Do Blog do Leopoldo Vaz • sábado, 16 de abril de 2016 às 08:44 0comentário

DESENHOS E ENCANTOS DO BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO parte 2

 

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Professor de Educação Física – DCS

Mestre em Ciência da Informação

 

 

“Cheguei, dona,

Cheguei, dona,

Abra a porta

De seu bangalô,

Cheguei com meu

Batalhão superior,

Com a carta

Que você me chamou

 

Apresentamos ao Prof. Jorge Leão um primeiro texto[1] para estudo dos alunos da cadeira de Sociologia dos cursos de segunda série de Design do CEFET-MA, para dar início a uma discussão, dentro de sua proposta de um Projeto Interdisciplinar que tem como eixo temático a ‘Cultura e Manifestações folclóricas’, e por tema: ‘Desenhos e Encantos do Bumba-Meu-Boi no Maranhão’, envolvendo as Disciplinas: Sociologia, História, Educação Física, Geografia, Artes, Design.

Naquele texto apresentamos que os grupos de Bumba-meu-Boi do Maranhão [2] são subdivididos comumente em sotaques (estilos) característicos, sendo os mais conhecidos: matraca [3], zabumba [4], orquestra [5], baixada [6] e costa de mão[7].

Essa classificação dos sotaques aparece em REIS (1986, 1999) [8]; CARVALHO (1995) [9]; LIMA (1998; 2003) [10], além de se repetirem nos informes dos sítios oficiais do estado do Maranhão[11], e vários trabalhos acadêmicos de conclusão de cursos de mestrado e doutorado. Mas há quem não aceite essa classificação…

“Vaqueiro,

Vaqueiro, vai procurar meu boi,

Que eu não sei onde está.

Ele é um touro bem prendado da fazenda,

Que eu quero que vá chegar”

 

Américo AZEVEDO NETO em seu já clássico “Bumba-meu-Boi no Maranhão” [12] – para falar de sotaque (p. 24-25) – afirma já ter sido dito que, no Maranhão, existem quatro a cinco sotaques[13], o que se constitui uma precipitação. Prefere falar em “grupos”, “subgrupos” e de “sotaque”, sendo:

  • Grupo é a influência maior e primeira – nos instrumentos utilizados, na batida básica da bateria, na idéia central do guarda-roupa e no baiado[14].”
  • “Subgrupos são as várias derivações dos grupos, cada uma apresentando alterações, pequenas ou grandes, dentro daquele conjunto de características, em obediência às influências de sua região de origem. É o estilo de uma determinada região. Subgrupo é o estilo regional”.
  • Sotaque é a deturpação do subgrupo. É o estágio em que algumas características principais (grupos) ou secundárias (subgrupo) foram alteradas: por imposições econômicas ou estéticas do dono do boi. Finalmente: sotaque é o estilo individual de cada conjunto.”

Conclui (partindo da idéia de que as características do ritmo, do guarda-roupa e dos instrumentos utilizados é que determinam o agrupamento de bois num mesmo sotaque), então “… que cada conjunto é um sotaque, uma vez que não existem bois exatamente iguais” (p. 25). Sotaque, assim, não é o estilo de vários bois. Sotaque é a característica individual de cada boi (p. 26):

“Por exemplo: o chamado sotaque de Zabumba não é sotaque. É subgrupo, pois reúne bois que têm diferenças suficientes para que sejam considerados como de sotaques distintos, embora tenham, praticamente, o mesmo ritmo e o mesmo quarda-roupa.

