DESENHOS E ENCANTOS DO BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO parte 2
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Professor de Educação Física – DCS
Mestre em Ciência da Informação
“Cheguei, dona,
Cheguei, dona,
Abra a porta
De seu bangalô,
Cheguei com meu
Batalhão superior,
Com a carta
Que você me chamou”
Apresentamos ao Prof. Jorge Leão um primeiro texto[1] para estudo dos alunos da cadeira de Sociologia dos cursos de segunda série de Design do CEFET-MA, para dar início a uma discussão, dentro de sua proposta de um Projeto Interdisciplinar que tem como eixo temático a ‘Cultura e Manifestações folclóricas’, e por tema: ‘Desenhos e Encantos do Bumba-Meu-Boi no Maranhão’, envolvendo as Disciplinas: Sociologia, História, Educação Física, Geografia, Artes, Design.
Naquele texto apresentamos que os grupos de Bumba-meu-Boi do Maranhão [2] são subdivididos comumente em sotaques (estilos) característicos, sendo os mais conhecidos: matraca [3], zabumba [4], orquestra [5], baixada [6] e costa de mão[7].
Essa classificação dos sotaques aparece em REIS (1986, 1999) [8]; CARVALHO (1995) [9]; LIMA (1998; 2003) [10], além de se repetirem nos informes dos sítios oficiais do estado do Maranhão[11], e vários trabalhos acadêmicos de conclusão de cursos de mestrado e doutorado. Mas há quem não aceite essa classificação…
“Vaqueiro,
Vaqueiro, vai procurar meu boi,
Que eu não sei onde está.
Ele é um touro bem prendado da fazenda,
Que eu quero que vá chegar”
Américo AZEVEDO NETO em seu já clássico “Bumba-meu-Boi no Maranhão” [12] – para falar de sotaque (p. 24-25) – afirma já ter sido dito que, no Maranhão, existem quatro a cinco sotaques[13], o que se constitui uma precipitação. Prefere falar em “grupos”, “subgrupos” e de “sotaque”, sendo:
- “Grupo é a influência maior e primeira – nos instrumentos utilizados, na batida básica da bateria, na idéia central do guarda-roupa e no baiado[14].”
- “Subgrupos são as várias derivações dos grupos, cada uma apresentando alterações, pequenas ou grandes, dentro daquele conjunto de características, em obediência às influências de sua região de origem. É o estilo de uma determinada região. Subgrupo é o estilo regional”.
- “Sotaque é a deturpação do subgrupo. É o estágio em que algumas características principais (grupos) ou secundárias (subgrupo) foram alteradas: por imposições econômicas ou estéticas do dono do boi. Finalmente: sotaque é o estilo individual de cada conjunto.”
Conclui (partindo da idéia de que as características do ritmo, do guarda-roupa e dos instrumentos utilizados é que determinam o agrupamento de bois num mesmo sotaque), então “… que cada conjunto é um sotaque, uma vez que não existem bois exatamente iguais” (p. 25). Sotaque, assim, não é o estilo de vários bois. Sotaque é a característica individual de cada boi (p. 26):
“Por exemplo: o chamado sotaque de Zabumba não é sotaque. É subgrupo, pois reúne bois que têm diferenças suficientes para que sejam considerados como de sotaques distintos, embora tenham, praticamente, o mesmo ritmo e o mesmo quarda-roupa.
