirava, recomeçava o batuque bravo quando caprichavam na capoeiragem, com pernadas violentas, soltando baús, dourado, encruzilhada, rabo-de-arraia, que tiravam os conflitantes da roda. Corte difícil de defender para um batuqueiro era o da tiririca com o seguinte canto puxado pelo mestre: ‘tiririca é faca de cortar / quem não pode não intima /deixa quem pode intimá’. Um pé ficava no chão e o outro com violência, no pé do ouvido do adversário. Em conseqüência da tiririca = faca, surgiu no samba-de-roda o raspado de prato e faca, do modo dos reco-recos raspados nas batucadas. Um último tipo de batuque bravo (dança-luta) é o bate-coxa em Alagoas, na cidade de Piaçabuçu, praticada exclusivamente por negros em que dois disputantes sem camisa, só de calção aproximam-se e colocam peito com peito, apoiando-se mais nos ombros. Soa a música… ‘são horas de eu virar negro / eh! boi…/ Minha gente venha ver / com meu mano vadiar /, eh! Boi…/ são horas de eu virar negro / tanto faz daqui pr.ali / como dali pr.acolá / eh! Boi…/ são horas de eu virar negro’. Afasta a coxa o mais que podem e quando escutam o coro cantar eh! Boi…., chocam-se num golpe rápido, coxa direita com a direita do adversário. Repetem a esquerda chocando bruscamente ao ouvir o eh! Boi…Perde quem desistir, sentir-se vencido ou levar uma queda após a batida. O canto é acompanhado por um tocador de reco-reco […]”D´Avila (2006)[6].

Reis (1997) [7] informa que:

O batuque baiano, segundo Câmara Cascudo (1988), era uma modalidade da capoeira. O acompanhamento musical assemelhava-se ao dela, com utilização de pandeiros, berimbaus e ganzás, além do que se entoavam cantigas. A luta envolvia dois jogadores por vezes, os quais deveriam unir as pernas com firmeza e aplicar rasteiras um no outro. O principal era evitar cair e “por isso mesmo era comum ficarem os batuqueiros de banda solta, isto é, equilibrado numa única perna, a outra no ar, tentando voltar à posição primitiva (…).” (p.129 – nota de número 12)

 

Para Sandroni, trata-se de:

“[…] um jogo de destreza corporal, variante da capoeira, que foi popular no Rio de Janeiro. Pode ser considerada também como uma variante do samba-de-umbigada definido por Carneiro, pois consistia numa roda, como os usuais cantos responsoriais e palmas dos participantes, onde a umbigada era substituída pela pernada, golpe com a perna visando derrubar o parceiro, o qual, se conseguisse se manter de pé, ganhava o direito de aplicar a próxima pernada no parceiro que escolhesse. A batucada se diferencia dos outros sambas-de-umbigada por sua componente violenta (2001:103”).

 

PERNADA – Câmara Cascudo  assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro; diziam os marinheiros que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Na Bahia somente em arraiais do Recôncavo  se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna.  No Rio de Janeiro já se dá o contrário – a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo.

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira.

“Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite).

 

Letícia Vidor de Souza Reis[8], baseada em Câmara Cascudo, afirma que o “batuque baiano” era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana[9]. Em entrevista ao Jornal Diário da Bahia, na sua edição de 13 de março de 1936, na matéria: “Titulo Máximo da Capoeiragem Bahiana”, Bimba, dá uma longa entrevista acerca de seus desafios públicos na divulgação da chamada Luta Regional. Da mesma destacamos o seguinte trecho:

“Falando sobre o actual movimento d’aquele ramo de lucta, genuinamente nacional uma vez que difere bastante da Capoeira d’angola, o conhecido Campeão (Bimba) referindo-se a uma nota divulgada por um confrade matutino em que apparecia a figura do Sr. Samuel de Souza. Do Bimba, de referência aos tópicos ouvimos: Ao som do berimbau não podem medir forças dois capoeiras que tentem a posse de uma faixa de campeão, e isto se poderão constatar em Centros mais adiantados, onde a Capoeira assume aspectos de sensação e cartaz. A Polícia regulamentará estas exibições de capoeiras de acordo com a obra de Aníbal Burlamaqui (Zuma) editada em 1928 no Rio de Janeiro… Nesta reportagem existem alguns itens que merecem uma atenção mais detalhada: (a) A confirmação da influencia de Zuma no trabalho implantado por Mestre Bimba; (b) O reconhecimento de Bimba ao trabalho de Zuma; (c) A afirmação de Bimba existia Centros mais adiantados em Capoeira que a Bahia, no caso, a Cidade de Rio de Janeiro; (d) O interesse de Bimba pela prática desportiva da “Luta Nacional”; (e) A integração de seu discípulo nesta inovação; (f) A adoção do regulamento de Zuma pela direção do Parque Odeon, onde se realizavam tais apresentações; (g) A liberação pela polícia, daquela forma de luta já existente no Rio de Janeiro. ( Fonte: Rego, op. cit., 1968. pág. 282 e 283; Diário da Bahia. Salvador 13 de março de 1936; Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural – Prof. Dr. Sergio Luiz de Souza Vieira – PUC/SP 2004)[10]

