Integra

Este estudo é parte integrante da monografia de fim de curso da Licenciatura em Educação Física da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar de estarmos na fase de revisão bibliográfica, e nos preparando para ir a campo coletar nossas entrevistas, optamos por apresentar a nossa proposta de trabalho. Compreendemos que este evento, sendo relacionado à educação física escolar prioritariamente, possibilitará a conclusão de todo o ciclo do trabalho, onde poderei numa próxima edição apresentar os resultados finais de nosso estudo.

Entendemos que a Educação Física, enquanto área de conhecimento, tem como especificidade tratar dos temas da cultura corporal de movimento (BETTI, 1994). E pensamos, apoiados também em Betti (1992), que a educação física escolar tem "a função pedagógica de introduzir o aluno de 1° e 2° graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as culturas da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica ...)" (p.285).

Percebemos a importância da educação física no que se refere à amplitude e a variedade de conteúdos / conhecimentos, e ficamos curiosos em compreender o porquê de Betti, ao descrever a função da educação física não acrescentar a educação infantil.

Este fato despertou-nos o interesse de ir a fundo na questão da compreensão da prática pedagógica em educação física no contexto escolar em Educação Infantil. Interessamos por compreender de que forma o professor de Educação Física contextualiza, pensa e atua neste segmento.

BUSCANDO UMA POSSÍVEL CONTEXTUALIZAÇÃO

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o Ministério da Educação e Cultura (MEC), elabora os Parâmetros Curriculares Nacionais. Preocupados com as reformas educacionais, os novos rumos da educação e sua adaptação às mudanças econômicas e sociais pelas quais passava o Brasil, este documento propôs orientações gerais sobre o básico a ser ensinado e aprendido em cada ciclo da Educação Básica, orientando o planejamento escolar e as ações de reorganização do currículo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais auxiliam o professor na tarefa de reflexão e discussão de aspectos do cotidiano da prática pedagógica (MEC, 1997).
Em relação à Educação Física os conteúdos/conhecimentos a serem ministrados são: a) esportes, jogos, lutas e ginástica; b) atividades rítmicas e expressivas: c) conhecimento sobre o corpo. Os blocos de conteúdos definem as práticas corporais e os objetivos para cada uma delas (PCN, 1997).

Além destes conteúdos os Parâmetros Curriculares Nacionais recomendam a aplicação de temas transversais que envolverão todas as disciplinas no ensino fundamental. Os temas transversais são: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual e Pluralidade Cultural.

No que tange a Educação Infantil, temos o Referencial Curricular Nacional, que integra a série de documentos dos Parâmetros Curriculares Nacional elaborados pelo Ministério da Educação, e que foi concebido numa tentativa de buscar soluções para a superação das tradições assistencialista, compensatória e preparatória tão marcantes na historia da educação infantil.

A intenção do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é servir como um guia de reflexão educacional sobre a prática pedagógica dos profissionais e, também, como um suporte para discussões entre os profissionais de um mesmo sistema de ensino, para que possamos atingir a melhoria da qualidade do ensino e possibilitar a promoção e ampliação das condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras (RCNEI, 1998).

Os objetivos gerais para a Educação Infantil, segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil são: 1) desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; 2) descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; 3) estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; 4) estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; 5) observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; 6) brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; 7) utilizar diferentes linguagens ( corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos a avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; 8) conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade.

A formação pessoal e social refere-se às experiências que favoreçam, prioritariamente, a construção do sujeito e trabalha visando à construção da identidade e autonomia.

Este âmbito de experiência está organizando de forma a explicar as complexas questões que envolvem o desenvolvimento de capacidades de natureza global e afetiva das crianças, seus esquemas simbólicos de interação com os outros e com o meio, assim como a relação consigo mesmas, para que sejam capazes de atitudes básicas de aceitação, respeito e confiança.

Entendemos que tanto uma intervenção pedagógica em educação física embasada numa perspectiva desenvolvimentista, ou construtivista, ou com base na psicomotricidade, ou baseada na questão da cultura corporal de movimentos podem contemplar os objetivos gerais do documento. Como poderia atuar o professor se for pensar apenas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil?

A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

A atuação da Educação Física em relação à Educação Infantil é relativamente recente e, muita das vezes, apesar da estar nos termos da lei, essa prática pedagógica ainda não recebe a merecida atenção. Não seria um absurdo especular que em muitas escolas do município não temos aulas de Educação Física para a Educação Infantil com professores de Educação Física.

Isto pode ser reflexo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que estabeleceu à pouco tempo a obrigatoriedade da disciplina de Educação Física no ensino básico (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), como pode ser por um entendimento equivocado com relação ao conceito de Educação Básica, excluindo a Educação Infantil deste.

