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SÃO LUÍS E O TURISMO CULTURAL

O gestor público pode até fingir que ignora estudos, pesquisas, estatísticas e dados brutos. No entanto, é muito difícil esconder os fatos do cidadão comum, sobretudo hoje que o acesso à informação através dos meios digitais e virtuais retirou das mãos dos gestores públicos o monopólio do conhecimento sobre todas as áreas da gestão. Vamos tratar aqui do turismo como uma indústria viável, uma solução econômica para o Maranhão, uma vez que, inegavelmente, trata-se de um estado que, como poucos, apresenta todas as condições naturais e históricas para tornar-se uma das maiores potências turísticas do Brasil e, quiçá, do mundo.

O fato é que o turismo é, hoje, uma das atividades econômicas mais importantes desde a virada para o século XXI. O turismo, sozinho, é o responsável pela geração de 10% ou mais do PIB mundial, sobretudo quando falamos das atividades primárias, aquelas diretamente relacionadas com este setor. Por todas estas razões, o turismo é, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes fatores de desenvolvimento econômico e, com certeza, o mais importante mecanismo de intercâmbio entre culturas e pessoas. Cidades como Londres e Paris têm no turismo uma de suas maiores fontes de renda, com cerca de 20 milhões de turistas por ano visitando ambos os destinos. Na lista dos maiores 20 destinos turísticos do mundo, seguem-se cidades como Bangkok, Madri, Cingapura, Hong Kong, Istambul, Frankfurt, Dubai, Roma, Seul, Nova York, Amsterdã, Kuala Lumpur, Milão, Barcelona, Viena, Xangai, Taipei, Tóquio. O Rio de Janeiro é a única cidade brasileira entre os 100 destinos mais visitados do mundo, ocupando ainda assim a distante posição de 92º lugar, em pesquisas mais recentes. A depender dos critérios e dados usados, as cidades asiáticas aparecem à frente das cidades europeias, e mesmo os destinos do mundo árabe, como Dubai e Abu Dhabi, já despontam entre as posições mais disputadas.

No cenário internacional, o Brasil não ocupa as posições mais competitivas quando se trata de turismo. Perdemos para o México, a Espanha e o Vietnã. Países como o Uruguai, por exemplo, em termos de competitividade, estão muito à frente do Brasil, pois, com apenas 3,2 milhões de habitantes, recebe a mesma quantidade de turistas, ocupando a terceira posição em nível mundial quando se utiliza a relação entre números de habitantes e quantidade de turistas, atrás apenas da França e da Espanha, que são países campeões nessa lucrativa relação, que gera uma quantidade incalculável de empregos, renda e desenvolvimento. Nesse sentido, o Brasil, com todo o seu potencial de praias, cidades históricas, riquezas naturais, é muito menos do que poderia ser no vasto território do turismo como atividade econômica.

E, nesse contexto, onde se encontra São Luís do Maranhão? Certamente, estamos fora do contexto. E isso é um paradoxo, porque a capital maranhense, com certeza um dos mais belos, ricos e maiores patrimônios culturais e arquitetônicos do Brasil, é um dos menos visitados e menos divulgados de todo o país. O gestor público no Maranhão tem uma tradição de caminhar no sentido oposto do que aponta o êxito de outras cidades do mundo, inclusive brasileiras, como Fortaleza, Recife, Olinda, Paraty, Ouro Preto e Belém do Pará, que encontraram no turismo, sobretudo o cultural, a força viva e pulsante de suas economias locais, com potenciais ainda imensamente inexplorados. E o que o gestor público não tem feito, ao longo dos anos? Não tem atuado de modo firme, resoluto e estratégico no desenvolvimento do turismo em geral, mas sobretudo no desenvolvimento da maior potencialidade turística que o Maranhão possui: o turismo histórico e cultural. O problema é que o turismo cultural apenas se consolida se houver, por parte do gestor público, em consórcio com a sociedade civil e a iniciativa privada, o desejo de incentivar a diversificação do setor. E, no setor da infraestrutura, os maranhenses já têm uma ideia visível, palpável e ululante do abandono e da negligência do gestor público com o patrimônio histórico não apenas de São Luís, como de todo o Maranhão, onde outras cidades históricas maranhenses, como Caxias, Viana e Alcântara, que possuem importantes conjuntos arquitetônicos de origem portuguesa, estão simplesmente entregues ao descaso e à ruína, ameaçadas que estão de ver muitas de suas edificações ser engolfadas pelas ruínas e por uma total ausência de senso estratégico por parte dos gestores das esferas municipal e estadual. E mercado é o que não falta para tanto.

No mundo todo, uma enorme classe média urbana, composta por pessoas de todas as idades, com alto nível de escolaridade e dispostos a investir seus recursos, estão à procura de novas experiências, novos destinos, novas culturas, povos originais e festivos, e todos esses atributos São Luís e o Maranhão reúnem, com amplas vantagens sobre outros de todo o país. E aí o gestor público parece um cego perdido no meio do tiroteio, porque um dos fatores que mais atraem turistas é justamente meios e modelos inovadores de apresentação e divulgação de patrimônios culturais e arquitetônicos, sobretudo aqueles que se aproximam e persuadem os setores mais amplos da sociedade civil, e envolvem e profissionalizam uma população inteira, tornando-a, juntamente com o local, a cultura e o patrimônio, uma gigantesca indústria disposta e preparada para oferecer as melhores experiências, serviços e atrações ao turista que está disposto a pagar por um local repleto de tudo isso.

