Os estudiosos do futebol já sabem há muito tempo que a habilidade física e a noção de bola não são suficientes para alguém se tornar um jogador de futebol de elite. Um terceiro componente vital geralmente mencionado é a “inteligência de jogo”, que é a habilidade de “ler”a jogada, estar sempre no lugar certo na hora certa e participar dos gols. Muita gente tem considerado a inteligência de jogo quase como uma habilidade mágica, algo impossível de se medir.
Os cientistas do Karolinska Institutet, entretanto, afirmam que não há nada de mítico na inteligência de jogo e que ela pode ser compreendida de uma perspectiva científica. Trata-se, na realidade, de um exemplo do que os cientistas cognitivos chamam de funções executivas, que engloba a habilidade de ser imediatamente criativo, de enxergar novas soluções para problemas, de mudar de tática rapidamente e de revisar comportamentos anteriores que comprovadamente não funcionaram.
No estudo publicado pelo grupo de cientistas, foram feitos testes de certas funções cognitivas em jogadores de futebol da primeira e segunda divisão da Suécia, totalizando 57 jogadores de elite. Os cientistas descobriram que os jogadores de futebol das duas divisões tiveram um desempenho muito acima da média da população em geral nos testes de funções executivas. E também que os jogadores da primeira divisão tiveram resultados muito melhores nesses testes do que os da segunda divisão.
O próximo passo foi comparar os resultados desses testes com o desempenho dos jogadores em campo. Os cientistas acompanharam vários desses jogadores por alguns anos e registraram o número de gols e de assistências de cada jogador. Assim, cada jogador recebia pontos de acordo com seu desempenho em campo.
Uma clara correlação apareceu entre os resultados dos testes de funções executivas e o número de pontos obtido em campo (depois de corrigir os dados de acordo com a posição do jogador e idade). Desta forma, ficou demonstrado que os melhores jogadores em campo também tinham o melhor desempenho em funções executivas.
O investimento em jogadores de futebol é um negócio arriscado, onde faltam ferramentas preditivas. Esse estudo sugere que a seleção de futuras estrelas deve incluir não apenas a avaliação da capacidade física, de controle de bola e quão bem o atleta desempenha no presente. Os dados sugerem que a avaliação das funções executivas com testes neuropsicológicos validados pode estabelecer se um jogador tem a capacidade de atingir o topo no futebol, alterando a forma com que os talentos são recrutados, ou seja, passando a ser recrutados também pelos seus cérebros.
É por isso que os jogadores de futebol devem tomar muito cuidado com seus cérebros, pois estudos anteriores demonstraram que cabecear a bola repetidamente aumenta o risco de comprometimento cognitivo, ou perda das habilidades cognitivas, sintoma similar ao de quem sofre um traumatismo craniano leve.
Se você quer melhorar suas funções executivas, lembre-se que as habilidades cognitivas podem ser desenvolvidas através do treinamento, assim como as habilidades físicas. O Cérebro Melhor é a primeira academia online para o cérebro, onde você pode treinar as habilidades de memória, linguagem, atenção, visão espacial e também o raciocínio lógico, que está associado às funções executivas. Experimente já!
Abraços!
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Edison Yamazaki
em 28 de Maio de 2012 às 02:48.
Rafael,
Acredito sinceramente que o sistema atual de recrutar jogadores é arcaico e falho, além de ser baseado demasiadamente no empírico. Mas, por outro lado, não acredito que temos condições de analisarmos tudo cientificamente, baseados em gráficos, pesquisas, estatísticas, etc. Acho que a utilização da ciência para detecção de atletas com potencial olímpico ainda está longe de acontecer, se é que um dia acontecerá.
No futebol, onde muito é improviso, é praticamente impossível prever até onde pode chegará um pretendente a atleta de elite, mesmo com todos os testes existentes. O que tenho certeza, e isso baseado na "minha observação empírica", é que o grau de instrução geral e o conhecimento (consciente ou não) motor do próprio corpo geram jogadores acima da média. A instrução serve para que o atleta entenda a proposta, as metas traçadas e o conhecimento corporal para que saiba tirar proveito dos movimentos necessários para superar os obstáculos.
Acho válido todo e qualquer estudo que nos aproxime de normas e conteúdos que nos permitam antever quem serão os futuros atletas, mas acho que isso não vai acontecer, porque o ser humano é uma máquina complexa onde nenhuma planilha ou método conseguirá dizer quem são os mais aptos, sem falar em aspectos poucos palpáveis como a motivação, a busca por objetivos, a persistência, resiliência, visão panorâmica, etc.