“Um caso concreto: os bois de Lauro e Leonardo dizem-se do mesmo sotaque. Nunca! São, na verdade, de um mesmo subgrupo (Guimarães), mas de sotaques distintos. Se é certo que a batida da bateria, basicamente, é a mesma, varia a concepção do auto e significativa parte do guarda-roupa e seus ritmos têm sensíveis diferenças. São da mesma região, do mesmo ramo e, por conseguinte, sofreram, nas origens, influências comuns, tanto primárias (grupo) como secundárias (subgrupo. São similares, o que é suficiente para reuni-los num mesmo subgrupo, mas não são inteiramente iguais, o que, também, é bastante para separá-los em sotaques”. (p. 26)
Azevedo Neto (1997) caracteriza os grupos segundo suas raízes, claras e incontestáveis. Em uns aparece a influência indígena no ritmo, nos instrumentos, no guarda-roupa e no baiado – é o Grupo Indígena. Em outros, o ritmo, o baiado e os instrumentos são negros, assim como a influência maior no guarda-roupa – é o Grupo Negro. E, vindos de um passado recente, um grupo onde a coreografia, o guarda-roupa e os instrumentos são tipicamente brancos: é o Grupo Branco (p. 31).
Para que se considere como surgimento de um subgrupo, deve-se atentar para as alterações que o boi original sofreu conforme os locais aonde os conjuntos iam se formando: novos instrumentos incluídos, alterando o som; intensificação ou lentidão das batidas, com o surgimento de variações rítmicas; criação ou supressão de peças do guarda-roupa, em obediência às condições locais e aos gostos predominantes no conjunto. Mas essas alterações se mantiveram próximas as raízes, havendo mudanças, mas não posição. O grupo vai se subdividindo, mas mantém as suas características básicas (p. 31).
“A verdade é que todos os bois, em princípio, foram fundados tendo por alicerce as tradições de um subgrupo. Ninguém, ao organizar um conjunto, tentou criar estilo inteiramente novo. A brincadeira é por demais sedimentada para que alguém se atreva a inovar gratuitamente. Mas, uma fez organizado o brinquedo, o líder determina mudanças: inclusões ou exclusões; marca o conjunto com sua personalidade; imprime-lhe os seus gostos pessoais; impõe sua noção própria de estética e – enfim – omite ou acrescenta isso ou aquilo, em razão do maior ou menor poder aquisitivo. Aí, dentro de um subgrupo, surge um outro sotaque.” (p. 31-32).
O autor apresenta, então, sua classificação para os Bumba-meu-Boi do Maranhão. Faz a ressalva de que essa classificação corresponde à realidade dos últimos dez anos – década de 1970 -. Lembra ainda ser natural que nos 15 anos decorridos entre as publicações da primeira edição (1983) e esta segunda (1997) – que tomamos por base -, o quadro abaixo reunido tenha sofrido numerosas transformações. Conjuntos surgiram, desapareceram ou adotaram novas orientações. No período compreendido entre as duas edições, o grupo que mais cresceu foi o de orquestra:
QUADRO DE GRUPOS, SUBGRUPOS E SOTAQUES
DE BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO – DÉCADA DE 1970.
B
U M B A – M E U – B 0 I
D O
M A R A N H Ã O |
GRUPO AFRICANO |
Subgrupo de Zabumba ou
da zona de Guimarães (Bois de Guimarães) |
Sotaque de Leonardo –
De Canuto – De Antero – De Laurentino – De Newton – De Lauro |
Subgrupo da zona de
Itapecuru |
Sotaque de Coroatá –
De Caxias – De Codó – De Itapecuru |
||
Subgrupo de Cururupu | |||
Subgrupo do Mearim |
Sotaque de Pedreiras –
De Bacabal |
||
Subgrupo de Penalva | |||
GRUPO INDÍGENA |
Subgrupo da Ilha
(Bois da Ilha ou bois de Matraca) |
Sotaque de Madre Deus –
De Iguaíba – De São José de Ribamar – de Maracanã – De Matinha – De Maioba |
|
Subgrupo da Baixada
(Bois da Baixada) |
Sotaque de Pindaré –
De Viana – De São João Batista |
||
GRUPO BRANCO |
Subgrupo de Orquestra
(Bois de Orquestra) |
Sotaques de Rosário –
de Axixá |
Fonte: AZEVEDO NETO (1997), p. 32
“- Urrou! Urrou!
