O MUSEU DA VILA VELHA DE VINHAIS

 

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

 

 

         A COMISSÃO DAS COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DA VILA DE VINHAIS VELHO e sua IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA, encaminhou correspondência pleiteando a intervenção do IPHAN junto à área ocupada pela Vila Velha de Vinhais, e sua Igreja de São João Batista, patrimônio estadual tombado.

         Como já comunicado aquela Instituição através de mensagem eletrônica endereçada ao Sr. Julio Meirelles Steglich, Arqueólogo IPHAN/MA, referente à descoberta de objeto lítico no sítio acima referido, em uma residência pertencente ao Sr. Carlos Jacinto, situada em frente à Igreja de São João Batista:

AT. JULIO MEIRELES - MATERIAL ARQUEOLÓGICO‏

 Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Para iphan-ma@iphan.gov.br

Julio, Estive em visita ao Vinhais Velho, ontem à tarde. Lá tomei conhecimento, através de um dos moradores - casa de muro branco, em frente à Igreja, não recordo o nome... - de que achara no quintal de sua casa um artefato - uma machadinha de pedra - provavelmente do período pré-colonial.
Me preocupa, pois há uma construção de via - Via Expressa -, com passagem prevista pelo local em que o objeto foi encontrado, no mesmo sitio. As máquinas estão, já, aproximadamente 20/30 metros do terreno em que se localiza essa casa, caminhando nos dois sentidos, no de frente e pelos fundos, com a construção de uma ponte que chegará aos fundos. ... Ali, nesse terreno, funciona uma granja, fácil de achar, pois... Pela urgência que o caso requer, sirvo-me desse expediente, correio eletrônico, para solicitar a presença, urgente, de equipe de arqueologia, tendo por base Portaria 230/2002 do próprio IPHAN, que protege sítios arqueológicos...
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Professor de Educação Física
Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
vazleopoldo@hotmail.com
98 3226 2076  98 8119 1322
Rua Titânia, 88 - Recanto Vinhais


            O pedido de intervenção é decorrente da movimentação de terra na área ocupada pela Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho como também é conhecido aquele hoje bairro de São Luís. Embora as autoridades envolvidas na querela que se formou em torno da construção daquela Via Expressa – ou rodovia estadual, uma MA no entendimento do Governo do Estado – dão conta de que houve estudos para verificar a existência de sítios arqueológicos no traçado da rua, e que nada fora encontrado e, para todos os efeitos, apenas a Igreja de São João Batista e seu entorno é considerado bem tombado pelo Estado.

 

 

 

 

Achados recentes, de objetos líticos – objeto da comunicação acima -, dão conta de que efetivamente existe um sítio arqueológico a ser explorado, e está localizado no traçado da nova avenida/rodovia... Em decorrência dessas informações desencontradas, fruto de disputas entre grupos políticos, situação e oposição, em que aquela população foi colocada no meio, foi realizada uma Aula Pública[1] em defesa do patrimônio histórico daquela Vila.

 

 

Na ocasião, foram feitas denúncias de agressão ao meio ambiente, aos direitos dos cidadãos, e atentado ao patrimônio histórico.

 

 

Miranda (2011) [2] afirma não serem poucos os que confundem meio ambiente com natureza: “[...] concluindo equivocadamente que somente os bens naturais (recursos hídricos, fauna, flora, ar, etc.) integram o conjunto de elementos componentes do meio ambiente”. Afirma esse pesquisador, especialista em direito ambiental, que:

“[...] o meio ambiente é a interação do conjunto de todos os elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em suas variadas formas, constituindo a ambiência na qual se move, desenvolve, atua e se expande a vida humana. Por isso, para os fins de proteção, a noção de meio ambiente é muito ampla, abrangendo todos os bens naturais e culturais de valor juridicamente protegido, desde o solo, as águas, a flora, a fauna, as belezas naturais e artificiais, o ser humano, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico, monumental, arqueológico, espeleológico, paleontológico além das disciplinas urbanísticas contemporâneas”. (grifo meu).

