Ronald, mais uma relembrança.
No começo da década de cinquenta, o futebol cearense viveu uma das suas melhores fases. Os chamados grandes, Ceará, Ferroviário, Fortaleza e Maguary disputavam os títulos estaduais palmo a palmo. Ainda não se falava em interiorização, principal motor do atual futebol alencarino.
O Maguary, o mais aristocrata dos quatro grandes, começou a optar em se tornar um clube apenas social. Poucos títulos conquistados, não demorou muito e o então alvinegro fechou as portas.
A passagem final pelo funil ficou mais apertada e os títulos passaram a ser disputados, na sua grande maioria, por Ceará e Fortaleza. O Ferroviário de Waldemar Caracas, apesar do forte apoio da RVC (Rede Viação Cearense), um ramal da Rede Ferroviária Federal, conquistava apenas um ou no máximo dois entre dez títulos disputados.
E, no início da década de cinquenta, o Fortaleza tomou para si a hegemonia, face ao predomínio da família Gomes, comandada pelo então coronel Mozart Gomes, pai dos geniais Moésio e Mozart.
O Ceará estava “perdendo” quase que uma geração inteira de ótimos jogadores, como Jombrega, Mitotonio, Hermenegildo, Dengoso, além de Antonino, ponta-esquerda de potentíssimo chute e um dos principais artilheiros do time, ao lado do baiano Pipiu.
O excesso de contusões graves e a idade avançada de Antonino (35 anos) fizeram com que o Ceará de Elias Bachá procurasse reforços que pudessem formar um time capaz de fazer frente ao Fortaleza.
O futebol maranhense sempre colocou ótimos jogadores no futebol cearense. Como fizera com Ananias, Canhoteiro, Carneiro, Cosmo, Dico e tantos outros, o Ceará procurou guarida no futebol maranhense e, daqui levou o então centroavante Guilherme.
Guilherme Araújo, maranhense, filho de alfaiate residente em São Luís, acabara de sagrar-se campeão estadual em 1951 defendendo as cores do Maranhão Atlético Clube, onde chegara em 1949 e atuara em 1950 para ser um dos principais artífices do título atleticano.
Concluído o campeonato maranhense, Guilherme foi cedido ao Ceará Sporting Club, onde jogou por mais de uma dezena de anos, sagrando-se diversas vezes campeão estadual.
Apesar de maranhense, Guilherme defendeu em muitas oportunidades a seleção cearense no campeonato brasileiro de seleções estaduais, comandado por Tim, Jorge Vieira, Ivonísio Mosca de Carvalho, Dengoso, Janos Tatray e até por Vicente Trajano.
Guilherme formou em vários ataques do Ceará, com Honorato, Bebeto, Lascinho, Bira e Guilherme. Antes, com Honorato, Bebeto, Ivan Carioca, Ananias e Guilherme. Mas foi em 1958, que Guilherme atingiu o auge da carreira e viveu um fato marcante na vida de qualquer profissional.
Naquele ano em que o Ceará sagrou-se campeão estadual, Guilherme era apenas um maranhense entre os quatro campeões: seu irmão Benício, zagueiro; Carneiro (natural de São José de Ribamar e maior lateral-esquerdo do Norte e Nordeste em todos os tempos) e Ananias, meia contratado ao Usina Ceará.
O time alvinegro era formado por Ivan Roriz (depois proprietário da fábrica de Doces Real); William (militar do Exército); Alexandre, Benício (muito conhecido entre os maranhenses pelo apelido de Sururu) e Carneiro; Cláudio (paraibano de excelente futebol) e Ananias; Nenê, Bira, Zezinho Ibiapina e Guilherme.
Guilherme formaria também no ataque da seleção cearense que derrotou (e eliminou) a seleção maranhense que tinha um ataque fabuloso, formado por Garrinchinha, Hamilton, Croinha e Alencar, jogando ao lado de jogadores geniais como Moésio Gomes, Aldo e Ananias, além do goleador Pacoty. O ataque cearense era formado por Moésio, Pacoty, Ananias e Guilherme. Os dois homens do meio-de-campo eram Veras (ou Claudinho, ou ainda Haroldo Castello Branco) e Aldo.
Dez anos atuando como jogador profissional, Guilherme começou a construir a vida pessoal para vivê-la após o futebol. Começou a trabalhar no Jornal O Povo da família Sarazate capitaneada pelo ex-Governador e Senador Paulo Sarazate e pela advogada Albanisa Sarazate.
Além de jogar futebol, Guilherme passou a trabalhar como Corretor de Anúncios, criando com José Raimundo Costa (ex-Presidente do Fortaleza) o maior caderno de classificados do Norte-Nordeste para o Jornal O Povo.
Por conta da necessidade de visitar os clientes sempre com boa apresentação no vestir, Guilherme aprendera com o pai, Alfaiate de ofício e com o ex-jogador e ex-alfaiate Eudes Calazans, a forma impecável do traje. Por doze anos consecutivos, o maranhense Guilherme foi considerado “o homem mais elegante de Fortaleza”.
Antes de parar como jogador profissional, Guilherme ainda defendeu as cores do Ferroviário, de Fortaleza. Mas, ali, não conseguiu conquistar mais títulos.
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