RESUMO
Procurar-se evidenciar uma outra faceta do escritor Aluísio Azevedo. Além do que pregava a favor da educação física, em sua obra, notadamente em “O Mulato”, constituiu-se em um verdadeiro “sportman”, participando da implantação do esporte moderno em Maranhão. Jogou futebol, na posição de “full-back”, outras vezes como “half-back”, ou praticando o “law-tennis”, ou participando de concursos “gaiatos”, nas reuniões esportivas e sociais daquele início de século.
INTRODUÇÃO
Durante o Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança[2], realizado em Gramado-RS, discutiu-se as influências britânica e norte-americana na implantação do esporte moderno na América Latina. Considerou-se necessária uma revisão objetiva e mudança no foco dominante no processo de construção da identidade cultural onde essas influências anglo-saxônicas teriam atuado mais como ponto de partida ao qual se seguiram apropriações e autodesenvolvimento por parte das inciativas locais (DaCOSTA, 2.000).
Embora Dejard MARTINS (1989) registre que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se deu pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS – Nhozinho Santos – e do clube esportivo e social fundado na Fábrica “Santa Izabel”, em 27 de outubro de 1907 – o FABRIL ATHLETIC CLUB[3] – para a prática do “foot-ball association”, do Tênis, do Cricket, do Crockt, do Tiro, e do Atletismo, VAZ (1991, 1999, 2000a) e VAZ e VAZ (2000c, 2000d) trazem que manifestações do lúdico e do movimento aparecem em Maranhão desde o período colonial e que já eram praticadas atividades físicas desde a fundação das primeiras escolas, nos anos 1830-1840.
Com a movimentação esportiva que se tinha nessa primeira década do século XX, MARTINS (1989:281) afirma que “estávamos começando a experimentar uma época em que a nossa mocidade principiava a entender o quanto era importante praticar esporte e desenvolver a formação física” [4].
Observa-se, com certa facilidade, que existe na trajetória histórica do futebol brasileiro determinantes comuns, nas equipes que foram criadas no iníco deste século (FREITAS JÚNIOR, 1998, 2000), em que uma das matrizes propostas por esse autor repete-se em São Luís do Maranhão, quando da fundação do Fabril Athletic Clube:
“… a convivência de estudantes brasileiros em escolas européias, nos quais a prática do futebol era bastante difundida. Quando retornam ao Brasil, estes estudantes apresentam este jogo para os seus amigos, e mesmo tendo certas dificuldades face às práticas esportivas dominantes na época, o futebol acabou sendo incorporado“. (FREITAS JÚNIOR, 2000, p. 237).
Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra em 1905 – onde fora estudar para técnico em indústria textil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do “foot ball”, e não se esquece de trazer em sua bagagem os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc., como também para outras atividades esportivas, como o “croket”, “crickt”, tênis (VAZ, 2000b).
Assim, naquele final de ano de 1905, reuniram-se na residência dos Santos, na rua Grande, 1018 (Instituto Zoé Cerveira) além de Nhozinho, seus irmãos Totó e Maneco, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do “foot ball association” no Maranhão.
Além dos irmão Santos, estiveram presentes: John Shipton, John Moon, Ernest Dobler, ingleses empregados na Boot Stearship Co. Ld. – Mala Real Inglesa -, Botho & Co. Ld., e os maranhenses Izidoro Aguiar, Edmundo Fernandes, Afonso Gandra, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Carlos Neves, Antero Serejo, e outros mais (MARTINS, 1989 : 284). Ficou estabelecido que na vasta área da Fábrica seria construido um campo para a prática do futebol. Foram sacrificadas algumas árvores, para que tivesse as dimensões necessárias para a pratica do esporte.
A princípio houve alguma dificuldade para se arranjar os onze jogadores para se formarem os times. Os treinamentos eram realizados com dois quadros de oito jogadores, cada. As competições no campo do FAC começaram a despertar a curiosidade dos transeuntes, que assistiam as partidas através de aberturas no cercado da Fabril. Ninguém entendia do que se tratava, ao observarem os rapazes correndo atras da bola, pois havia muita disputa e muita algazarra. (MARTINS, 1989). As equipe eram formadas pelos times do “Black and White”: João Mário; A. Vieira e G. Costa Rodrigues; E. Simas, Moraes Rego e Joaquim Ferreira Belchior; F. Machado, John Shipton, John Moon, M. Lopes e C. Gandra.
O do “Red and White” era formado por: João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar e Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, Aluízio Azevedo e José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo.
ALUÍZIO AZEVEDO E A EDUCAÇÃO FÍSICA[5]
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor.
Publica em 1879, “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1890); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996).
Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça o perfil da mulher maranhense, comparando-as à lisboeta desocupada e denunciando o ócio em que viviam. Considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher:
“Do procedimento da mulher (…) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (…) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar… “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, “O Pensador”, São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167).
O mesmo tema é retomado quando da publicação de “O Mulato”, criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo – Antonieta (carta a Julia, “Diário do Maranhão”, São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, “Pacotilha”, São Luís, 9.6.1881), respectivamente – falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara” (MÉRIEN, 1988:291).
Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, “lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio” (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, “a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses” (p. 290).
A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender científicamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em “O Mulato”, faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance:
“As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel.” (p. 9).
O “SPORTISTA”
Aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para Aluísio de Azevedo: “era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade”. Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância:
“Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas.” (citado por MÉRIEN, 1988: 47).
Aluísio Azevedo, aos 38 anos de idade, submete-se a concurso para a carreira diplomática e torna-se cônsul (1895), abandonando a carreira de escritor. Exerce suas atividades em Vigo, um porto europeu – março 1896 a julho de 1897; em Yokohama (setembro 1897 a 1899); em La Plata, de janeiro de 1900 a março de 1903; Salto Oriental, no período de junho de 1903 a janeiro de 1904; em Cardiff, permaneceu por quase três anos, de abril de 1904 a fevereiro de 1907; de lá, foi para Nápoles, assumindo em março de 1907 e permanecendo até outubro de 1910. Após algum tempo no Rio de Janeiro, assumiu o consulado de Assunção em janeiro de 1911, permanecendo naquela cidade até outubro, indo para Buenos Aires em novembro, ai ficando até sua morte, em 21 de janeiro de 1913.
Apesar de suas andanças pelo mundo, vamos encontrá-lo, em 1907, na sua querida São Luís, participando do grupo de Nhosinho Santos, quando da inauguração do Fabril Athletic Clube. Pertencia ao team “Red and White”, formado por João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar, Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo (MARTINS, 1989 : 285).
Aluísio não praticava só o “foot-ball association”, certamente aprendido durante sua estada na Inglaterra, onde permaneceu de 1904 a março de 1907. Nesse mesmo mês, estava em São Luís, e o encontramos participando de uma partida de “law-tennes”, defendendo as cores do “Red & White”.
Muito embora seu biógrafo o dê como tendo assumido seu posto em Nápoles no mês de março de 1907 (MÉRIAN, 1988: 618), vamos encontrá-lo participando da partida inaugural do futebol no Maranhão[6], em 27 de outubro de 1907. Seu “team”, o “Red & White”, ganhou por 2 x 0, do “Black & White”, ambos, equipes internas do Fabril Athletic Club (MARTINS, 1989)
Em setembro de 1908, durante as festas do primeiro aniversário dessa agremiação, lá estava novamente, desta feita defendo as cores do F.A.C, contra o Maranhense Futebol Club. A formação foi: João Alves dos Santos; Aluísio Azevedo e José Ramos Bastos; M. Matias, Afonso Gandra e Manoel Alves dos Santos; A. Vieira, Carlos Nina, Antero Novaes e Joaquim Ferreira Belchior. Aluísio jogava como “full back”.
Como o jogo terminou empatado em 0 a 0, isso exigia uma nova contenda. A 15 de novembro de 1908, as duas equipes voltaram ao campo da Rua Grande para o desempate. O FAC, com: João Alves dos Santos; Manoel Alves dos Santos e Waldemir Araújo; J. Bastos, J. Mário e Aluísio Azevedo; A. Vieira, J. Santos Sobrinho, Antero Novaes, Carlos Neves e A. Gandra. Aluísio jogou como “Half back”.
Em dezembro de 1908, o Fabril elegia nova diretoria, e Aluísio é eleito como suplente.