À luz desse entendimento, o ordenamento jurídico expresso no Capítulo V, seção IV da Lei 9.605/98 e art. 2º, XII da Lei 10.257/2001, têm-se - ainda seguindo Miranda (2011):

a) Meio Ambiente Natural ou Físico – formado pelo subsolo, recursos hídricos, ar, fauna, flora e demais elementos naturais responsáveis pelo equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem, sendo objeto dos arts. 225, caput, e parágrafo 1º, da CF/88.

b) Meio Ambiente do Trabalho – integrado pelo conjunto de bens, instrumentos e mios, de natureza material e imaterial, em face dos quais o ser humano exerce suas atividades laborais, recebendo tutela imediata do art. 200, VIII, da CF/88;

c) Meio Ambiente Artificial - integrado pelo espaço urbano construído pelo homem, na forma de edificações (espaço urbano fechado) e equipamentos tais como praças, parques e ruas (espaço urbano aberto), recebendo tratamento não apenas no art. 225, mas ainda nos arts. 21, XX e 182, todos da CF/88;

d) Meio Ambiente Cultural – integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arquitetônico, paisagístico, espeleológico, geológico, fossilifero, turístico, científico e pelas sínteses culturais que integram o universo das práticas sociais das relações de intercambio entre o homem e a natureza ao longo do tempo, recebendo proteção dos arts. 215 e 216 da CF/88.

Os membros da Comissão dos 400 anos da Igreja de São João Batista da Vila Velha de Vinhais, juntamente com o IHGM já haviam feito proposta de manutenção dos objetos que estavam sendo encontrados na própria comunidade, com a instituição de um museu, através de correspondência datada de 27 de janeiro de 2012:

À Senhora Kátia Santos Bogéa
Superintendente do IPHAN no Maranhão
Endereço: Rua do Giz, 235 – Centro - CEP: 65.010-680 – São Luís-MA
Telefone: (98) 3231-1388 - e-mail: iphan-ma@iphan.gov.br

 

Senhora Superintendente

    Nós, da COMISSÃO DAS COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DA VILA DE VINHAIS VELHO e sua IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA, vimos através desta pleitear junto a Vossa Excelência a intervenção desse órgão junto à área ocupada pela Vila Velha de Vinhais, e sua Igreja de São João Batista, patrimônio estadual tombado.

    Como já comunicado a essa instituição através de mensagem eletrônica endereçada ao Sr. Julio Meirelles Steglich, Arqueólogo IPHAN/MA, referente à descoberta de objeto lítio no sítio acima referido, em uma residência pertencente ao Sr. Carlos, situada em frente à Igreja de São João Batista.

    Informamos a Vossa Excelência de que essa residência está entre aquelas em processo de desapropriação, por onde deve passar o traçado da Via Expressa, ora em construção; que as escavações e movimento de terras para tal, já se encontra bem próximos do local onde foi encontrado o referido objeto, uma machadinha de pedra. Temos informações, ainda não confirmadas, de encontrados outros objetos, o que esperamos seja confirmado quando da visita de técnicos desse IPHAN, já programada, à área em questão. Desnecessário referir-se à urgência dessas providencias.

    Mas o que nos move, neste momento, é a informação precisa e técnica, que somente esse IPHAN pode nos oferecer, quanto à idéia de que seja arqueologia, qual o trabalho do IPHAN e, sobretudo, na orientação à população em identificar e quais procedimentos a tomar, quando da descoberta de novos objetos, seja, Educação Patrimonial.

    Vimos, pois, solicitar de Vossa Excelência sejam designados técnicos do IPHAN para, junto à nossa população da Vila Velha de Vinhais e demais comunidades de seu entorno, especialmente à população estudantil, seja ministrado Curso de Educação Patrimonial, podendo ser através de série de palestras, a diferentes públicos: alunos da rede municipal de ensino, moradores das áreas atingidas pela intervenção estatal, demais moradores da área. Desnecessário falar, também, da urgência dessa intervenção por parte do órgão que dirige.

    Ao mesmo tempo, identificados os objetos, e declarado – após estudos – sua autenticidade e estabelecido o período em que foi confeccionado e por quem, nos seja permitido permanecer na posse do mesmo, assim como de outros objetos de interesse científico e histórico, através da constituição de um Museu do Vinhais Velho sob a responsabilidade direta do IPHAN. Como é de seu conhecimento, a Vila do Vinhais Velho, como é conhecida hoje, se constitui núcleo residencial de índios e brancos desde tempos imemoriais, e precisa preservar sua memória.

    Assim como é de seu conhecimento que a população do entorno da Igreja de São João Batista, com a proficiente orientação de Vossa Excelência e seus técnicos, vem mantendo a memória desta comunidade e de seu Patrimônio Histórico vivo, inclusive com a recuperação física da referida Igreja de São João Batista, sem ajuda governamental, seja, recursos financeiros dos poderes públicos.

