CONTRIBUIÇÕES DE FRAN PAXECO À INTRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DOS ESPORTES NO MARANHÃO (BRASIL), por Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Academia Ludovicense de Letras) e DELZUITE DANTAS BRITO VAZ (Centro de Ensino Médio “LICEU MARANHENSE”)…
Alguns achados que estamos fazendo, para a construção do artigo que levará o titulo acima, a ser apresentado na cidade de Setubal – Portugal, por ocasião das comemorações de “2016 – Setubal cidade esportiva”. Fran Paxeco, que viveu no Maranhão por mais de 20 anos, Consul portugues, nasceu naquela cidade. Dai os organizadores relacionarem o desenvolvimento da educação física e dos desportos, ressaltando a figura desse grande intelectual, que muito influenciou a vida literária maranhense, no principio do século passado, e teve grande contribuição com o desenvolvimento da educação física e dos esportes por aqui:
Fran Paxêco escreve em Pacotilha de 11 de fevereiro de 1904 sobre o concurso que Miguel Hoerhann instituira, como primeiro ato na função de Diretor do Serviço de Educação Física do Estado do Maranhão – concurso de poesia:
RASPÕES CRITICOS
FORÇA E POESIA: – o estimulo da educação física pelas criações literárias.
O Sr. Miguel Hoerhann, em boa hora nomeado pelos poderes públicos para dirigir o serviço da educação física na capital do Maranhão, abriu um concurso poético entre os literatos maranhenses. O seu tema é a glorificação dos exercícios ginásticos, dentro destas e daquelas bases. Não discutiremos se o esforçado professor procedeu avisadamente, ao demarcar esses limites, pois configura-se-nos que bastava determinar a orientação geral dessas composições. Mas cremos que os concorrentes, descingindo-se das minúcias desses liames, não encontrarão o mínimo repudio por parte do júri.
O Sr. Hoerhann, que encara as suas funções oficiaes como um apostolado, não contente com as suas palestras e artigos de propaganda e com as suas aulas particulares, a que ocorreram muitos moços, pensou bizzaramente, ao inaugurar o edificante incentivo dos concursos poéticos. Os três eleitos desse duplamente aprezivel certamen serão galardoados com coroas, já expostas nos Armazens Teixeira, – uma de louro, de ouro, outra de louro, de prata, e uma terceira, de folhagem verde, artificial.
Deseja depois o Sr. Hoerhann, que encerra o concurso no dia 18 do corrente, fazer uma entrega solene dos prêmios aos escolhidos, num dia próximo, talvez lá para março, quando “os ares,que uma nuvem escurece” retomarem a sua limpidez habitual. E não haveria então oportunidade para efetivar, conjuntamente, o seu anclo de uma festa ginástica – em aparelhos -, no próprio edifício da Escola?
Acrfetiamos que os jovens poetas do Maranhão não hesitarão em associar-se às belas intenções do ilustrado e indefesso propugnador da educação física. A Beletristica, em qualquer dos seus departamentos, é hoje a grande filtradora das conquistas ontidas peça sciencia. Com os seus dixies, transvertendo essas verdades cruas em alegorias acessíveis às multidões, que se deixavam arrastar mais pela imaginação do que pelo raciocínio, a poesia, o romance e o drama, assimilando as conclusões dos laboratórios e da filosofia, converteram-se em inespugnáveis instrumentos de aperfeiçoamento social. A arte pela arte evolou-se. Só os palavrosos, inanes e resiveis, é que ainda hoje a cultivam.
E que melhor missão poderiam ambicionar os beletristas que ai despontam do que a de contribuir, cantando, idealizando, para o robustecimento dos seus coestadanos?… Não há presentemente – nação ou homem de governo, higienista ou simples publicista – quem não faça incidir os seus intuitos de regeneração da humanidade sobre este ponto basilar – o da instrução física, para que o corpo suporte prazenteiro a sobrecarga dos que-fazeres espirituaes que a civilisação lhe impõe, no seu infreavel galoupar.
Nas sanguisedentas eras do regimen militar, franco e exclusivo, a seleção operava-se no campo da batalha. E a Grecia não trepidava até em enganar os que nasciam valetudinários. Dos seus ginásios saíram os artistas, os beletristas, os scientistas, os filósofos, os estadistas, os guerreiros. Mens sana in corpore sano. Respirava-se Força e Poesia por todos os poros. Executava-se, no alvorecer da fecunda ocidentalidade, a divisa de Camões – “braço à armas feito mente às musas dada”.
As guerras, século em fora, foram rareando. As sociedades foram-se capacitando de que era mais enobrecedor viver do trabalho livre do que da pilhagem desbragada. Nisto, empolgado o militarismo pelo industrilismo, descortina-se um novo alvo: as aventuras da vida canibalescamente belicosa transmutam-se na relativa placidez das expedições marítimo-comerciaes. Há combates, ainda, mas já como um meio, não como um fim. E, neste interregno bendito, o vigor vae-se submergindo, entorpecendo-se as gerações, que ficam lassas. A riqueza atrofia – e nessa época era-se luxuosamente rico ou pensava-se em sê-lo. É neste momento de fausto que a Inquisição, desesperado arranque do catolicismo, manietado pelo jesuitismo, vibra a mais profunda machadada dos povos que a toleraram. Uns foram despenhados nas fogueiras nos conventos.
Não aconteceu o mesmo aos paizes protestantes, onde as idéias de liberdade hastearam e manutiram o equilíbrio do organismo individual e coletivo. O seu gênio esportivo, exercitando nos vagares recreativos os furores que antigamente se aplicavam ao tropel mavortico, é que os previlegiou com o nervo da resistência que os abroquela. E foram as suas provas que serviram de espelho aos latinos, os quaes tiveram na França, em Edmond Damolins, o seu maior campeador. O mundo caminha para a paz, – di-lo a evolução humana. (Não nos aparteiem com a contenda russa-japoneza, porque ela concretisa exatamente o principio do fim, ou seja o desarmanento universal, ujma vez resolvida a partilha da Turquia e da China). É necessário, portanto, desaparecidos os derivativos bélicos, que avigoravam as nacionalidades, prover e prever a organisação duma sociedade ginástica pedagógica, estudando as as paragens em que ela se houver de exercer e aclimar. É uma tese a tratar, em tal presuposto, a da influencia da educação física nas regiões tropicaes. E é este o caso do Maranhão.
O que ninguém refuta é que todo aquele que, em criança, se privou dos exercícios ginásticos, se mais tarde se embrenha por profissões puramente inteletuaes, permanece eternamente engoiado. O seu ser – ou se esgota prematuramente ou degenera a breve trecho. Só as inúmeras variantes do esporte dos nossos dias podem outorgar aos pacíficos cidadãos do século XX a harmonia que falece as suas anemiadas faculdades. E concorrer para a realisação deste fito, pela palavra ou pela Penna, é concorrer para o advento do reinado ideal duma Fôrça altruísta e duma Poesia consoladora. Porque ser forte é ser bom e belo!
Fran PAXECO.
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