Acho ainda que a diferença ainda está num bom método de treinamento, muita sensibilidade para avaliar os candidatos, bom senso na hora de definir a carga e a intensidade, a dedicação, e junto de tudo isso, um pouco do talento inato que todos nós carregamos para alguma coisa.
Abraços,
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Roberto Affonso Pimentel
em 28 de Maio de 2012 às 09:32.
O tema sugere "Como pensam e aprendem as crianças" título do livro do psicólogo David Wood. Poderíamos dizer que estamos conversando então em "Como Aprender a Ensinar".
A Psicologia do Esporte torna-se mais abrangente do que simplesmente voltada para o futebol. Todavia, estudar como se processa a Formação de um atleta de futebol há que solicitar muita ajuda de pesquisadores confiáveis. E, ainda assim, apreciar na prática "com olhos de ver" por muitos anos o que ocorre. Com certeza existe farta literatura sobre o tema e sugiro que leiam-nas todas para se conseguir traçar o perfil (ainda não ideal) de nossos ensinamentos práticos, afinal a Educação está sempre em movimento.
A experiência citada revela que o grupo pesquisado era composto de suecos, por isto lembrei-me de um fato ocorrido comigo em Ronneby, Suécia, em 1975, durante o 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol promovido pela FIVB. No amplo hotel em que fomos hospedados havia enorme área de lazer e chamaram-me a atenção dois locais de prática esportiva destinada exclusivamente a crianças: uma mini quadra de tênis e um grande tabuleiro de xadrez, instalado no solo, suas peças medindo talvez 50cm de altura. Os praticantes tinham que carregá-las com ambas as mãos a cada jogada. As dimensões do tabuleiro, não me lembro, eram compatíveis com o tamanho das peças, lembrando que é constituído de 64 casas.
Como também eu aprendi a jogar xadrez em pequeno, acabei encontrando um excelente texto sobre o assunto e sua interpretação para aplicação nos esportes. Então, dêem uma olhadinha em www.procrie.com.br/xadrezevoleibol/ e percebam uma das facetas de como funciona o cérebro humano. Também para contribuir na Formação de futuros atletas "de elite", é imprescindível a leitura para discussão apresentada sob o título Teoria vs Prática, em que comento o trabalho do mestre João Crisóstomo intitulado Volei vs. Volei.
Aliás, o Edison estará diante de uma experiência singular no Japão, pois ensina jovens de 15-16 a jogar futebol. Com um detalhe importante: todos "rejeitados" de uma peneira clubística. Certamente, dentro de algum tempo poderá ilustrar-nos com um depoimento sensível de sua prática pedagógica e metodológica. E mais uma vez, peço perdão, indico a leitura no Procrie de "Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizado (I, II e final).
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Edison Yamazaki
em 28 de Maio de 2012 às 20:15.
Futebol é uma discussão sem fim tamanho o grau de complexidade existente. As capacidades físicas, a inteligência de jogo, as qualidade técnicas, o emocional e mais algumas outras coisas, são assunto para meses.
Como escrevi acima, apesar dos vários testes existentes para detecção de talentos, dos inúmeros estudos sobre metodologia de ensino, superação, etc., ainda continuo acreditando que o alicerce disso tudo é a capacidade do professor de Educação Física. As pesquisas nos ajudam a formar uma idéia mais ampla do que ocorre em nossa área de atuação, mas acredito que tudo é pouco em se tratando de esporte e educação.
O Rafael nos apresenta um estudo feito na Suécia que é muito válido, mas acredito representar apenas uma parcela do que pode ou não interferir na formação de um atleta de alto nível. Se for no futebol, tudo fica ainda mais complicado.
Mas esquecendo um pouco os jogadores mais promissores, fico pensando nos 95% que ficam à deriva nas inúmeras escolinhas e clubes existentes. Como será que ficam o "emocional" deles? Será que existe algum estudo sobre os que foram "reprovados"?
Lembro de uma entrevista onde o Cafú (capitão em 2002) diz que foi reprovado cinco ou seis vezes em alguma peneiras e mesmo assim persistiu. Todos sabemos que ele nunca foi um primor de técnica, mas chegou onde chegou. Teve alguma "força emocional" que o empurrou ou foi pura falta de opção. O atacante Grafite só chegou ao profissional com mais de 20 anos e nunca passou por nenhuma categoria de base. O mesmo aconteceu com o Liédson, hoje no Corinthians, que só despontou aos 21 anos. Estranho esse mundo do futebol.
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