Práticas de apropriação da capoeira e as redes de sentidos compartilhadas pelos italianos
Por André da Silva Mello (Autor), Alexandre Freitas Marchiori (Autor), Fabio Luiz Loureiro (Autor).
Resumo
Analisa as práticas de apropriação da capoeira operadas por capoeiristas do Grupo de Capoeira Beribazu de Vicenza/Itália. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza descritivo-interpretativa, realizada com capoeiristas italianos. Os dados foram produzidos por meio de grupo focal, com oito praticantes, e da observação participante em locais onde o grupo desenvolve os seus trabalhos e atividades cotidianas. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo. Resultados e discussão: Para os italianos, o significado de grupo corresponde a um espaço em que seus praticantes compartilham amor, afeto, respeito e vida em família, no sentido amplo das palavras. Eles cooperam para o sucesso do coletivo, empenham-se no desenvolvimento da cultura a qual foram apresentados e já não se consideram mais estrangeiros em relação a essa manifestação popular, mas capoeiristas. Considerações Finais: Há um processo ativo de apropriação cultural, em que a estética da recepção denota formas singulares de conceber e de se relacionar com a capoeira, trazendo novos elementos para ampliar a compreensão dos processos de internacionalização dessa manifestação afro-diaspórica.
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