Resumo
Partindo da premissa de que a prática esportiva da população brasileira pode ser de grande utilidade para ampliar nossa compreensão histórica, não só acerca do esporte brasileiro, como também da estrutura sociocultural de uma época além de entender que temos deixado persistir uma grande lacuna em nossos estudos históricos, esta pesquisa teve por objetivo compreender as peculiaridades do esporte no contexto sociocultural do Rio de Janeiro entre os anos de 1849 e 1903. O propósito central foi identificar a apreensão do campo esportivo (sentidos e significados) pelas diversas camadas sociais, bem como compreender as relações entre as diversas representações ligadas aos diferentes grupos envolvidos. Especificamente, esteve-se preocupado em compreender as relações ligadas à classe social (camadas populares e elites) e á perspectiva de gênero. A hipótese central foi que a apreensão do fenômeno esportivo no Brasil não ocorreu de forma homogênea, nem tampouco seu desenvolvimento deu-se da mesma forma do que na realidade européia, local de surgimento do esporte moderno. O Rio de Janeiro foi escolhido devido a sua importância no cenário nacional da época, já que era sede do governo e principal porto de entrada do País. No que se refere ao conceito de esporte utilizado, optou-se pela compreensão de Pierre Bourdieu (1983). O turfe e o remo foram os esportes elencados, por terem sido os primeiros a se desenvolverem na cidade, destacando-se pela organização do calendário de competição e dos clubes, por rapidamente gerarem um corpo técnico especializado, pelo desenvolvimento de um mercado ao seu redor e pela popularidade que obtiveram. Para alcance do objetivo, esta pesquisa histórica esteve inspirada pelas proposições teóricas de Edward Palmer Thompson (1981, 1987) e de Carlo Ginzburg (1987,1991). As fontes utilizadas foram de natureza diversa: desde jornais da época até documentos armazenados em arquivos; iconografias do Rio de Janeiro e crônicas de autores diversos; estudos sobre a história do Rio de Janeiro, inclusive de memorialistas.