“Um caso concreto: os bois de Lauro e Leonardo dizem-se do mesmo sotaque. Nunca! São, na verdade, de um mesmo subgrupo (Guimarães), mas de sotaques distintos. Se é certo que a batida da bateria, basicamente, é a mesma, varia a concepção do auto e significativa parte do guarda-roupa e seus ritmos têm sensíveis diferenças. São da mesma região, do mesmo ramo e, por conseguinte, sofreram, nas origens, influências comuns, tanto primárias (grupo) como secundárias (subgrupo. São similares, o que é suficiente para reuni-los num mesmo subgrupo, mas não são inteiramente iguais, o que, também, é bastante para separá-los em sotaques”. (p. 26)

Azevedo Neto (1997) caracteriza os grupos segundo suas raízes, claras e incontestáveis. Em uns aparece a influência indígena no ritmo, nos instrumentos, no guarda-roupa e no baiado – é o Grupo Indígena. Em outros, o ritmo, o baiado e os instrumentos são negros, assim como a influência maior no guarda-roupa – é o Grupo Negro. E, vindos de um passado recente, um grupo onde a coreografia, o guarda-roupa e os instrumentos são tipicamente brancos: é o Grupo Branco (p. 31).

Para que se considere como surgimento de um subgrupo, deve-se atentar para as alterações que o boi original sofreu conforme os locais aonde os conjuntos iam se formando: novos instrumentos incluídos, alterando o som; intensificação ou lentidão das batidas, com o surgimento de variações rítmicas; criação ou supressão de peças do guarda-roupa, em obediência às condições locais e aos gostos predominantes no conjunto. Mas essas alterações se mantiveram próximas as raízes, havendo mudanças, mas não posição. O grupo vai se subdividindo, mas mantém as suas características básicas (p. 31).

A verdade é que todos os bois, em princípio, foram fundados tendo por alicerce as tradições de um subgrupo. Ninguém, ao organizar um conjunto, tentou criar estilo inteiramente novo. A brincadeira é por demais sedimentada para que alguém se atreva a inovar gratuitamente. Mas, uma fez organizado o brinquedo, o líder determina mudanças: inclusões ou exclusões; marca o conjunto com sua personalidade; imprime-lhe os seus gostos pessoais; impõe sua noção própria de estética e – enfim – omite ou acrescenta isso ou aquilo, em razão do maior ou menor poder aquisitivo. Aí, dentro de um subgrupo, surge um outro sotaque.” (p. 31-32).

O autor apresenta, então, sua classificação para os Bumba-meu-Boi do Maranhão. Faz a ressalva de que essa classificação corresponde à realidade dos últimos dez anos – década de 1970 -. Lembra ainda ser natural que nos 15 anos decorridos entre as publicações da primeira edição (1983) e esta segunda (1997) – que tomamos por base -, o quadro abaixo reunido tenha sofrido numerosas transformações. Conjuntos surgiram, desapareceram ou adotaram novas orientações. No período compreendido entre as duas edições, o grupo que mais cresceu foi o de orquestra:

QUADRO DE GRUPOS, SUBGRUPOS E SOTAQUES

DE BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO – DÉCADA DE 1970.

B

U

M

B

A

M

E

U

B

0

I

 

D

O

 

M

A

R

A

N

H

Ã

O

GRUPO AFRICANO Subgrupo de Zabumba ou

da zona de Guimarães

(Bois de Guimarães)

Sotaque de Leonardo –

De Canuto –

De Antero –

De Laurentino  –

De Newton –

De Lauro

Subgrupo da zona de

Itapecuru

Sotaque de Coroatá –

De Caxias –

De Codó –

De Itapecuru

Subgrupo de Cururupu  
Subgrupo do Mearim Sotaque de Pedreiras –

De Bacabal

Subgrupo de Penalva  
     
GRUPO INDÍGENA Subgrupo da Ilha

(Bois da Ilha ou bois de Matraca)

Sotaque de Madre Deus –

De Iguaíba –

De São José de Ribamar – de Maracanã –

De Matinha –

De Maioba

Subgrupo da Baixada

(Bois da Baixada)

Sotaque de Pindaré –

De Viana –

De São João Batista

     
GRUPO BRANCO Subgrupo de Orquestra

(Bois de Orquestra)

Sotaques de Rosário –

de Axixá

Fonte: AZEVEDO NETO (1997), p. 32

 

“- Urrou! Urrou!

