replico, aqui, o debate que está ocorrendo na Comunidde Recreação e Lazer, com comentários meus... ’já teve...’ - o mantra do Maranhão... e olha aqui, aos menos desavisados, não se trata de ’meter o pau’, de ’cuspoir no prato que comeu’, e outros quejandos e uns e outros que não compreendem o processo histórico!!!

PSIU DA Katia Brandão Cavalcanti

O mundo acadêmico nos ensina que um bom projeto de pesquisa deve partir da formulação de uma boa questão geradora. Em recente levantamento, constatamos 187 grupos de pesquisa cadastrados no CNPq que estão envolvidos com a temática do lazer no Brasil. Uma curiosidade: quais as questões que estão impulsionando esses grupos para a produção de conhecimento sobre o lazer? Tivemos um ENAREL no final de 2009, estamos nos aproximando de mais um Lazer em Debate e não nos parece que haja qualquer movimento significativo da comunidade envolvida sobre processos ou achados relevantes. O que fazer? O que pensar?

Comentários - da Evanir Pinheiro - Tais questões se enquadram no tocante ao panorama de estudos, teses, publicações nacionais e estrangeiras e legislação nos últimos 20 anos do século XX e início do século XXI.

Se fizermos uma análise evolutiva dos estudos desenvolvidos sobre a atividade lúdica ao longo da história, a maior parte das publicações, tanto nacionais quanto estrangeiras, são produções que versam sobre:

  • as teorias do brincar;
  • o brincar e sua relação com a Educação Infantil e com a Escola;
  • o brincar e a Psicologia e/ou Terapias;
  • coletâneas de jogos e brincadeiras;
  • o brinquedo, sobretudo os artesanais, de sucata e populares;
  • o âmbito histórico, antropológico e cultural do brincar;
  • o processo de ensino-aprendizagem e sua relação com o brincar;
  • o papel do professor;
  • espaços lúdicos.

- temáticas “emergentes”:

  • o brincar relacionado a crianças com necessidades especiais;
  • o brincar e imaginação/fantasia;
  • ócio e lazer;
  • o brincar relacionado à linguagem.

- temas menos explorados na sua relação com o brincar:

  • o recreio e a observação do brincar;
  • o corpo;
  • a poesia, a literatura, a arte, a música e o teatro;
  • os pais;
  • a natureza;
  • os jogos cooperativos e os esportes;
  • o simbolismo;
  • a educação não formal;
  • a comunicação;
  • as cidades;
  • as ciências;
  • a televisão;
  • os hospitais;
  • a sexualidade;
  • disciplina/agressividade;
  • os grupos.

Com relação ao caminho que as teses e pesquisas vêm tomando, notamos que:

- as áreas de maior interesse versam sobre a relação do brincar com a educação infantil, os jogos de regras e a escola;

- temas como brinquedos, teatro/psicodrama e “faz de conta”, educação física, papel do professor, ciência, cultura, a criança e psicologia/terapias mostram-se com uma produção regular; - temas ainda pouco explorados e estudados relacionados ao brincar: simbolismo, registros, imaginação, violência, linguagens, sexualidade, gênero, recreio, pais, brincadeiras tradicionais, moralidade, corpo, arte, grupos, televisão, empresas, lazer, educação não formal, raça, jogos eletrônicos e comunicação.

 A partir deste panorama, podemos perceber que as tendências na produção sobre o brincar estão, sobretudo, relacionadas às áreas de educação, psicologia, cultura e espaços, com imensa abrangência do tema, embora ainda persista o foco no desenvolvimento infantil e não avança para as questões da formação humana e a Ludicidade, suas relações com a expansão do Self ou como esse fenômeno afeta a energia criativa da consciência humana. Precisamos fazer nossa parte, buscando a partir da auto-reflexão da própria corporeidade, a relevância da Ludicidade em nossos processos formativos de nossas concepções estéticas e de nossa espiritualidade.