No dia 31 de janeiro de 1909 ocorre um encontro entre o Maranhão Foot-Ball Club e o F.A.C., como partida preparatória para o festival de inauguração daquele club:
“Fabril Athletic Club
“Match de Foot-ball em 31 de janeiro de 1909
“Team do ‘Fabril Athletic Cub – Goal – J. Santos / Full backs – A. Azevedo, E. Simas / Half backs – A. Vieira, A Soeiro, J. Alvim/ Forwards – A.Neves, Ary Faro, T. R. Dowey, João Baptista, J. Santos, J. Santos Sobrinho /Reserve – R. Martins, F. Ribeiro, M. Neves /
“Team do Maranhense Foot-ball Club – Goal – J. Mario / Full backs – J. Torres, J. Ferreira / Half backs – J. Santos, B. Queiroz, D. Rodrigues / Forwards – A. Lobão, R. Nunes, J. Gomes, S. Bello, A. Santos / Reserve – A. Figueiredo, A. Gonçalves… ” (O MARANHÃO, 30/01/1909, grifos nossos)
No período carnavalesco, as partidas eram interrompidas, voltando somente após a quaresma, conforme chamada de maio de 1908, conclamando os sócios a comparecerem ao clube, para reiniciarem-se as atividades:
“Fabril Athletic Clube
“Depois de uma pequena interrupção, haverá uma partida de Foot-ball, para isso estão inscritos os seguintes sócios:
“Moraes Rego Junior – W. Reis – J. Moon – J. Shipton – A. Vieira – J. Prado Costa – A. José Rego Serra – J. Mário – C. Guilhon – Raul S. Martins – Aluízio Azevedo – Antero Novaes – José A. Santos – Alcindo Oliveira – M. Neves – A. Gandra
“Começará às 4 1/2 hora da tarde”. (O MARANHÃO, 23 de maio de 1908, grifo nosso).
Essas jornadas esportivas não se limitavam à prática do “foot-ball association”, apenas:
“Fabril Club
“Esteve brilhante a partida realizada hontem. Além de inúmeras famílias e cavalheiros, compareceram à festa a Escola de Aprendizes Marinheiros, que sob o comando de seu hábil instructor sr. David Santos realisou exercícios de fogo e esgrima de baioneta.
“Foi este o esplendido programa cumprido à risca:
“Os jogos realisados foram os seguintes:
“1.- Corrida com ovos em colheres pelos sócios J. Mário, J. Moon, A. Vieira, J. Shipton, sendo vencedor A. Vieira.
“2.- Corrida para enfiar agulhas executadas por C. Neves, J. Mário, A. Santos e A. Azevedo, sendo vencedor C. Neves e seguido por J. Mário.
“3.- Execício de fogo, bayoneta e esgrima pela Escola de Aprendizes Marinheiros.
“4.- Crors Cutrey (cross-country) – corrida pedestre com obstáculos por J. Mário, J. Moon, C. Neves, A. Vieira, A. Novaes, J. Shipton, J. Bastos, M. Neves, sendo vencedor J. Mário, seguido muito de perto J. Moon em terceiro logar A. Novaes, C. Neves.
“5.- Match de Foot-Ball infantil havendo resultado negativo, por se acharem organizados os teams com força igual. Tomaram parte as seguintes creanças: team Bladi & Whate: Fausto Seabra, José Seabra, Frederico Perdigão, José Lopes, Celso C. Rodrigues, Sylvio Rego, Ruy C. Rodrigues, Antonio Rego, Antonio Santos, José M. Lobo, Lucio Bauerfeldt.
“Team Red & White: João Paixoto, Braulio Seabra, Luiz Santos, Pedro Paulo R. Araujo, Ivar C. Rodrigues, Acyr Marques, Carlos Perdigão, Gastão Vieira, Justo M. Pereira, Celso Pereira, José Vieira. Servio de Refere M. Shipton“. (O MARANHÃO, Segunda-feira, 08 de junho de 1908, grifos nossos).
Em setembro de 1908, era apresentado o programa de uma “matineé sportiva” que seria realizada no Domingo seguinte, na sede do F.A.C., reunindo os “Team Riachuello” – “Estrella Preta” – e o “Team Humaitá” – “Estrella Branca”-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, marcada para as 3:45 horas, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato, marcado para as 4:20 horas, sendo concorrentes: A. Novaes, J. Santos Sobrinho, A. Azevedo, A. Vieira; já o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho; para a quarta prova do programa, Concurso de Agilidade, estavam inscritos: Franklin, Zuza, Maneco Neves, Gui e Aluísio. Para o “match foot–ball”, entre o FAC e o Maranhense, estavam inscritos:
F. A. Club | M. Foot-ball Club |
J. A. Santos | A. Santos |
A. Azevedo – J. Bastos | J. Torres – J. Ferreira |
J. Santos – M. Mathias – A. Gandra – | E. Souza – R. Nunes – B. Queiroz – |
M. Santos A. Vieira – C. Neves – A. Novaes – J. Mario | A. Lobão – A. Guterrez – A. Silva – J. Gomes – I. Meireles |
– J. Belchior – R. Serra Martins – J. Santos – M. Amorim
Captain – C. Neves Captain – A. Silva
Referee – J. M. A. Santos
após a a partida de futebol, seria realizada a “Tug of War” (cabo de guerra), inscritos: Fausto – Antoninho – Ruy – Zeca – Carlos Alberto – Soeiro Filho – Gastão – Yoyô – Lady – Lucio – José – Adolpho Salles (O MARANHÃO, sabbado, 26 de setembro de 1908).