Urrou que ouvi!
Boi mais bonito que este
Garanto que nunca vi!
Urrou! Urrou!
Urrou fama reá!
Boi de fama como este
No sertão não haverá!”
Tarefas
– Nome do Conjunto
– Procedências (relacionadas ao subgrupo): município de origem do conjunto e, se for da ilha de São Luís, o bairro de procedência.
– Ritmo, figurino, instrumentos e baiado: busquem na literatura as características de cada conjunto e os classifique segundo a classificação de AZEVEDO NETO (1997)
- Grupo: (Africano, Indígena, ou Branco)
- Subgrupo:
Subgrupo de Zabumba ou da zona de Guimarães (Bois de Guimarães) |
Subgrupo da zona de Itapecuru |
Subgrupo de Cururupu |
Subgrupo do Mearim |
Subgrupo de Penalva |
Subgrupo da Ilha (Bois da Ilha ou bois de Matraca) |
Subgrupo da Baixada (Bois da Baixada) |
Subgrupo de Orquestra (Bois de Orquestra) |
- Sotaque:
Sotaque de Leonardo – De Canuto – De Antero – De Laurentino – De Newton – De Lauro |
Sotaque de Coroatá – De Caxias – De Codó – De Itapecuru |
Sotaque de Pedreiras – De Bacabal |
Sotaque de Madre Deus – De Iguaíba – De São José de Ribamar – de Maracanã –
De Matinha – De Maioba |
Sotaque de Pindaré – De Viana – De São João Batista |
Sotaques de Rosário – de Axixá |
Caso o Conjunto não esteja relacionado entre os identificados acima, procure enquadrá-lo e apresentar um novo quadro,
– Observar as toadas e os seus temas, quais os elementos presentes nas letras e nas melodias (cenas históricas, problemas sociais, contexto político da cidade, devoção religiosa, toadas de amor, toadas de pique – provocação a outros cantadores).
– observar a evolução do conjunto no terreiro (se há um baiado espontâneo ou se foi feita alguma coreografia).
– Observar o couro do Boi e os elementos presentes na composição do mesmo: motivação religiosa, exaltação da natureza, ou a lembrança do município / comunidade de onde se originou o conjunto.
– Observar se há um traço folclórico no confronto entre “festa” e “representação”.
– Observar a influência da indústria cultural (mídia), empresas, durante a apresentação dos conjuntos nos arraiais.
[1] DESENHOS E ENCANTOS DO BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO – texto 1, pesquisa efetuada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz, do DCS, apenas para servir de base. Não é um estudo original, pois se trata de colagem de material retirado da Internet, indicando-se as fontes. Original, apenas a abordagem…
[2] In http://www.angelfire.com/or/rosangela/bumbameuboi.html;
CARVALHO, Michol. O Bumba-meu-boi do Maranhão. São Luís: SUPERINTENDÊNCIA DE CULTURA POPULAR, 2006. In http://www.culturapopular.ma.gov.br/artigos2.php?id=2
[3] Sotaque de Matraca ou da Ilha – mais aberto ao grande público, fácil de identificar musicalmente pela presença de pandeirões e das matracas em grande quantidade. É característico da Ilha de São Luís, tendo como principais instrumentos as matracas (duas tábuas de madeira geralmente enceradas) e os pandeiros (grandes rodas de arco de madeira cobertos de couro de cabra). Tem um ritmo acelerado, sob o som estridente de dezenas de matraqueiros, formando grandes batalhões, aonde o pessoal da percussão vem todo à paisana. Na frente acha-se o cordão de rajados, no qual chama atenção os cablocos de pena com o seu forte bailado, ao lado das tapuias.
