SOBRE CANHOTEIRO

REPLICO do PORTAL DO MHÁRIO LINCOLN DO BRASIL – http://www.mhariolincoln.jor.br/convidados/brito-fala-de-canhoteiro.html e vale uma visita ao sitio desse jornalista maranhense que faz imenso sucesso com seu Portal em todo o mundo a partir do Paraná.

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José Ribamar de Oliveira: O CRAQUE E O MITO

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(Ilustração: Livro de Renato Pompeu)

(*) Texto abaixo: Sérgio Brito

Quando se fala ou pensa em Canhoteiro, venham logo é inevitável que a conversa ou à lembrança as proezas inacreditáveis que com ele conseguia realizar o pé esquerdo descalço. Como se tivesse um Ímã na Ponta dos Dedos, levantava com extrema facilidade moedas atiradas ao chão, fazendo-as certeiras cair de volta, na mão espalmada, com Quais e como ficava, a título de recompensa. Outras vezes, executava, pelo que Quisesse tempo, incontáveis “pezinhos” (hoje denominados “Embaixadas”) com uma esfera irregular de um limão. Afirme que Há quem, Aprimorando essa habilidade, ele teria chegado Manter um xícaras, copos e outros objetos de forma arredondada sob o controle de sua canhota mágica. O que tem nada de espantoso, pois quem o viu dar tais espetáculos não duvidará de que ele fosse Capaz de repeti-los com cubos, prismas e outras figuras geométricas.

Mas Canhoteiro, nascido José Ribamar de Oliveira, não pode e não DEVE ser lembrado apenas por seus dotes de exímio malabarista. Os cronistas esportivos que o viram CONSAGRA costumam jogar-lo como um virtuoso da bola. Porém, isso é muito pouco. Antes de tudo, Deve ser ele considerado como a mais perfeita encarnação ou, melhor ainda, como uma personificação da própria arte do futebol, naquilo que o chamado esporte bretão tem de balé e circo, com seus lances e Movimentos Acrobáticos de rara plasticidade e beleza . Como explicar, se não dessa forma, seu extraordinário Dominio dos caprichos da bola, sua Capacidade de assimilação de Técnicas e Táticas tantas Inata ea versatilidade que lhe permitia, como poucos, com os pés como realizar jogadas que idealizava?

Nascido no dia 24 de setembro de 1933, Canhoteiro Viveu e alcançou o auge de sua carreira numa época em que uma cobertura jornalística dos fatos do futebol brasileiro era feita quase que exclusivamente pela imprensa e pelo rádio, daí ser tão escassa, em filmes e vídeos , a documentação comprobatória de sua genialidade. A memória de seus feitos está restrita quase que um guardados registros escritos do período que vai de l954, quando chegou ao São Paulo FC, um 1963, ano em que foi negociado com o Deportivo Nacional, time mexicano de Guadalajara, cidade tão cara aos brasileiros.

Aos que não Tiveram o privilegio de vê-lo em campo, como atleta amador ou vestindo as camisas do América do Ceará, do São Paulo e da Seleção Brasileira, resta acreditar piamente na profusão de conceitos e opiniões Emitidos um seu respeito por personalidades como mais diversas, como o humorista Jô Soares, que o coloca entre Aqueles que considera “os cinco maiores jogadores brasileiros de todos os tempos”, ou o jornalista Boris Casoy, âncora do Jornal da Record, Cujo comentário sobre o gol marcado por Rivaldo, escorando de cabeça cruzamento preciso de Denílson, em jogo do Brasil contra o Paraguai, nas eliminatórias da Copa de 2002, foi nostálgico um desabafo: “Ah! Que saudades de Canhoteiro! “

Considerando, porém, que tanto quanto Jô Boris, meros torcedores, não Autoridade Reconhecida Possuem na matéria, torna-se oportuno recordar aqui que, para Zizinho, um dos jogadores mais cerebrais que já tivemos, e Djalma Santos, eleito o melhor lateral-direito da Copa de 58, era ele, em sua época, “o melhor ponta-esquerda do mundo”. Sem esquecer que Nilton Santos, “uma enciclopédia do futebol”, em seu livro Minha bola, minha vida, coloca-o entre os melhores extremas que viu jogar.

