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Vigorexia: o problema da forma física acima da saúde
Ter um corpo perfeito é prioridade para milhões de pessoas ao redor do mundo que querem ficar dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela mídia e pela sociedade. Algumas pessoas transformam esse objetivo em escravidão. A chamada vigorexia é a preocupação exagerada com a forma física. Associa beleza com músculos definidos e pode estar ligado a problemas de personalidade e a transtornos alimentares.
O transtorno não tem relação com a prática regular e saudável de esportes, nem com o fisiculturismo, que é entendido como a prática de exercícios físicos dirigidos ao excessivo desenvolvimento dos músculos. Mas é importante observar: entre os seguidores do fisiculturismo pode haver diversas pessoas com vigorexia.
Enquanto a anorexia e a bulimia nervosas são mais frequentes em mulheres, a vigorexia afeta mais os homens que desejam desenvolver seus músculos, que se enxergam fracos ou que tentam, à todo custo desenvolver um corpo que eles acreditam ser perfeitos.
Comportamento anoréxico pode estar mascarado
“Por trás disso, na verdade há um comportamento anoréxico. Ao invés de não comer ou forçar o vômito, esses indivíduos adotam hábitos alimentares altamente restritivos, como os vistos na ortorexia [leia mais a respeito aqui]. Mas existem certas características desse transtorno que fazem com que os homens sejam mais suscetíveis a esse tipo de comportamento”, diz Raphael Cangelli Filho, psicólogo clínico do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da FMUSP e membro da equipe do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim).
Homens jovens, sem maturidade e com baixa autoestima são principais vítimas da vigorexia, mas os casos entre as mulheres têm sido mais frequentes. “Esses indivíduos não definem os limites. O transtorno, muitas vezes, se assemelha aos casos de jogo patológico. Eles criam uma sistemática de exercícios, pesos e medidas e tentam o tempo todo chegar a um limite superior do alcançado até então”, explica Cangelli Filho.
“A quantidade de pesos usados aumentam o tempo todo, ou então o volume do braço precisa ser medido e comparado ao de um outro atleta, e então superado. É uma obsessão sem fim e cujo propósito se fecha em si mesmo: um corpo mais definido, mais volumoso, mais potente. É uma competição consigo mesmo, e a saúde, normalmente, é deixada de lado.”
Todo sacrifício é pouco
Indivíduos vigoréxicos consideram que todos os sacrifícios são pouco para conseguir um corpo perfeito. É uma corrida sem fim, porque a imagem vista no espelho é sempre a de uma pessoa com menos músculos e sem qualquer atrativo físico, e que precisa de mais “malhação”.
Essa corrida para obter o corpo perfeito começa com dependência doentia da academia e da prática de esportes, com mudança de dieta, baseada em proteínas e carboidratos e, frequentemente, com o consumo de anabolizantes e esteróides.
Mesmo assim a auto-estima não fica estabilizada, e a necessidade de fazer atividade física o tempo todo afasta ainda mais o indivíduo dos amigos, da família, e de outras atividades sociais. Essas pessoas podem se tornar ainda mais introvertidas, com um discurso repetitivo sobre assuntos ligados ao corpo, e o círculo social se fecha ainda mais em torno dos locais das práticas de atividades físicas, como academias e clubes.
“Isso pode gerar um ciclo negativo. Estar em companhia de pessoas que só falam desse tipo de assunto pode levar o indivíduo vigoréxico a uma escalada de métodos para tentar ter um corpo cada vez mais ‘perfeito’, ou da forma que ele imagina ser a perfeição. É um reforço constante na sua obsessão”, explica Cangelli Filho.
Deterioração da saúde física
Ao contrário do que se pode pensar inicialmente, uma pessoa com vigorexia não está fisicamente saudável. Ossos, tendões, articulações e músculos sofrem consequências do exercício excessivo, e as lesões são frequentes.
A alimentação dos indivíduos vigoréxicos, normalmente é pobre em gorduras e rica em carboidratos e proteínas – uma fórmula repetida à exaustão pelas academias como sinônimo de sucesso para se obter mais massa muscular – pode causar transtornos metabólicos, que se agravam com o uso de anabolizantes e esteróides ou mesmo outros produtos como termogênicos. Problemas cardíacos, renais e hepáticos, retenção de líquidos e atrofia testicular são apenas alguns dos distúrbios associados à vigorexia.
Procurar ajuda
Geralmente, a vigorexia afeta homens entre 18 e 35 anos, mas em muitos casos os problemas que levam à obsessão pelo desenvolvimento dos músculos começam na puberdade. “Esses transtornos se desenvolvem especialmente no início da adolescência, uma fase também ligada ao desenvolvimento da sexualidade”, afirma Cangelli.
Resgatar a autoimagem é fundamental para a pessoa com vigorexia. Tratar de recuperar a imagem corporal e modificar certos comportamentos e hábitos para poder se aceitar de novo, são os passos iniciais para um processo de cura. O tratamento psicológico deve ser acompanhado de orientação médica e nutricional para um reaprendizado alimentar e a ênfase na importância de deixar de lado produtos como anabolizantes e esteróides.
A atividade física não deve ser cortada, é preciso reduzir gradativamente o tempo e intensidade dos exercícios como forma conjunta do processo de tratamento, mas acompanhado por um profissional de educação física. “Problemas como esse devem ser tratados de forma multidisciplinar. Isso é importantíssimo para a reversão do quadro e melhora da saúde do indivíduo a longo prazo”, finaliza Raphael.
Para obter mais informações, acesse: AMBULIM - Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo www.ambulim.org.br ou ligue para (11) 3069-6975.
por Enio Rodrigo
http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2009/12/10/vigorexia-o-problema-da-forma-fisica-acima-da-saude/
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