Como já disse aqui, a organização do futebol maranhense se dá pela ação de Nhozinho Santos, junto ao clube por ele fundado, o FAC, que teve duas fases, 1905/1910, e depois de 1915, com a sua reorganização. Gentil Silva esteve quase com um pé nessa nova fase, após as duas primeiras crises – em menos de 10 anos de existencial do futebol em terras ludovicenses…

Gentil Silva vai popularizar o futebol. É formada o que venho chamando de “Liga dos Pés Descalços”… Equipes, ou times, formados por jovens, em sua maioria, estudantes de algumas de nossas escolas, nas ruas – e praças – onde moravam… Luis Rego, por exemplo tinha o ‘seu’ time, que jogava na Praça em frente de sua casa…

Na passagem do século XIX para o século XX, os jovens portadores de “ideias novas”, gente vinda do meio metropolitano, inquieta e formada nele (KOWALSKI, 2000) – (em Maranhão encontramos Nhosinho Santos – que estudara na Inglaterra; Aluísio Azevedo – cônsul brasileiro em Europa, Japão, e o cônsul inglês Charles Clissold) – introduzem o esporte moderno em São Luís, com a fundação de clubes esportivos (MARTINS, 1989; VAZ, 2000; VAZ e VAZ, 2000).

Nesse início da década de 10, desaparece o hábito de repousar nos fins de semana, substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. Essas atividades, divulgadas pelos jornais, começaria a apresentar seus primeiros sinais de mudança ainda nas últimas décadas do século XIX, com o surgimento e fortalecimento gradual dos esportes: “É nessa  conjuntura que adquirem um efeito sinergético, que compõem uma rede interativa de experiências centrais no contexto social e cultural, como fonte de uma nova identidade e de um novo estilo de vida. “Os ‘Clubs’ que centralizam essas atividades surgem como modelos da elite no final do século XIX, e já no final da década de 10 e início de 20, estão difundidos pelos bairros, periferia, várzeas e se tornam um desdobramento natural das próprias reuniões sociais”. (KOWALSKI, 2000, p. 391). 

No dia 26 de dezembro de 1907, é registrada uma partida de futebol entre alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros, como parte de sua preparação física. O futebol, além de outras modalidades e atividades, principiava a se utilizado como prática de educação física nas escolas.

MARTINS (1989) registre o primeiro jogo entre duas agremiações distintas como ocorrida em janeiro de 1908, entre o FAC – o grêmio fabrilense fora formada com o recrutamento dos melhores atletas que militavam nos quadros internos do ‘Black and White’ e do “Red and White’ – e o MARANHENSE FOOT-BALL CLUB – formado por rapazes empregados no comércio – encontrou-se que a inauguração dessa agremiação ocorreu apenas em 07 de fevereiro de 1909.

Tal como aconteceu com o FAC, o Maranhense também tinha dois quadros internos: o “Blue and White”, formado por F. Meirelles, F. Fernandes e M. Santos; Avelino Farias, J. Pinheiro e J. Teixeira; A. Santos, J. Santos, J. Ferreira, D. Rodrigues e Saturnino Belo; a outra equipe – “Green and White”, era formada por E. Queiroz, G. Belo, e E. P. Souza; J. Ribeiro, Cunha Júnior e A. Lobão; A. Figueiredo, R. Nunes, J. Gomes, M. Mário e A. Gonçalves.

Também na cidade de Alcântara o foot-ball fora inaugurado, naquele ano de 1909.

A participação de estudantes – da Escola de Aprendizes Marinheiros – e de crianças – filhos dos sócios -, dos diversos clubes constituídos, não só para a prática do “foot-ball association”, caso do Fabril e do Maranhense, e mais tarde, do Onze Maranhense, era comum, nas jornadas que se seguiam. Em setembro de 1908, era apresentado o programa de uma “matineé sportiva” que seria realizada no Domingo seguinte, na sede do F.A.C., reunindo os “Team Riachuello” – “Estrella Preta” – e o “Team Humaitá” – “Estrella Branca”-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, marcada para as 3:45 horas, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato, marcado para as 4:20 horas, sendo concorrentes: A. Novaes, J. Santos Sobrinho, A. Azevedo, A. Vieira; já o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho; para a quarta prova do programa, Concurso de Agilidade, estavam inscritos: Franklin, Zuza, Maneco Neves, Gui e Aluísio.

O ano de 1908 é encerrado com um jogo entre o F.A.C. e o Maranhense, em comemoração à proclamação da República, terminando em 2 x 0 para a representação fabrilense. Nesse ano, Nhozinho Santos consegue a inscrição de “seu” clube na Confederação Brasileira de Tiro, ao mesmo tempo que implanta o “jiu-jitsu”, com um grande número de adeptos. (MARTINS, 1989, p. 313).