E quais são os serviços que o turismo cultural e histórico pode oferecer, entre os mais procurados pelos turistas do mundo? Em primeiro, o turismo cultural (por definição, o deslocamento de pessoas em direção a manifestações culturais de outros países, regiões e cidades, em busca de novas experiências e conhecimentos), incorpora em seu leque de atividades a visita a museus, sítios arqueológicos, edifícios civis, religiosos, militares, industriais, centros históricos, jardins públicos, e toda a diversa gama do turismo patrimonial, bem como as manifestações da cultura popular e tradicional, a gastronomia, feiras de arte, de artesanato, festivais de música, feiras de livros e festas literárias, festivais de cinema, teatro, dança, ópera, salões de artes plásticas e visuais, entre muitas outras atividades que podem manter um calendário cultural de eventos que podem simplesmente fazer com que não haja mais baixa estação ao longo do ano. Ora, diante dessa lista, não sobra dúvidas que São Luís e o Maranhão reúnem todas as condições potenciais para ser um dos principais destinos turísticos do país, como também, em nível internacional, ocupar um lugar de destaque.

No entanto, o gestor público precisa despertar para todo esse potencial. Por enquanto, mal consegue administrar a própria gestão da coisa pública, atendo-se quando muito a uma política que, em termos de Brasil, concentra-se muitas vezes apenas em conduzir as crises da esfera política, preocupados que estão com a simples manutenção do poder. E talvez seja esse o calcanhar de Aquiles, porque o perfil da uma clientela turística é muito exigente. O turismo é um negócio delicado, porque, segundos dados da União Europeia, a demanda pelo turismo, sobretudo o cultural, concentra-se em pessoas de idade avançada, que têm recursos limitados, mas em compensação têm disponibilidade e vontade de viajar em qualquer época do ano; jovens que estão à procura de aventura, e portanto desejam experiências novas, inéditas, exóticas; homens e mulheres de negócios, muitas vezes acompanhados com toda a família, com expressivos recursos disponíveis, mas que buscam, justamente por isso, serviços turísticos de qualidade; famílias e pessoas de regiões próximas, que desejam participar da vida cultural de sua própria terra, e estão no raio de abrangência de aproximadamente 100 quilômetros de suas residências; e os turistas cultos e eruditos, com alta escolaridade, que geralmente viajam sozinhos e buscam serviços especializados, com alto nível de qualidade e competência, possuindo recursos para pagar por tudo.

Contudo, de uma forma geral, o perfil do turista cultural é exigente. Exige nível elevado das infraestruturas, dos serviços disponíveis, não está disposto a enfrentar aborrecimentos, dificuldades da estação, deseja ofertas acessíveis, mas de qualidade, visita monumentos, eventos, manifestações e celebrações tradicionais, quer estabelecer contato com as pessoas e conhecer suas tradições e formas de viver, comer, divertir-se, gasta mais dinheiro e recursos que o turista tradicional, que apenas faz compras e visita sumariamente os destinos mais óbvios, prefere alojar-se no interior da comunidade que visita do que em resorts ou hotéis caros e especializados, e tem como objetivo passar mais tempo que o turista tradicional em seus destinos de visita. É um turista mais compreensivo, mais educado e polido com o meio e a realidade local, justamente por possuir uma alta escolaridade, e possui vasta curiosidade antropológica, cultural e até, em alguns casos, acadêmica e científica. De uma forma geral, é o perfil do turista cultural europeu, principalmente, mas encontra-se difuso no perfil do turista asiático, norte-americano e no turista africano.

É nesse ponto que o turismo cultural fracassa em São Luís do Maranhão. O gestor público, de todas as esferas, parece simplesmente atônito diante de tudo. O que São Luís oferece em termos de atrações turísticas, oferece também, na mesma proporção, de falta de infraestrutura e serviços qualificados para receber e cativar o turista. O patrimônio histórico, nem precisamos dizê-lo, está em grande parte abandonado e o centro histórico entregue às formas mais violentas de vandalismo. E tudo porque a especulação imobiliária dos anos 1990 e 2000 convenceu as franjas mais ricas da sociedade ludovicense que o bacana não era morar em estilosos sobrados e casas históricas do século XIX ou anteriores, mas em gaiolas de exíguos e exorbitantes metros quadrados nos bairros mais “modernos” e, portanto, mais civilizados.

Com isso, o resultado todos sabemos. Hoje os prédios históricos estão sendo desfigurados por um comércio agressivo, que não valoriza o centro histórico, ou pelo abandono progressivo das antigas casas das famílias tradicionais da cidade, deixando para trás uma cidade que clama por habitantes, por serviços mais qualificados, pelo retorno de um estilo de vida aprazível e por uma forma mais racional e civilizada de ocupação do espaço urbano. Enfim, que o centro histórico volte a ser, sobretudo, um local sobretudo de cultura, lazer, entretenimento, passeios agradáveis, e que volte a concentrar o melhor das atividades comerciais, culturais, artísticas, empresarias, turísticas, e tudo que permita a revalorização da antiga São Luís. É necessário, sobretudo, que o centro histórico volte a ser a porção mais elegante da cidade, a que recebe mais investimentos e atenção por parte do gestor público. Porque é no centro histórico que se encontra a grande potência econômica de São Luís. De seus prédios e monumentos nascerá a principal atividade econômica da cidade, sua maior fonte de renda, se para tanto colaborar a população e o gestor público, e juntos construirmos o grande empreendimento de tornar São Luís um destino turístico do mais alto nível, a fim de que sejamos como Madri, Porto, Lisboa,  Roma, Ouro Preto, Olinda, Paraty e outros destinos do mesmo calibre país e mundo afora.

By Ricardo Leão às março 25, 2017

 

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