Urrou que ouvi!

Boi mais bonito que este

Garanto que nunca vi!

Urrou! Urrou!

Urrou fama reá!

Boi de fama como este

No sertão não haverá!”

 

 

Tarefas

 

– Nome do Conjunto

 

– Procedências (relacionadas ao subgrupo): município de origem do conjunto e, se for da ilha de São Luís, o bairro de procedência.

 

– Ritmo, figurino, instrumentos e baiado: busquem na literatura as características de cada conjunto e os classifique segundo a classificação de AZEVEDO NETO (1997)

 

 

  1. Grupo: (Africano, Indígena, ou Branco)

 

  1. Subgrupo:
Subgrupo de Zabumba ou da zona de Guimarães (Bois de Guimarães)
Subgrupo da zona de Itapecuru
Subgrupo de Cururupu
Subgrupo do Mearim
Subgrupo de Penalva
Subgrupo da Ilha (Bois da Ilha ou bois de Matraca)
Subgrupo da Baixada (Bois da Baixada)
Subgrupo de Orquestra (Bois de Orquestra)

 

  1. Sotaque:
Sotaque de Leonardo – De Canuto – De Antero – De Laurentino  – De Newton – De Lauro
Sotaque de Coroatá – De Caxias – De Codó – De Itapecuru
Sotaque de Pedreiras – De Bacabal
Sotaque de Madre Deus – De Iguaíba – De São José de Ribamar – de Maracanã –

De Matinha – De Maioba

Sotaque de Pindaré – De Viana – De São João Batista
Sotaques de Rosário – de Axixá

 

 

Caso o Conjunto não esteja relacionado entre os identificados acima, procure enquadrá-lo e apresentar um novo quadro,

 

– Observar as toadas e os seus temas, quais os elementos presentes nas letras e nas melodias (cenas históricas, problemas sociais, contexto político da cidade, devoção religiosa, toadas de amor, toadas de pique – provocação a outros cantadores).

 

– observar a evolução do conjunto no terreiro (se há um baiado espontâneo ou se foi feita alguma coreografia).

 

– Observar o couro do Boi e os elementos presentes na composição do mesmo: motivação religiosa, exaltação da natureza, ou a lembrança do município / comunidade de onde se originou o conjunto.

 

– Observar se há um traço folclórico no confronto entre “festa” e “representação”.

 

– Observar a influência da indústria cultural (mídia), empresas, durante a apresentação dos conjuntos nos arraiais.

 

[1] DESENHOS E ENCANTOS DO BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO – texto 1, pesquisa efetuada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz, do DCS, apenas para servir de base. Não é um estudo original, pois se trata de colagem de material retirado da Internet, indicando-se as fontes. Original, apenas a abordagem…

[2] In http://www.angelfire.com/or/rosangela/bumbameuboi.html;

CARVALHO, Michol. O Bumba-meu-boi do Maranhão. São Luís: SUPERINTENDÊNCIA DE CULTURA POPULAR, 2006. In http://www.culturapopular.ma.gov.br/artigos2.php?id=2

[3] Sotaque de Matraca ou da Ilha – mais aberto ao grande público, fácil de identificar musicalmente pela presença de pandeirões e das matracas em grande quantidade. É característico da Ilha de São Luís, tendo como principais instrumentos as matracas (duas tábuas de madeira geralmente enceradas) e os pandeiros (grandes rodas de arco de madeira cobertos de couro de cabra). Tem um ritmo acelerado, sob o som estridente de dezenas de matraqueiros, formando grandes batalhões, aonde o pessoal da percussão vem todo à paisana. Na frente acha-se o cordão de rajados, no qual chama atenção os cablocos de pena com o seu forte bailado, ao lado das tapuias.