    Pedem, em nome das Comunidades do entorno da Igreja de São João Batista do Vinhais Velho, neste ano de comemoração dos 400 anos.

Senhora Superintendente,

    A História, e nosso Patrimônio, não poderão subsistir sem a interferência institucional do IPHAN e sua, em particular. 

    Pela COMISSÃO DAS COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DA VILA DE VINHAIS VELHO e sua IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA,

LUIZ ROBERTO M. DE ARAUJO

FRANCINALDA ARAGÃO LIMA

DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

    Pelo INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, e membro da Comissão dos 400 anos do IHGM e da Vila de Vinhais

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Vice-Presidente - Gestão 2010/2012

Morador do Recanto Vinhais

 

A gestão, preservação e socialização do patrimônio cultural brasileiro cabe ao IPHAN (Lei federal 3.924/1961, CF/88, e da legislação ambiental implantada a partir da década de oitenta).

Mais recentemente, evidencia-se uma preocupação com a socialização do patrimônio, com o arqueológico ocupando um lugar de destaque no cenário nacional, com adoção de um modelo em que setores não-governamentais têm participado de modo ativo, notadamente na área da pesquisa arqueológica e da guarda de acervos (Migliacio, 2011)[3].

A Comunidade do Vinhais Velho  exultou quando o Dr. Daniel Rincón Caires, da Casa Museu de Alcântara, e funcionário do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM – comunicou à referida Comissão que aquela instituição federal estava oferecendo assistência técnica necessária para fundação de seu Museu. O que foi aceito pela Comissão, pela diretoria do IHGM, e, após consulta, pelos moradores daquela comunidade, presentes em reunião realizada em casa de um dos moradores, no dia 02 de fevereiro de 2012.

   Como afirma a Diretora do Centro Nacional de Arqueologia (Migliacio, 2011), ainda é preciso aprimorar a parceria criando formas institucionais de compartilhamento das responsabilidades por uma gestão que tenha em vista o interesse social e coletivo.

   A Vila Velha de Vinhais possui uma história paralela à de São Luís. É um lugar que representa um passado, ainda vivo na memória de seus moradores, resgatado por pesquisadores residentes nos bairros que se instalaram em seu entorno e, agora, descobertas recentes, trazem uma história anterior ao período colonial, como já se suspeitava, mas até o momento não recebeu atenção dos órgãos responsáveis por essa preservação.

Assim, pede-se que a Vila velha de Vinhais – ou o Vinhais Velho como também é conhecida – seja tombada em todo seu conjunto, estendendo-se o de sua Igreja, ampliando-se o ‘entorno’.

Assim como a criação do Museu da Vila Velha de Vinhais, a manutenção dos objetos achados, e por achar. Lançada a idéia da instalação do Museu, começam aparecer pessoas interessadas em doar objetos para compor seu acervo

*      um mapa da Ilha Grande onde é localizada a Aldeia de Uçaguaba, dos Tupinambás, identificada como Miganville, feitoria de Davi Migan, aqui estabelecido desde 1594 - antes de La Ravardiére!!! – e que contava, na ocasião em que este chegou para ‘fundar’ sua Colônia já com mais de 400 europeus, de diversas nacionalidadees: franceses, batavos, flamengos, ingleses, além dos mais de 500 índios da segunda maior aldeia da Ilha Grande.

*      Objeto que pertenceu aos Jesuítas, expulsos do Maranhão lá pelo meado dos 1700.Dentre outros.

            Com o Programa de Educação Patrimonial, que se espera resposta positiva do IPHAN para sua realização junto as diversas comunidades, espera-se descobrir outros objetos em poder dos moradores, que possam vir a constituir o acervo do novo Museu.

           


[1] Realizada dia 31 de janeiro de 2012, convocada pela Profa. Dra. Antonia Mota, do Departamento de História da UFMA, convidado o IHGM, designados os sócios efetivos Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Antonio Noberto.

[2] MIRANDA, Marcos Paulo de Sousa. Análise dos impactos ao patrimônio cultural no âmbito dos estudos ambientais. In SEMINÁRIO NACIONAL: ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE, São Luís, 17 a 19 de agosto de 2011, Coletâneas...

