Resumo

A inclusão do ensino da história e cultura da diversidade racial e étnica brasileira é uma antiga demanda dos movimentos sociais, especialmente das populações negra e indígena. Essa solicitação resultou na criação das Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornaram obrigatório o ensino dessas temáticas na educação básica, abrangendo escolas públicas e particulares no Brasil, com o objetivo de resistir ao apagamento e à construção estereotipada e fetichista de seus corpos e culturas no ambiente escolar. Na trajetória histórica da Educação Física, desde suas origens militares e médicas até a transição para um enfoque mais voltado para a saúde e o desenvolvimento humano, houve uma tentativa de manter os vínculos com aspectos produtivos e nacionalistas, os quais não levavam em conta as reivindicações dessas populações. No entanto, com o surgimento das teorias críticas nessa área, emergiu o Currículo Cultural da Educação Física. Pautado na diferença, em seu viés pós-estrutural, tal perspectiva curricular pode favorecer o debate das relações étnico-raciais ao tematizar os sentidos e significados contidos nas práticas corporais, e não apenas na sua reprodução, conforme anunciado em seus princípios étnico-políticos e encaminhamentos didáticos que apoiam o trabalho docente. Nesse contexto, o trabalho em questão visa analisar como o essa proposta contribui para descolonizar o ensino da Educação Física no Ensino Médio, especialmente, considerando a predominância de práticas corporais de grupos hegemônicos e a perspectiva de formação técnico-profissional e de racionalidade liberal de bem-estar e vida sobre a juventude brasileira, que vem sendo promovida nas reformas nesse nível de ensino. Tal análise é apoiada nas teorias pós-coloniais, que questionam a estabilidade das configurações de poder e as contribuições dos grupos através do conceito de hibridização de Stuart Hall, e nas teorias decoloniais, que, por meio de seus conceitos — colonialidade do poder, colonialidade do saber e colonialidade do ser — questionam a subalternização epistemológica e dos sujeitos aos modos de vida ocidental. A pesquisa pretende demonstrar, por meio da leitura de relatos de experiências, entrevistas narrativas com professores do Ensino Médio e da análise de trabalhos científicos sobre as relações étnico-raciais na Educação Física, os significados presentes nas práticas docentes que integram a Educação Física com as temáticas étnico-raciais. Além disso, busca-se investigar como a prática do Currículo Cultural da Educação Física proporciona condições tanto para a validação das práticas corporais e modos de vida dessas culturas historicamente silenciadas no currículo escolar de Educação Física, como construir representações positivas acerca deles, contribuindo para o aprofundamento dessa discussão na área.

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