Quando adentramos a Aniguidade Grega, constatamos que o agonismo é basilar, central e fulcral na superestrutura ideológica, filosófica e cultural dos helenos. A vida é interpretada à luz da visão agonista da existência, assente na ‘superação’ e ‘transcendencia’.


Os gregos não acreditavam na eternidade. Mas não queriam pertencer ao mundo dos mortos, isto é, dos ‘anónimos. Através do heroísmo e da glória decorrentes da competição permanente com a imortalidade dos Deuses e a da natureza, os humanos tentam subtrair-se do mundo efémero e ascender a uma espécie, não de eternidade, mas de alguma perenidade entre os seus pares. Isso, de certa forma, os assemelha a seres divinos.


Por pensarem de ‘antemão’ e saberem que a vida é curta, os humanos perguntam-se o que fazer com ela, antecipam o futuro, concebem horizontes e objetivos ‘distantes’, buscando contornar e transcender com persistência a condição de mortais.


É deste jeito que se coloca a questão da vida boa, bem-aventurada e bem-sucedida, em harmonia com a ordem do universo. Na resposta dada por Odisseu ou Ulisses à tentadora promessa de imortalidade e eterna juventude, feita pela capitosa deusa Calipso, quando o rei de Ítaca decide pôr termo a meses de amor incendiado na ilha de Ogígia e fazer-se ao mar, encontra-se condensado um tratado de vida: “Mais vale uma vida bem-sucedida de mortal do que uma vida malsucedida de imortal!”


A vitória sobre o medo e a própria finitude é a solução para escapar ao terrível destino dos mortais: uma vez mortos, tornam-se ‘anónimos’, ficam ‘sem nome’. É nisto que se funda e inspira o desporto: na obrigação de esgotar o campo do possível, de contribuir para a vida ‘correta’ e ‘boa’, para a sua condução e salvação, através da realização de feitos extraordinários, ‘artísticos’ e virtuosos, merecedores de apreço e admiração, respeito e recordação dos outros, inclusive para além da morte. Ele celebra, tal como Camões em Os Lusíadas, aqueles que, por obras valorosas, se libertam da lei da morte.

 

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