[3] MIGLIACIO, Maria Clara. O IPHAN e a gestão, preservação e socialização do patrimônio arqueológico brasileiro. In In SEMINÁRIO NACIONAL: ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE, São Luís, 17 a 19 de agosto de 2011, Coletâneas...

Comentários

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 7 de Fevereiro de 2012 às 17:58.

CARTA AO IHGM

Sra. Presidente,

Encaminho para apreciação texto justificativo do envolvimento do IHGM na constituição do Museu da Vila Velha de Vinhais, que ora se propõe ao IPHAN e ao IBRAM, como parte das comemoraçõs dos 400 anos da igreja situado naquele bairro e de sua suposta ocupação a partir de 1612 – embora já haja comprovações bem documentadas de que essa ocupação se deu a partir, de, ao menos, 1594.

Solicitamos o encaminhamento para apreciação da diretoria e, aprovado nesta, a AGO, haja vista a pretenção de ser o IHGM co-fundador da nova casa de memoria, e um de seus curadores. Cumpre lembrar que o IHGM já teve sua coleção, e o seu museu, perdido ao longo dos anos as peças reunidas pelos irmãos Antonio e Raimundo Lopes, a partir dos anos 1915; a ultima noticia que se teve da coleção, refere-se a sua organização na decada de 1950…

A criação do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, naquele ano de 1925 demonstra que havia, sim, interesse no desenvolvimento dessa ciência:“Artigo 1 – Fica fundada nesta cidade de São Luiz uma associação scientifica para o estudo e diffusão do conhecimento da história, geografia, ethnographia, ethnologia, archeologia, especialmente do Maranhão, e incremento à commemoração dos vultos e factos notáveis do seu passado e a conservação dos seus monumentos” Estatuto do Instituto, in Revista do IHGM, no. 1, 1926, julho-setembro, p. 61.

As primeiras produções de conhecimento sobre a pré-história maranhense foram praticadas por pessoas pertencentes  ao IHGM, destacam-se as publicações de Raimundo Lopes, Civilização lacustre do Brasil (1924) e O Torrão Maranhense (1970); de José Silvestre Fernandes (1950), Os Sambaquis do Nordeste  e Olavo Correia Lima (1970), Pré-História Maranhense .

Encontramos na Revista do IHGM em seu numero 1, de 1926 uma nota da redação, atribuída a Antonio Lopes: “O Sr. Dr. Franklin Ribeiro Viegas, um investigador paciente da flora maranhense, comunicava, há pouco, ao Diretor desta revista haver o Sr. Euclydes Gomes da Silva, morador do sítio da Sra. Luiz Soares Ferreira, que fica ao lado esquerdo da estrada carroçável para o Anil, a alguns metros para além da ponte sobre o Riacho Cutim achado umas antigalhas curiosas quando realizava ali escavações para plantar um bananal.
“O Dr. Antonio Lopes dirigiu-se ao lugar indicado com o Dr. Viegas e lá, em companhia ainda do agricultor já referido e dos Snrs. José A. da Silva Guimarães e Luiz Aranha, achou alguns vasos de barro, dos quaes o maior tem uns 50 centímetros de diâmetro médio, machados de pedra, collares de contas, extrahidos pelos trabalhadores da plantação, declarando-lhe o proprietário desta que os vasos estavam cheios de ossos tão decompostos que os trabalhadores, na anciedade de encontrar dinheiro sob a camada de terra que recobria, esfarelaram na sua ausência. “Alguns fragmentos desses ossos foram recolhidos. Em pesquisa realizada na occasião da visita do Dr. Antonio Lopes  ao local foram encontrados a alguns metros da superfície do solo, outros machados de pedra, cascas de conchas (o terreno é todo capeado de uma onde ellas são abundantes), contas esparsas, restos de carvão. “Do material recolhido REMETTEU-SE UMA PARTE AO Professor Raymundo Lopes, no Rio de Janeiro, afim de o estudar. O Snr. Dr. Abranches Moura levantará  um croquis do lugar, de modo a precisar a situação topographica. “Não é incrível se trate de mais um sambaqui, mas devemos aguardar que se pronuncie sobre o material que lhe foi remettido o nosso ilustre conterrâneo Raymundo Lopes. “A hypotese, mais simples, de um cemitério de índios não é inviável e mesmo nesta o material deve ser reputado muito antigo, porquanto desde o século XVII não há índios em estado selvagem usando armas de pedra, na Ilha do Maranhão. “O mais curioso do achado é constituído, porém, pelos collares e contas esparsas, pelo feitio e qualidade do vidro em que são fabricados. “No próximo numero da Revista o Dr. Antonio Lopes publicará um estudo minucioso e descriptivo do achado, acompanhado croquis do lugar e algumas photographias do material (Machados, vasos, etc.). Logo que venha ao Instituto, o parecer do Professor Raymundo Lopes será estampado nesta revista. “O material será recolhido ao Instituto”.