Os anos de 1909-10 foram anos de crise. O F.A.C., apesar de reformas introduzidas em sua sede – o campo de cricket foi inteiramente reformado -; o jogo de tênis ganhava cada vez mais adeptos, era introduzido o Tiro ao Alvo, como aprimoramento da juventude nas artes militares – sob a direção do então tenente Luso Torres -, vive uma grande crise, por falta de pagamento da maioria de seus associados. Alguns desses, ressabiados com as medidas tomadas, abandonam a agremiação e unem-se a uma outra, a ONZE MARANHENSE, que viria a se constituir na grande rival do time da Fabril, não só no futebol.

Grande parte dos associados do FAC estavam inadimplentes e se cogitava na dissolução do clube, com a venda de seus bens em hasta pública. Esse movimento era provocado por João Victor de Matos, Francklin Machado, José Castro, Dr. Joaquim Ribeiro Gonçalves Filho e Manoel Carneiro. Um outro grupo, contrário à idéia de dissolução do Fabril, cogitava, se isso viesse a ocorrer, em formar uma outra associação, com os mesmos objetivos, chegando a escolher até o nome – Clube Ateniense. Mas um grupo de dissidentes acabou se afastando, fundando o Rio Branco, havendo uma disputa entre o FAC e esse clube, com a vitória do “pesadão” – como era também conhecido – por 3 x 1, embora desfalcado de grandes jogadores, que aderiram ao Rio Branco.   Outros dissidentes, transferem-se para o MARANHENSE FOOT-BALL CLUBE, que com mais esse sócios, organiza duas onzenas – o “Teodoro Jardim” e o “Belfort Vieira”. O Euterpe fecha suas portas (1910), e surge o Casino Maranhense (1911), fundado por um grupo remanescente daquele clube …

Em 1915, ao mesmo tempo em que era anunciada a criação de um clube para a prática dos esportes, graças ao empenho do cônsul inglês – Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes – em especial, do futebol.; a partir de 1915, houve um que renascimento dos esportes em Maranhão. Os estudantes movimentam-se para reabilitar o futebol. Esses estudantes uniram o agradável – reorganizar os “sports” no Maranhão – ao útil, chamando a atenção da sociedade para o movimento que iniciavam. Juntam-se à Maçonaria, oferecendo-se para realizar uma partida de futebol, em benefício dos flagelados da grande seca de 1914/15, pois  as lojas maçônicas desta capital nomearam comissões com o fim de arrecadar fundos para socorrer os flagelados, dentre as atividades programadas – seção de cinema, passeios marítimos – haveria um jogo de futebol, a ser realizado no mês seguinte.

Em função desse movimento em prol dos flagelados dos estados vizinhos – Ceará e Piauí – reuniram-se – na Cervejaria Maranhense, localizada na Praça João Lisboa – os idealizadores do Campeonato Maranhense de Foot-ball, para a organização do grande “match” que pretendiam realizar (O JORNAL, 14 de agosto de 1915). Percebe-se que haviam dois grupos, ou mais, grupos envolvidos no soerguimento das atividades esportivas, pois “o grande match de foot-ball” entre os partidos “Francez” e “Allemão”, em benefício dos flagelados da seca, era anunciado para o dia 12 de setembro. (O JORNAL, 02 de setembro de 1915).

Segundo MARTINS (1989), o movimento estudantil havia ganho as ruas, tudo se fazendo para reanimar o futebol. Gentil Silva tinha retornado do Amazonas – onde havia trabalhado pelo esporte amazonense, ajudando ao Manaus Sporting Club – e integra-se ao movimento estudantil, tendo-o acompanhado nessa jornada um caixeiro viajante conhecido como “Zé Italiano”, muito estimado pelos estudantes. Dessa união, foi fundado o “GUARANI ESPORTE CLUBE”, que recebeu esse nome do proprietário do “Bar Guarani”, sr. Gasparinho. É que as reuniões eram realizadas neste bar, situado na esquina da rua Grande com a Godofredo Viana, em frente ao cine Éden. Formaram-se duas onzenas, denominadas “Alemão” e “Francês”, formando-se, também, duas torcidas, uma apoiando os “aliados”, e a outra, formada pelos “germanófilos”. Essa torcida ainda tinha o incentivo dos tripulantes dos navios alemães, abrigados em nosso porto, devido à Primeira Guerra Mundial.

Dada essa movimentação da mocidade da “melhor sociedade”, os remanescentes do FABRIL ATHLETIC CLUB retornam às atividades esportivas. O mundo esportivo maranhense estava em ebulição, havendo grandes movimentações, fundando-se várias agremiações. É nesse período que surge nesse cenário o vice-cônsul inglês no Maranhão junta-se aos dirigentes do FAC, incentivando a prática de vários esportes. Muitos jovens tinham feitos suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco, do martelo; placekick (pontapé na bola, colocando-a na maior distância);  cricket; crockt ; ping-[ong (Tênis de mesa); bilhar; luta de tração, etc. (MARTINS, 1989, p. 334).

MARTINS (1989) afirma que Gentil Silva esteve a um pé do novo FAC:  “Contudo, aconteceu que, para ele, o futebol deveria ser altamente popularizado, no que não estavam de acordo os associados, na sua grande maioria, embora não discordando de um dos pontos definidos: a necessidade de pugnar pelo aperfeiçoamento físico. Não concordavam em abrir os portões para receber o grande público com pagamento de ingressos, porque o propósito do novo FAC era não vulgarizar a prática desportiva.(p. 331).

