Editora . Brasil None. 174 páginas.

Sobre

Em agosto de 2021 foi inaugurada a exposição virtual “Reflexões Olímpicas e Dignidade Humana”, que teve como cenário o Movimento Olímpico. A ideia iniciada pelo filósofo Fernando Fontoura originou-se do projeto conduzido pela estudante Carolina Moreno do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (GPEO PUCRS) com o intuito de levantar temas sociais, humanos e esportivos de relevância internacional sobre o esporte e o Movimento Olímpico, o Projeto Reflexões Olímpicas desenvolve entrevistas com personalidades do esporte e do âmbito dos Estudos Olímpicos sobre problemáticas atuais. Com o sucesso da iniciativa e a emergência dos temas propostos, veio o convite ao eMuseu do Esporte para reeditar a parceria de 2020 com o GPEO PUCRS e o Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin (CBPC) em outro projeto1 com a mesma estrutura dividido em duas etapas: (1) Exposição Virtual com a curadoria de Lamartine DaCosta e de Nelson Todt; e (2) Publicação de eBook, que tem como editores Nelson Todt, Ana Miragaya, Fernando Fontoura e Carolina Moreno. Com o nome de “Reflexões Olímpicas e Dignidade Humana” a Exposição Virtual teve o apoio institucional do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A mostra e o eBook contam ainda com o apoio do Comitê Internacional Pierre de Coubertin (CIPC). Para mais além dos importantes envolvimentos institucionais, a participação de 24 importantes personalidades e especialistas das áreas de filosofia e estudos olímpicos, permitiu somar nesta obra 8 países dos 5 continentes, caracterizando seu escopo global. O conteúdo proposto nas duas etapas (exposição e eBook) está em consonância com alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), tais como redução das desigualdades, igualdade de gênero, saúde e bem-estar e paz, justiça e instituições eficazes. O livro acaba abordando as políticas contemporâneas e as relações humanas que englobam todas as camadas de uma sociedade e diante disso, os Jogos Olímpicos não são exceção. É importante considerar também que o esporte imita a vida, assim como as crises sociais também ecoam no ambiente Olímpico, em atletas e em seu entorno. A partir dessa ideia, podemos refletir o quanto o esporte demanda valores que norteiem, por assim dizer, aquela conduta desejável socialmente. O Movimento Olímpico provoca a reflexão sobre dignidade humana em resposta à atual crise de valores, contribuindo para o desenvolvimento da igualdade de gênero, bem-estar, paz e redução das desigualdades. Na oportunidade da inauguração da Exposição, que aconteceu durante os Jogos Olímpicos 2020, realizados em Tóquio, Lamartine DaCosta, curador do eMuseu do Esporte, considerou o projeto “Reflexões Olímpicas e Dignidade Humana” uma mudança de rumo nas interpretações do esporte na atualidade e, ao se associar aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com órgãos das Nações Unidas, abrem-se perspectivas globais e de maior impacto para a construção de um esporte do futuro, mantendo-se respeito ao passado e aos temas de alta sensibilidade do presente. Na perspectiva da diretora do UNIC Rio, Kimberly Mann, o esporte é um modelo de trabalho em equipe e um motor de crescimento econômico para toda a sociedade. É possível usar este poder para construir pontes de amizade e coexistência, promover estilos de vida saudáveis e avançar nosso trabalho para alcançar um desenvolvimento sustentável e inclusivo até 2030. É neste contexto então que nesta obra, tal como na exposição do eMuseu do Esporte, os temas foram escolhidos e organizados a partir de 4 categorias: Liberdade de Expressão, Esporte e Valores, Refugiados e Intersexualidade. Estas categorias aparecem distribuídas nos 4 capítulos do livro, nesta ordem, totalizando 19 textos. Iniciando o capítulo sobre Liberdade de Expressão, Cecilia Bollada e Daniel de la Cueva discutem desde uma perspectiva política, social e jurídica como a liberdade de expressão dos atletas e a pausa sanitária decorrente da Covid-19, desafiaram e obrigaram, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e sua Comissão de Atletas a (re)considerar a Regra 50 da Carta Olímpica. Nesta mesma direção, Yoav Dubinski aponta como as lutas internas pela justiça social nos Estados Unidos se manifestaram internacionalmente, moldando o Movimento Olímpico à um ponto em que o COI precisava ajustar as suas políticas e a Carta Olímpica para tentar manter o campo de jogo politicamente neutro. Angela Schneider, aborda a “Ética do Cuidado” e sustenta que atletas foram responsabilizados e punidos pelo uso de substâncias de aumento de desempenho, mesmo que fizessem parte de um sistema que tornava o doping uma exigência para sua participação nos Jogos Olímpicos, reforçando assim, a ideia de que os atletas merecem uma palavra no esporte porque são uma parte fundamental do esporte. Ana Miragaya e Lamartine DaCosta abrem o segundo capítulo sobre o tema de Esporte e Valores provocando uma discussão dos ODSs a partir de uma perspectiva esportiva, incluindo, o tema dos valores e o sentido da dignidade humana. Sobre a questão dos valores, Fernando Fontoura considera fundamental a pedagogia moral de Pierre de Coubertin, encontrada também no “seu” Olimpismo. Este texto traz uma perspectiva filosófica sobre os valores, delineando de forma muito geral e abrangente essa questão tão crucial em sua proposta de um aperfeiçoamento moral para o indivíduo através do esporte. Já Hilla Davidov nos lembra que Pierre de Coubertin insistia na ideia de que os Jogos Olímpicos deveriam ser mais que um mero evento quadrienal. Em outras palavras: fazer do Olimpismo como um modo de vida e uma linguagem comum de valores universais. Ainda em uma perspectiva pedagógica, Susannah