   Logo a seguir, outra nota sob o titulo “As Colleções do Instituto” relata as reclamações, pela imprensa, da falta de um museu histórico. Informa, então, que o IHGM estava organizando não um museu, mas uma coleção de material arqueológico, histórico, etnográfico, e geográfico do Maranhão; para esse fim, já se havia posto em campo, nomeando em alguns pontos do estado agentes incumbidos de angariar esse material, pessoas cultas e dedicadas. Aos seus agentes baixou algumas instruções para recolha de objetos destinados à coleção: “Material archeologico – Instrumentos, armas e outros objetos de pedra lascada ou polida, (machados, etc.) encontrados no solo ou subsolo, em cavernas, no fundo de lagos, lagoas ou rios. “Ossadas ou fragmentos de ossadas humanas ou de animais, encontrados em escavações, desbarreiramentos e cavernas, ou no fundo de lagos ou rios. “Fragmentos ou peças de louças de barro, (cerâmicas)encontradas em escavações, ou desbarreiramentos, ou nos  lagos ou rios. “desenhos ou photographias de inscripções, entalhes curiosos ou esculpturas em serras, morros e rochas.“Fosseis.” (p. 79-80

Em seu número 2, de 1948, fala do Museu do Instituto, que reunia diversas peças, todas já perdidas com o tempo , em função dos acontecimentos decorrentes da revolução de 30, dentre outras conseqüências, foi responsável pela total desorganização do Museu do IHGM:  “Não poucos revezes saltearam o Instituto na vigência do regimem político instaurado em fins daquele ano. Uma administração do município de S. Luis retirou o parco auxilio com que eram custeadas as despesas com a revista. Desalojaram a associação, reconhecida de utilidade pública por lei estadual… do próprio Estado do qual a instalara o governo de um maranhense e os seus livros e as coleções do seu interessante museu foram atiradas para escuros e humidos porões de edifícios públicos, onde ficaram expostos a inevitáveis estragos.” (p. 3)

   Ao apresentar relatório dos fatos acontecidos no período de publicação da primeira revista (1926) e de seu numero 2 (1948), há uma nota referente a 1939 -14ª. sessão, 20 de julho, se refere à desorganização do museu devido ao seu despejo ocorrido em conseqüência da revolução de 30, com o corte de subsídios. Logo mais abaixo, em Notas Finais, referindo-se ao funcionamento do Museu do Instituto:
 “São do conhecimento do público maranhense os prejuízos que sofreu o Museu do Instituto em conseqüência de fatos que se alude no principio desta revista e nas sumulas das atas de assembléia geral publicadas nas páginas atrás. “Pretendendo reabrir em 1949 esse museu, o Instituto pede aos maranhenses de boa vontade lhe mandem material para as coleções geográficas, históricas, etnográficas, arqueológicas. Abaixo apresentamos sugestões de material a ser colhido e enviado. “Material arqueológico – instrumentos, armas e outros objetos de pedra lascada ou polida, machados, etc. encontrados no solo ou subsolo, em cavernas, no fundo de lagos, lagoas, alagadiços ou rios [...] “ (p. 159)

   O que se verifica, com essas notas, que a Coleção, depois Museu, chegou a ser instalado, provavelmente com aquelas peças recolhidas no sitio do Anil, seu acervo inicial, e dado continuidade a coleta e pesquisas. Em 1939 já estava perdida parte do acervo, havendo o propósito de reabrir o Museu e reiniciarem as pesquisas. Não se tem noticia do relatório de Raimundo Lopes…

    Outra nota referente ao Museu do IHGM aparece na revista de 1952 , onde é informado que estava sendo (re)organizado pelo Dr. Domingos Vieira Filho, por incumbência da diretoria. Organizado em duas sessões: folclórica e etnográfica; sendo que esta reunia vasto material etnográfico referente ao negro, ao índio e ao luso. Registra que havia um vasto material, cedido pelo Serviço de Proteção ao Índio, constituído de objetos dos índios Canelas do Maranhão. Havia uma seção histórica, sob a responsabilidade de consorciado Osvaldo Soares, que estava organizando as fichas e, quanto ao material – louças antigas – não poderia ser exposta devido ao prédio estar em péssimas condições e não apresentar segurança.

