Muito embora Dejard Martins se refira a um primeiro Torneio Maranhão-Piauí-Pará de Futebol, com as participações do Internacional Futebol Clube (Piauí) e do Paysandu Sport Club (Pará) – patrocinado pelo Foot-ball Athletic Club – o que houve foram jogos distintos, entre Paysandu e FAC, primeiro, depois Internacional x Paysandu, e depois Internacional x FAC, pois a delegação do Piauí não chegou a tempo para o início das competições (O ESTADO, 11 de dezembro de 1917).

 

O Pará – que no princípio do século sofreu considerável influência britânica, dada as inúmeras empresas ali sediadas, para a exploração de madeira e borracha – conheceu o futebol bem antes que o Maranhão. Os jogos eram realizados no Largo de São Brás, destacando-se duas equipes, a do “Pará Foot-ball Club”, constituído por elementos da colônia britânica; e o “Pará Club”, formado por ingleses e gente da terra. Em 1906, o estado vizinho já tinha a sua “Pará Foot-ball Leagne”, porém logo se dissolvendo, surgindo, em 1908, a “Nacional Foot-ball Association”, composta por quatro clubes. Nesse mesmo ano, é fundada a Liga Paraense de  Foot-Ball, realizando-se o primeiro campeonato de futebol, aparecendo neste, os Clube do Remo e o “Time Negra” – que a partir de 1914 viria a ser o Paysandu Sport Club. (MARTINS, 1989, p. 167; VALLINOTO e DaCOSTA, 2000; DaCOSTA, 2000).

 

Já no Piauí, o futebol surgiu em Parnaíba, por volta de 1910/11, sendo o primeiro clube criado o Internacional Foot-ball Club, constituído por jovens estrangeiros e brasileiros. O campo foi construído em um terreno da Casa Inglesa. Em 1913, surgiu o seu grande rival, o Parnaíba Sport Club, fruto de uma dissidência dos “internacionais”. Quando os clubes chegaram ao número de seis, foi fundada a Liga Esportiva Parnaibana e o seu primeiro torneio foi realizado em 1915 (MARTINS, 1989, p. 172).

 

O Internacional jogou duas vezes contra o Paysandu, perdendo ambas as partidas por 15 x 0 e 9 x 0. Já contra o FAC, o resultado foi FAC 8 x 2 Internacional; a segunda partida, Internacional 4 x 1 FAC.

 

Os jogos entre FAC e Paysandu terminaram, FAC 0 x 7 Paysandu, o primeiro. Havendo empate em 2 x 2 no segundo. Em 11 de dezembro, o Internacional ainda estava sendo esperado…

 

Nesse ano de 1917, o esporte em Maranhão se consolida. Além do surgimento de inúmeras outras associações esportivas e de clubes de futebol, inicia-se o intercâmbio com os dois estados vizinhos, com a visita do Clube do Remo, no início do ano, e de um torneio envolvendo o Paysandu, do Pará, e o Internacional, da cidade de Parnaíba-Piauí, no final do ano. Começam as “importações” de jogadores …

 

Sem dúvidas, o fato mais importante para a consolidação do foot-ball association em Maranhão – e de outras modalidades esportivas, foi o surgimento da Liga Maranhense de Foot-Ball, nos meados do ano. Um leitor, usando o pseudônimo de “Texas”, escreve ao jornal O Estado, relatando o acontecido, ao mesmo tempo em que fazia um breve histórico da implantação do futebol em São Luís: “Há um punhado de anos, que já ia longe”, ouvia falar de esportes no Maranhão, especialmente do foot-ball, “chegando mesmo a crer que ele existisse a esse tempo, mas” …

 

Afirma Texas que, se ele – futebol – existisse, era atacado por uma grande debilidade que o impossibilitava de progredir. Projetavam-se alguns matchs entre teams dos dois clubes existentes, mas por um motivo ou outro, não assumia o jogo as excelentes projeções que criavam. “Texas” condenava os despeitados que diziam, boa a boca, que “”… o futebol era um jogo bruto e que não merecia ser cultivado com tamanho afinco, por uma quantidade regular de moços patrícios”.

 

Viam um jogo bruto porque uma pequena parcela de rapazes metiam-se a executa-lo sem método algum, cometendo as maiores extravagâncias e daí sofrendo as conseqüências desagradáveis. Mas, por que isso ? – perguntava-se. Os únicos culpados era esses mesmos rapazes, que se entregavam ao esporte sem uma regra sequer que os guiasse. “Passada essa temporada de desânimo, surgiu entre nós, com grandes surpresas, assentado em bases sólidas um excelente clube esportivo”, que, transpondo todas as barreiras que haviam sido edificadas para embaraçar os passos do foot-ball começou logo “arrebanhar para o seu sítio uma porção de rapazes dispostos a trocar e a desenvolver o sensacional jogo”.  D’hai existir a temporada sportiva maranhesne, cujo pavilhão foi valentemente desfraldada pelo F. A. Club, que ainda vive, são e forte”   com os maranhenses começando a compreender o verdadeiro desenvolvimento “não só o intelecto, mas também o físico, através da prática do esporte”, o futebol começa a servir como o elemento aglutinador da juventude. Os clubes começam a surgir, tornando-se cada vez mais chic e atraindo a atenção das senhoritas. O foot-ball deixava de ser uma coisa bruta. O Maranhão contava já com nove clubes constituídos oficialmente.

 

 “Mas faltava ainda uma medida alta que merecia ser posta em prática, com urgência, para que o desenvolvimento do jogo bretão, aqui, fosse mais além. E essa medida não se fez por esperar muito. Não se fez esperar muito, afifirmam, porque ahí a temos, unificando, num grande abraço maternal, todos os clubes locais que lhe são filiados: –    a Liga Maranhense de Foot-Ball”. (O ESTADO, 16 DE ABRIL DE 1917). Ao final desse período – a I Guerra Mundial estava terminando – estabeleceu-se uma sintonia entre a quebra da identidade colonial e a construção da identidade nacional, coletiva, cultural, brasileira  “… no surgimento dos rituais comunitários, responsáveis pelas transformações de sensações encadeadas por impulsos amplos, que vêm de fora: do remo, do futebol, as corridas de carro, o carnaval, o espetáculo da emoção e o delírio das multidões” (KOWALSKI, 2000, p. 392).

 

Para esse autor, o esporte é então concebido como uma escola de coragem e de virilidade, capaz de ajudar a modelar o caráter e estimular a vontade de vencer, que se conforma às regras, que adota um atitude exemplar – o fair-play, jogo justo e honesto, comportamento cavalheiresco.  “Por outro lado, as exigências econômicas e culturais para praticar as novas modalidades esportivas … reforçariam ainda mais a conotação de que esta prática cultural se afirmava como um signo de distinção social”. (p. 393).

 

É nesse sentido específico que certos esportes aparecem como elemento de diferenciação do estilo de vida. A prática esportiva torna-se um indicativo de pertencimento social, tendo em vista que a prática de certas modalidades (tênis, crickt, crockt, remo) estava condicionada, em Maranhão,  à participação em associações esportivas (os clubs), enquanto outras (foot-ball) vinham alcançando uma maior difusão social, irradiando-se por todos os lados.

 

 

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