Aqueles que tinham o mesmo pensamento de Gentil deixaram o clube da Rua Grande e o Guarani tinha se esfacelado. Não foi abandonada a idéia de popularizar o futebol. O grupo dissidente reativou o “ONZE MARANHENSE”, com sede no Parque 15 de Novembro (avenida beira Mar), nas proximidades do Beco do Silva. O campo foi construído numa área livre – no Baluarte – “longe das vistas do grande mundo de curiosos e aficcionados”, informa MARTINS (1989). O terreno não era cercado e reclamava muito trabalho de nivelamento e outras medidas, tendo sido tudo feito com muito sacrifício, pois o terreno era pantanoso, necessitando-se de algumas carradas de entulho, cedidas pelo intendente de São Luís, tenente-coronel Luso Torres. Nivelado o terreno, foi feita a gramagem e tudo ficou como ambicionavam. E “… Nas tardes domingueiras, o povo estava reunido. Famílias da vizinhança e outros amantes do esporte, vindos de longe, postavam-se para ver o jogo. Jogavam Brasil F. Clube, Vasco da Fama E. Clube, Santiago Esporte Clube e Fênix F. Clube. O sonho de Gentil Silva tornou-se realidade.” (MARTINS, 1989, p. 331).

Para esse autor, “foi, sem qualquer sombra de dúvida, Gentil Silva o responsável pela popularização do futebol em terra maranhense, no momento que, deixando as hostes do FAC, achou oportuno desenvolver a prática do apreciado esporte aos olhos do povo, num campo que, de princípio não possuía cercas”. (MARTINS, 1989, p. 332)

Ainda segundo Dejard Martins, a efetiva existência do “Onze Maranhense Foot-ball  Club” serviu para despertar o nosso futebol, porque firmar-se-ia a rivalidade entre os dois clubes. Novas dissidências entre o FAC e o próprio Maranhense, viria mais tarde formar o “ESPORTE CLUBE LUSO-BRASILEIRO”. O F. A. Club é (re)inaugurado em 30 de janeiro de 1916 – agora, como Foot-Ball Athletic Club.

“AS ATRACÇÕES DO FUTEBOL” – sob este título, toma-se conhecimento de um outro campo, para a prática do futebol, denominado de “MARCÍLIO DIAS”, localizado em frente à Praça da Justiça. No Domingo, houvera um jogo, com as pessoas que transitavam por aquele local – fato curioso – “… não deixavam de se deter apreciando uma praça do exército mettida entre os jogadores, respectivamente fardada, mostrando a sua habilidade no agradável sport. Incorrecta e contra o regulamento”. A nota saiu nos “Factos policiaes”(O ESTADO, 23 de outubro de 1916). O Bragança Foot-ball Clube aprova seus estatutos, decidindo-se, também, pela criação de seus quadros infantis de foot-ball, com a denominação de “Paraná” e “Santa Catharina”. (O ESTADO, 07 de novembro de 1916). As equipes recebiam seus nomes influenciados pelos acontecimentos do momento. As do Internacional, dos partidos “Francez” e “Allemão”, em função dos beligerantes da Primeira Guerra Mundial; os do Bragança, certamente, em função da Guerra do Contestado, que estava em seu auge, entre aqueles dois estados sulistas. Eram os acontecimentos políticos “influindo” nos sports …

No dia 31 de dezembro de 1916, os foot-ballers do CLUB DO REMO, do Pará, chegam para uma série de disputas com o F. A. Club. O primeiro jogo termina em 6 x 0 para o team paraense, destacando-se o “perigoso” Duca e o “terrível” keeper Corintho. Nosso primeiro encontro interestadual…(O ESTADO, 02 de janeiro de 1917).

Resultado da temporada: FAC 0 X 6 Remo; FAC 0 x 3 Remo; FAC 0 x 5 Remo; FAC 0 x 3 Remo; Black 1 x 8 Remo… e como acontece até hoje – e após muitas reclamações contra a arbitragem do referee paraense, em três das partidas disputadas, ” … à noite, um animado saráu dansante, na séde do FAC, coroou a vitória moral do ‘Black”. Éramos derrotados por culpa do juiz, mas éramos os campeões morais … isso, já em 1917. Qualquer semelhança com os comentários de nossa imprensa esportiva de hoje …

Foi após esse jogo contra o Club do Remo  que os dirigentes começaram a admitir que a melhoria não dependia apenas do intercâmbio, mas da “importação” de alguns jogadores de centros onde o esporte estava mais adiantado. O FAC deu a partida, trazendo o primeiro reforço: o goleiro paraense Corintho. Para MARTINS (1989), a presença de Corintho marcava o início da introdução do “amadorismo marrom”, uma figura que predominou, por muito tempo, em nosso futebol, antes da instituição do regime profissional no Maranhão.

(continua…)

 

Comentários

Nenhum comentário realizado até o momento

Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.