A 17 de agosto, desse ano de 1911, escreve outro artigo, também publicado n´Pacotilha:

O culto da saúde

A verdadeira pedra filozofal está simplesmente numa vida regrada. Assim no-lo prega o dinamarquêz Muller, no livro o meu sistema, traduzido em mais de uma dúzia de línguas. O afamado apóstolo da cultura fízica leciona e executa. Obteve, em diversos campeonatos, 130 e tantos prêmios. É perito nas corridas de velocidade e rezistência, salto em comprimento, remo, natação, mergulho, jogo do martelo, lançamento da bola de 16 libras inglezas, luta Greco-romana, alteres, jogos da bola de 56 libras, disco, dardo, lutas de tração, de cinco e dez pessoas. Sai-se perfeitamente no box e no foot-ball.

Leu, muito moço, obras de fiziologia e jinastica. Um artigo sobre  pedestrianismo, visto depois, ensinou-o a correr nos bicos dos pés. Travou conhecimento, a seguir, dos volumes do austríaco Vitor Silberer, que introduziu o gosto do desporto em sua terra. Caiu-lhe sob os olhos, a breve trecho, um guia popular de saúde . Esperimentou , após, todos os sistemas jinásticos, incluzive o sueco, então em voga. “Mas foram os exercícios em caza – confessa -, organizados por mim só, e as corridas ao mar livre, que transformaram a criança doente, que era, num rapaz robusto e sadio”.

Refere-se ao processo de Sandow, que se divulgou bastante. “MO método é bom, pra produzir bicipetes salientes; mas como se sabe, a fôrça vital não está no braço. – Acho preferível ter coração, pulmõis, pele, dijestão, rins e fígado normais a bons bicipetes. Condena Sandow, porque “despeza completamente a boa atitude jeral do corpo”, exibindo os seus educandos “com o dorso e as pernas arqueados”. Ling “conduz ao escesso oposto” e abandona muitas coisas úteis. Declara, por fim, que o seu sistema “conjstitue uma média, entre estes dois estremos”. Chegai à concluzão, acentua o sr. Muller – de que os pontos por onde a maioria dos corpos humanos se afasta do mideal da saúde e da beleza são a pele e o ventre. 90% dos reprezentantes da nossa espécie necessita de exercícitar os nusculos e os órgãos abdominais e tratar da pele. O manual do bravo jinasta, elucidado por ilustraçõis, dispensa outro indicador. Qualquer, seguindo-lhe o rejimem, poderá enrijar-se e prevenir moléstias.

Promanon da esperiencia de séculos a solida ciência da nossa época. Assim, das contraprovas do atletismo, proveiu a remodelação e aperfeiçoamento dos órgãos do reino humanal. Os fiziólogos intervieram, no momento psicolojico, - deixam passar o chacoteante chavão -, com as suas teorias, completando, nos laboratórios, o que a prática dos curiozos desnudára. Mas, antes de Mosso, Lombroso, Demeny, Toulouse, Marey, Desfosses e uma lejião doutros se manifestar. Gladstone, aos 80 anos, pra que o vigor se lhe não entorpecesse, rachava os mais pétros carvalhos, Tolstoi e Zola amavam o ciclismo, Brieux ostentava-se um belo jinasta, Prévost adora os jogos ao ar livre, mPaul Adam e Pierre Mael são atletas. Etc.

     O dr. Tissié e o professor Demeny profligam os torneios e voltas preconizados por Ling, proclamando a jinastica hijienica, afim de equilibrar, no meio-termo, o evolver corpóreo. Ao tenaz sueco todavia, não se deve negar o grande méritode atrair as almas prá sistematização, nos tempos modernos, do que fora um hábito instintivo dos antigos. Muller e
Demeny, marcadamente, evanjelizam a
jinastica racional, ou educativa, harmonizando o que metodizam com os movimentos naturais, sem sacrifício da compleição particular de cada um.

