Muitos que se preocupavam apenas em comemorar a conquista do título dessa estranha Copa União com o apito final do Árbitro, certamente não tiveram coração para ver (“o importante é invisível para os olhos. Só se vê bem com o coração” – Antoine Saint-Exupèry) que passeando entre todos estavam espiritualmente Djalma Campos e Humberto Marçal Pestana Trovão. Também sem que ninguém visse, os dois voltaram a se abraçar, enquanto Djalma mais uma vez balbuciava ao ouvido de Trovão: “irmão, dever cumprido”. Agora sim. Milagre feito pelos santos de casa e, finalmente, dever cumprido.
Foi na tarde de terça-feira, 22, a conquista do IAPE. Não! Não foi. Foi muito antes, quando dois grandes desportistas com larga atuação e grande competência no futebol local resolveram se juntar à cúpula diretiva do IAPE e, ainda no nosso plano terreno, arregaçar as mangas e iniciar um trabalho que, quando já não estavam mais entre nós, teve uma culminância que, pela valorização do jogador da terra, pode ser considerada como um milagre.
Sim, porque Flaubert, Paulo César, Aldinho, Zé Maria, Hans Miller, Vanvan, Carlinhos, Jouberth, Pires, Valbson e outros. Deixamos para citar no fim desta relação: Curuca, que tantas vezes vimos jogar no Juventus do São Bernardo, bairro daqui mesmo de São Luís e que por iguais vezes indicamos aos clubes locais; Robson, atacante que vimos começar a jogar no Arsenal do Anil, de onde saiu para o Maranhão Atlético Clube, também por nossa indicação; e, por último, Jefferson, que vimos iniciar no Sub-17 do Maranhão Atlético Clube antes de um rápida passagem pelas categorias de base do Palmeiras/SP.
Djalma Campos, Humberto Trovão e os atuais dirigentes do IAPE, assessorados por uma Comissão Técnica comandada pelo “maraúcho” (mistura de maranhense com gaúcho) Paulo Fernando Cabreira resolveram entrar no túnel do tempo para trazer de volta a garra, a malemolência e a inquestionável qualidade técnica do jogador de futebol nascido no Maranhão e, como se estivessem apostando num trabalho social de alta envergadura, separar o joio do trigo e permitir que os Santos de casa realizassem o milagre da conquista e do reconhecimento.
Nos nossos 67 anos de vida bem vivida e mais de 50 dedicados ao futebol, aprendemos que, “quem despreza o passado, não consegue realizar nada no presente”. Djalma e Humberto devem ter lembrado como foi difícil para o selecionado cearense “na década dos idos” – como costuma dizer um renomado Pesquisador nascido em Pacajus – formado por Ivan; William e Alexandre; Cláudio, Claudinho e Carneiro; Moésio, Mozart, Gildo, Aldo e Guilherme derrotar uma seleção maranhense que tinha um ataque de seleção brasileira: Garrinchinha, Hamilton, Croinha e Alencar (ou Chico ou outro qualquer).
E, vejam que, embora o selecionado cearense tivesse noutros tempos um ataque formado com Moésio, Zé de Melo, Pacoty, Aldo e Guilherme, na sua melhor formação, sempre manteve os maranhenses Carneiro – melhor lateral-esquerdo do Brasil, em todos os tempos, depois de Nilton Santos – e Guilherme. E os times cearenses com as melhores formações sempre tiveram entre os onze titulares algum maranhense.
Ora, por que Djalma e Trovão formariam um time – a baixo custo, mas de alto rendimento – repetindo os erros seculares que Moto, Sampaio e Maranhão cometem ao longo dos anos?
Formando um time com maioria maranhense, o IAPE não tem a menor possibilidade de ter jogadores “passeando” de viatura policial por falta de pagamento de diárias de pousada. Formando um time com maioria maranhense, o IAPE não “sustenta” a federação com a dinheirama cobrada com transferências, além de ter profissionais adaptados ao clima, à alimentação, à vida social e aos costumes da terra.
Por bem ou por mal, o IAPE já tem calendário para 2011. Os chamados grandes terão que ralar muito, gastar muito com transferências de outros estados, demitir muitas vezes os diferentes treinadores contratados que têm o hábito de trazer além de uma Comissão Técnica completa, o papagaio, o cachorro poodle, uma coleção de minhocas e, como faziam as crianças da turma do Pinduca, até uma latinha com várias coleções de formigas. E tudo isso gera despesas – por mais barata que seja a diária da pousada – que demoram muito para serem pagas.
E aí é que entra a realidade do “milagre do Santo de casa.”
Veja como exemplo uma realidade do clube da nossa preferência, Maranhão Atlético Clube: passou toda a Copa União enfrentando problemas no meio-campo. Mas não pode esquecer que, antes, cedeu, sabe-se lá a que custo, o maranhense Wellington para o Santa Cruz. Vai enfrentar problemas para formar uma nova dupla de ataque, mas se desfez de Edgar.
O Sampaio Corrêa vive há anos a “síndrome da má contratação” – por que não é feita por quem deveria – mas fala em emprestar Kléo, Robinho, Walax, além de pretender dispensar alguns que nasceram aqui e que, cujos salários somados, não representam o valor de dois desses que vêm de fora e que não jogam nenhum milímetro a mais do que Niquito, do XI Anilense; Edson do Cruzeiro do São Bernardo; GEnilson, do Nascente. Está “suando” para contratar um certo senhor Vinícius, enquanto o maranhense Bilica, com passagem por Sport Recife, Ponte Preta, São Caetano e outros, pode ser visto jogando hoje pela manhã pelo Cruzeiro do São Bernardo no estádio Evandro Bessa (Tocão), sem nunca ter sido sondado.
Coisas do futebol maranhense? Não. Falta de reza para encontrar um Santo da terra para fazer milagre.
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