Do Blog do Leopoldo Vaz • sexta-feira, 15 de abril de 2016 às 16:36  

 

Falemos sobre “Vinhais ou São Luís ?”- título de artigo, disponível no sítio www.ufjf/clionet, Revista Eletrônica de História do Brasil -, onde discuto a primazia da Vila Velha do Vinhais ser o primeiro núcleo residencial de brancos a se estabelecer em Maranhão – não vamos considerar a Vila de Nazaré (1536), nem as feitorias do Capitão Jacques Riffault (1594), ou do Capitão Gerard (1612),  ou o sítio do Senhor Pinuaut… Iniciemos por 1612, quando é fundada a Colonia.

Fundada a França Equinocial, saíram De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados  de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha. Consta do livro de Claude d’Abbeville, à página 114: “… levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho …”. (grifos meus).

 

É Abbeville quem afirma que os franceses foram distribuídos pelas diversas aldeias existentes na Ilha e que a primeira a ser ocupada, foi a que ficava mais próximo do promontório, onde se localizava o Forte: EUSSAUAP, ou UÇAGUABA, ou a ALDEIA DA DOUTRINA, aliás, VINHAIS…

Capistrano de ABREU esclarece que:

” EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre  José de Morais, está Uçagoaba,   que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107).

 

Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614) estabelecem-se no Maranhão os portugueses, vindos junto com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619:

“A primeira missão ou residência, que fundaram mais  junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha  aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...”. (MORAES, 1987, p.58).(grifos meus)

 

A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990, p. 31)  a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei:

 “… Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão … desta primeira, denominada ‘Aldeia da Doutrina'”.

 

Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão:

 “Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N.S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com  a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia – Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poços, antiga aldeia da Doutrina …”. (MEIRELES, 1977, p.127).

 

COELHO (1990) em seu “Política indigenista no Maranhão Provincial”, ao analisar “o lugar do índio na legislação: a questão da terra”, afirma que ” a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações” e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a ” elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes”. Cita, dentre outros exemplos, que ” a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais”.

GAIOSO (1970, p. 110), ao identificar as “cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania”, afirma que na ilha de São Luís do Maranho – em 1818 -, tem a cidade deste nome e:

“A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes.”.

 

Ora, o caro Mestre há que concordar que a Vila do Vinhais recebeu seus primeiros habitantes brancos em 1612, quando o sr. de Pizieux e alguns franceses que aqui chegaram com Daniel de La Touche alí fixam residência e edificam uma capela -, batizada por D’Abbeville a 20 de outubro do mesmo ano.

E que, em 1615, de acordo com MORAES (1987) ou 1622, no entender de CAVALCANTI FILHO (1990) os jesuitas alí estabelecem sua primeira residência, ou missão, em terras maranhenses.

A Eussauap de D’ Abbeville (1612) é chamada de  Uçagoaba pelos padres Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615) e, a partir de 1622, recebe o nome de Aldeia da Doutrina dos padres Luis Figueira e Benedito Amodei. Em 1º de agosto de 1757 recebe a atual denominação –  Vila do Vinhais.

Querido Professor, se considerarmos a aldeia de Nossa Senhora de Nazaré, seria São Luís, presumivelmente fundada em 08 de setembro de 1612, por Daniel de La Touche, a segunda povoação a ser habitada por europeus na Upaon-Açu ? “Presumívelmente”, porque se considerarmos o que afirma GAIOSO (1970, p. 73), a cidade de São Luís teria sido fundada em 1616, por Jeronimo de Albuquerque, em torno da fortaleza do mesmo nome, e iniciada sua povoação naquela ocasião  pois:

“Livre o Maranhão n’aquelle dia de toda a sugeição franceza [9 de janeiro de 1616, quando Alexandre de Moura se fez a vela para Pernambuco levando consigo o senhor de la Ravardieire], aplicou Jeronimo de Albuquerque  todo o seu cuidado na fundação de huma cidade n’aquelle mesmo sitio; dentro de pouco tempo adiantou consideravelmente a povoação, e reduzindo a sua nova fundação á regular forma de republica, debaixo da proteção de Maria Santissima com o augusto titulo de N. Sra da Victoria, em memoria da que tinha alcançado sobre os Francezes, lhe declarou a invocação de S. Luiz, ou porque estando já tão conhecida aquella ilha pela participação da sua fortaleza, ou porque não quiz confundir o nome com a mudança delle, ou finalmente porque se lisongeava na conservação da mesma memoria, segurar melhor as suas recomendaçoens na posteridade. E como destes dias por diante se entrou a intitular afortaleza com o nome de S. Felipe, he de presumir o fizessem por lizonja á Majestade de Felippe II, a quem então obedecia a monarquia Portugueza.”