     Num dos paragrafos de seu livro, G. Demeny afirma-nos que a influencia psíquica do exercício se consegue, em conjunto, na dansa associada à múzica, nos jogos em comum, nas aplicaçõis úteis, exijindo iniciativa, coragem, audácia. Os desportos de todas as categorias, as lutas, os assaltos, os combates – são a melhor escola do caráter e da personalidade. Depara-se ai o laço da solidariedade e da dsciplina, junto à maior independência. É preciso rebater, pelos jogos livres, a sensaboria e a rijidez duma jinastica escluziva. Pode ser-se regrado, sem tais inconvenientes. Os efeitos somáticos dos movimentos não são os únicos dezejaveis. Menosprezar as conseqüências psíquicas – alegria, entuziasmo e as qualidades éticas mais altas do individuo – é truncar a educação, reduzir-lhe disparadadamente o alcance. Vê-se que os motivos de reputado professor francez se estribam em irrefragáveis doutrinas, hoje aceitas pelos sabedores e pelos ignorantes.

     O dr. Toulouse, que alcançou numa nomeada mundial, com o seu escrito, sobre o ciclópico romancista de Rougon-Macquari, enviou ao pariziense Excelsior, o jornal-revista da moda, um lúcido artigo acerca do debatissimo surmenage. Conta-nos  que os neurastênicos pejam mnos consultórios médicos e os azilos, ameaçando aniquilar ou pelo menos, dimunuir o valor da raça. Começa por nos descrever um homem rico, seu conhecido, que contraiu uma séria perturbação nervoza, por se ocupar em demazia, e sem ordem, duma pequena serie de raridades livrescas, a cujo exame, bibliografia e classificação só se entregava – quando lhe dava na gana.

     Divide em duas classes o labor mental. Um é fácil, espontâneo, como quando meditamos em assuntos pouco nítidos, sonhos ambiciozoz, lembranças do passado, reflexõis dissemilhantes. O espírito divaga, passeia, regressa ao ponto central, evade-se, ao sabor de mil pequenos ajentes, não domináveis. Esta atividade é a menos fatigante. Um trabalho, em que aq criação seja o elemento preponderante, toma a maior parte das vezes esse aspeto, embora  isto sorprenda muitas criaturas, que respeitam as elevadas especulações inteletuais. Eis porque os artistas, os sábios, os inventores,, os homens de negócio são capazes de conservar horas a fio no seu posto, sem pestanejar. A segunda face do labor mental é voluntária. A alteração consciente é constante e mantem o espírito num limite estreito, de que não pode arredar. O esforço rezulta penozo. Há serviços maquinais, que fatigam com facilidade, ainda que o gasto inteletivo ou muscular na seja intenso. Os afazeres voluntários demonstram-se como os mais exaustivos.

     Aconselha que se crie o costume de ter tanto menos pressa quanto mais houver que fazer. Já Franklin assim reciocinava, ao esternar que – “os homens  ocupados são os que teem mais tempo”. Quando houver trabalho em barda, cumpre que se descanse mais e se moderem os jestos, que se relacionam diretamente com o pensamento. Não se deve concentrar a atenção em vários assuntos. Mas, quando mo campo em que ela se exerce é muito estrito, há num novo perigo, - objeta ainda o0 considerado médico francez. Se se não varia uma tarefa esgotante, chega-se depressa ao estado em que a só idéia dessa tarefa basta para neurastenizar.

     O ramerão do serviço diário possue outra desvantagem: abate o interesse, sem o qual a boa vontade se some e a canseira sobrevem rapidamente. A mesma incongruência aparece, quando ocorre o contrário, - quando o interesse é demaziado, passional, caraterizando-se pela angustia do sucesso, o receio sw peoceder maL, o escesso de amor próprio. Como reconhecer, pergunta o dr. Toulouse, que o trabalhar nos alenta? Basta um sinal, esclarece. O trabalho não será demais, se o espírito, ao  repouzar, estiver izento de preocupacõis, não se fizar na faina que tem entre mãos, se o sono for tranqüilo, inabalável.

     Com este avizos, secos e precizos, somente maltratará o organismo quem de todo se recuzar a súber a suave escada, prescrita pelos jinastas e fiziolojistas. Topar-se-á, no cimo dela, o gôzo duma razoável saúde.

Fran Paxêco.

 

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