DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.10   n.4  ago/09   COLUNAS 

disponivel em http://www.dgz.org.br/ago09/F_I_iden.htm 

 

Sensação e percepção na relação informação e conhecimento
por Aldo de Albuquerque Barreto

Para instrumentar e delimitar o pensamento subsequente o conceito de informação é definido como sendo:

Conjuntos simbolicamente significantes com a competência e a intenção de gerar conhecimento no indivíduo em seu grupo e na sociedade.

Assim, definida a informação fica qualificada como um instrumento modificador da consciência do homem e de seu grupo social. Deixa de se qualificar como uma medida de organização por reduzir incerteza, para ser a própria qualidade em si.

Fica ainda, estabelecida a existência de uma relação entre informação e conhecimento, que só se realiza se esta for percebida e aceita como tal colocando o indivíduo sensível em um estágio de vida melhor, subjetivamente consciente no mundo objetivo onde realiza a sua odisséia individual.

Passa a existir na minha reflexão a função estética do fenômeno do conhecimento que é a sensibilidade para apreender os registros da informação e se adiciona a emoção a qual tenuemente precede a percepção e representa um sentimento da momentaneidade do Eu que avalia o mundo.

Os sentidos têm  a função de nos fazer conhecer o percebido. Dá-nos uma concepção dos objetos e uma confiança em sua existência, uma sensação que acompanha a percepção. Ao cheirar uma rosa o seu odor esta inscrito na flor que é a base para a percepção, neste caso,  é a qualidade da rosa que percebo pelo olfato. Há nesta intervenção tanto de sensação quanto percepção. A sensação que tenho do odor de uma flor ou o admirar a obra de arte direciona a singularidade subjetiva que proclama a individualidade da percepção e leva a apropriações individualmente diferenciadas. Aqui se encontra uma linguagem e sua escrita.

A linguagem é um código que permeia a condição humana; é muito difícil encontrar uma agregação humana  relacionada a um idioma. Já a escrita como sistema e interface, é uma tecnologia relativamente moderna. Se existem hoje 10 mil idiomas, só existem 400 escritas e destas somente 12 faladas por mais que um milhão de pessoas.

Compreendo a linguagem como um sistema de signos convencionados que pretendem representar a realidade objetiva para possibilitar a comunicação humana e entendo a escrita como a manifestação gráfica de uma língua, de forma permanente ou em evolução, mas inscrita em um suporte. A escrita se flexiona no tempo.

Nesta relação só a informação inscrita, de maneira  linear ou digital, pode ter lugar no continuum do perceber ao conhecer . O registro pode estar em papel ou papiro em pedras de um sítio arqueológico, na múmia museificada ou em um arquivo domiciliado. A inscrição se revela na plasticidade de qualquer obra de arte insculpida em alguma forma de linguagem e só ela permite a conexão do artista com os receptores. Só acontece se intermediada por uma escrita em uma linguagem que os dois participem.

Nossas mentes forjadas em uma existência oral ainda não lidam bem com os registros da escrita e domar a assimilação pela  tradução do código implica redesenhar as cadeias de pensamento integrando novas conexões neuronais, conexões virtuais estruturas do idioma e qualidades cognitivas.

A percepção de uma escrita é complexa, pois envolve decodificação, recognição e interpretação. Envolve uma configuração mental com a participação de atributos específicos de avaliação, memória, signos, significantes e significados. A sucessão de eventos que se ajustam, para interiorização do significado de uma estrutura escrita exige uma condição de solidão fundamental do receptor. Esta é uma condição de isolamento da consciência para articular o pensamento  e nada tem a ver com a solidão por não estar junto com outros.

A apreensão pela escrita se dá em um momento do presente em confluência com o passado e na perspectiva do futuro. Mas na realidade não objetiva, na realidade virtual, a percepção está em um tempo online com uma velocidade sem distância ou superfície delimitadas e a interiorização acontece em um presente imponderável, pois a ligeireza da coisa toda faz com que passado e o futuro desabem neste presente da interiorização dos significados. Uma vivencia que se dá sem a necessidade de uma presença física e em um presente que é a soma de todos os tempos.

A assimilação da informação é, assim, a finalização de um processo de aceitação do saber como uma passagem, um fluxo de percepções que são amoldadas pela mente e este é um processo que se realiza no espaço de uma subjetividade. É um caminho pessoal e distinguido e revela um ritual de interação entre um sujeito e uma determinada estrutura de informação, gerando uma alteração em seu conhecimento acumulado.

Esta apropriação representa um conjunto de atos voluntários, pelo qual o indivíduo reelabora o seu mundo modificando seu universo de conteúdos simbólicos. É uma criação em convivência com cognições prévias e com sua percepção do mundo. É o inicio do algo que nunca iniciou antes, mas que encadeará sempre uma conseqüência, ainda que, o continuum iniciado não finalize na realização. O conhecimento é que uma onda formada e acabada em  milissegundos espalhando no cérebro partículas inscritas. Tem por isso a evanescência dos fantasmas, algo que se extingue no momento de sua criação.

Para que o conhecimento opere é necessária uma transferência dos significados simbólicos para a realidade dos receptores em uma conjuntura favorável de comunicação. Nesse momento nada é menos total que a interação com a informação inscrita, pois nada é mais subjetivo, privado e individual que a sensação que precede a assimilação. O processo é diferenciado e oculto, para cada receptor e a apropriação é dele, de ninguém mais. É este então, o lugar do conhecimento, a consciência individualizada que apreende um significado que lhe é destinado.

 

Aldo de Albuquerque Barreto
aldo.barreto@gmail.com

Ph.D. em Ciência da Informação pela The City University, Londres, Inglaterra;  Pesquisador sênior do CNPq e Pesquisador titular do Ibict no MCT.

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