 

O que é confirmado por CONDURÚ PACHECO (1968, p. 75), quando afirma que o Forte de São Luís é transformado na cidade de São Luís pois

“repartidas as terras pelos portuguêses, o Capitão-mór Jerônimo de Albuquerque formou logo o seu Govêrno e mandou que mudassem aqueles tugurios em mais agradáveis edifícios, construindo ‘uma bem regulada cidade’ (Moraes, História da Companhia de Jesus no Maranhão, p. 75)”. (grifos meus)

 

Ou, como consta da “Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão”, onde Jacinto de Carvalho afirma ser Jerônimo de Albuquerque, livre a influência de Alexandre de Moura, o fundador de São Luís:

 “deu princípio a uma cidade em o mesmo sítio em que os franceses tinham o seu forte e reparos, por ser sítio muito acomodado, assim para a defesa de inimigos, como por ter bom porto e ancoradouro seguro para navios; fica entre dous rios, dominando a ponta em que está o forte uma espaçosa enseada que faz o mar entre a terra e aponta de Nossa Senhora da Guia e a terra da Ponta da Areia e ilha de São Francisco, a mais abundante de peixes e mariscos que se tem achado em todas a costa do domínio de Portugal”.

 

Ora, é também Bernardo Pereira de BERREDO (1988, p. 116-117) – governador da província do Maranhão de 1726 a 1729 -, quem afirma  que Jeronimo de Albuquerque funda naquele mesmo lugar (FORTE) uma cidade – São Luís do Maranhão :

“Logo que o General Alexandre de Moura saiu da baía do Maranhão, aplicou Jerônimo de Albuquerque o principal cuidado à útil fundação de uma cidade naquele mesmo sítio, obra de que também se achava encarregado por disposições da corte de Madri com repetidas honras justissimanente merecidas: e como o seu zelo, e a sua atividade não sofriam demoras na execução de qualquer projeto, depois de bem premeditados os interesses dele, dentro de pouco tempo adiantou tanto a povoação, que reduzida a regular forma de república, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxenduba, lhe declarou a invocação de São Luís; ou fosse porque estando tão conhecida já aquela ilha pela natural participação de sua fortaleza, se não atreveu a confundir-lhe o nome com a mudança dele; ou porque quis na conservação desta mesma memória segurar melhor a sua nas recomendações da posteridade; e como deste dia por diante acho sempre a invocação de São Felipe na tal fortaleza, me persuado fundamentalmente a que lhe foi posta em lugar da primeira, dando-se desde logo por transferida, por lisonja sem dúvida à magestade de Felipe III de Castela, a quem então obedecia a monarquia de Portugal”.

 

Mestre Moraes, pergunto-lhe: o hoje bairro do Vinhais, seria então a segunda povoação do Maranhão ? Ou seria a primeira a ser habitada por brancos ?

Passemos, agora, à “Igrejinha do Vinhaes”. Servimo-nos, uma vez mais, de Abbeville, que afirma que os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso “haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado“. (grifos meus). Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. D. Felipe CONDURÚ PACHECO (1968, p. 50) informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, “… os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com  as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia…”.

Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão,

“… no meado do século XVIII, conta de 1758,… distante da cidade … Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto  de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos…”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 61).

 

Cesar MARQUES  (1970, p. 632-633),  em seu “Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão”, publicado em 1870, informa sobre Vinhais – freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura,  principiaram a estabelecer residências – ou missões de índios -, sendo a primeira  que fundaram:

“… foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos.

“(…) Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina.

“(…) Fundada pelos jesuítas, parece-nos  haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia  ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. (…) “Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir  às obras  públicas pagando-se-lhes o seu jornal’.

