Ribeiro – o “Garfo de Pau”

A repetição desta matéria (com algumas correções – sem mudar o conteúdo) marca o retorno deste Repórter ao dia-a-dia de um jornal. Estaremos aqui, como colaborador, até o final dos Jogos Olímpicos de 2016, quando deverá ser editado um caderno especial sobre os Jogos.


“. . . eu acho que conheço o senhor, de algum lugar!” – diz o Repórter, fazendo sinal de que está tentando lembrar.


“ Eu também acho que conheço o senhor...” diz Ribeiro, sorrindo.


“ O senhor, por acaso, jogou bola em algum lugar?” indaga o Repórter.


“ Olhe, na década de sessenta eu saí daqui e fui ensinar a ser lateral-direito em Fortaleza!”


“ . . . Ahhh! Então eu sabia que conhecia o senhor. O senhor é aquele que o Marco Aurélio – ponta-esquerda do Ceará – colocava a bola por dentro das pernas?


“ Nunca!”, assegura o senhor, 81 anos a completar no próximo dia 18 de junho, cabelos totalmente brancos enfeitando o corpo de um negro que um dia foi esbelto e considerado um dos três melhores laterais do Norte-Nordeste em todos os tempos.

É esse, quase sempre, o diálogo travado entre o autor destas linhas e José de Ribamar Ribeiro, mais conhecido nos saudosistas meios futebolísticos por Ribeiro e até por “Garfo de Pau”.


De 1950 para os dias atuais, nunca existiu no futebol do Norte ou do Nordeste um lateral-direito superior a William, Gena e Ribeiro. Eles iniciaram, na década de 50, a forma dinâmica de jogar pela lateral-direita, com competência e inteligência, como um quinto atacante (sim, porque, naquele tempo, os ataques eram formados por quatro atacantes, dois meias, e quatro defensores), que, anos depois, o falecido Cláudio Coutinho batizou como uma descoberta sua, chamando de “overlaping”.


O que confirmava a afirmação, era a forma de atuar do lateral-esquerdo, então um simples e puro marcador. Anos depois, no Chile, Nilton Santos se aventurou em algumas oportunidades, enfrentando o selecionado austríaco. Mas, pelas plagas nordestinas já se “atacava” muito com o lateral-direito. Ribeiro, William e Gena eram os mais perfeitos das duas regiões.


Nascido em 1935, aos 19 anos, Ribeiro se prontificou a passar por um período de testes no Sampaio Corrêa. Isso, em 1954. Até hoje Ribeiro não sabe explicar se foi aprovado ou não. Mas não ficou no Sampaio Corrêa.


Em 1955, atendendo convite do então jogador Esmagado, foi para o extinto Ferroviário, assinando ali o primeiro contrato de profissional. Conquistaria em 1957 o seu primeiro título de campeão maranhense e, em 1958, quando o selecionado brasileiro sagrava-se campeão mundial, Ribeiro conquistava o bicampeonato maranhense, vestindo a camisa do Ferroviário.


Ribeiro garante que, “profissionalmente”, começava ali a sua longa carreira de jogador de futebol. Numa final diante do Sampaio Corrêa, com o Ferroviário perdendo por 1 a 0, Ribeiro foi o autor do gol de empate em 1 a 1. Depois Hamilton marcou o gol da “virada” e, cobrando pênalti sofrido por Hamilton (Hamilton marcou o gol, mas o Árbitro Antônio Bento preferiu marcar a penalidade), Santos fechou o placar em 3 a 1.


Os dirigentes de Ferroviário sempre se posicionaram oposicionistas à então FMD (Federação Maranhense de Desportos). Um longo desentendimento entre a entidade e o Ferroviário motivou uma paralisação do bicampeão maranhense. Os jogadores profissionais procuraram outros rumos.


Em 1959 Ribeiro ingressou no Maranhão Atlético Clube, onde ficou até agosto de 1961, juntamente com alguns companheiros que haviam saído do Ferroviário.


Finalmente, em agosto de 1961, Ribeiro concretizaria o sonho (tentado em 1954, sem sucesso) de vestir a camisa do Sampaio Corrêa. Jogou ali também em 1962, 1963 e em março de 1964 foi negociado ao América, de Fortaleza.


Mesmo sem ser dirigente do Sampaio Corrêa, o desportista Rubem Goulart intermediou a negociação com Aécio de Borba Vasconcellos, dirigente do América de Fortaleza. Terminaria ali a primeira fase de Ribeiro no futebol maranhense.


O lateral foi titular absoluto da seleção maranhense em 1959, quando defendia o Ferroviário e o Maranhão, em 1960 e 1961; Sampaio Corrêa em 62 e 63, sob o comando do técnico carioca Sávio Ferreira.


Ribeiro e Papacum – Em março de 1964, Ribeiro chegou ao América de Fortaleza. Saíra de São Luís para defender as cores de um time mediano em termos de torcida, mas de alto nível social e organizacional, com sede social na Aldeota, bairro mais aristocrata de Fortaleza.
O América resolvera, naquele ano, aproveitar a disponibilidade dos dirigentes José Lino da Silveira Filho (Presidente), Lívio Corrêa Amaro, Aécio de Borba Vasconcellos, Meton Vasconcellos e outros colaboradores e montar um time capaz de ser campeão.