Banda jogada, de Zuma[11]

A afirmação traz um significado especial por tratar do batuque baiano na formação de Mestre Bimba, da qual seu pai era campeão na modalidade, porque implicava num jogo agressivo de pernas contra as pernas do oponente, já como uma forma característica de luta acompanhada por cânticos e instrumentos.

Quanto a Anibal Burlamaqui – Mestre Zuma [12] – foi um importante inventor da nova capoeira carioca e afirmou que vários golpes foram extraídos dos “batuques” e “sambas”, como no caso do “baú”. Trata-se de um golpe dado no adversário com a barriga, sendo similar aos movimentos do “samba de umbigada”. O “baú” também era usado durante os “batuques lisos”, segundo Zuma, os mais delicados. O “rapa” havia sido um golpe usado nos “batuques pesados”. Ele também explica os golpes de “engano”, que serviam somente para burlar o adversário.[13]

Mestre André Lacé[14], a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque.   Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas[15].

Segue a Roda…

Mestre Pastinha com seus discípulos no Pelourinho/BA.

No jogo: Na Atividade e Albertinho da Hora. Na bateria:
Gildo Alfinete, Gaguinho, Nelson, Sapateiro, Genário
Lemuscoto, Roberto Satanás, Rui Lemuscoto e Genésio Meio Quilo
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http://paznomundocamara.blogspot.com.br/2010_08_01_archive.html

 

 

 

[1] CARNEIRO, E.A Sabedoria Popular. Rio de Janeiro: Edição de Ouro (1948), Civilização Brasileira, 1978, citado por D.ÁVILA, Nícia Ribas in UNESCOM – Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, São Bernardo do Campo – SP. Brasil – 9 a 11 de outubro de 2006 – Universidade Metodista de São Paulo, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010.

[2] Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira.

[3] Vale aqui uma referencia a Mestre Tiburcinho, também conhecido como Tibúrcio de Jaguaripe, lembrado entre poucos capoeiristas como um mestre de batuque. Também foi um grande mestre de capoeira e figura importante da cultura popular brasileira.  Tibúrcio José de Santana nasceu por volta de 1870 em Jaguaripe. Aprendeu o batuque com Mestre Bernardo, ali no Recôncavo mesmo. Foi um grande batuqueiro e um dos últimos a preservar essa arte. Chegou a Salvador de saveiro, como a maioria dos trabalhadores da região. Conheceu a capoeira de Salvador no Mercado Popular e se enturmou com os capoeiristas locais, se tornando um deles. Ficou famoso nas rodas de capoeira pela sua habilidade.  Depois de algum tempo, Mestre Tiburcinho começou a freqüentar a academia de Mestre Pastinha e era muito visto por lá. Com mais de 80 anos, era um capoeirista malicioso, mandingueiro, perigoso. Cantava sempre músicas da outra luta que praticava, mantendo-as vivas, como: Ê loandê… Tiririca é faca de cortá… num me corta molequinho de sinhá… Outro fato importante para a cultura brasileira é que foi Mestre Tiburcinho, levado a Mestre Bimba por Mestre Decânio, quem ajudou o famoso criador da Capoeira Regional a lembrar-se de muitas cantigas e até coreografias de maculelê. Graças a esse encontro, Mestre Bimba começou a colocar o maculelê em apresentações com seu grupo. Oo que fez com que o maculelê fosse estudado e apresentado por vários grupos de capoeira até hoje. Se o batuque Mestre Tiburcinho não conseguiu manter vivo, a “redescoberta” do maculelê teve uma grande força dele. Esse grande Mestre participou do “Dança de Guerra”, filme de Jair Moura. É citado entre outros capoeiristas no livro “Tenda dos Milagres”. E a gente faz questão de lembrar o nome dele por aqui. In http://zungucapoeira.blogspot.com/2009/06/mestre-tiburcinho-batuque-capoeira-e-o.html, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010.

