@atleta_de_peso e ativismo pela inclusão de pessoas gordas na Educação Física e no esporte
Por Julianne Caju de Oliveira Souza Moraes (Autor), Luciana Venâncio (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Partimos do pressuposto de que a gordofobia é estrutural nas sociedades contemporâneas, reverberando na educação física (EF) e no esporte. A mídia contemporânea baseada na web tem sido um espaço privilegiado para ativistas gordos/as lidarem com a discriminação, reforçar a solidariedade e afirmar sua identidade estigmatizada (Ashdown-Franks; Joseph, 2021, Martins; Carrera, 2020; Webb et al., 2017). Nos últimos anos, nos contextos nacional e internacional, foram produzidos estudos que examinam o corpo gordo, bem como o feminismo negro nas mídias sociais e plataformas digitais (Ashdown-Franks; Joseph, 2021; Lima; Silva, 2021; Martins; Carrera, 2020; Mendonça, 2019; Piedra; Varea, 2023; Pilger; Habckost; Rosário, 2022; Rodrigues; Pereira, 2022; Webb et al. 2017). No entanto, pesquisas que examinam o ativismo digital em relação a inclusão dos corpos gordos no esporte ou na Educação Física (EF) são mais raras. A motivação para a pesquisa surgiu quando assistimos uma reportagem em um programa televisivo esportivo sobre Ellen Valias (Globo Esporte, 2022), uma mulher preta, gorda e atleta amadora. Ela tem um perfil no Instagram (@atleta_de_peso) e busca incentivar pessoas gordas às práticas esportivas. Com base no exposto, perguntamos: Como Ellen constrói seu discurso em defesa da inclusão do corpo gordo na EF e no esporte no Instagram? Quais são as marcas da interseccionalidade em seu discurso? Objetivo: Analisar os discursos de uma mulher, atleta amadora, preta, gorda e ativista pela inclusão de pessoas com corpo gordo na EF e no esporte no Instagram. Metodologia: A abordagem desta pesquisa é qualitativa, trata-se de um estudo de caso, que analisou 10 postagens da atleta no Instagram por meio da análise do discurso e das categorias da interseccionalidade. A interseccionalidade é uma abordagem sociológica para entender a vida e o comportamento humano enraizados nas experiências e lutas de pessoas privadas de direitos. Não é um simples método de investigação, mas uma práxis que auxilia no empoderamento de indivíduos e comunidades (Collins; Bilge, 2021). Na análise de discurso buscamos identificar as principais categorias da interseccionalidade. Resultados: Os discursos da Ellen extraídos de suas postagens no Instagram foram agrupados em três temáticas principais: 1) gordofobia, outras opressões e ativismo; 2) gordofobia na EF e nos esportes; 3) inclusão e representatividade de pessoas gordas no esporte. Os discursos analisados combatem a gordofobia e outras formas de opressão (gênero, raça, classe social e capacidade), apresentam exemplos de inclusão e representatividade de pessoas gordas na prática esportiva, buscando reforçar a mensagem de que “o corpo gordo sempre foi capaz”. Seu ativismo transcende as telas, ela se engaja em comunidades, eventos e grupos de práticas esportivas e corporais acolhedores e inclusivos e convida seus seguidores para participar. Conclusão: A atleta desenvolve uma práxis engajada e emancipatória, que reconhece e valoriza os saberes estético/corporais das pessoas gordas. Ela não apenas critica e denuncia as injustiças sociais, mas também busca anunciar estratégias de ação para a mudança social. Tal como Ellen, defendemos a necessidade de criação de ambientes educativos e esportivos inclusivos para todos os tamanhos/corpos, com abordagens descolonizantes, acolhedoras e socialmente justas.