“Lazer e Diversidade Cultural”
São Luís, MA – 28 a 31 de agosto de 2012
Pertencer a uma identidade cultural significa descobrir-se, ser diferente dos comportamentos globais. Por isso, patrimônios culturais intangíveis como as formas de manifestações lingüísticas, de relacionamento, de trabalho com a terra e a tipificidade da culinária, o cultivo e o preparo do vinho, os passos das danças, os lazeres tornaram-se patrimônios da cultura e demonstram a riqueza da relação entre identidade e diversidade da cultura brasileira[1]. Retomo o exposto em 2010, quando do 22º ENAREL, ao tratar de ‘identidade’ e ‘cultura’[2].
A idéia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes, também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua. O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de idéias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período[3].
Cultura é entendida aqui como o conjunto de manifestações que dá singularidade a umdeterminado grupo social, fruto das relações sociais e da profunda interação dos homens com o meio em que vivem. Constitui-senum patrimônio material e imaterial acumulado e transformado ao longo de gerações. Um legado que não se limita a manifestações artísticas, à língua, à religião, mas se articula nos mais variados domínios da produção humana. A cultura confere uma identidade coletiva a umdeterminado grupo social, espacialmente definido e historicamente determinado[4].
Identidade é um processo em constante movimento e é o que faz com que o indivíduo reconheça a si mesmo, a priori, como parte de uma identidade coletiva, reconhecendo aos outros como iguais, estabelecendo uma relação íntima ou essencial entre ele e seu grupo. Portanto, a identidade se constrói dentro de um mecanismo que engloba a consciência de si mesmo e o reconhecimento do outro [5]. Assim, a identidade de um povo é o resultado da identidade individual e coletiva estabelecidas pelos membros de uma mesma comunidade 4.
No século XX a sensação da fragmentação da identidade, da perda das referências culturais, despertou no homem o desejo de “retorno a algo perdido”, ou seja, a necessidade de buscar manifestações culturais que pertencem a seu passado vivo, a comportamentos que deixaram de ser comuns, pois o frenesi contemporâneo exige atitudes da sociedade globalizada: “A preservação do patrimônio tem entre suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o passado e o presente e nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até mesmo quem somos e de onde viemos. Desperta o sentimento de identidade. Margarita Barreto[6] defende a ‘recriação de espaços revitalizados’, como um dos fatores que podem ‘desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura”.
Então, ao se buscar a identidade, fatalmente chegar-se-á a quem realmente se é. A essência cultural é o que une os povos, permitindo que se reconheçam como grupo, como coletividade diante de sua diversidade. A identidade irá se concretizar a partir da consciência de que a riqueza das pluralidades culturais, reveladas através da memória coletiva, está inserida no potencial de superação de marcas particulares do indivíduo. Até que ponto é possível conservar essa identidade num mundo marcado pela intensificação de fluxos globais de informação? É possível pensar em mundialização da cultura?
Costa (2002) [7] considera haver um “paradoxo das identidades culturais em contexto de globalização”: Porventura, um dos aspectos mais importantes a sublinhar é, justamente, o cruzamento de dinâmicas identitárias que este tipo de contexto urbano cosmopolita proporciona. Cruzamento que se estabeleceu entre cada uma das representações de identidade cultural nacional ali presentes e a representação de uma “síntese global” da multiplicidade cultural planetária; síntese global essa, por sua vez, “localizada” num espaço de representação que se constituiu como referente identitário privilegiado da cidade e da sociedade promotoras. (p. 23)
Da globalização cultural emergem novas identidades nacionais, regionais e locais agora com novas abordagens. Vê-se atualmente o ressurgimento das culturas populares com algumas de suas características regionais modificadas para atender um novo mercado de consumo de bens simbólicos em um mundo gerido pelos meios de comunicação, de informação e inclusive, do turismo [8].
Chamo aqui atenção, ao me referir às questões de cultura, memória, identidade regional e local, ao fato de que teremos um grande evento por estes lados: os 400 anos de São Luís. Esse fato foi primordial para que esta edição do ENAREL viesse para esta parte “de cima do mapa”, haja vista que “a Cidade do Maranhão” é um lugar de diversidade cultural, com tradição na arte, na poesia, na dança, nas manifestações folclóricas, na música, na culinária e em seu patrimônio histórico. Tudo isto demonstra a relevância de um patrimônio material e de toda uma herança imaterial que contribuiu para a obtenção do título de Patrimônio da Humanidade.
Desse modo, toda a diversidade de São Luís favorecerá as discussões no ENAREL 2012, a partir de óticas especiais, o lazer e a cultura em suas mais simples e mais complexas expressões, no reconhecimento do tema como importante e oportuno assunto para um Brasil moderno e audacioso.
O objetivo é promover a reflexão, o debate e o intercâmbio científicos, fundamentados em contribuições acadêmicas advindas de estudos, pesquisas e ações sobre o lazer e a pluralidade da cultura em suas vivências e experiências sociais; os aspectos culturais das comunidades, com suas configurações refletidas no lúdico em articulações individuais e coletivas em termos dos modos de vida, dos costumes, dos fazeres e os lazeres nos diversos espaços e tempos sociais.
Em São Luís, vamos recuperar a importância do evento. Foi o que discutimos em 2010 – Uvinha, Bramante, Leila, Giuliano, Marcellino… Ano passado veio Avaré e as conversas continuaram: como recuperar o ENAREL, tornando-o um evento que de fato, estude o Lazer… pois virara um evento voltado para a recreação, esporte de aventuras e turismo, sem maiores debates epistemológicos; estaria esgotado o modelo? O lazer deixou de ter importância enquanto campo de estudo, absorvido pelo Turismo?