Stevens e Ian Culpan nos provocam a pensar que para maximizar seu potencial educativo e social, o esporte precisa ser conceituado como um empreendimento ético e moral, fortificado com valores que fomentam as excelências humanas. Diego Lerina e Otávio Tavares trazem um olhar polissêmico do esporte contemporâneo, examinando criticamente as condições de possibilidade da identidade e unidade do esporte como objeto e prática baseadas nas ferramentas do pensamento de Wittgenstein. Em uma perspectiva mais atitudinal, Ricardo Saldanha fala sobre o comportamento de jovens praticantes de esportes no contexto da inclusão social e, alinhado a outros textos deste capítulo, ressalta o papel fundamental do professor para a criação de um ambiente adequado para o desenvolvimento moral destes jovens. Com uma abordagem de natureza igualitária e inclusiva, Bianca Pena e Lamartine DaCosta falam da experiência do eMuseu do Esporte, entidade museológica digital que assume um ensaio pioneiro do padrão Metaverso, avanço tecnológico que simula a participação múltipla, diversificada e interativa de pessoas em variadas atividades, agora incluindo o esporte. Deste outra temática, considerando a emergência do tema do eSport, em especial após a inclusão de competições no ambiente digital com a organização da primeira edição da ‘Olympic Virtual Series’, Leonardo Mataruna e Andressa Mataruna enfocam em seu texto o jogo ‘Zwift’ como plataforma para uma Educação Olímpica e promoção para a paz. Não há dúvidas que o tema de valores e esporte já representam um tema de longa tradição no campo olímpico, porém, tem sido através dos Refugiados que a questão tem ganhado uma maior visibilidade no âmbito humanitário. John Dorber considera que a criação da Equipe Olímpica de Refugiados pode ser vista como uma poderosa declaração do compromisso olímpico com a participação universal no esporte. O autor examina quais impactos mais amplos podem ser imaginados na aplicação desses valores a populações historicamente sub-representadas no esporte, especificamente os refugiados. Nesta mesma linha, Leonardo Cunha refere que o Movimento Olímpico, ao promover a dignidade humana enviando uma mensagem de esperança e solidariedade para as mais de 82 milhões de pessoas forçadas ao deslocamento no mundo, através de gestos simbólicos, pode ter um efeito catalítico e tocar intrinsecamente ‘a alma’ de várias pessoas. Estes números justificam também os argumentos de Miguel Pachioni ao referir que muitos refugiados também somam às sociedades anfitriãs seu conhecimento, experiência, resiliência e comprometimento. Também é abordado que a lógica do esporte não se limita só aos resultados, incorporando em sua prática o verdadeiro espírito de competição para superar as inúmeras barreiras presentes na vida humana. Em uma abordagem mais filosófica, Renata de Sousa nos leva a perspectivas positivas ou pessimistas acerca da natureza humana, trazendo para a discussão a atual crise dos refugiados, dimensionando o poder da sua representatividade nos Jogos Olímpicos e discutindo a responsabilidade internacional por esse problema. Rita Nunes encerra este capítulo somando-se aos autores que lhe antecederam, considerando que o esporte é uma ferramenta que pode ser utilizada para facilitar a integração do refugiado e um elemento de coesão com a comunidade de acolhimento. Afirma ainda que é, sem dúvida, uma forma de colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento e da paz. O último tema do livro trata sobre a Intersexualidade. Seguramente há diferentes formas de entender a intersexualidade e esta é justamente a característica que se destaca nos textos deste capítulo. Para Barbara Pires há controvérsia na relação Intersexualidade e Movimento Olímpico. Em seu texto refere que a regulação esportiva da feminilidade afetou, ao longo da história do Movimento Olímpico, atletas com variações de intersexualidade. A autora destaca ainda que a competição atlética para celebrar as diferenças entre povos e nações, precisa nortear com dignidade a inclusão esportiva que essas atletas merecem no mundo esportivo contemporâneo. Em um tom igualmente questionador, Ellen Correia indaga: “o que nos define enquanto homens ou mulheres?”. Através desta pergunta aponta que não há como justificar a verificação de gênero no esporte, pois os corpos são interpretados através de uma construção sócio-histórica e o método utilizado considera apenas fatores biológicos, mostrando-se arbitrário para definir a identidade de gênero dos atletas. Desde um outro ângulo Wagner de Camargo provoca uma importante reflexão sobre a visibilidade e representatividade de atletas de atletas LGBTQIA+ na trajetória do esporte olímpico contemporâneo, na direção de pensar os sentidos de humanidade no esporte de alto nível de base olímpica e suas lógicas de exequibilidade. Com estes temas dispostos nesta nova iniciativa do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, só me resta agradecer aos autores que gentilmente emprestaram seu tempo, dedicação e conhecimento para este importante trabalho que representa seguramente um marco nos Estudos Olímpicos. Os agradecimentos são extensivos ao eMuseu do Esporte, através da gerente Bianca Pena e toda sua equipe. Minha gratidão aos dois membros de excelência do CBPC, Lamartine DaCosta e Ana Miragaya pelo apoio constante. Cabe destacar também o trabalho incansável do time do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS, em especial, a Carolina Moreno, Christian Kern e Fernando Fontoura. Finalizo destacando a data de lançamento deste livro, que coincide com a data de nascimento de Pierre de Coubertin (1º de janeiro de 1863), grande nome do Olimpismo e esporte moderno.

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