AGAP-MA – ASSOCIAÇÃO DE GARANTIA AO ATLETA PROFISSIONAL DO MARANHÃO

FAAP – Federação das Associações de Atletas Profissionais

Curso de Formação de Treinadores de Futebol

Disciplina – HISTÓRIA DO FUTEBOL NO MARANHÃO

 

 

UMA HISTÓRIA DO FUTEBOL NO MARANHÃO – POR SEUS PROTAGONISTAS…

 

A INAUGURAÇÃO DO “FOOT BALL” NO MARANHÃO[1]

por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

 

 

DaCOSTA (2.000), no Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, realizado em Gramado-RS[2], ao discutir, em mesa-redonda, a “Emergência e difusão do esporte: as influências britânica e norte-americana“, considera ser necessária uma revisão objetiva e mudar o foco dominante no sentido de enfatizar a emancipação de grupos e comunidades por meio de práticas esportivas, pois: “nesse processo de construção da identidade cultural, as influências anglo-saxônicas teriam atuado mais como ponto de partida ao qual se seguiram apropriações e autodesenvolvimento por parte das iniciativas locais“. (p. 97).

Esse autor considera, ainda, que o estudo da influência inglesa ou norte-americana no esporte da América Latina passa pelo risco de simplesmente repetir a interpretação da submissão, imitação ou da dependência cultural ao não se distinguir a atividade esportiva de outros fatos culturais (p. 98), e que essa tão decantada influência inglesa fixou-se no clube de elite encontrado em quase toda a América Latina.

O mais importante historiador do esporte do Brasil, Inezil Penna MARINHO (1980), já o fizera antes, ao afirmar que “o movimento desportivo na América Latina é quase todo de inspiração inglesa ou norte-americana” (p. 153),

Levantamentos históricos recentes (CAPRARO, 1998; SILVA, 1998; RIBEIRO, 2000; KOWALSKI, 2000; JESUS e SILVA, 2000; SOARES, 2000) dão conta de que o futebol, no Brasil, não foi introduzido por Charles Miller – brasileiro, filho de ingleses – em fins do século XIX, como comumente se afirma, e sim, que o esporte bretão foi “implantado por práticas e clubes elitizados ao estilo pressuposto de sua pátria original” (DaCOSTA, 2000, p. 100). Refere-se, esse autor, a estudos de Victor Mello, que diz ter sido o futebol introduzido por ordens religiosas – jesuítas, por exemplo – que teriam se antecipado a Miller em duas décadas.

Nosso Dejard MARTINS (1989), em suas memórias sobre o esporte em Maranhão – Esporte, um mergulho no tempo – afirma que a escalada do “foot-ball association” no Brasil se dá pelas primeiras “peladas” disputadas nas praias do Rio de Janeiro e de Santos, por marujos ingleses – algumas com a participação de funcionários de firmas inglesas -, já por volta de 1864, e que, em 1874, um grupo de marujos exibiu-se na praia da Glória.

Para esse pesquisador, no Colégio de São Luís, da cidade de Itu-SP, por volta de 1872 já se praticava um futebol, à moda da Universidade de Eton:

[…] do que se tem conhecimento na formação da história do ‘foot-ball’ na Inglaterra, é que a Eton tinha deixado, há muito, a prática de um ‘jogo de bola’, mais particularmente o ‘rugby’ para associar-se a outras Universidades[3], que tinham feito opção pela prática do ‘foot-ball association’. Demais, os padres Jesuítas foram adeptos dessa prática e não de uma outra modalidade de ‘jogo de bola’ no Brasil … Os padres recreavam-se com bola …”. (MARTINS, 1989, p. 138-139).

 

De acordo com esse autor, o relacionamento dos Jesuítas com a prática do “foot-ball association” e outras modalidades esportivas decorreu de uma necessidade recreativa. A partir de 1858, a Inglaterra, emérita praticante do “foot-ball” propagou-o pela Europa, sendo muito bem aceito, na Itália, pelos padres Jesuítas, sendo praticado no Colégio Pio-Americano de Roma.

Os Jesuítas sentiram que “essa modalidade esportiva atendia aos princípios pedagógicos na formação dos catecúmenos” (p. 139):

[… ] uma obra escrita pelo padre J. M. Madureira, intitulada ‘A Companhia de Jesus: sua pedagogia e seus resultados’, conta-nos a atividade dos religiosos no Brasil. Coincidência ou não, entre os padres que vieram ter em nosso País, dois eram ingleses: os irmãos Robert e William Godding. Coube-lhes desenvolver no Colégio São Luís de Itú o ‘foot-nall association’, em 1880, adoção que obedeceu aos mesmos princípios prevalecentes no Colégio Pio Latino-Americano de Roma.” (p. 139-140).