[4] Sotaque de Zabumba – que se marca pela presença retumbante da percussão rústica sentida profundamente por seus adeptos como se fosse um rufar dos tambores africanos que se ouvem à noite nos terreiros-de-mina, em todo o Estado, aqui enraizados, num relance cronológico que lembra os cultos afros originais. Advindo do município de Guimarães e circunvizinhanças, sua percussão é marcada pelo ritmo socado de grandes tambores – as zabumbas – levados numa vara e tocados com uma maceta, juntamente com pandeirinhos e maracás. As roupas dos seus brincantes trazem golas e saiotas de veludo preto bordado com primor e chapéus formando uma guirlanda, com numerosas fitas multicoloridas, que na evolução do brincante chegam quase a cobrir seu rosto
[5] Sotaque de Orquestra – onde se sobressaem instrumentos sonoros como pistões, sax, clarinetes, banjos, entre outros, acompanhados de percussão mais suave que sotaque de Zabumba. Com o berço na região do Munim apresenta um ritmo alegre, faceiro e cambriolante. O cordão é formado por brincantes trajados com peitilho ou colete e saiote de veludo bordados com miçangas e canutilhos, que, com um maracá na mão, suscitam o balanceio do boi, embalado pela sua envolvente musicalidade.
[6] Sotaque de Pindaré ou da Baixada – que se caracteriza pelo toque mais leve e suave, tanto dos pandeiros quanto das matracas, ambos menores que os da ilha (São Luís) além de sua riqueza ornamental na exuberância dos seus chapéus. No seu guarda-roupa exuberante destacam-se os chapéus dos vaqueiros, com grandes testeiras de veludo preto bordado, cercados de pena de ema. Um personagem característico deste sotaque é o Cazumbá – de caráter místico, mistura de homem e bicho, que usa bata comprida de pano rústico pintado ou veludo bordado e máscara de madeira, em formato de animais, de pano ou isopor (mais comuns no interior, formando verdadeiras esculturas).
[7] Sotaque De Costa De Mão – Da região de Cururupu tem as roupas (casacos e calções) de seus brincantes de veludo todo bordado, além de chapéus em formados de cogumelo afunilado, com fitas coloridas e grinaldas de flores, no alto. Seus pandeiros pequenos são tocados com as costas das mãos, num ritmo cadenciado, que conta também com caixas e maracás.
[8] REIS, José Ribamar. FOLCLORE MARANHENSE (Informes). 2 ed. São Luís, 1986
REIS, José Ribamar Sousa dos. FOLCLORE MARANHENSE (Informes). 3 ed. São Luís, 1999
[9] CARVALHO, Maria Michol Pinho de. MATRACAS QUE DESAFIAM O TEMPO: É O BUMBA-BOI DO MARANHÃO. São Luís: (s.n.), 1995
[10] LIMA, Carlos de. O UNIVERSO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO. São Luís: Boletim da CMF, 1998.
LIMA, Carlos de. O Universo Do Bumba-Meu-Boi Do Maranhão. In NUNES, Izaurina de Azevedo (org.). OLHAR, MEMÓRIA E REFLEXÕES SOBRE A GENTE DO MARANHÃO. São Luís: Comissão Maranhense de Folclore, 2003, p. 73-76.
[11] http://www.culturapopular.ma.gov.br/artigos2.php?id=2
[12] AZEVEDO NETO. Américo. BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO. 2 ed. Aum. São Luís: ALUMAR/AML, 1997
[13] Para esse autor, ‘sotaque’ é, entre os brincantes de boi, sinônimo de ritmo, num primeiro sentido; e por extensão, define-se sotaque como estilo de bumba-meu-boi. Para ser de um mesmo sotaque, os bois devem ter características absolutamente iguais. (Azevedo Neto, 1997, p. 24)
[14] Baiado – coreografia dos brincantes e do boi; a dança (AZEVEDO NETO. Américo. Pequeno dicionário de Bumba-meu-Boi do Maranhão. In BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO. 2 ed. Aum. São Luís: ALUMAR/AML, 1997, p. 121-138.
Comentários
Nenhum comentário realizado até o momentoPara comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.