Integra

INTRODUÇÃO:

Observa-se atualmente um considerável interesse em torno das diversas práticas corporais na sociedade contemporânea. O corpo, como em outras épocas, vem sendo objeto de constante investigação por parte das mais diversas ciências. Não poderia deixar de ser diferente na Educação Física, área em que o profissional interage o tempo todo com corpos, nas diferentes perspectivas. Os Cursos de Licenciatura em Educação Física são, por excelência, formadores de professores habilitados para trabalhar em escolas. Sabe-se, contudo, que tais profissionais encaminham-se, também, para o sistema não-formal, como clubes, academias, comunidades, condomínios etc. Torna-se imprescindível, e esses são os objetivos da presente pesquisa, conhecer, em um primeiro momento, a opinião dos professores universitários, disseminadores de conhecimentos acerca do corpo, sobre quais seriam os aspectos mais valorizados do corpo contemporâneo. A partir daí, investigar qual seria o papel do professor de Educação Física perante tal corpo. METODOLOGIA:
Este estudo, de natureza qualitativa, visou o aprofundamento da realidade de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública. Quinze professores participaram dessa pesquisa, o que corresponde a 20% do quadro de docentes efetivos, selecionados a partir de critérios como sexo, idade e disciplinas ministradas. A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semi-estruturada.

RESULTADOS:

a) Quando indagados sobre qual o aspecto mais valorizado no corpo atualmente, a maioria (93,33%) relacionou características associadas à estética, tais como: aparência, padronização de modelos, vaidade, musculatura proeminente, magreza etc. Categorias como qualidade de vida e saúde foram ressaltadas por 20% dos entrevistados tendo surgido associadas ao bem-estar, à maior disposição e à saúde orgânica e mental. Esclarece-se que cada professor pode ter mencionado mais de um aspecto. b) Ao serem questionados sobre qual deveria ser a atuação do professor de Educação Física diante deste corpo, onde aparência e forma sobressaem, 60% dos entrevistados mencionou ações pertinentes ao perfil de agente de saúde, tais como: melhorar a saúde e qualidade de vida do aluno; esclarecer quanto aos benefícios e conseqüências decorrentes da prática de atividade física; alertar para eventuais riscos e exageros relacionados a esta prática, além de destacar que o professor deve ser um modelo para o aluno. Cerca de 30% dos sujeitos destacaram ações pertinentes ao perfil de educador, como por exemplo: interpretar, questionar e discutir determinados discursos de padronização corporal, presentes na mídia; propor espaços para tais reflexões nas aulas; preocupar-se e trabalhar com a singularidade dos alunos e suas diferentes histórias de corpo.

CONCLUSÕES:

Considerou-se surpreendente o fato de os próprios professores de Educação Física pouco terem mencionado os aspectos relacionados à qualidade de vida e saúde, ao se reportarem ao corpo contemporâneo. No entanto, a ação do professor de Educação Física diante da valorização de um corpo essencialmente estético, foi preponderantemente relacionada ao agente de saúde, em uma perspectiva mais informativa do que formativa. Nota-se uma possível contradição, que poderia ser interpretada à luz da história da Educação Física e da maciça incorporação dos paradigmas biológico e técnico na área. Nessa situação estudada, é possível concluir que há uma tendência de os professores de Educação Física universitários pensarem sobre seu papel na sociedade a partir de uma concepção de corpo notadamente biológica, aparentemente desconsiderando os aspectos socioculturais. Sugere-se ampliar o debate em torno da prática do professor de Educação Física diante do corpo contemporâneo, principalmente em cursos de Licenciatura, uma vez que os alunos desses cursos se dirigem a diferentes frentes de trabalho e o professor é, potencialmente, formador de opiniões.