Na edição da Segunda-feira seguinte – 28 de setembro de 1908 – esse jornal apresenta o resultado dos “matchs” ocorridos: o jogo entre as duas equipes da Escola de Aprendizes Marinheiros terminou empatado em 1 x 1. Ficamos sabendo o que eram aqueles “concursos gaiatos“, em que participaram os “sportemen” ludovicences, a elite econômica e intelectual da Atenas brasileira, Aluísio Azevedo, dentre eles: o primeiro deles – para adultos – foi vestir bonecas, saindo vencedor Anthero Novaes e J. Santos Sobrinho; o concurso infantil – enfiar agulha – foi vencido pelo menino Soeiro Filho, enquanto o concurso de agilidade consistiu de abrir garrafas de cola e beber o conteúdo, obtendo o primeiro lugar Manuel Neves. O jogo de futebol entre os dois clubes também terminou empatado, enquanto no Cabo de Guerra – “Tug of War” – o vencedor foi o lado encarnado.
O ano de 1908 é encerrado com um jogo entre o F.A.C. e o Maranhense, em comemoração à proclamação da República, terminando em 2 x 0 para a representação fabrilense. Aluísio Azevedo não participa desse jogo, sendo substituído por J. Alvim. Certamente ainda de luto por seu irmão, Arthur Azevedo, ocorrido trinta dias antes, no Rio de Janeiro.
CONCLUSÃO
DaCOSTA (2.000) considera que o estudo da influência inglesa ou norte-americana no esporte da América Latina passa pelo risco de simplesmente repetir a interpretação da submissão, imitação ou da dependência cultural ao não se distinguir a atividade esportiva de outros fatos culturais, e que essa tão decantada influência inglesa fixou-se no clube de elite encontrado em quase toda a América Latina.
Nhosinho Santos, ao regressar da Inglaterra após seus estudos, “inaugura” o esporte moderno na sua São Luís, criando – nos terrenos da Fábrica Santa Izabel, de propriedade de sua família – um “club social e sportivo” nos moldes ingleses, para a prática não só do “foot-ball association” e de outros esportes – “croket”, “crickt”, “law-tennis” – já praticados pelos súditos ingleses que exerciam suas atividades no Maranhão. Aluísio Azevedo, moço pobre, que teve que exercer a função de caixeiro para poder sobreviver; depois, caricaturista em jornais do Rio de Janeiro – para onde fora levado por seu irmão, Arthur -, é obrigado a retornar ao Maranhão, com a morte de seu pai, passando a exercer a profissão de escritor. Por ser solteiro, consegue sobreviver de seus escritos. Cansado de viver sempre em estado de miséria, procura no serviço burocrático emprego, submetendo-se a concurso para a carreira diplomática – seu pai, comerciante, fora também vice-cônsul de Portugal no Maranhão. Abandona então a carreira de escritor…
Certamente, por ter exercido suas funções de cônsul em Europa e Japão e convivido com o corpo diplomático, absorveu certos hábitos, como a prática de esportes, que já lhe era familiar, dada à educação que recebera. Encontra, em uma de suas passagens por São Luís, um ambiente requintado, em que as elites se entretinham em práticas esportivas, sendo o “foot-ball association” a coqueluche da época.
Aos 50 anos de idade, vamos encontrá-lo jogando futebol, na posição de “full-back”, outras vezes como “half-back”, ou praticando o “law-tennis”, ou participando de concursos “gaiatos”, nas reuniões esportivas e sociais daquele início de século, constituindo-se em um verdadeiro “sportman”.
Bibliografia:
AZEVEDO, Aluízio. O Mulato. Rio de Janeiro : Tecnoprint, (s.d.).
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 29 ed. São Paulo : Ática, 1996.
DaCOSTA, Lamartine Pereira. Emergência e difusão do desporto moderno na América Latina – influências britânicas e norte-ameicana: uma revisão crítica. Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 97-102.
FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. Origens do futebol paranaense: a história do Operário Ferroviário Esporte Clube. In Congresso de história do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas …. Rio de Janeiro : UGF, 1988, p. 406-414
FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. O futebol profissional e suas conseqüências: estudo de caso de uma equipe do interior do Estado do Paraná. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 236-240
MARTINS, Dejard Ramos.Esporte – um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989.