[4] SILVA, A. E. C. – História de Angola – I, 89, Lisboa, 1937, in Moura J. – Mestre Bimba. Salvador (BA): Prod. Zumbimba, 1993.

[5] D.ÁVILA , 2006, obra citada. Disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf, publicado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010.

[6] Conforme D.ÁVILA, R. N. Análise Semiótica do Fato Musical Brasileiro BATUCADA. Tese de doutorado em Ciências da Linguagem – Semiótica. Sorbonne, Paris III – França, 1987.

Ver também

D’ÁVILA, R. N.. Trabalho apresentado no II° Congresso Brasileiro de Musicologia e III° Congresso Internacional de Música Sacra, na Escola Superior de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Da contribuição afro-indígena na música do Brasil, promovido pela (SBM) Sociedade Brasileira de Musicologia, 1992;

D.ÁVILA, R. N. – O SAMBA EM PERCUSSÕES – BATUCADA BRASILEIRA. Como tocar os instrumentos das Escolas de Samba, por música. Vol. I. Método com cassete. Santos (SP): Ed. A Tribuna, 1990;

ARAÚJO, A. M. – Brasil. Histórias, costumes e lendas. S. Paulo: Editora TRÊS;

CARNEIRO, A. L. Canções e danças de Monte-Córdova. Sep. de Douro – Litoral, IV; 3a. Série. Porto. 1964; RODRIGUES, N. – Os africanos no Brasil – S.Paulo: Ed. Nacional – 5a. Edição. Vol.9, l977;

MUNIZ JR., J. Do Batuque à escola de Samba, S. Paulo: Ed. Símbolo – l976;

CARNEIRO, E. – Samba de Umbigada, p. 33, in Mukuna, Kasadi Wa.- Contribuição Banto na Música Popular Brasileira. S. Paulo: Editora Global – s/d.

[7] REIS, 1997, obra citada.

[8] REIS, 1997, obra citada.

[9] in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf

[10] Disponível em http://www.capoeira-fica.org/

[11] Zuma fue un importante inventor de esta nueva capoeira carioca y afirmó que varios golpes fueron extraídos de los “batuques” y “sambas”, como en el caso del “baú”. Se trata de un golpe dado en el adversario con la barriga, siendo similar a los movimientos del “samba de ombligada”. El “baú” tam- bién era usado durante los “batuques lisos”, segundo Zuma, los más delicados. El “rapa” habría sido un golpe usado en los “batuques pesados”. Él también explica los golpes de “en- gaño”, que servían solamente para burlar al adversario. Correspondencia pessoal de Javier Rubiera [mailto:capoeira.espanha@gmail.com] Enviada em: quarta-feira, 5 de agosto de 2009 22:49 Para: leopoldovaz@elo.com.br Assunto: [SPAM] [Sala de Pesquisa – Internacional FICA] Zuma, la Samba de Umbingada, el Morin…

[12] VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf – A Capoeira Desportiva é o mais antigo segmento organizado da Capoeira. Surgiu no Rio de Janeiro após a Proclamação da República, no Brasil, em 1889. É resultante do reaproveitamento da corporalidade da antiga capoeiragem, em seus gestos e movimentos, para a construção de um método ginástico caracterizado por uma forma de luta sistematizada. Em 1904 surgiu um livreto anônimo, sob o nome: Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, com algumas propostas deste reaproveitamento, no qual se encontram as letras ODC, que significam “ofereço, dedico e consagro”, no caso “à distinta mocidade”. Foi somente em 1928 que a Capoeira Desportiva foi metodizada e estruturada por seu precursor, Annibal Burlamaqui, conhecido pelo nome de Zuma, o qual elaborou a primeira Codificação Desportiva da Capoeira, sob o título de: Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Sua obra.

Ver ainda:

http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/zuma-la-samba-de-umbingada-el-moringue.html

http://www.capoeira-fica.com/PDF/Capoeira_Origem_Historia.pdf

http://www.capoeiraunb.com/textos/DOS%20ANJOS,%20ED%20-%20Educacao%20fisica%20e%20reordenamento%20no%20mundo%20do%20trabalho.pdf

http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=848

[13] http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SWfpDlAQZ6I/AAAAAAAAC68/mfXW2md8_IM/s1600-h/punga.gif, in Javier Rubiera para Sala de Pesquisa – Internacional FICA

[14] LACÉ LOPES, 2004, obra citada.

LACÉ LOPES, 2004, obra citada..

LACÉ LOPES, 2005, obra citada.

LACÉ LOPES, 2005, obra citada.

LACÉ LOPES, 2007, obra citada.

LACÉ LOPES, 2006, obra citada.

[15] LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.

 

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