Apesar do crescimento da produção acadêmica em nossa área relacionada a este concordamos com Sayão (2002), que assinala que a produção teórica da educação física para a faixa etária de zero a seis anos e suas intersecções com os espaços educativos como creches e pré-escolas é carente de pesquisas e estudos específicos.

Ressaltamos a importância da necessidade de produção acadêmica dos professores que atuam neste segmento, enfatizando que apenas com a (re)construção e transformação dos conhecimentos / conteúdos, com a troca de experiências é que caminharemos em direção a uma educação significativa para os alunos. Estamos confirmando com isso a nossa posição de que o professor não deveria estar atrelando a sua prática pedagógica fundamentando-se apenas em determinada concepção de ensino, e não realizando leituras de sua realidade. É a partir dessa leitura da realidade que novas produções teóricas, novas intervenções pedagógicas, enfim novas práxis pedagógica serão construídas.

Com isso, não estamos defendendo o desuso do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, apenas defendemos a construção de práxis pedagógicas significativas para a educação física no segmento da educação infantil em que o documento seja apoio e não regra.

AS INTENÇÕES DO NOSSO ESTUDO

Este estudo busca compreender quais as concepções são utilizadas pelos professores de educação física a partir da análise das práticas pedagógicas utilizadas e das entrevistas no segmento da educação infantil. Buscaremos também catalogar as principais concepções que embasam as práticas pedagógicas dos professores de educação física na educação infantil.

Nossa pesquisa delimita-se a escolas de educação infantil, e mais especificamente, aos professores dessas escolas situadas no bairro de Icaraí, município de Niterói.

A princípio foram catalogadas trinta escolas de educação infantil, no entanto, desde já somos sabedores que não atuaremos com todas estas instituições. Entendo que a monografia é o meu primeiro trabalho acadêmico, portanto, meu primeiro contato com a construção de uma pesquisa. Apesar de ainda não ter definido o número de escolas, estamos seduzidos a trabalhar com um terço do montante, ou seja, dez escolas e com seus professores de Educação Física. Estamos cientes de que em cada pode haver mais de um professor, aumentando assim o número de entrevistas a serem desenvolvidas.

O objetivo de nosso estudo foi impulsionado pela necessidade de identificar as características e as concepções de ensino que permeiam à prática da Educação Física na visão dos professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Optamos por realizar uma pesquisa do tipo etnográfico. Entendemos que com essa prática poderemos a partir de "um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permitir reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar" (ANDRE, 1995, p.41).

Entendemos que a pesquisa do tipo etnográfica pode contribuir para um melhor conhecimento das escolas e de suas práticas, uma vez que amplia o nosso olhar sobre esta, ou nas palavras de André (1995)

"significa colocar uma lente de aumento na dinâmica das relações e interações que constituem o seu dia-a-dia, apreendendo as forças que impulsionam ou que retêm, identificando as estruturas de poder e os modos de organização do trabalho escolar e compreendendo o papel e a atuação de cada sujeito nesse complexo interacional onde ações, relações, conteúdos são construídos, negados, reconstruídos e modificados" (p.41).

Nosso contato com as práticas pedagógicas de educação física em educação infantil poderá apresentar condições de entender o como cada professor desenvolve a sua prática, e também, como as relações no contexto escolar configuram a atuação deste professor. Podemos ilustrar esta parte, para melhor entendimento, ao supor que uma coordenadora pedagógica ou o projeto pedagógico da escola norteie a prática pedagógica do professor de educação física para a construção e reconstrução de brinquedos e brincadeiras populares, ou da compreensão do seu esquema corporal.

Outro ponto que nos aproximou da pesquisa do tipo etnográfica é a preocupação com o significado, com a maneira como cada pessoa se representa, como se vê, como enxerga a sua prática, as suas experiências e a sua realidade.

Partindo deste princípio é que pensamos algumas questões para nortear o nosso roteiro de entrevistas. Pensamos em trabalhar as seguintes questões: 1) para que serve as aulas de educação física na educação infantil; 2)qual o conteúdo/conhecimento trabalhado; 3)você consegue relacionar a sua prática pedagógica a alguma concepção de educação física e/ou utiliza algum autor da área como referência.

Esperamos apresentar num outro momento as conclusões de nosso trabalho.

Obs. A autora, acadêmica Tatiane Schietti Rodrigues (tatischietti@yahoo.com.br foi orientada pelo professor Felipe Rocha dos Santos, ambos do ANIMA/UFRJ

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  •  ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas, SP: Papirus, 1995.
  • BETTI, Mauro. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Maringá, vol. 13, n.2, 1992.
  • ________ .Valores e finalidades na educação física escolar: uma concepção sistêmica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Santa Maria, vol. 16, n.1, 1994.
  • BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
  • . Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume: 1, 2, 3. Brasília: MEC/SEF, 1998.