MÉRIEN, Jean-Yves. Aluísio Azevedo Vida e Obra (1857-1913) – O verdadeiro Brasil do século XIX. Rio de Janeiro : Espaço e Tempo : Banco Sudameris; Brasília : INL, 1988.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do Atletismo no Maranhão. In “O Imparcial”, São Luís, 27 de maio de 1991, Segunda-feira, p. 9. Caderno de Esporte Amador.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades físicas feminina no Maranhão Imperial (1823-1889). In Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital, año 4, no. 14, Buenos Aires, junio 1999, disponível em www.sportquest.com/revista
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte no Maranhão. In “O Estado do Maranhão”, São Luís, 16 de maio de 2000a, Terça-feira, p. 4. Caderno Opinião.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do “foot-ball” em Maranhão. In Lecturas : Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000b, disponível em < www.efdeportes.com >
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Aluízio Azevedo e a Educação (Física) Feminina. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000c, p. 250-255
VAZ, Delzuite Dantas Brito; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio.Construção de uma antologia de textos desportivos da cultura brasileira: proposta e contribuições. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000d, p. 603-608.
Jornais
“O IMPARCIAL”, São Luís, edição de 29 de outubro de 1907, p. 5
“O MARANHÃO”:
Fabril Athletic Club. São Luís, 24 de outubro de 1907, no. 151.
Inauguração do Foot Ball. São Luís, Segunda-feira, 28 de outubro de 1907, no. 154.
Fabril Athletic Club. São Luís, 25 de novembro de 1907, no. 177.
Aprendizes Marinheiros. São Luís, quinta-feira, 26 de dezembro de 1907, no. 202.
Carnaval. São Luís, Segunda-feira, 24 de feveriro de 1908, p. 2, no. 251.
Fabril Athletic Club. São Luís, 31 de março de 1908, no. 281.
Fabril Atlhetic Club.São Luís, 23 de maio de 1908, no. 326.
Fabril Club. São Luís, Segunda-feira, 08 de junho de 1908, no. 339.
Programma da Matineé Sportiva a realizar-se em 27 do corrente mez no F. A. Club. São Luís, sabado, 26 de setembro de 1908, no. 426
Fabril Atlhetic Club. São Luís, Segunda-feira, 28 de setembro de 1908, no. 430 (?).
- A. Club. São Luís, Segunda-feira, 16 de novembro de 1908, no. 471
Fabril Athletic Club. São Luís, 30 de janeiro de 1909, no. 531
Maranhense Foot-ball Club. São Luis, Sexta-feira, 05 de fevereiro de 1909, no. 536.
[1] Publicado em “O Imparcial”, São Luís, Domingo, 16 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 5.
[2] Coletâneas do VII Congresso Brasileiro de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, Gramado-RS, 28 de maio a 1º de junho de 2.000. Porto Alegre : UFRGS
[3] “INAUGURAÇÃO DO FOOT BALL”
“Realizou-se hontem a grande partida inaugural do Fabril Athletic Club, a qual revestiu-se de maior importancia. No concurso do encilhamento foi vencedor o Sr. Serejo, na corrida em Tandem venceram os srs. Joachim Belchior e Manoel Lopes, no Place Kick [chute à bola] foram: em primeiro logar mister Dolber e em segundo mister J. Moon; no concurso de peso mister Moon. Na partida de Foot Ball, foi vencedor o partido encarnado. Como não estivessem devidamente preparados na Tug of War [cabo de guerra] os do partido preto, foi vencedor o encarnado. Houve um segundo desafio, que ficou indeciso. A residência do Club está muito bem preparada e a assistência do acto compareceram muitas famílias e cavalheiros da boa sociedade. Serviram de juizes da senha o sr. Edmundo Fernandes pelo Theam Black and Whate e Henoch Lima pelo Red & Whate. É, incontestavelmente, o Foot Ball a melhor diversão que existe no Maranhão. Damos parabéns aos diretores de tão importante club, pelo esforço verdadeiramente louvavel que têm empregado em prol de uma instituição tão útil à saúde e à mocidade maranhense. A solenidade compareceram três bandas de música, as quaes executaram bellos trechos”. (O MARANHÃO, 1907)
[4] “Hontem, às 4 horas da tarde, os aprendizes marinheiros, fizeram exercícios de ‘foot-ball’ na arena do Fabril Athletic Club e um assalto simulado de florete, sob a direção do respectivo instructor da Escola.
“Os alumnos revelaram-se disciplinados e agiram com muito garbo e desembaraço.
“Domingo próximo, às 5 horas da manhã, haverá novo exercício no mesmo local”. (O MARANHÃO, 26/12/1907)
[5] VAZ, 1999; VAZ e VAZ, 2.000c; VAZ e VAZ, 2000d
[6] VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do “foot-ball” em Maranhão. São Luís : 2000b.
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