Cevnautas, vale a pena conferir esse trabalho de mestrado defendido no Instituto de Psicologia da USP. Laercio

Atletas vivenciam a aposentadoria como luto

Por Lara Deus - lara.deus@usp.br  Publicado em 20/setembro/2013 

Foram ouvidos seis ex-atletas sobre a transição para a aposentadoria

O momento da aposentadoria de esportistas profissionais gera um sentimento semelhante ao luto causado pela perda de uma pessoa próxima. Isto acontece pela falta de preparação psicológica ao longo da carreira destas pessoas, que, por muito tempo, têm o esporte como centro de suas vidas. Em seu mestrado no Instituto de Psicologia (IP) da USP, a psicóloga Daniela Selingardi observou que, ao aposentar-se, atletas buscam apoio para recomeçar profissionalmente, mas acabam, em geral, não procurando ajuda para organizar as emoções.

Para profissionais do esporte, o momento de parar é precoce, quando comparado às carreiras em geral. Os treinos diários desgastam o corpo, que pode sofrer lesões ou simplesmente não apresentar os mesmos resultados em poucos anos. “Eu me preocupava com o ser humano que horas é tratado como ídolo, mas é ser humano”, conta a psicóloga. Talvez devido a esta característica peculiar da carreira atlética, a aposentadoria seja encarada como uma perda tão significativa, chegando a ser sentida como um luto. Para a pesquisa, Daniela entrevistou seis ex-atletas de diversas modalidades e analisou os discursos com um método qualitativo. Um deles relatou que os sentimentos e pensamentos decorrentes da aposentadoria perduraram por anos.

A necessidade de se reinventar profissionalmente é clara, mas ela constatou que o processo de transição para a aposentadoria também é útil para que os esportistas lidem com questões emocionais. Apesar disso, as entrevistas indicaram que a maior procura de apoio é relativa ao recomeço da vida profissional. “Nem o forte vazio sentido pelos entrevistados foi suficiente para que eles recorressem a psicólogos que os auxiliassem a lidar com o momento de perda, na maioria dos casos”, observa Daniela. Sua pesquisa, que deu origem à dissertação de mestrado Término e recomeço: da carreira atlética à aposentadoria, foi orientada pela professora Maria Júlia Kovács.

No momento das entrevistas, os ex-atletas tinham se aposentado havia 10 anos, em média. A psicóloga fez perguntas que os estimulassem a falar sobre como se sentiram no período de transição da carreira atlética à aposentadoria. Depois da transcrição do discurso, foi feita uma análise, com inspiração fenomenológica, ou seja, buscando “uma aproximação da compreensão do fenômeno, que foi a experiência da transição para a aposentadoria do atleta”. A psicóloga detectou temas recorrentes em cada fala, como a relação com o corpo, o destreinamento físico e psicológico e os agrupou. Ela também fez considerações sobre como os ex-atletas se portavam em cada entrevista, e o que isto poderia significar.

Preparação para recomeço
Daniela trabalhou como psicóloga esportiva e garante que “em outros países, a psicologia do esporte entra muito na formação do atleta”. Uma das questões que motivou o estudo foi se havia planejamento sobre a hora da aposentadoria ainda durante a carreira. Ela acredita que a preparação emocional para momentos como este é melhor aproveitada se feita no início da vida esportiva. Isto porque, quando profissionalizados, os esportistas ou não têm tempo para este tipo de trabalho, ou já têm consolidada uma forma de tratar do lado emocional. “É aí que você pode ajudar a formar o atleta e ajudá-lo a lidar com uma série de questões bem mais do que quando já está no profissional”, explica.

A psicóloga observa que, apesar da aposentadoria ser um período sentido como morte, é também um momento em que se renasce em busca de vida. Daniela explica que “a maioria dos atletas demonstrou ter vivenciado sentimentos contraditórios, mas reencontrado o prazer com o recomeço em nova atividade”. Ela ressalta que é a partir da compreensão do processo de transição que o atleta pode se organizar nas questões práticas e emocionais, “afinal, a vida é término e recomeço”, comenta.

Mais informações: email daniselingardi@usp.br oudanipsi_9@hotmail.com, com Daniela Selingardi      Fonte com fotos e links: http://www.usp.br/agen/?p=153460

 

Comentários

Por Laercio Elias Pereira
em 20 de Setembro de 2013 às 20:09.

Cevnautas, depois de postar a nota saí pra uma bisbilhotecada na USP e acabei encontrando a dissertação. Mais uma para o cevteses:

http://cev.org.br/biblioteca/termino-recomeco-carreira-atletica-aposentadoria/

Laercio

Por Edison Yamazaki
em 29 de Setembro de 2013 às 01:01.

Laercio,

Lí toda a tese da Daniela. Achei interessante os nomes fictícios dos entrevistados e os dados verdadeiros dos seus perfis.

Deu para notar que a passagem de atleta para aposentado não é fácil, principalmente na idade em quem passam para o outro lado.


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