Katia Brandão Cavalcanti - Muitas são as temáticas para investigação. A grande dificuldade é a formulação de questões relevantes dentro de cada temática. Na educação, o grande problema para fazer avançar o conhecimento que hoje consigo enxergar é a atitude professoral dos pesquisadores que impedem o exercício da dúvida e das incertezas. Sem problematizar não o que pesquisar...

Os Mestres e Doutores da área do lazer parecem que estão por demais envolvidos com a gestão de projetos e programas culturais, deixando de investir na produção de conhecimento relevante. Hoje temos muitas publicações em periódicos e livros, mas as lacunas epistemológicas, metodológicas e ontológicas continuam.

Podemos até dizer que há uma saturação de textos que se repetem de modo circular. No entanto, este mesmo processo cumulativo e repetitivo será capaz de produzir uma mudança de estado qualitativo. Talvez no futuro possamos falar de uma ciência do lazer verdadeiramente transdisciplinar e não apenas de uma sociologia do lazer, de uma psicologia do lazer, de uma pedagogia do lazer e assim por diante...

Nós da BACOR/UFRN que temos a corporeidade como pressuposto fundamental nos nossos estudos, estamos investindo nos processos da autopoiese do lazer.

 

Interessa-nos perguntar como as pessoas produzem as suas vivências de lazer. Não apenas como ocupam o seu tempo livre como lazer. Há muitas sutilezas nesses processos, uma vez que a autoformação humana vivenciada como lazer nos parece extremamente relevante para todos os profissionais que estão envolvidos direta ou indiretamente com ações no campo do lazer. Diferentemente da recreação, as intervenções socioculturais que perspectivam o lazer no cotidiano das pessoas deveriam privilegiar diferentes projetos antropológicos do sujeito.

 

Entra em cena a construção de novas subjetividades. A nossa observação sobre o fenômeno da ludopoiese poderá nos apontar alguns caminhos para a produção de conhecimentos que sejam relevantes e que possam contribuir para um novo olhar sobre o vivido como lazer. Para exemplificar, o estudo do princípio da autoterritorialidade na autocriação da vivência do lazer é algo bastante complexo quando tomamos um mapeamento de orçamento de tempo semanal e pedimos a pessoa para descrever as suas emoções envolvidas naquele estado de fluxo ou ludopoiético. Como este campo subjetivo para vivenciar o lazer foi construído?

 

As abordagens de pesquisa articulam a etnometodologia, etnografia, fenomenologia, autobiografia entre outras. Questões como esta têm impulsionado com entusiasmo o nosso grupo a penetrar no mundo autopoiético do lazer.

 

Kátia foi minha professora na especialização em lazer e recreação, realizada aqui, ainda na década de 80, pela UFMA. Devo lembrar que foi o primeiro curso dessa área do conhecimento, nível de pós-graduação, no Brasil. Na UFRGS havia uma especialização apenas em recreação, coordenada pela Lenea Gaelzer - também professora desse curso.

O Laércio o idealizou, bancado pela SEDEL, em convenio com a UFMA; o Sideney, depois, assumiu a coordenação. Dos 35 alunos-professores inscritos, apenas um concluiu o curso, com a apresentação da monografia... o locutor que vos fala...

 

O outro curso de especialização que tivemos, em Ciências do Esporte, sofreu do mesmom processo de falta de comprometimento dos seus alunos e incapacidade de UFMA em garantir seu término, com a oferta - ou disposição dos seus professores de então - em orientar as monografias. Ninguém terminou o curso... também houveram 35 inscrições...

 

Perdemos uma grande chance em formar uma massa crítica, em avançar em estudos na área das Ciencias do Esporte e Lazer, e daí partir para um Mestrado na área... nessas horas, lembro de um ditado recorrente aqui, nesta terra de grandes pensadores e líderes em diversas áreas de pesquisa, que tivemos no passado, justificando o epíteto de ’Atenas brasileira’... ’já teve’... acredito que merecemos o título de "Apenas brasileira’ de hoje, último nível, classificatório, em qualquer índice que se faça.

 

De volta para o passado...  

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