[4] Sotaque de Zabumba – que se marca pela presença retumbante da percussão rústica sentida profundamente por seus adeptos como se fosse um rufar dos tambores africanos que se ouvem à noite nos terreiros-de-mina, em todo o Estado, aqui enraizados, num relance cronológico que lembra os cultos afros originais. Advindo do município de Guimarães e circunvizinhanças, sua percussão é marcada pelo ritmo socado de grandes tambores – as zabumbas – levados numa vara e tocados com uma maceta, juntamente com pandeirinhos e maracás. As roupas dos seus brincantes trazem golas e saiotas de veludo preto bordado com primor e chapéus formando uma guirlanda, com numerosas fitas multicoloridas, que na evolução do brincante chegam quase a cobrir seu rosto

[5] Sotaque de Orquestra – onde se sobressaem instrumentos sonoros como pistões, sax, clarinetes, banjos, entre outros, acompanhados de percussão mais suave que sotaque de Zabumba. Com o berço na região do Munim apresenta um ritmo alegre, faceiro e cambriolante. O cordão é formado por brincantes trajados com peitilho ou colete e saiote de veludo bordados com miçangas e canutilhos, que, com um maracá na mão, suscitam o balanceio do boi, embalado pela sua envolvente musicalidade.

[6] Sotaque de Pindaré ou da Baixada – que se caracteriza pelo toque mais leve e suave, tanto dos pandeiros quanto das matracas, ambos menores que os da ilha (São Luís) além de sua riqueza ornamental na exuberância dos seus chapéus. No seu guarda-roupa exuberante destacam-se os chapéus dos vaqueiros, com grandes testeiras de veludo preto bordado, cercados de pena de ema. Um personagem característico deste sotaque é o Cazumbá – de caráter místico, mistura de homem e bicho, que usa bata comprida de pano rústico pintado ou veludo bordado e máscara de madeira, em formato de animais, de pano ou isopor (mais comuns no interior, formando verdadeiras esculturas).

[7] Sotaque De Costa De Mão – Da região de Cururupu tem as roupas (casacos e calções) de seus brincantes de veludo todo bordado, além de chapéus em formados de cogumelo afunilado, com fitas coloridas e grinaldas de flores, no alto. Seus pandeiros pequenos são tocados com as costas das mãos, num ritmo cadenciado, que conta também com caixas e maracás.

[8] REIS, José Ribamar. FOLCLORE MARANHENSE (Informes). 2 ed. São Luís, 1986

REIS, José Ribamar Sousa dos. FOLCLORE MARANHENSE (Informes). 3 ed. São Luís, 1999

[9] CARVALHO, Maria Michol Pinho de. MATRACAS QUE DESAFIAM O TEMPO: É O BUMBA-BOI DO MARANHÃO. São Luís: (s.n.), 1995

[10] LIMA, Carlos de. O UNIVERSO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO. São Luís: Boletim da CMF, 1998.

LIMA, Carlos de. O Universo Do Bumba-Meu-Boi Do Maranhão. In NUNES, Izaurina de Azevedo (org.). OLHAR, MEMÓRIA E REFLEXÕES SOBRE A GENTE DO MARANHÃO. São Luís: Comissão Maranhense de Folclore, 2003, p. 73-76.

[11] http://www.culturapopular.ma.gov.br/artigos2.php?id=2

[12] AZEVEDO NETO. Américo. BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO. 2 ed. Aum. São Luís: ALUMAR/AML, 1997

[13] Para esse autor, ‘sotaque’ é, entre os brincantes de boi, sinônimo de ritmo, num primeiro sentido; e por extensão, define-se sotaque como estilo de bumba-meu-boi. Para ser de um mesmo sotaque, os bois devem ter características absolutamente iguais.  (Azevedo Neto, 1997, p. 24)

[14] Baiado – coreografia dos brincantes e do boi; a dança (AZEVEDO NETO. Américo. Pequeno dicionário de Bumba-meu-Boi do Maranhão. In BUMBA-MEU-BOI NO MARANHÃO. 2 ed. Aum. São Luís: ALUMAR/AML, 1997, p. 121-138.

 

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