Governo, subjetividade e técnicas de si: a produção da ética docente no Currículo Cultural de Educação Física
Por Guilherme Marino Zanini (Autor), Mario Nunes (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Esse resumo parte dos desdobramentos do anterior trabalho de conclusão de curso, em que pude confrontar os regimes narrativos produzidos nos relatos de práticas pedagógicas de docentes vinculados ao Currículo Cultural de Educação Física (CC), e assim mapear diferentes forças presentes no exercício do relatar, dentre elas a da performatividade neoliberal, como também da performatividade artística, literária e metafórica, forças de diferentes ordens que se efetivam e tornam-se possíveis dentro da posição de sujeito e das técnicas de si exercidas pelos docentes do CC.
Indico, portanto, meu atual problema de pesquisa de Mestrado, delineado pelos modos de governo e subjetivação do docente vinculado ao CC, e portanto os modos desse docente relacionar-se consigo mesmo, ou então as técnicas de si que exercem para tornarem-se sujeitos do CC, em vias de produção de uma ética docente.
Tal problema só pode ser possível dentro dos conceitos produzidos pelo filósofo Michel Foucault, cujos estudos estiveram centrados nas questões da formação do sujeito atravessado por regimes de “saber”, “poder” e “governo”. Tais conceitos demonstram o movimento da “filosofia do sujeito” do próprio filósofo, sendo o sujeito formado em tramas discursivas que dependem do embate em torno da definição da verdade dos saberes, assim como essas tramas se dão nas relações entre os sujeitos, denominadas relações de poder, cujo a função está na possibilidade de conduzir a conduta do outro ou agir no campo de ação possível do outro e de si mesmo. Quanto ao governo, seria a maneira a qual, o sujeito localizado nas tramas de saber-poder produz uma experiência de si sobre si mesmo ou como o sujeito pode produzir uma verdade de si mesmo através do discurso que investe e o veste. Investe, pois o sujeito produz a si mesmo de modo a conduzir-se de determinadas maneiras a efetivar a si mesmo como sujeito x ou y, sendo assim, é constrangido a atuar de determinadas formas organizadas pelas tramas de saber-poder, se assujeitando, estando sujeito e, portanto, vestido pela posição que assume. Frente ao exposto, apresento neste trabalho um deslocamento da noção de “regimes de narratividade” para “técnicas de si”. Tal deslocamento nos tensiona a tratar da experiência possível do sujeito consigo mesmo condicionada pela relação que se estabelece entre o eu-docente, o discurso CC e a produção da prática pedagógica, com ênfase na questão da subjetividade docente efetivada nesse processo, seu governo. Dessa maneira, o trato da pesquisa estará vinculado a ética como terreno de investigação subjetiva, na medida em que o exercício de relatar ou narrar a prática pedagógica passa pela relação que o docente tem de si consigo mesmo ao posicionar-se na trama de saber-poder, ou se quisermos de governo, organizadas no e pelo CC, dando vasão a pergunta: Para o docente, quais exercícios éticos são possíveis no CC?. Para cumprir com o proposto, utilizaremos a análise de relatos de prática pedagógica e entrevistas narrativas em sua vertente pós-estruturalista, sendo possível investigar a ética vinculada às técnicas de si do relatar-se e narrar-se a si mesmo.