Mestre Índio do Maranhão – sua bênção – sobre a postagem no Facebook, do uso de golpes de Capoeira nos confrontos do MMA – https://www.facebook.com/%C3%89-a-Capoeira-1397607323821196/?pnref=story – em meu livro CRONICA DA CAPOEIRAGEM – https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu/237 -, como já coloquei em sua página alguns aspectos dessas semelhanças e usos, aqui os reforço:
Mestre André Lacé, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas europeias e asiáticas. Para Lacé Lopes (2006), a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc. – sem dúvida, é um bom exemplo.
Já em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e “batiam” o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão.
José Ramos Tinhorão (2001), no capítulo “Os negros na origem do fado-canção em Lisboa” revela ter havido rodas de fado que funcionavam como as rodas de pernada dos crioulos do Brasil: era o chamado ‘fado batido’, clara referência à antiga umbigada africana e em que um dançarino ‘batia’ (aplicada a pernada) e o outro ‘aparava’ (procurava neutralizar o golpe para não cair).
Batuque é o baile, conforme descrição de um naturalista alemão, George Wilhelm Freyreiss que faleceu no sul da Bahia, em uma viagem que fez a Minas Gerais em 1814 -1815 em companhia do barão de Eschwege. Assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]:
“Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.”
Abro um parênteses, Mestre: as descrições não lembra a Punga, praticada no Maranhão, e que Mestre Marco Aurélio, Serginho e Patinho tentam resgatar???
Segundo João Mina (citado por D´ÁVILA, 2006), grande batuqueiro e capoeirista baiano que se mudou para o Rio de Janeiro: “o Batuque era praticado por negro macumbeiro, bom de santo, bom de garganta e principalmente bom de perna para tirar o outro da roda”. Todos os dias no Morro da Favela (onde nasceu o samba, no Rio) havia Batuque, pernadas, pessoas caídas no chão até que surgisse a polícia. Na chegada dela, o batuque rapidamente virava meio dança lenta, meio ritual. As mulheres dos batuqueiros, para disfarçar, entravam na roda (tal qual a gira dos candomblés) e, num batuque mais lento, mole, com remelexos, trejeitos sensuais e umbigadas (= semba, em Luanda) no sexo oposto, – sendo estas consideradas o ponto culminante da dança -, demonstravam estar se divertindo. Segundo Elias Alexandre da Silva Correia, “o batuque é uma dança indecente que finaliza com umbigadas”.
Mais um parênteses: não lembra o Tambor de Crioula? antes Tambor de Crioulo = punga… Marco Aurélio fala dessa mudança, quando da lei de 1890, que criminalizou a Capoeira… as mulheres entravam na roda, dando a umbigada, enquanto os homens passavam para os tambores, como se apenas acompanhassem…
Assim nasceu o samba-de-roda na Bahia. Mistura de um batuque com as mulheres das rodas dos candomblés, com outro batuque representado pelos homens das capoeiras.Quando a polícia se retirava, recomeçava o batuque bravo quando caprichavam na capoeiragem, com pernadas violentas, soltando “baús”, “dourado”, “encruzilhada”, “rabo-de-arraia”, que tiravam os conflitantes da roda. Corte difícil de defender para um batuqueiro era o da “tiririca” com o seguinte canto puxado pelo mestre: “tiririca é faca de cortar / quem não pode não intima /deixa quem pode intimá”. Um pé ficava no chão e o outro com violência, no pé do ouvido do adversário. Em conseqüência da tiririca = faca, surgiu no samba-de-roda o raspado de prato e “faca”, do modo dos reco-recos raspados nas batucadas (D´ÁVILA, 2006).
Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola.
Encontramos em Angola um estilo musical popular – O Semba[1] -, que significa ‘umbigada’ em quimbundo – língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assente fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.
É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.
Catunda (1952) ressalta que na capoeira baiana […] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestando-lhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte:
“A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 , […] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”.
Em “Dinâmica do Folklore” (1950) Edson Carneiro[1] afirma que o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário – a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo.
Já Corte Real (2006) referindo-se ao batuque afirma que o mesmo foi uma prática competitiva presente nas festas de largo da Bahia. Como a capoeira, teria sido perseguido pela repressão policial decorrente do código penal de 1890.
Letícia Vidor de Souza Reis, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o “batuque baiano” era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana:
FOTO: Bimba y Cisnando – Nascido Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba (1900-1974) era filho de Luís Cândido de Machado, caboclo de Feira de Santana, e Maria Martinha do Bonfim, negra do Recôncavo. Segundo Héllio Campos, Bimba deu os primeiro passos na capoeira aos 14 anos, com o pai, que foi campeão de batuque, e com Mestre Bentinho, africano que era capitão da Companhia de Navegação Baiana.“
LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006.
LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.
http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier Rubiera para Sala de Pesquisa – Internacional FICA
TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f=false
FREYREISS. Georg Wilhelm. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.
Ver também http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss.
PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) – VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm)
D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM – Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional
São Bernardo do Campo – SP. Brasil – 9 a 11 de outubro de 2006 – Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf
CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967
http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdfolclorenobrasil.htm)
CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos— Revista de Cultura Moderna, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18.
http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba
http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629
CORTE REAL, Márcio Penna. AS MUSICALIDADES DAS RODAS DE CAPOEIRA(S): DIÁLOGOS INTERCULTURAIS, CAMPO E ATUAÇÃO DE EDUCADORES. Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Matias Fleuri. In [Conexões da Capoeira Regional] batuque, mensagem eletrônica enviada por Javier Rubiera (capoeira.espanha@gmail.com em sábado, 7 de novembro de 2009 16:50:26 Para: leopoldovaz@elo.com.br
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf
http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf
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