“(…) Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los.

“(… )Em 22 desse mesmo mês  representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. (…) “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então  se chamou aldeia de São João dos Poções.

“(…)  foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (…) Nesse mesmo dia foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antônio Felipe Ribeiro”.

“(…) Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’.

 

Ainda sobre  a igreja existente em Vinhais, MORAES (1989) lembra que a capela de São João dos Vinhais. construída no século XIX (sic),  substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757.

A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Sousza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista do Vinhais, que mandara reedificar:

“Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como desejava um santo Bispo de Milão, se não me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164).

 

No ALMANAK DO MARANHÃO para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de  Manoel  Bernardo Vaz, como  vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. Aparecem, também. como eleitores de Vinhaes, 1. Romão de Ribeiro Monção e 2. José Pedro Ribeiro da Silva, e seus respectivos suplentes, 1. Francisco Raimundo da Costa e 2. Joaquim Jansen Pereira. Do corpo de Alferes, residia no Vinhaes Joaquim Ignacio Cezar de Mello.

Recorremos, uma vez mais, a CONDURÚ PACHECO (1968,  p. 234-235), que informa que  D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” – “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha:

“… Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. ‘Hospedagem ecellente em casa  de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. (…) “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por  D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta… (…) “a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”.

 

À época da nomeação do 19o. Bispo do Maranhão,  D. Antonio de Alvarenga – 1876 -,  era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos.

Estive com o Padre João Francisco Marques, e com os demais membros do grupo português, quando de sua visita à Igrejinha do Vinhais. Fui movido pela curiosidade, como morador do Recanto do Vinhais e membro atuante da “Comissão de Preservação da Igrejinha do Vinhais”, entidade informal, que vem procurando, há dezessete anos, manter em pé aquele monumento histórico. Com recursos da própria comunidade e ajuda dos moradores da Vila Velha do Vinhais, d. Babá à frente.

Tinha dúvidas sobre a presença de Vieira naquela igrejinha. Manifestei-a ao bom Padre. Explicou-me ele, que Vieira preso, fora levado em clausura para “uma Igreja de São João Batista”, e cria ele que era aquela a igreja.

Expliquei-lhe que desconhecia esse episódio, quando escrevi, junto com a Profa. Delzuite, a história de povoação e de sua igreja. Mesmo o Padre Meireles, párodo atual da Igreja de São João Batista de Vinhais, doutor em Teologia, especialista em “Vieira”, jamais havia me falado desse episódio, quando assumiu seu posto e lhe fizemos a entrega da história da igreja.

Pois bem, disse-me Padre João que encontrou essa referência em João Lúcio Azevedo. Que somente esse escritor faz referencia a Vieira ter estado em uma igreja de São João Batista, no Maranhão. Perguntou-me se só existia essa, pois não ?

Sim, à época de Vieira, só existia essa, na Ilha, com a denominação de São João dos Poções… seria a mesma? A Igreja de São João Batista (dos Militares) só fora edificada após a expulsão dos jesuítas, em 1665, por Rui Vaz de Siqueira.

Dada a erudição do Padre JOÃO, e junto com ele, emocionei-me por estar próximo ao altar em que Vieira havia rezado, ao tempo em que contava-nos – a mim, a d. Babá, ao Dr. Luís, e o repórter d’O Imparcial, Paulo Pelegrini – o que teria se passado, observados pelo simpático Manoel de Oliveira, pelo Roberto Tibiriçá, pelo Antônio Gonçalo e pelo -, descobrimos naquela segunda-feira, primo distante -, José Maria Vaz da Silva (a quem, mais tarde, contei a história de nossa família).

Ainda restavam dúvidas. Após nos despedirmos, já próximo da hora do almoço, retornei à minha casa e fui buscar alguns livros em minha biblioteca (sim, tenho uma biblioteca, com livros sobre a História do Maranhão, e são mais de 250…) e lá encontrei em CONDURÚ PACHEDO à página 15, quesitos 20 a 22, referências sobre a prisão de Padre Antônio Vieira e sua expulsão do Maranhão:

“… a 17 de julho (de 1661), o povo do Pará aprisiona o Pe. Vieira e seus co-irmãos e os envia para o Maranhão, de onde todos os jesuíta são expulsos e embarcados para Portugal, a 8 de setembro de 1661…”.