 

Dejard Martins afirma ainda que,

[… ] para nós, que pesquisamos o assunto, a convicção é de que o “foot-ball association” foi introduzido no Brasil como coisa nossa, em 1880, no Colégio de São Luís de Itu, por inspiração dos irmãos ingleses Robert e Willame Godding. Eles antecederam em 15 anos, a Charles Willame Müller, que no nosso entendimento, foi responsável, isso sim, pela popularização do esporte bretão no Brasil, quando de sua chegada em 1895 … seria uma injustiça relegar a um plano secundário esse trabalho dos padres jesuítas … e vamos mais longe. Sem dúvida, essa atividade recreativa deve ter-se espalhado por outros educandários dirigidos por essa Ordem religiosa“. (p. 141).

 

Corroborando a tese da transferência do futebol inglês para o Brasil via educandários religiosos, TOLEDO e DaCOSTA (1999) e SILVA (1998) dão-nos notícias de que também se praticava o futebol no Instituto Granbery, de Juiz de Fora/MG, pelo menos, a partir de 1893 e JESUS e SILVA (2000) apresentam a “contribuição dos Maristas na construção da pátria de chuteiras”.

Fala-se, também, que empregados de empresas inglesas de navegação, de bancos e outros teriam, no Rio de Janeiro, em 1875, de maneira informal, praticado o “foot-ball association”, como forma de encher o tempo, recreando-se.

Em São Paulo, Mr. Hugh, um inglês “bem situado na São Paulo Railway”, teria difundido o futebol em Jundiaí/SP, formando equipes mescladas com ingleses e brasileiros, em 1882. Também tem-se notícias de um tal de Mr. John – que mais tarde dirigiria tecnicamente o Clube Atletico Paulistano – reunindo empregados de empresas britânicas: Serviços das Docas, Cabo Submarino, City e Leopoldina Railway, para praticar o futebol (MARTINS, 1989, p. 141):

Os agentes ingleses se manifestam tanto de forma anônima, na exibição de ‘peladas’ nas zonas portuárias, quanto individualemente através de firmas e instituições, como técnicos e professores em companhias inglesas, fábrica e colégios.” (JESUS e SILVA, 2000, p. 420-421).      

 

Para RIBEIRO (2000), atribuir a origem do futebol no Brasil a Charles Müller é reduzir a experiência histórica brasileira a uma única fonte: a documentação oficial de um grande clube paulista. Essa visão do “estudante que vem do exterior” e “introduz o futebol”, tornou-se de tal modo um estereótipo que é quase cena comum localizar-se a reprodução do personagem – com algumas variáveis – em algumas regiões brasileiras: entre outros, no Rio, Oscar Cox, no Paraná, Charles Wright. Para esse autor:

[…] a tendência positivista de se localizar o ‘lugar da origem’  – que geralmente ocupa um espaço privilegiado de poder – gera a necessidade de se criar ‘heróis fundadores’, perdendo-se de vista, muitas vezes, a percepção do processo em que a ‘fundação’ não tem própriamente um lugar único. Certamente iremos encontrar de norte a sul do Brasil, diversos Charles Müller ‘fundando’ o futebol…”.  (RIBEIRO, 2000, p. 124).

 

 

 

O FABRIL ATHLETIC CLUB

 

A direção do Fabril Athletic Club avisa aos seus sócios que ainda não tiraram convite, que os procurem hoje, até 10 horas da noite, na sede do mesmo club“. (O MARANHÃO, Quinta feira, 24 de outubro de 1907)

 

Djard MARTINS (1989) em seu “Esporte – um mergulho no tempo” registra que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se dá pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS – Nhozinho Santos – e do clube esportivo e social fundado na Fábrica “Santa Izabel”, o FABRIL ATHLETIC CLUB – FAC –  para a prática do “foot-ball association”. Também foram praticados o Tênis, o Cricket, o Crockt, o Tiro, e o Atletismo:

INAUGURAÇÃO DO FOOT BALL

“Realizou-se hontem  a grande partida inaugural do Fabril Athletic Club, a qual revestiu-se de maior importancia. No concurso  do encilhamento foi vencedor o Sr. Serejo, na corrida em Tandem venceram os srs. Joachim Belchior e Manoel Lopes, no Place Kick [chute à bola] foram: em primeiro logar mister Dolber e em segundo mister J. Moon; no concurso de peso mister Moon. Na partida de Foot Ball, foi vencedor o partido encarnado. Como não estivessem devidamente preparados na Tug of War [cabo de guerra] os do partido preto, foi vencedor o encarnado. Houve um segundo desafio, que ficou indeciso. A residência do Club está muito bem preparada e a assistência do acto compareceram muitas famílias e cavalheiros da boa sociedade. Serviram de juizes da senha o sr. Edmundo Fernandes pelo Theam Black and Whate e Henoch Lima pelo Red & Whate. É, incontestavelmente, o Foot Ball a melhor diversão que existe no Maranhão. Damos parabéns  aos diretores de tão importante club, pelo esforço verdadeiramente louvavel que têm empregado em prol de uma instituição tão útil à saúde e à mocidade maranhense. A solenidade compareceram três bandas de música, as quaes executaram bellos trechos”. (O MARANHÃO,  28 de outubro de 1907)

A primeira partida de futebol no Maranhão, oficialmente, foi disputada no dia 27 de outubro de 1907:

… ficou definitivamente estabelecido que a data de 27 de outubro de 1907 era a data de fundação oficial da associação fabrilense. O clube, para festejar o evento, promoveu grande festa na sede social, à Rua Grande, 220 … Várias atrações foram  organizada: concurso de encilhamento, que foi ganho por Serejo. Na corrida, sairam vencedores Joaquim  Belchior e M. Lopes. No ‘place-kick’ E. Dolber tirou o primeiro lugar, ficando Jasper [Moon] em segundo. No  concurso de peso, vitória de Jasper [Moon], que lançou o  peso à distância de 9 1/2 jardas. Depois, aconteceu o ponto alto das festividades, o jogo de futebol, reunindo as equipes internas do F.A.C.: ‘Black and White’ ‘e ‘Red and White’, culminando com o triunfo dos ‘vermelhos’, por 2 a 0″ (O IMPARCIAL, 1907; VAZ, 1991, 2000).

 

A segunda partida ocorreu em 24 de novembro de 1907, conforme noticiado em “O Maranhão”:

FABRIL ATHLETIC CLUB”

“Com extraordinário concorrencia de famílias e cavalheiros, realisou hontem essa sympathica sociedade sportiva a sua segunda partida de foot ball. Coube ao partido preto os louros da victoria de hontem, por haver ganho dois goals contra um. A função começou a 3 1/2 da tarde. Pelo presidente do club foi offerecido, depois da partida, um volioso brinde ao capitão do partido vencedor. A festa, que correu com muita animação, durou até 8 horas da noite, terminando por um soiree, a piano, entre os socios do club e suas familias. Ao Fabril Athletic Club felicitamos pelo explendor da função de hontem.” (O MARANHÃO, 25 de novembro de 1907).

 

Com a movimentação esportiva que se tinha nessa primeira década do século XX, “estávamos começando a experimentar uma época em que a nossa mocidade principiava a entender o quanto era importante praticar esporte e desenvolver a formação física” (MARTINS, 1989 : 261). Para esse autor, o esporte já não era novidade. Já se tinha conhecimento da prática do  “foot ball association” no Rio de Janeiro – Fluminense Futebol Clube, orientado por Oscar Cox – e em São Paulo – Clube Athletic paulistano, dirigido por John Hamilton.

Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra em 1905 – onde fora estudar para técnico em indústria textil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do “foot ball”, e não se esquece de trazer em sua bagagem  os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc., como também para outras atividades esportivas, como o “croket”, “crickt”, tênis.

Assim, naquele final de ano de 1905, reuniram-se na residência dos Santos, na rua Grande, 1018 (Instituto Zoé Cerveira) além de Nhozinho,  seus irmãos Totó e Maneco, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do “foot ball association” no Maranhão. Além dos irmão Santos, estiveram presentes: John Shipton, John Moon, Ernest Dobler, ingleses empregados na Boot Stearship Co. Ld. – Mala Real Inglesa -, Botho & Co. Ld., e os maranhenses Izidoro Aguiar, Edmundo Fernandes, Afonso Gandra, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Carlos Neves, Antero Serejo, e outros mais (MARTINS, 1989 : 284).