Somos uma comunidade científica, aberta em pluralidade epistemológica e disciplinar, atuamos em um campo extremamente marginal e secundário na ciência e nas políticas públicas. Já não vivemos mais a época do constrangimento citado por S. Parker em falar que estudamos lazer.
A recuperação da importância estava depositada em São Luis, quando se reveria esses aspectos. Na formulação do evento, houve a participação de todos os grandes nomes para dar um cunho efetivamente científico.
É um evento com possibilidades de congregar um número maior de pessoas que trabalham e estudam recreação, lazer e temas afins, interessadas em divulgar seus trabalhos e trocar experiências: tivemos 169 trabalhos inscritos e 154 aprovados. O que demonstra a revitalização do ENAREL.
Começamos por algumas discussões, nos encontros temáticos, coordenados pelo Prof. Dr. Antonio Carlos Bramante, com os seguintes eixos:
ET (1) Docência, Pesquisa e Extensão na Recreação e no Lazer; Coordena pela Profª Dra. Gisele Schwartz (Unesp Rio Claro);
ET (2) Terceiro Setor na Recreação e no Lazer, sob a Coordenação do Prof. Esp. Sergio Castro (ONG Estação Eco Guanhanhã; ONG Instituto Dom Quixote; Instituto Oceanográfico USP);
o ET (3) Recreação e Lazer no Sistema “S”, Coordenador: Prof. Luiz Wilson Pina/SESC – SP;
ET (4) Gestores Privados da Recreação e Entretenimento, Coordenadores: Prof. Me. Sidnei Castro (Universidade Anhembi Morumbi) e Prof. MSc. Luiz Fernando Oliveira (Universidade Anhembi Morumbi);
ET (5) Gestores Públicos da Recreação e do Lazer, Coordenador Prof Esp. Liviomar Macatrão (Prefeitura Municipal de São Luís-MA/SETUR – SL);
ET (6) Animadores Socioculturais da Recreação e do Lazer, Coordenador Prof. Esp. Tiago Aquino (LEL – Unesp; ABRE – Associação Brasileira de Recreadores).
A conferencia de abertura terá por tema “Lazer e Diversidade Cultural”, proferida pelo Prof. Me. Lerson Fernando Maia (IFRN).
As demais palestras estarão a cargo de Prof. Dr. Nelson Carvalho Marcellino (UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba/SP): “Barreiras intra e interclasses sociais para a prática do lazer”;
e dos participantes da mesa redonda “Educação para a Diversidade Cultural: contribuições do Lazer”, mediada pela Prof. Dra. Linda Rodrigues (UFMA), tendo como convidados o Prof. Dr. Ricardo Ricci Uvinha (USP) e o Prof. Me. Sergio Souza (UFMA).
Não fugindo à prática, serão realizadas as seguintes oficinas:
(1) – “Ritmos Maranhenses“ com o Prof. Dr. Nonato Viana (UFMA);
(2) – “Jogos Eletrônicos, Lazer, Recreação e Entretenimento”, Prof. Esp. Cleber Mena Leão Júnior /Pesquisador do GELL/PUCPR; Membro da Confraria dos Profissionais de Lazer do Paraná; Sócio Diretor do Clube dos Recreadores; Diretor da Associação Brasileira de Recreadores no Paraná;
(3) – “Caldeirão da Recreação com Ênfase na Motricidade Humana”, com Prof. Me. Sergio Nassar (UFPA);
(4) – “Rodas, Brinquedos Cantados e Danças Folclóricas: Lazer e Diversidade Cultural?” sob a responsabilidade do Prof. Esp. Edinho Paraguassu/FAAP-SP;
(5) – “Jogos Teatrais e de Improviso” com Prof. Esp. Tiago Aquino (Palhaço Paçoca) - (LEL – Unesp; ABRE – Associação Brasileira de Recreadores).
As sessões de PÔSTERS e as COMUNICAÇÕES ORAIS estão distribuídas nos seguintes eixos:
(1) – Lazer e Políticas Públicas;
(2) – Lazer, Corpo e Saúde;
(3) – Lazer, Turismo e Meio Ambiente;
(4) – Lazer, Formação e Atuação Profissional;
(5) – Lazer e Trabalho;
(6) – Lazer, Cultura e Educação.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Professor de Educação Física do IF-MA (aposentado)
Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
[1] REIS, Fábio José Garcia dos. Patrimônio cultural: revitalização e utilização. In Fonte: http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc, disponível em http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=14218, 6/11/2009, acessado em 03/09/2010.
[2] VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LAZER, HOSPITALIDADE, IDENTIDADES E CULTURAS REGIONAIS E LOCAIS. Fala na Mesa Redonda 1 do 22º ENAREL – Lazer e Hospitalidade: desafios para as cidades sede e subsedes de megaeventos esportivos, tendo como tema: Lazer, Hospitalidade, Identidades e Culturas Regionais e Locais.
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Diversidade_cultural
[4] CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o turismo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010.
[5] BETTIO, Valéria Maria da Silva. Movimento Brasileiro: crítica e nacionalismo no Modernismo. Porto Alegre: PUCRS, 2000.
[6] BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000, citada por REIS, 2009, obra citada, disponível em http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc .
[7] COSTA, António Firmino da. Identidades culturais urbanas em época de globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17 n. 48, fev. 2002, citado por ALMEIDA, Bárbara Schausteck de; MEZZADRI, Fernando Marinho ; MARCHI JUNIOR, Wanderley. CONSIDERAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS SOBRE SEDES DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS. In Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 178-192 Jun-Dez./2009
[8] CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o turismo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010
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