A contratação de Ribeiro foi apenas “mais uma” para um time que havia contratado Cícero, Ninoso, Nelson, Mozart, Vila Nova, Pedrinho e mais tarde, Milton, Fernando Carlos e Wilson. No time já formavam Osmar, Luciano Frota, Luciano Diogo, Pina, Zé Adilson, Fernandinho (o melhor jogador de Futebol de Salão do mundo em todos os tempos) Gari, Veto, Tangerina, Baíbe, Pouchain.


França, conhecido treinador cearense, era o técnico do América. Com a mudança e a implantação do projeto para tentar ser campeão, foi contratado Gilvan Dias, ex-goleiro do próprio América, do Ceará Sporting e da Seleção Cearense. Gilvan levou consigo o Fisicultor Romualdo Vichinewski, na época um dos poucos especialistas do Norte e Nordeste em preparação física.


No ano de 1966, finalmente, o América chegou ao título e assumiu o posto de um dos melhores times de todos os tempos do futebol cearense, disputando Taça Brasil com: Pedrinho; Ribeiro, Cícero, Ninoso e Vila Nova; Osmar, Luciano Diogo; Loril, Wilson, Mozart e Fernandinho. Faziam parte, ainda, Sieta, Luciano Frota, Zé Gerardo, Pouchain.


Nos anos de 1964, 65, 66, 67, 68 e 69 Ribeiro fez nome em Fortaleza, defendendo o América. Os especialistas em futebol garantem que seria impossível Ribeiro ter jogado mais, qualitativamente falando, antes de 1964, quando atuava no futebol maranhense. Daí a afirmativa deste cronista (na época, Árbitro Profissional em Fortaleza) que: “os maranhenses não viram Ribeiro jogar bola”.


Convicção igual ao cronista, tinha Papacum, torcedor símbolo do América que, boca entreaberta (cáries à mostra), encostado no alambrado do Presidente Vargas, quase sentindo a respiração de Ribeiro, quando este atuava defensivamente, dizia com voz alta e gestos trêmulos: “. . . é muito bom esse meu lateral. Joga demais! Vai meu lateral, mata eles!”


Em Fortaleza Ribeiro travava duelos (só dentro do campo, claro) aplaudidíssimos com Marco Aurélio (Ceará), Mimi (Fortaleza), Piçarra (Calouros do Ar), e até com Milton (Ferroviário). Desses, Marco Aurélio era o mais difícil de marcar por conta de uma particularidade. O ponteiro alvinegro era destro e, sempre que partia para cima da marcação de Ribeiro, impunha dificuldades, haja vista que Ribeiro também era destro.


Em 1969 terminou o ciclo de Ribeiro no América e ele foi de malas e bagagens para o Ferroviário. Em 1970 voltou ao futebol maranhense, ingressando no Moto Club, ali ficando até 1971. Ribeiro, o “Garfo de Pau” parou de jogar em 1972 e, no Sampaio Corrêa, ensaiaria o início da carreira de Treinador, com o time da categoria de base. Descobriu valores como Joaquim, Wandermilson (mais conhecido como Wander, ex-jogador do Maranhão) e outros bons valores maranhenses. Foi substituído por Eudes Calazans. Passou pelo Tupan e depois resolveu “sair um pouco do futebol”.


Hoje Advogado, é membro efetivo do Tribunal de Justiça Desportiva do Maranhão e há 20 anos é funcionário aposentado da Previdência Social, onde ingressou através de concurso público realizado em Fortaleza em 1965, quando ainda defendia o América da capital cearense.
Em 1963, antes de ingressar no América, Ribeiro fora tentado pelo Vasco da Gama, para substituir Paulinho de Almeida que estava parando. Foi convidado, também, pelo Bangu, para substituir Fidélis, que estava se transferindo para o Vasco da Gama. Preferiu ficar no Sampaio e seguir para Fortaleza. Para “aprender a jogar bola” com Mozart, Fernandinho, Moésio, e Zezinho Ibiapina, e ensinar Gari e Vila Nova a bater nos atacantes.


(Esta é uma homenagem do cronista, a um dos maiores e mais perfeitos laterais-direitos do futebol brasileiro em todos os tempos)- J. O. Ramos

Foto de José De Oliveira Ramos Oliveira Ramos.  

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  Foto de José De Oliveira Ramos Oliveira Ramos.

 

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 14 de Fevereiro de 2016 às 16:47.

Oi Leopoldo,

Nilton Santos não era maior do que ninguém, mas simplesmente uma "enciclopédia" em matéria de futebol. A referência  acima quanto ao "enfrentamento contra o selecionado austríaco" deu-se em 1958, na Suécia, quando marcou um dos dois "goles". Cláudio Coutinho somene apareceria no cenário futebolístico quando da copa do mundo na Argentima, em 1978. 

 


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