Resumo

Pautado em uma metodologia estritamente hermenêutica, a partir do conceito de tédio na filosofia de Pascal (1623-1662), propomos uma reflexão acerca de como tal conceito, em nossa perspectiva, nos permite compreender o modo como, na contemporaneidade, nos relacionamos com as práticas de lazer. Ao estabelecermos um diagnóstico da contemporaneidade, poderíamos afirmar que vivemos tempos pós-modernos; de uma modernidade líquida; em que numa sociedade excitada as dinâmicas das atividades humanas, entre elas as práticas de lazer, se configuram de um modo específico quando perspectivadas frente a outros momentos históricos – seja na Grécia antiga, na Idade Média ou na Modernidade, nós humanos haveríamos nos relacionado com o mundo de um modo distinto às peculiaridades contemporâneas. Tal noção reivindica que este modo específico de experiência no mundo perpassa-atravessa nossas ações dinamizando o modo como nos relacionamos, propriamente, com as coisas no mundo e nele agimos. Deste modo, nesta dinâmica também estaria inserido o lazer, suas práticas e o modo como são pensadas, promovidas e oportunizadas – em outras palavras: a dinâmica de produção e consumo da contemporaneidade, que também atravessa as práticas de lazer, seria própria desse nosso tempo e poderia ser de mesmo modo diagnosticada. No entanto, ao nos questionarmos acerca daquilo que propriamente diagnosticamos em cada um dos tempos-períodos históricos convenientemente distintos, nos chama atenção o fato de que, ao olharmos para o mundo indagando de que ordem seria a relação que com ele estabelecemos, em diversos aspectos, nos parece escapar determinada questão capaz de problematizar o vetor primeiro destas relações, isto é, ao passo que se problematiza, se compreende e se caracteriza o mundo – as relações nele estabelecidas –, escapa-nos a compreensão acerca de que humano é este que, no mundo, é capaz de estabelecer determinadas relações que, por exemplo, se configuram na contemporaneidade enquanto pós-modernas? Nesse sentido, estabelecendo um debate com a filosofia, o que propomos é justamente a problematização acerca da, aqui denominada, condição humana. Isto é, partindo de Pascal, acreditamos que nos é possível dimensionar o que implica o humano no mundo que seria comum a cada um dos períodos anteriormente citados: seja na Modernidade, na Pós-modernidade ou na Idade Média, há algo de específico que move o humano a se relacionar com as coisas no mundo. Pois, no presente trabalho, reivindicamos uma interpretação que segue especificamente o que nos apontam alguns filósofos, tais como Pascal, Husserl, Svendsen, acerca do que nos permite compreender a relação que o humano estabelece com a vida, na realização das ações cotidianas de caráter efêmero e, de mesmo modo, com o desconhecido, naquilo em que se inseririam tais ações, o universal. Por exemplo, o que nos interessa é a compreensão de Pascal acerca do modo como as ações, os fazeres humanos – e neles, o tédio e o divertimento – se articulam, associados em um mecanismo tal que configuraria o motor próprio das ações humanas no mundo, principalmente, o que é objeto desta reflexão: a dinâmica tédio-divertimento enquanto motor à prática do lazer.