A propósito das entusiasmadas referências de Djalma e Nilton Santos, Heróis da Campanha da Suécia, deve-se ter em mente que Canhoteiro também poderia ter voltado de lá coberto de glórias, caso não tivesse Sido cortado da seleção, por comportamento impróprio, às vésperas do embarque para Gotemburgo, através de Estocolmo. É que liberado da concentração canarinho no hotel Danúbio, em São Paulo, Juntamente com o goleiro Gilmar eo lateral Jadir, para um passeio que não Deveria ultrapassar a meia-noite, descumpriu o horário estabelecido. Ao contrário do disciplinado Gilmar, que Tratou de regressar na hora certa, Canhoteiro, por ter-se encontrado na boate Oásis com Zizinho, seu companheiro de clube e de vida boemia, acabou retornando com 40 minutos de atraso. Para complicar mais ainda uma situação melindrosa do ponteiro, um jornal paulistano publicou, dias depois, foto em que ele aparecia em plena farra. Embora fosse o preferido do técnico Vicente Feola para vestir a camisa 11 do Escrete Nacional, uma admiração do técnico não foi suficiente para salva-lo do alijamento. Zagalo e Pepe, que também disputavam uma vaga, agradeceram e respiraram aliviados.

Em artigo assinado por Sérgio Bakianos, no primeiro número da Revista do Futebol (São Paulo, abril de 1995), presumivelmente iniciando uma série sobre “os imortais” do futebol brasileiro, Cujo título – “Canhoteiro: existiu, acreditem ele!” – Ajudará o autor deste trabalho uma convencer os leitores da verdade existente nas lendas Criadas em torno de seu nome, há informações do que ele tinha pavor de viajar de avião, assim como o relato de inúmeros episódios de sua irremediável Reveladores Aversão ao Cumprimento de normas que lhe tolhessem a liberdade eo modo de viver sem Ambições e despojado. Considerando que, segundo Bakianos ainda, que Zizinho lhe tivesse TRANSFERIDO o estigma do fracasso que o acompanhava desde a derrota para o Uruguai, na final da Copa do Mundo de 50, em pleno Maracanã, não será temerario concluir, pela soma desses fatores evidentes, que O Corte tenha proporcionado grande alívio ao seu coração.

Tendo passado sua infância e juventude na pacata São Luís dos anos 30 e 40, terceiro filho da união de Seu Cecílio Oliveira e de Dona Benedita, Frege, um casal e que mantinha uma banca de mingau de milho na feira do antigo Galpão, no Campo D ‘Ourique, José Ribamar de Oliveira cresceu livre como os meninos de seu tempo, um para escapulir com freqüência como peladas que aconteciam nos muitos terrenos baldios da cidade. Em apontamentos deixados para o segundo volume do Esporte Livro – Um mergulho sem tempo, um ser publicado postumamente, Djard Martins revela que “ficava com BOQUIABERTO como Diabruras que ele fazia com uma bola em um campinho improvisado debaixo das mangueiras do quintal da casa em que Morava, na Rua Coelho Neto “.

Não demorou muito, seria encontrado nenhum time infantil do Moto Clube, equipe Integrando (Boquinha, Enoque e Teté Bragança; Mariano, Tavares e Murilo Aragão; Chapela, Pavão, Colo, Jáder, ele e Celso Coutinho, na ponta-esquerda) Cujas apresentações dominicais nas preliminares dos jogos do Santa Isabel os torcedores faziam correrem mais cedo para o estádio. Mariano Araújo, lateral-direito desse tempo que permaneceu invicto por um ano que lembra e oito meses, quando uma garotada em formação ia assistir aos treinos dos profissionais do Moto, então considerado “Papão do Norte”, o técnico Salvador Perini costumava pedir uma Canhoteiro que mostrasse ao ponta-esquerda Jaime, um craque consumado, como bater um escanteio com precisão milimétrica. Testemunho, aliás, corroborado por Celso Coutinho, que ao seu lado, jogaria mais tarde no Payssandu.

Para Djard Martins, em sua já citada obra, foi no campo do Tabocal, na Rua do Outeiro, que o menino não revelado mirim Esquadrão do Moto desabrochou para o futebol, graças à liga ali criada pelos irmãos Heitor e Japhet Mendes Nunes e outros desportistas do Bairro de São Pantaleão. Canhoteiro ea maior parte de seus companheiros foram para o Flamengo, time comandado por Nego Dó, residente a Rua do Passeio, a poucas quadras do Gramado reinaria em que ele, soberano. A divulgação dos jogos do Tabocal era feita por Djard e Sekeff Abrahão Filho, em seqüência, criada para tal fim, do programa Atualidades Esportivas, que apresentavam os dois na Rádio Timbira do Maranhão.

