A filosofia de Bento
Alunos acompanham palestra
A Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp recebeu um dos maiores defensores do desporto, Jorge Olímpio Bento, professor da Universidade do Porto, Portugal. O escritor iniciou o seminário “Citius, Altius e Fortius: a filosofia do esporte e o olimpismo” falando sobre a importância de descobrir a substância das atividades a que o homem se propõe realizar. Ele enfatizou que muitas vezes as pessoas realizam seu trabalho sem saber o que está por baixo e com o desporto não seria diferente. Segundo Bento, a defesa do desporto requer uma mudança na maneira de encará-lo. Para ele, o discurso oficial precisa enfatizar a substância do desporto.
Na opinião do professor, autor de vários livros, para entender o desporto dos dias atuais, é preciso conhecer o pensamento filosófico da Antiguidade sobre ideais, princípios e valores. E foi baseado em nomes importantes da filosofia, como Platão, Kant, que ele deixou palavras importantes aos futuros educadores físicos ou pesquisadores em educação física. Ele acredita que é para entender o Homo Sportivus é preciso perceber o alcance da relação entre cultura e natureza na configuração do homem e seu corpo, estabelecida pelo Iluminismo, pelo Humanismo e a pela Modernidade.
Bento enfatizou que o homem moderno busca modelo para tudo – modelo de homem, modelo de vida –, e não é diferente no desporto, em que o homem também se rende a novas tecnologias e novos modelos. “O homem quer definir-se e produzir-se de maneira nova, com o recurso de tecnologias que misturam homem e máquina num mesmo produto”, destacou. Ele acrescenta que hoje o homem não se locomove andando para o trabalho e caminha poucos passos da garagem para dentro de casa. “O corpo já não é seu, pois não é utilizado para as necessidades para o qual foi criado, como diz Hanna Arendt (1906-1975)”, pontuou. O que se vê hoje, segundo o professor, é uma humanidade com elevada crença nas tecnologias e nos avanços das biociências.
Durante a palestra ele citou um especialista da área de desporto que questiona: “Daqui a pouco procuraremos os atletas por catálogo”. Uma inquietação para profissionais da área, principalmente aqueles que participam da seleção de atletas. A essas inquietações, Bento tentou responder com algumas perguntas: “Trocaremos os pais naturais por ver nova paternidade de genes que predestinam nossos campeões? Será assim conseguido o homem novo tão enfatizado e exaltado no tradicional ideário do Homo Sportivus? Serão os campeões assim assumidos objeto de nossa admiração e encantamento? Merecerão os hinos dos cantores, os versos e odes dos poetas, os quadros dos pintores e os bronzes e os mármores dos escultores? Serão a encarnação das novas paixões e dos nossos sonhos mais sublimes? Serão o orgulho máximo de realização suprema de nossas condições?”
Comentários
Por
Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Novembro de 2016 às 11:37.
Leopoldo,
Por pouco não me encontrei com o Jorge Bento, na Universidade do Porto. Destaco meu interesse em saber de seus trabalhos a respeito de mieus estudos e pesquisas. Felizmente, consegui conhecer a simpática Isabel Mesquita com quem pretendo manter contatos permanentes para aprofundamento dos estudos e atender seu pedido de oferecer uma prática (de ensino) ao vivo na UP.
----------------------- Eis o teor de nossas tratativa com o Jorge Bento:
Muito obrigado pela mensagem, caro Professor Roberto Pimentel!
Como verificou, eu encaminhei a sua mensagem para a direção da Faculdade. Creio, não tenho a certeza, que o novo Diretor da Faculdade se encontra neste momento no Brasil; não vejo outra razão para ele não responder à sua sugestão.
Em todo o caso, eu terei muito gosto em falar consigo, se se oferecer a oportunidade para tal.
De: Jorge Bento [mailto:jbento@fade.up.pt]
Enviada em: quarta-feira, 5 de outubro de 2016 18:16
Para: Roberto Pimentel
Cc: Isabel Mesquita; Antonio Manuel Fonseca
Assunto: RE: Visita à UP
Caro Professor Roberto Pimentel:
Muito obrigado pela sua mensagem e pelo seu interesse em visitar a Faculdade de Desporto! Todavia, eu já não sou o Diretor da Faculdade, dado o facto de ter atingido o limite de idade no dia 25 de abril passado. A função é agora exercida pelo Prof. António Manuel Fonseca, a quem dou conhecimento desta mensagem.
