Aqui, onde há nome “Ensaios no Tempo”, navegam memórias de um passado recente – temas que revelam a curiosidade e a entrega do Autor – e devem ser entendidos

dentro de um contexto histórico, sobretudo os trabalhos publicados nos últimos anos.

 
Procurando esclarecer questões antropológicas e esportivas sobre a origem e o sentido da cultura corporal, do movimento e lúdica e as suas respectivas formas de
expressão dediquei-me a resgatar e a registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às nossas raízes etnoculturais, buscando
respostas a desafios que nos vêm sendo postos pelas práticas culturais dos seres humanos na sociedade.

 
Pretendi abordar algumas relações que se estabelecem entre as práticas de atividades ludicoesportivas, tendo em vista a compreensão da dimensão social dos fenômenos do
esporte e do lazer no que se refere às suas possibilidades efetivas de tempo livre existentes para as populações em diferentes momentos históricos.

 
Estas questões aparecem quando, em curso de formação de Professores de Educação Física – mantido pela então Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IF-MA) -, dei-me conta de que os livros que tratam da história do esporte, lazer e da Educação Física do Brasil não fazem
referências às atividades físicas, esportivas e de lazer praticadas pelos brasileiros, senão considerar algumas manifestações dos primitivos habitantes e de negros africanos para cá trazidos como tal.

 

E o que se falar, então, dessas atividades no Maranhão?

 
Assim, em 1989, após palestra de dois pesquisadores alemães sobre os índios Canelas do Maranhão, começo a investigar os aspectos do movimento e da lúdica em nossa
terra. Em 1991, resgato a primeira competição de atletismo realizada em São Luís, no ano 1907. No ano seguinte, apresento, durante um Simpósio Internacional de Ciências do
Esporte, outro trabalho de pesquisa, intitulado “Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial”. Em 1994, retomo os trabalhos que havia interrompido por conta do mestrado, aparecendo, em 1995 , “Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX”, pesquisa ganhadora do Prêmio Antônio Lopes de Pesquisa Histórica, do XX Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”. Ainda desse ano, apresento a primeira versão da “Corrida entre os índios Canelas”, iniciado em 1989, provocado pelos trabalhos de
Dickert & Mehringer (1989, 1989b, 1994)1.

 
Procurando aprofundar os estudos que vinha realizando desde então, ingressei num Doutorado, apresentando como tema de trabalho “Manifestações do lúdico e do movimento
no Maranhão – Colônia e Império”. Mesmo tendo abandonado o curso, prossegui minhas investigações e aprofundei os trabalhos já apresentados e/ou publicados, agora dentro de um rigor mais científico, buscando desenvolver uma metodologia de pesquisa histórica. Surgem, assim, outros textos, abordando os mesmos temas, tornando os mais específicos, detalhados, e desta vez, obedecendo às exigências das normas de apresentação de trabalhos nos Congressos de História da Educação Física, Esportes e Lazer.

 
O presente estudo, quanto ao modelo, é de caráter descritivo por se tratar de pesquisa bibliográfica, com uma revisão em obras específicas e afins. Trata-se de uma pesquisa histórica e utilizou-se como método de análise, o dialético.

 
Procurei focalizar o argumento numa questão teórica fundamental, na distinção entre o esporte moderno de um lado, e os jogos esportivos ou lúdicos de outro; tratando-se das relações que as atividades motrizes estabelecem no tempo, no sentido de caracterizarem, tanto na sua natureza específica, traduzidos nas diferentes formas de atividades físicas nomeadas (Esporte, Lazer, Educação Física).

 
Ao descrever a História do Esporte, do Lazer e da Educação Física no Maranhão busquei construir uma metodologia de pesquisa historiográfica, articulando o trabalho de investigação e o trabalho de resgate utilizando-me de fontes primárias – cronistas de época, relatos de viajantes, jornais, bandos, documentos oficiais, procurando recuperar e organizar essas fontes literárias e documentais,
reagrupando-as e as tornando pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural.

 
Alguns dos ensaios aqui apresentados, como dito, já foram publicados – alguns, mais de uma vez – quando surgiram novas revelações que justificassem nova apresentação; outros, apresentados em congressos e encontros científicos tiveram apenas seus resumos publicados; alguns estudos tiveram uma versão resumida, para se adaptarem em publicações em jornais, sob a forma de
artigo de divulgação científica.

 
Os textos que se seguem, mesmo os já divulgados, têm um caráter inédito, pois foram revistos, ampliados e alguns totalmente reescritos… Com este trabalho, procuro prestar mais uma contribuição a quantos se interesse pelos problemas da Educação Física, dos Esportes e do Lazer do/no Maranhão, reunindo-os em um único volume, mesmo porque muitos destes textos ou foram publicados no exterior, ou em anais de congressos, e se constituem em material de difícil acesso a todos os que se interessam pelo Esporte, e pela Educação Física, oferecendo motivos de reflexão sobre
nossa História, vista sobre o angulo do lúdico e do movimento.

 
O Autor

 

1 DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. A CORRIDA DE TORAS NO SISTEMA CULTURAL DOS ÍNDIOS BRASILEIROS CANELAS (relatório de pesquisa provisório).
Zeitgschift Muncher Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989;
DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1,
p. 55-57, set. 1989;
DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canela. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE,
Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 166-180, jan. 1994.

 

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