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OS HOLANDESES E OS PALMARES:

Nassau atacou os Palmares!

 

Por

 

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Professor de Educação Física do CEFET-MA

 

 

 

Na Edição 69 - de 16 a 22 de Abril de 2006, do Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br - André Pêssego pergunta “Por que Nassau não atacou a Palmares?”.

            Pêssego (2006), no artigo citado, vale-se do argumento – Nassau não atacou Palmares – baseando-se de relatório de 1637, em que este reconhece a importância do Quilombo, “...  ao fazer seu relatório de posse e plano de atuação  reconhece a importância de Palmares -  do contrário anunciaria planos para atacá-los, destruí-los.”

Mais adiante, ainda servindo-se da mesma carta:

"estabelecerei negócios com os quilombos, pois estes mais que todos, repudiam os portugueses, podendo ser nossos aliados... A Holanda já  havia enviado uma delegação a Palmares, chefiada por ‘um pernambucano conhecedor dos Quilombos’. Em seguida, Bartolomeu Lintz,  é feito embaixador holandês residente até o advento de 1640. (Tem sido dito de Lintz, um espião em Palmares. Bestagem, um holandês disfarçando-se  junto a milhares de negros, em mocambos).”

 

Pêssego ainda se refere que Nassau renuncia ao seu posto de administrador do Brasil holandês por se recusar em atacar Palmares, ordem que teria recebido em 1643: “Nassau recebe ordens para ‘atacar seriamente a Palmares...’ Homem de alto caráter, Nassau se tornara amigo de Ganga Zumba, recusa. Renuncia, volta para a Holanda.

Mais cita as  razões de Nassau não atacar a Palmares:

“a)     o reconhecimento da instituição Quilombo, como tal. O Quilombo cumpre os itens do acordo: Não planta cana para produzir açúcar; não cria gado vacum, alem do necessário para produzir leite para consumo interno; não ataca; tem as oficinas do ferro, mas não vende armas.

b)      A possibilidade de trazer  Gamga Zumba, para aliar-se à Holanda contra Portugal; o estilo de vida no Quilombo.

c)      O interesse pelo conhecimento científico da flora e do conhecimento extrativo dos Palmarinos.”

 

            Informa José Antonio Gonsalves de Mello – em “Tempos dos Flamengos” (4ª. ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 2005?) que foi durante o período da dominação holandesa que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituíam uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais era empregados capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 192-193).

O domínio holandês no Nordeste brasileiro vai de 1630 a 1654, 24 anos; Nassau “reinou” de 1637 a 1644 - 7 anos.

O “Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645” (in Mello, 2005(?), p. 193), dá-nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica-se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um “velho Palmares” que os negros tinham abandonado por estar situado em “local muito insalubre” e do qual se passaram para o “outro Palmares” ou “grande Palmares”, destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram-se eles para o “novo Palmares”, que Blaer atacou... (p. 193).

Outros documentos informam a respeito dos Palmares ... desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui-los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193).

Em 1642, preparou-se nova expedição, desta vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu-se-lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193).

Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão pormenores, mas o caso é que os índios amotinaram-se e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente uns cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de “pequeno Palmares”. Ouçamos o escrito de Mello (2005 (?), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio:

“A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que, pretendendo atacar o ‘pequeno Palmares’, achou-se imprevistamente em frente ao ‘grande Palmares’ que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendosido feitos ali 31 prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e ‘era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros’. Em volta da estacada ‘havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto’, sendo que ‘os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola’.” (p. 194).

 

            Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam...

            Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na “Mata do Brasil” e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2005(?), p. 195).

            Nassau atacou os Palmares!

 

Fonte: MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2005(?).

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