Guerreiro do Mar – CHICO NOCA, por José De Oliveira Ramos
Chico Noca

 

O tempo passa; o tempo voa. Há mais de 50 anos o povo cearense, especialmente o cearense (ou muitos que ali chegaram) de Fortaleza assiste, a cada ano a edição da “Regata Dragão do Mar” – evento que coroa e premia a bravura do jangadeiro que produz e retira seu sustento das águas dos verdes mares do Ceará. Se o nordestino é, antes de tudo, um forte – o que dizer daquele que enfrenta a Natureza bravia das águas e seus perigos?
Pois, assim como a seca que produz o êxodo rural dos viventes em muitos municípios do Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e parte de Minas Gerais, a escassez do peixe e a impropriedade das correntes marinhas “tange” o pescado para o alto mar, espantando também o Pescador. E foi algo parecido com isso que “espantou” o nosso personagem da vigésima edição do “Nossa gente – todos no mesmo pódio” – CHICO NOCA.

 
FRANCISCO CARLOS DOS SANTOS (“Chico Noca”), nasceu no município cearense de Acaraú no dia 18 de agosto de 1918. Filho de João Carlos dos Santos e Equitéria Santos, Chico Noca chegou ao Maranhão em 1953, trazendo quase nada na bagagem que cabia num bornal.

 
Inicialmente ficou encantado com o litoral maranhense, mas, por desconhecer tudo que visitou, “escolheu” distante Raposa como lugar preferido para iniciar uma nova vida ao lado da mulher Maria Martins dos Santos. Ali, fincou algumas estacas e construiu o primeiro casebre com paredes e cobertura de palhas de coqueiro.

 
Na primeira saída para o mar numa embarcação pequena e improvisada, Chico Noca não imaginava que teria tão bom resultado na pescaria. Vendeu o peixe e começou juntar algumas sobras das despesas, até que resolveu “buscar” mais gente – amigos e parentes – para viver e trabalhar no novo Paraíso: a Raposa.

 
Chico Noca chegou, assumiu uma virtual liderança comunitária e chegou a funcionar como conselheiro para muitos que chegavam, vindos do Ceará ou de outras paragens. Esperto, procurou conhecer São Luís para descobrir uma fórmula de levar o “povo da capital” para conhecer aquele pedaço de céu num dos promissores cantos da Ilha.

 
E, foi pelo conhecimento que teve da Ilha, que resolveu investir num acanhado e precário “Restaurante” com atrações da culinária cearense servida aos domingos. Conhecido o suficiente, Chico Noca até incentivou “concorrentes” como Capote num local em melhores condições – o que garantiria a visitação de pessoas da classe média alta aos domingos e feriados.

 
Peixe assado na brasa; peixada no leite de coco; camarão frito e em torta, ensopado de tarioba uma variada atração de peixes e mariscos – estava assegurado o sucesso do Restaurante do Chico Noca. A partir daí ficou mais fácil chegar a São Luís e “botar banca”.

 
Chico Noca repetiu a estratégia no bairro do Angelim, por ter aversão ao luxo. Costumava dizer que, “quem está precisando comer é o pobre. E pobre não tem dinheiro para ir a restaurante de luxo”.

 
Chico Noca faleceu sem sair da Raposa. Mesmo com o restaurante funcionando no Angelim, permaneceu morando na Raposa. Filhos e filhas e netos e netas “tocam” o barco e tudo fazem para manter a tradição e os valores de vida passados pelo Velho Marinheiro.

 

Guerreiro do Mar

No teu rosto o espelho de um tempo,
Rugas que o sol marcou,
Espessura de mão rude,
O mar bravio desafiou.

Tempestade testemunhou.
Tua garra e coragem
Símbolo de um povo
Tua toca, Tua Cara.
Onde tudo é mar
Entre peixes e mariscos
Teu nome devemos lembrar
(Autor desconhecido)

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