Dois artigos me chamaram atenção, em revista desta semana que passou. E relacionados ao aniversário da Igrejinha do Vinhais, patroneada por São João Batista. Comemoraram-se os 397 anos em que foi rezada a primeira missa, em 20 de outubro de 1612… jÁ ME REFERI NESTA COLUNA…
Um cientista político, Fernando Figueira, da UFMG, conduziu uma pesquisa do Instituto Vox Populi que mediu a percepção sobre a corrupção no Brasil. O brasileiro associa a corrupção à política, principalmente nas câmaras legislativas, das três instancias. Está-se criminalizando a política e os políticos! Sabe-se que essa, a corrupção, se estende a todas as esferas da vida do brasileiro. Somos corruptos por natureza. Aceitamos o famoso ‘jeitinho brasileiro’ em tudo. Impera a ‘Lei de Gérson”, em que devemos e gostamos de levar vantagem em tudo. Onde há Governo, há corrupção. E sempre que há corrupção, existem dois agentes: o corruptor e o corrompido!
A outra matéria refere-se aos ganhadores do Premio Nobel de Economia deste ano, em que se ressalta o laurel a uma mulher - a primeira a ganhar um Nobel de Economia… Explicam, ambos, como as pessoas se organizam - tanto para salvar o meio ambiente (ELA) como para formar empresas (Oliver Willianson).
Os estudos de Elinor Ostrom chama-me a atenção, pois se refere à participação da comunidade - cidadãos comuns - na preservação do patrimônio comum. A questão que deu origem ao trabalho de 40 anos dessa cientista política: como preservar o patrimônio que pertence a uma sociedade ou grupo e garantir que ele continue beneficiando a todos, sem se esgotar?
Marcos Coronato, autor da matéria, refere-se que bens desse tipo são chamados de ‘cestas de recursos comuns’ ou simplesmente “commons”. A dificuldade de protegê-los é evidente em áreas desmatadas e praças públicas vandalizadas. O uso irresponsável de parte de alguns acaba com benefício que iria para todos. A solução final é propor a privatização ou o controle governamental.
Elinor mostrou que há um terceiro caminho, independente. Em alguns casos, os grupos de indivíduos interessados no patrimônio comum conseguem se organizar melhor para protegê-lo.
Foi o que aconteceu com a Igrejinha do Vinhais. Tombada como patrimônio histórico pelo Decreto estadual 9.652, de 06 de setembro de 1984 (Inscrição 28, do Livro de Tombos, fl. 6), estava em ruínas, quando a comunidade residente em seu entorno resolveu tomar uma providência: recuperá-la… Física e enquanto instituição de apoio espiritual.
Como se observa na imagem abaixo, foto tirada em 1973, que consta do livro “Arquitetura luso-brasileira no Maranhão”, de Olavo Pereira da Silva Filho, segunda edição, 1998 - Projeto Documenta Maranhão 97, convenio MinC, Maranhão, UNESCO, p. 158. Observa-se seu abandono e já sem o telhado…
No livro “Monumentos Históricos do Maranhão”, São Luis: SIOGE, 1979, p. 144 consta a Igrejinha - com o telhado - conforme foto tirada por Murilo Santos e Andrés Felipe, naquele ano. Conforme informou o próprio cineasta Murilo, quando da feitura do Documentário:
No livro “Arquitetura e arte religiosa no Maranhão”, de Kátia Santos Bogea, Emanuela Sousa Ribeiro e Stella Regina Soares de Brito, São Luis IPHAN, 2008 já consta a gravura da Igreja recuperada, pg. 143:
O que quero dizer é que desde 1985 - um ano após o tombamento pela Secretaria de Cultura como Patrimônio Histórico estadual - a igrejinha estava em ruínas! Desde então um grupo de moradores de seu entorno - Vila Velha do Vinhais e Recanto do Vinhais - uniram-se para recuperá-la. Sem interferências dos poderes públicos! Diga-se a bem da verdade.
O que chama a atenção, é que em 1995 - dez anos após o início das intervenções, sempre sobre consulta ao IPHAN - registrou-se que foram destinados - e gastos! - R$ 8.000,00 na recuperação da Igreja. O que não é, nem foi verdade! A população - que contribui participando dos festejos, assinado livros de ouro e destinando doações, cobrou dos poderes constituídos - Estado e Federal - uma explicação, via Cúria Metropolitana, que tem responsabilidade pela igreja. Nesses 14 anos, ficamos sem respostas.
No lançamento do livro das Sras. Kátia Bogéa, Emanuela e Stella de Brito o ex-pároco do Vinhais, Padre Dr. Raimundo Meireles cobrou publicamente das autoras a inserção dessa informação errônea - portanto falsa - em sua obra; p. 145 -
1995 - restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histórico e Paisagístico.
Repetem o que está no documento de 1995, inclusive a foto, de que o Governo do Maranhão fez o restauro daquele templo.
Abaixo, as feições atuais da Igreja de São João Batista do Vinhais, após a intervenção da comunidade, nesses últimos 24 anos - desde 1985, quando foi constituída a “Comissão (Informal) de recuperação da Igrejinha do Vinhais”. Continuamos a trabalhar…
Quando das comemorações dos 397 anos da primeira missa rezada naquela localidade, perguntaram-me qual a participação dos poderes públicos naquela preservação. Disse que não só não houve - as fotos provam o descaso… - como não é desejável… E nem necessária. Bastava que não atrapalhassem…
Pois bem, a maior autoridade no Estado, ligado à preservação do patrimônio histórico, recebeu comissão para convidar, a autoridade - aos festejos e assistir o Documentário “A Igreja de São João Batista e a Vila velha de Vinhais”, mandado fazer pela própria comunidade, contratado o cineasta Murilo Santos para tal. Preservar o patrimônio - memória - da Igreja e da Vila, e de seus moradores… Sabe o que disse a autoridade? Que não viria! Porque ‘aquele padre’ (referia-se ao Padre Meireles, Chanceler da Cúria Metropolitana) ousara apontar erro em seu livro recém-lançado…
Pois é, há um terceiro caminho! A dos cidadãos comuns que não agem como vândalos…
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