Ficou estabelecido que na vasta área da Fábrica seria construido um campo para a prática do futebol. Foram sacrificadas algumas árvores, para que tivesse as dimensões necessárias para a pratica do esporte.

A princípio houve alguma dificuldade para se arranjar os onze jogadores para se formarem os times. Os treinamentos eram realizados com dois quadros de oito jogadores, cada. As competições no campo do FAC começaram a despertar a curiosidade dos transeuntes, que assistiam as partidas através de aberturas no cercado da Fabril. Ninguém entendia do que se tratava, ao observarem os rapazes correndo atras da bola, pois havia muita disputa e muita algazarra:

Sucederam-se os treinamentos com os ‘sportmen’ apurando a forma técnica, entendo melhor as regras … não havia treinamentos físicos. A resistência vinha em decorrência do maior tempo dos coleticos que, às vezes, processavam-se até não ser mais enxergada a bola. Assim, decorreu o ano de 1906, uma ou outra disputa entre as duas formações, usando camisas e chuteiras e as bolas importadas“. (MARTINS, 1989 : 284-285).

 

Com a instituição do Fabril Athletic Club e a constituição das duas equipes, e por força das sucessivas disputas, criou-se uma rivalidade importante para despertar o maior entusiasmo pela conquista de belos feitos:

O primeiro embate oficializado pelo F.A.C. aconteceu a 28 de maio de 1907. No final, ocorreu a igualdade (2 a 2). Naquele tempo, um jogo empate reclamava logo a realização de outro para conhecer-se o vencedor. Isso ocorreu a 16 de junho de 1907, dessa feita com a vitória do ‘Black and White’ (1 a 0)”. (MARTINS, 1989 : 285).

 

As equipe eram formadas pelos times do “Black and White”: João Mário; A. Vieira e G. Costa Rodrigues; E. Simas, Moraes Rego e Joaquim Ferreira Belchior; F. Machado, John Shipton, John Moon, M. Lopes e C. Gandra.

O do “Red and White” era formado por: João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar e Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, Aluízio Azevedo e José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo.

Embora Martins registre a data de 28 de maio de 1907 como sendo da primeira partida oficializada, ocorreu uma antes, a 12 de abril daquele ano, entre as equipes internas dos “Pretos” (Black and White) e a dos “Encarnados” (Red and White), com a duração de 50 minutos, com dois tempos de 25, com a vitória dos “pretos”, por 1 x 0. O jogo teve prosseguimento, por mais 15 minutos, permanecendo o resultado.

Essas equipes disputaram outras partidas:

26.05.1907 – Black and White 2 x Red and White 2

16.06.1907 – Black and White 1 x Red and White 0

25.06.1907 – Black and White 2 x Red and White 2

23.06.1907 – Black and White 1 x Red and White 1

26.06.1907 – Black and White 1 x Red and White 3

07.07.1907 – Black and White 0 x Red and White 2

14.07.1907 – Black and White 0 x Red and White 1

 

Os uniformes dos dois quadros do FAC foram encomendados, sob medida, por Nhozinho Santos, na Inglaterra, manufaturados em tecido de lã e adaptados ao nosso clima.

Segundo Martins, o futebol estava sendo muito bem aceito:

Para os ingleses Jasper Moon, John Shipton, Ernest Doubler, T. H. Downey e alguns maranhenses, que tinham sido educados na Europa, não estava havendo dificuldades. Para os outros, os que estavam na aprendizagem, era uma questão de tempo, persistência, dedicação e jeito para a coisa e intensificação nos treinamentos. O esporte inglês estava sendo acalentado em berço de ouro, reunindo o fino da juventude elitizada ludovicence”. . (1989 : 286).

 

O que se verifica com a convocação de uma disputa entre crianças, conforme está registrado pela imprensa da época:

“… Para o Match de Foot-ball Infantil estão inscriptos os seguintes:

“Team ‘Black & White’

“Fausto Seabra, Francisco Mello, José Pedraça, Celso C. Rodrigues, Ruy C. Rodrigues, Carlos Alberto Telmo Carneiro, José Vieira, Antonio Santos, Silvio Serra, Tevelindo Guapindaia

“Team ‘Red & White’

“Gastão Vieira, João Peixoto, Stenio Carneiro, José Lentini, Luiz Santos, Ivar C. Rodrigues, Joaquim Martins, Bráulio Seabra, José Soeiro, A. Salles, Carlos leite, Flávio Berredo

“Os teams serão organizados no campo, os jogadores devem estar no ground às 2 da tarde e o kick às 3 horas” (O MARANHÃO, 30/01/1909).

