Do Blog doLeopoldo Vaz • quinta-feira, 14 de abril de 2016 às 16:14  

O Jornal “O Estado do Maranhão”, em seu Caderno de Esportes, editado às segundas-feiras, vem contribuindo para o resgate da história do esporte, do lazer e da educação física no Maranhão. Seus editores, sem as técnicas de pesquisa sofisticada, presentes na moderna historiografia, têm dado verdadeira aula sobre como se resgata a memória oral de uma comunidade. Os trabalhos, em sua maioria, resgatam a história pessoal daqueles que permanecem nas lembranças “dos velhos”, dos tempos em quem o Maranhão era um celeiro de craques, não necessitando de importar times inteiros para o representar. As memórias levantadas, em sua maioria, até agora, foram dos ídolos do futebol, que também se aventuraram por outros esportes.

Certamente nos próximos números serão lembrados outros heróis da história do esporte, do lazer e da educação física no Maranhão.  Talvez a pergunta  “quem foi o pioneiro” na introdução do esporte e da educação física seja respondida. Uma primeira pista foi dada em reportagem publicada no suplemento GALERA, d’O ESTADO DO MARANHÃO, sobre o pioneirismo do fisiculturismo no Maranhão.

O professor Edilson Penha Alves, professor de Educação Física da UEMA e proprietário de uma academia de ginástica, em entrevista publicada naquele  suplemento, considera-se “O pioneiro do fisiculturismo”  no Maranhão – (esse o título da matéria):

“O pioneirismo nasceu das mãos do pequeno Edilson Penha Alves, em 1944, aos 12 anos de idade. ‘Fazia exercício com pesos improvisados de cimento e pedrinhas nos fundos da minha casa’, explica. Depois de passar oito anos na maromba rústica, Edilson partiu para o Rio de Janeiro à procura de novos horizontes. Lá, encontrou o professor Nisio Dourado, da Academia Apolo, onde passou a treinar.”(O ESTADO DO MARANHÃO, ed. de 2 de dezembro de 1995, p. 7 – Suplemento GALERA).

 

O autor da matéria – não assinada – afirma, categórico, que:

… malhar com pesos faz bem, isso todo mundo já sabe. É indicado para preparar atletas de competição de todas as modalidades, na restauração de músculos, tendões e fortalecimento de áreas do corpo humano menos favorecidos pelo esforço físico, além de delinear e melhorar o tônus muscular.

“Mas, o que poucos sabem, é quem foi o introdutor dessa prática em São Luís. Será que nasceu da “explosão” dos filmes norte-americanos ou de um pate-papo de “magrelos”que almejavam a perfeita forma física ?” (O ESTADO DO MARANHÃO,  ed. de 2 de dezembro de 1995, p. 7, Suplemento GALERA).

 

E deixa, o autor da matéria, a pergunta: “quem foi o introdutor dessa prática em São Luís?”  E responde que o pioneirismo coube ao “pequeno Edilson Penha Alves, em 1944, aos 12 anos de idade”.

Considerando-se sob o aspecto de quem começou a praticar exercícios com pesos, podemos afirmar que o pioneiro foi JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, ainda no século passado. O autor de “O Captiveiro“, de “A esfinge do Grajaú“, “A setembrada,  “nasceu na estreita rua do Sol, 141, situado entre a Rua do Ribeirão e o Beco do Teatro, a 2 de setembro de 1867” (GASPAR, 1993, p.12).

Nos livros de memórias desse festejado historiador, advogado, polemista, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista maranhense, relata-nos que o “Club dos Mortos” –  proposto por Raymundo Frazão Cantanhende -, reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios:

E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos” (ABRANCHES, 1941, p. 187).

 

Relata, ainda, que os membros desse clube abolicionista, juntando o útil ao agradável:

“… não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos…”. (ABRANCHES, 1941, p. 188).

 

Nem o pioneirismo de indicar práticas de exercícios físicos às mulheres, como é dado a entender no artigo em questão, é do proprietário da Academia Apolo. Já em 1844, no Colégio N. S. da Glória, também conhecido como “Collégio das Abranches”, em seus primitivos estatutos, dispunha:”...não sómente sobre as disciplinas escolares como também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas.” (ABRANCHES, 1941, P. 113-114).

 

Anos mais tarde, Aluísio Azevedo, tanto em “O Mulato” – publicado em 1880 -, como em uma crônica publicada em 10.12.1880, propõe uma educação positivista para as mulheres maranhenses:

“… é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista … é preciso educá-la física e moralmente … dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente …” (MÉRIEN, 1988, p. 166-167).

 

Djard MARTINS (1989), registra que o nascimento das atividades esportivas no Maranhão se deu pelas mãos de Nhozinho Santos – Joaquim Moreira Alves dos Santos -, quando foi fundado, em 1907, o Fabril Athletic Club. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.:

E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense…” (MARTINS, 1989).

 

Pergunta-se: que foi o pioneiro ? Parece-nos que foi DUNSHEE DE ABRANCHES.

 

BIBLIOGREFIA:

ABRANCHES, Dunshhe de. O Captiveiro. Rio de Janeiro (s.e.), 1941.

ABRANCHES, Dunshee de. A esfinge do Grajaú. São Luís : ALUMAR, 1993.

AZEVEDO, Aluísio. O Mulato. Rio de Janeiro : Tecnoprint, (s.d.).

CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia.       São Luís :   SIOGE, 1993.

GASPAR, Carlos. Dunshee de Abranches. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). São Luís : (s.e.), 1993.

MARTINS, Djard. Esporte: um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989.

MÉRIEN, Jean-Yves. Aluísio Azevedo  Vida e Obra (1857-1913) – o verdadeiro Brasil do século XIX. Rio de Janeiro : Espaço e Tempo : Banco Susameris;  Brasília : INL, 1988.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. “Pernas para o ar que       ninguém é de  ferro: as recreações na São Luís do século XIX“. São Luís : FUNC, 1995. (Segundo lugar no “XXI Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, Prêmio “Antônio Lopes”, de pesquisa histórica, 8 de setrembro de 1995; Tema-livre apresentado no VII Encontro Nacional de Recreação e Lazer, Recife-PE, 09 a 12 de novembro de 1995.).

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do atletismo maranhense. O IMPARCIAL, São Luís, 27 de maio de 1991, segunda-feira, p. 9, Caderno de Esportes.

 

 

 

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