Até então, só havia jogado Canhoteiro descalço. Levado por Zé Leão, empregado da Joalharia Garantia do Povo, para o nascente Payssandu Esporte Clube, time da Segunda Divisão da Federação Maranhense de Desportos, pôde Chuteiras calcar Pela primeira vez, que sem estas comprometessem uma íntima relação de seus pés com a bola. Reunido uma outros jovens do seu tempo – esmagado, Enoque (que jogara com ele no infantil do Moto), Lourinho, Cleto, Ferreira, Josué, Totó, Argemiro, Denizard, Schalcher, Bebeco eo já mencionado Celso Coutinho – Fez o que com Payssandu se tornasse respeitado não só entre as demais agremiações amadoristas de São Luís, como até agora entre os grandes da Primeira Divisão. Cabe aqui dizer que, pelas informações disponíveis hoje, apenas esporadicamente ele não terá feito apresentações e Moto sem Corrêa Sampaio, antes de ser vendido por 3 mil cruzeiros ao América do Ceará, numa transação, agenciada por Luis Santiago (zagueiro do Moto, quando lá Infantil jogava sem tempo), que valeu 2 mil cruzeiros ao clube de Zé Leão, indo o restante para o seu bolso.

Chegando a Fortaleza em abril de 1953, seu futebol deixou tão impressionado o técnico Gilson Silva, à época um serviço do América e da Seleção Cearense, este que, por suas ligações com o São Paulo, apressou-se em indica-lo à diretoria do clube tricolor. Submetido, em março de 54, a um período de trinta dias de testes, antes que findasse o prazo já havia caído nas graças dos torcedores e Dirigentes do Tricolor do Morumbi. Estreou no dia 18 de abril, num jogo amistoso na cidade de Lins, vencido pelo time local, o Linense, por 3 × 1. Daí em diante, a despeito de ter voltado o São Paulo ser um campeão paulista somente em 1957, tornou-se o maior ídolo de uma torcida que delirava com seus dribles desconcertantes e passes que iam Diretamente à cabeça ou aos pés dos Artilheiros do tempo, conforme a especialidade de cada um. Não foi à toa que, na acreditada Manchete Esportiva, a propósito da Baixa dos atletas desempenho do São Paulo, alguém escreveu que o problema mais urgente um ser resolvido pelo clube era encontrar dez titulares para uma equipe, pois sua ponta-esquerda estava ocupada de forma cativa um supercraque por: Canhoteiro.

Por que, então, sabe-se tão pouco no Maranhão sobre os gloriosos dias vividos por ele no futebol paulista, onde seu nome é permanentemente lembrado? A resposta, com certeza, está no fato de que, por ser o Rio de Janeiro capital tanto administrativa como esportiva e cultural do Brasil nos anos 50, o futebol carioca monopolizava as atenções de torcedores de todos os cantos do país. Se tivesse ido para o Vasco, para o Flamengo ou mesmo para o Bangu ou o Madureira, seu nome apareceria com maior freqüência nas resenhas dos jornais e emissoras de rádio de São Luís.

Verbete da Enciclopédia Delta-Larousse, Juntamente com seu conterrâneo Fausto dos Santos, “A Maravilha Negra” da Copa de l930, disputada no Uruguai, Canhoteiro continuaria sendo um ilustre desconhecido para as atuais Gerações de maranhenses se o Governo do Estado não tomasse uma iniciativa de veicular, pela televisão, peças publicitárias com homenagem que prestou um Nativos ilustres que, no século passado, contribuíram para engrandecer o Maranhão. Campo de futebol Mas não há, em sua terra natal, um, mesmo ginásio ou quadra esportiva com o seu nome. Sequer se Lembraram de dar à Rua Preciosa, n º Diamante, onde nasceu e cresceu numa casa que hoje serve de residência a sua irmã Caçula, Benedita Oliveira Maciel (Nhá Bi), uma denominação de Rua José Ribamar de Oliveira.

Enquanto, hoje em dia, craques menores são vendidos por verdadeiras fortunas ao milionário futebol europeu, garantindo-lhes autonomia financeira pelo resto da vida, Canhoteiro, já com as pernas comprometidas por lesões Decorrentes da caçada cruel que seus marcadores moviam lhe, não foi parar México, país em que, segundo contam, foi uma espécie de “one man show”, tanto nos gramados como nos bares e boates que costumava freqüentar, cantando acompanhado por “mariachis”.

Ainda jogou de volta ao Brasil, não tem e Nacional no Saad, encerrando sua carreira aos 33 anos de idade. De Sobradinho possuía um patrimônio apenas no Brooklin Paulista, adquirido com as luvas recebidas de contrato anterior com o São Paulo, única herança que deixou a viúva e Zelinda A filha de Vera Lúcia, Idolatrada por ele.

Ironicamente, morreu, aos 41 anos, sem ter aprendido um impedir que fugissem lhe das mãos como moedas que, como ninguém, os pés Soubera ganhar com.

Sergio Brito , Jornalista, poeta, escritor consagrado e autor. Integra uma geração moderna de intelectuais maranhenses.

categoria A VISTA DO MEU PONTO, Literatura & Esporte, Recordar é Viver

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