 

No período em que antecedia o Carnaval, as disputas não se limitavam apenas aos jogos de futebol, ou à prática de outras atividades esportivas. Em uma nota sobre o Carnaval, noticiava-se a realização de um baile no salão do F.A.C. na noite de Sábado. Na mesma nota, comenta-se sobre a matiné do Domingo, em que ocorreu um jogo de “foot-ball”, em que reinou muita animação, com batalhas de confete, rodós (lança-perfume) e serpentina (O MARANHÃO, 24 de fevereiro de 1908).

Já no período carnavalesco, as partidas eram interrompidas, voltando somente após a quaresma, conforme chamada de maio de 1908, conclamando os sócios a comparecerem ao clube, para reiniciarem-se as atividades:

“Fabril Athletic Clube

“Depois de uma pequena interrupção, haverá uma partida de Foot-ball, para isso estão inscritos os seguintes sócios:

“Moraes Rego Junior – W. Reis – J. Moon – J. Shipton – A. Vieira – J. Prado Costa – A. José Rego Serra – J. Mário – C. Guilhon – Raul S. Martins – Aluízio Azevedo – Antero Novaes – José A. Santos – Alcindo Oliveira – M. Neves – A. Gandra

“Começará às 4 1/2 hora da tarde.

“Para essa festa reina grande animação entre os seus associados, havendo segundo nos consta enorme procura de convites por parte das Famílias.

“Agradecendo o delicado convite que se dignaram de nos enviar, desejamos à sympathica sociedade, bom exito”. (O MARANHÃO, 23 de maio de 1908).

 

Podemos observar com certa facilidade que existe na trajetória histórica do futebol brasileiro determinantes que são comuns nas equipes que foram criadas até o iníco deste século (FREITAS FILHO, 1998, 2000). Uma das matrizes propostas por esse autor repete-se em São Luís do Maranhão:

“… a convivência de estudantes brasileiros em escolas européias, nos quais a prática do futebol era bastante difundida. Quando retornam ao Brasil, estes estudantes apresentam este jogo para os seus amigos, e mesmo tendo certas dificuldades face às práticas esportivas dominantes na época, o futebol acabou sendo incorporado“.  (p. 237).

 

Servimo-nos, uma vez mais, de Dejard Martins:

Houve muita semelhança no procedimento de Charles Müller e Nhozinho Santos. O paulista educou-se em Southampton e o maranhense, em Liverpool, ambas cidades inglesas. Até na idade ambos estavam certos, 21 anos. A diferença estava apenas na facilidade encontrada por Charles Müller para introduzir o futebol, porque já encontrou os ingleses do São Paulo Railway, um clube em franca atividade esportiva. Já Nhozinho, com a ajuda dos parentes, de amigos e de ingleses, aqui residentes, teve que fundar uma associação – o Fabril Atheltic Club – FAC, recrutar os poucos rapazes estrangeiros que trabalhavam em São Luís, no London Bank, Both Line Co., Westers, e que não eram muito amantes do ‘foot-ball association’. Charles Müller era ‘center-forward’ e Nhozinho, ‘goal-keeper’.”. (p. 143).

 

Concordamos com DaCosta (2000), quando este afirma que a herança inglesa e norte-americana encontrada no esporte latino-americano não é somente paradoxal, como definiu Arbena, mas sobretudo pouco relevante pois foi apenas um ponto de partida (p. 101).

Mas não se praticava só o “foot ball”.  Também jogava-se o tênis, todos os dias, depois das quatro da tarde, sendo construida uma quadra regulamentar e “lá os amantes dessa prática deleitavam-se nesse elegante esporte”. As festas dançantes, realizadas em seus salões, eram as mais requintadas, assim como realizavam-se conferências e representações teatrais. Mas estas, já são outras histórias …

 

 

Bibliografia:

CAPRARO, André Mendes. O Estádio Joaquim Américo – a baixada – e as elites curitibanas da década de 10 e 20. In Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas …. Rio de Janeiro : UGF, 1988, p. 387-392

DaCOSTA, Lamartine Pereira. Emergência e difusão do desporto moderno na América Latina – influências britânicas e norte-americana: uma revisão crítica. Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 97-102.

FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. Origens do futebol paranaense: a história do Operário Ferroviário Esporte Clube. In Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas …. Rio de Janeiro : UGF, 1,988, p. 406-414

FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. O futebol profissional e suas conseqüências: estudo de caso de uma equipe do interior do Estado do Paraná. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 236-240

JESUS, Gilmar Mascarenhas de; SILVA, Leidina Helena de Oliveira e. Fé e futebol: indícios da contribuição Marista na construção da Pátria de Chuteiras. Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 420-424

KOWALSKI, Marizabel. Estilo de vida e futebol. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 390-395

MARINHO, Inezil Penna. História Geral da Educação Física. São Paulo : Brasil, 1980.

MARTINS, Dejard.Esporte – um mergulho no tempo. São Luís :   SIOGE, 1989.

RIBEIRO, Luiz Carlos. Historiografia do futebol brasileiro nos Anais do “Encontro de História”. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 123-126

SILVA, Elizar João da. Futebol no contexto ds reformas dos grandes centros urbanos. In Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas …. Rio de Janeiro : UGF, 1988, p. 421-424

SILVA, Maria Cecília de Paula. O esporte no Brasil e a educação de homens fortes, corajosos, dóceis: um olhar histórico. in Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas …. Rio de Janeiro : UGF, 1988, p. 472-480

SOARES, Antônio Jorge. Futebol brasileiro: reiterando a tradição freyreana. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. Coletâneas …. Porto Alegre : UFRGS, 2.000, p. 425-430

TOLEDO, Heglison C. e DaCOSTA, Lamartine Pereira. O futebol no Brasil antes de Charles Miller – o caso do Instituto Granbery de Juiz de Fora-MG no marco de 1893. In Dinamis, vol. 7, no. 26, 1999, p. 83-90.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do Atletismo no Maranhão. In “O Imparcial”, São Luís, 27 de maio de 1991, Segunda-feira, p. 9. Caderno de Esporte Amador.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte no Maranhão. In “O Estado do Maranhão”, São Luís, 16 de maio de 2000, Terça-feira, p. 4. Caderno Opinião.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O “sportman” Aluísio Azevedo. In “O Imparcial“, São Luís, Domingo, 16 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 5.

 

Jornais

“O IMPARCIAL”, São Luís, edição de 29 de outubro de 1907, p. 5

“O MARANHÃO”:

Fabril Athletic Club. Edição de no. 151, São Luís, 24 de outubro de 1907.

Inauguração do Foot Ball. Edição de no. 154, São Luís, Segunda-feira, 28 de outubro de 1907.

Fabril Athletic Club. Edição de no. 177, São Luís, 25 de novembro de 1907.

Aprendizes Marinheiros. Edição de no. 202, São Luís, quinta-feira, 26 de dezembro de 1907

Carnaval. Edição de no. 251, São Luís, Segunda-feira, 24 de feveriro de 1908, p. 2

Fabril Athletic Club. Edição de no. 281, São Luís, 31 de março de 1908

Fabril Atlhetic Club. Edição de no. 326, São Luís, 23 de maio de 1908

Fabril Club. Edição de no. 339, São Luís, Segunda-feira, 08 de junho de 1908

Maranhense Foot-Ball Club. Edições de no. 399, São Luís, 21 de agosto de 1908, p. 2;  no. 400, 22 de agosto de 1908, p. 2

Programma da Matineé Sportiva a realizar-se em 27 do corrente mez no F. A. Club. Edição de no. 426, São Luís, sabado, 26 de setembro de 1908

Fabril Atlhetic Club. Edição de no. 430 (?), São Luís, Segunda-feira, 28 de setembro de 1908

  1. A. Club. Edição de no. 471, São Luís, Segunda-feira, 16 de novembro de 1908

Fabril Athletic Club. Edição de no. 531, São Luís, 30 de janeiro de 1909.

[1] Publicado em LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, ano 5. N. 24, agosto de 2000, dispinível em < www.efdeportes.com >

[2] VII CONGRESO BRASILERIO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2000 – Memóriuas e descobrimentos: 500 anos de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança no Brasil. ANAIS E RESUMOS…, Porto Alegre, UFRGS. Escola de Educação Física, 2000

[3] “Cambridge, Oxford, Manow, Westminster e Wincherste” trabalhavam com a Eton, pela padronização de uma prática de futebol uniforme, com regras básicas próprias advindo dessa comunhão de ideais o foot-ball association, com a instituição inicial de 14 regras básicas e com o número de jogadores reduzido a 11 em cada equipe e usando a bola esférica, ensina Martins (1989, p. 140).

 

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