 

Nenhuma referência aos fatos narrados pelo Padre João…

Vamos encontrar em “Os Jesuítas no Maranhão”, do Pe. José Coelho de Souza (1977), à página 69 sobre os disturbíos de 1661, que começaram na cidade de São Luís, e se estenderam até Belém, onde seus moradores haviam aprisionados os padres do Colégio de Santo Alexandre.

Vieira, que do Pará dirigia-se ao Maranhão, foi surpeendido pela novidade nas praias de Cumã. Escreve dalí a D. Afonso VI. Volta ao Pará.

Vieira não consegue um acordo com a Camara, transformando-se a agitação em motim, e a 17 de julho de 1661 o Colégio de Santo Alexandre é assaltado

“ e Vieira e os demais padres, residentes na cidade (de Belém), são presos e levados para casas particulares. Também os missionários do Gurupá e Gurupi, vieram presos para a cidade (de Belém).”

 

Tal como nos relatara o Padre João. Só que esses acontecimentos, se deram em Belém do Pará, e não em São Luís:

Vieira foi recluso na ermida de São João Batista, donde foi transferido para uma caravela e dali remetido para o Maranhão e de São Luís para Lisboa”.

 

Realmente, Vieira foi recluso na ermida de São João Batista, só que em Belém, e não em São Luís, conforme afirma o erudito português. Perdoe-me, Padre João…

Esperamos que mesmo assim, a “nossa Igrejinha do Vinhais” venha a ser utilizada, quando das filmagens desse episódio, pois à arte, tudo é permetido, mesmo “falsear um pouco” a História.

 

 

Bibliografia:

d’ ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e 

terras circunvizinhas. Belo Horizonte : Itatiaia; São Paulo :      EDUSP, 1975.

BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Estado do Maranhão. Rio de Janeiro :

Tipografia Ideal, 1988.

CARVALHO, Jacinto. Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão. São Luís : ALUMAR,

1995.

CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A questo jesuítica no Maranhão      Colonial. São

Luís : SIOGE, 1990.

COELHO, Elizabeth Maria Beserra. A política indigenista no Maranhão      Provincial. São

Luís : SIOGE, 1990.

GAIOSO, Raimundo José de Sousa. Compêndio histórico-político dos Princípios da lavoura

do Maranhão. Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970.

MEIRELES, Mario M. História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão. São       Luís :

UFMA/SIOGE, 1977.

MEIRELES, Mario. França Equinocial. 2. ed. São Luís : SECMA; Rio de Janeiro :

Civilização Brasileira, 1982.

MARQUES, Cesar Augusto. Dicionário histórico-geográfico da Provincía do Maranhão. São

Luís : Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).

MORAES, José de. História da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e

Grão-Pará . Rio de Janeiro : Alhambra, 1987.

MORAES, Jomar. Guia de São Luís do Maranhão. São Luís : Legenda, 1989.

PACHECO, D. Felipe Condurú. História eclesiástica do Maranhão. São Luís :

Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968

REGO, A.  Almanak do Maranhão com folhinha para o anno de 1849 (2o. anno). São Luís :

Typografia Maranhense, 1848. (Edição fac-similar da AML, 1990).

SOUZA, José Coelho de. Os Jesuítas no Maranhão.  São Luís : Fundação Cultural do

Maranhão, 1977. Vol. II da Coleção Antonio Lopes.

 

[1] Publicado em “O IMPARCIAL”, São Luís, Domingo, 11 de julho de 1999, Caderno Impar, p. 8. (com chamada de 1ª página)

[2] MORAES, Jomar, in “O ESTADO DO MARANHÃO”, São Luís, quarta-feira, 7 de julho de 1999, Caderno Alternativo, p. 8., (Hoje é dia de … Jomar Moraes)

[3] LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ é professor de Educação Física do CEFET-MA;  Especialista em Recreação e Lazer;; Especialista em Metodologia do Ensino Superior; e Mestre em Ciência da Informação.

[4] Atualmente, www.efdeportes.com

 

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