Porventura a Profª Isabel Mesquita não teve acesso à mensagem que me enviou; com efeito o email dela é o seguinte: imesquita@fade.up.pt
Desejo-lhe uma boa estadia no Porto e uma agradável visita à nossa Universidade e Faculdade.
Saudações cordiais
Jorge Olímpio Bento
Por
Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Novembro de 2016 às 11:45.
Leopoldo,
Sobre ética nos desportos, e especialmente no futebol, lembro a atuação do português José Manuel (já citado neste CEV) que, inclusive, foi guru do José Mourinho, seu aluno na universidade.
Manuel Sérgio é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto, Universidade de Lisboa, Portugal.
Eis um deles
ÉTICA NO DESPORTO... Do Jogo ao Desporto em Bourdieu e… não só
Professor Manuel Sérgio, 21-07-2015
Não sou sociólogo e não encontro, por isso, em mim, meritórias qualidades para criticar Pierre Bourdieu. No entanto, não deixo de o ler, para não descambar em longuíssimos, enfáticos e desnecessários discursos, a seu respeito.
Quando, em 1969, no curso de Instrutores de Educação Física de Lisboa, entrei de lecionar a disciplina de História da Educação Física, logo procurei demonstrar aos alunos que o desporto moderno nasceu do ócio que o progresso económico permitiu aos países mais desenvolvidos, mormente a Grã-Bretanha. E foi, nos clubes, ciosamente reservados aos gentlemen e nas public schools, que o desporto moderno despontou e se organizou, pela vez primeira.
Aliás, no ser humano, não há fenómenos simples, tudo é um tecido de relações. E é bem pouco distinguir os meios e esquecer os fins. A propósito, podemos escutar a voz afirmativa e explicativa de Eduardo Lourenço: “Estamos realmente na era da diversão e do divertimento, expressões que, para Pascal, tinham sentido sobretudo, dentro de uma visão religiosa da vida e de certo comportamento ético a ela ligado. Hoje, o divertissement não é algo de que alguém se envergonhe, passou a ser realmente um comportamento universal.
E, assim como a passagem do jogo ao desporto significou, entre outras coisas, que a sociedade do espetáculo, lépida, se aproximava e que a visão do corpo se transformava, também hoje o desporto, sujeito à regra absoluta de uma economia das pessoas em função do mercado, é cada vez menos jogo e cada vez mais espetáculo e trabalho.
[...] no Desporto, a excelência tem tudo para ser democrática, resulta de uma competição entre iguais e em igualdade de circunstâncias. E de uma vontade de socializar, dado que a competição é um diálogo, um chamamento para um especial encontro. Entre pessoas e instituições. À luz de um determinado projeto…
E uma questão ainda: e qual o valor social do desporto? O valor social do desporto reside na ética dos “agentes do desporto”… porque não há desporto, há pessoas que o fazem! É verdade que o liberalisno dominante se esqueceu de conjugar a liberdade necessária com a igualdade possível, num equilíbrio de recíproca compatibilização (…). Como diria ironicamente o velho Anatole France, a lei dos regimes liberais é infinitamente justa, porque proíbe igualmente ao rico e ao pobre dormirem debaixo das pontes”.
E conclui dizendo... Mas não foi em ambiente adverso que nasceram os grandes políticos e os profetas fundadores das grandes ideologias? E não é o Desporto, mais do que uma Atividade Física, uma Atividade Humana? Ou, se não levarem a mal, um dos aspetos da motricidade humana? E com a passagem de Atividade Física a Atividade Humana é o homem todo que se movimenta, na prática desportiva. E assim o Desporto não tem só que “fazer bem à saúde”, tem de concorrer também ao surgimento de um mundo novo, ou a uma Nova Ordem Mundial.
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Leiam muito outros artigos em http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=430526
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