O currículo cultural da Educação Física no Novo Ensino Médio: experiências colaborativas na rede estadual paulista
Por Marcos Garcia Neira (Autor), Mario Luiz Ferrari Nunes (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
O debate curricular vivenciado pela Educação desde os anos 1990 tem tido pouca influência nos currículos do Ensino Médio, principalmente na Educação Física. Estudos recentes indicam que ainda prevalece um modelo de ensino ultrapassado e distante da atual função social da escola, ignorando tanto as demandas da sociedade globalizada e multicultural como a integração desse componente à área de Linguagens e suas Tecnologias. Enquanto isso, em busca de um maior alinhamento com as demandas contemporâneas, as pesquisas realizadas em instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental produziram a teoria curricular cultural do componente. Centralizado na cultura corporal acessada pela comunidade escolar, o chamado “currículo cultural” (CC) problematiza os modos de regulação que perpassam as práticas corporais, entendidas como textos da cultura passíveis de inúmeras leituras e significações. Muito embora essa perspectiva curricular se faça presente em documentos oficiais como a BNCC e o Currículo Paulista, praticamente pouco se sabe das suas possibilidades no Ensino Médio. Com o intuito de identificar especificidades da teoria curricular cultural quando traduzida no contexto da prática na etapa do Ensino Médio, a presente pesquisa-ação imergiu em três escolas da rede estadual paulista e, de forma colaborativa com seus profissionais e estudantes, vem produzindo experiências curriculares que viabilizam a recriação da proposta, considerando a organização curricular por área e os itinerários formativos. As análises dos registros acumulados desse processo nos dois primeiros anos do estudo, respectivamente 2023 e 2024, mediante o confronto com a teoria curricular cultural da Educação Física, permitem afirmar que: a) a proposta não sofre tensionamentos diante das especificidades do Novo Ensino Médio; b) as características dessa etapa, sobretudo no contexto da atual reforma, exigem bem mais que a simples transposição de uma proposta concebida nos anos iniciais da Educação Básica. c) apesar da imposição de práticas pedagógicas aos docentes por meio de investimentos oficiais em plataformas digitais e iniciativas de formação continuada, estes conseguem operacionalizar os encaminhamentos didático-metodológicos do CC como mapeamento, vivência, leitura, ressignificação, ampliação, aprofundamento, registro e avaliação; d) o trabalho colaborativo entre pesquisadores, professores e estudantes facilita a recriação da proposta, ao mesmo tempo em que demanda constante reflexão e ajustes didático-metodológicos; d) o trabalho com o CC permite maior aproximação com os saberes e demandas dos estudantes; e) o CC favorece o ensino contextualizado e interdisciplinar previsto na área de Linguagens e suas Tecnologias. Em que pese todo o alarde em torno da política curricular vigente, à semelhança do que se percebe nas demais etapas da Educação Básica, os professores participantes do estudo não enfrentam dificuldades para colocar em ação o currículo cultural da Educação Física.