Borralho (2011, p. 13)   também faz referencias ao acervo arqueológico do IHGM, e aos estudos empreendidos por seus associados: Dessa forma, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, logo no seu nascedouro, se coadunou com o seu objetivo de ser um guardião, um tutor da memória e da história do Maranhão, preceitos estabelecidos nos seus regimentos. Isto se comprova e está evidente no esforço que seus membros fizeram para levar ao Maranhão a Coleção Artística Artur Azevêdo, “prometida ao Instituto pelo presidente Magalhães de Almeida”, conforme está registrado nas súmulas das Atas da Assembléia Geral do Instituto, contidas no Livro I, página 148, ou ainda, nas várias exposições montadas por este órgão, reunindo livros, desenhos, autógrafos, retratos e escavações arqueológicas operadas por Raimundo Lopes em várias tribos indígenas do Maranhão, nas festas realizadas no Teatro Artur Azevedo em homenagem ao poeta Gonçalves Dias, na confecção de História do Maranhão feita por Antonio Lopes contendo uma minuciosa cronologia da região, no dever de ofício de pesquisa quando descobriram o acervo encontrado por John Wilson da Costa contendo a história da genealogia dos maranhenses, mais precisamente de sua família, de origem irlandesa, biografias de maranhenses considerados ilustres, como o senador Candido Mendes de Almeida, uma comparação entre a cidade dos séculos anteriores com a atual. (grifamos)

Para Carvalho e Funari (2009)  , a preocupação com a divulgação dos trabalhos arqueológicos no Brasil mereceu atenção de Raimundo Lopes, haja vista que “As tentativas de defesa do patrimônio arqueológico brasileiro começaram na década de 1920. Naquele momento, o presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes e chefe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alberto Childe, propunha a nacionalização das “fontes culturais”. A iniciativa não foi aprovada pelo Congresso, isto porque, a ação poderia significar a necessidade da nacionalização de propriedades privadas. Atitude nada interessante para os políticos do período. A proposta de 1920 não assinalava a necessidade de uma divulgação ou de um programa educacional acerca dos patrimônios.

   Essa preocupação surgiu apenas em 1935, período anterior à fundação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional):
Naquele ano, Raimundo Lopes, arqueólogo maranhense, publicou um estudo sobre as fontes culturais nacionais e sobre a necessidade da elaboração de programas educacionais e da divulgação de informações sobre sítios arqueológicos (Bastos e Funari, 2008: 1128)  . Mesmo com a publicação de Lopes, o grande passo para a preservação do patrimônio arqueológico nacional só seria dado na década de 1960. Uma comissão formada por arqueólogos, pesquisadores da Pré-História, conquistou a elaboração da lei n. 3924/61, aprovada pelo congresso em 1961. O maior objetivo da lei era definir o patrimônio arqueológico, regularizar sua propriedade e seus usos (Bastos e Funari, 2008: 1128). (GRIFADO)

Encontrei outro associado do IHGM que se destaca – Olavo Correia Lima, que atuou nas áreas da Medicina, Antropologia, Arqueologia, Etnologia, entre outros interesses:
- CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54
- CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43
- CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70
- CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12
- CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36
- CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91
- CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31

   Em sua homenagem foi criada a “BIBLIOTECA OLAVO CORREIA LIMA” em 2002, como setor integrante do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão. Iniciada a partir da doação de aproximadamente 3000 volumes pela sua família. Após a sua morte,em 1997, a família doou o acervo a Secretaria de Estado da Cultura que o armazenou no almoxarifado de sua propriedade até a fundação do CPHNAMA onde atualmente tais volumes compõem o referido espaço cultural. 
   Se dependesse do Instituto, a memória, o patrimônio e a história do Maranhão estariam preservados. Cumpria aos demais fazerem sua parte, afirma Borralho (2011, p. 32).

É hora de o IHGM ter um museu sob sua tutela, novamente; que seja essa da Vila Velha de Vinhais, já que estamos envolvidos na preservação da memória daquela comunidade.

ter, 07/02/12 por leopoldovaz | categoria A VISTA DO MEU PONTO, Ciência & Informação

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