Resumo

Este trabalho parte da crise de disjunção do conhecimento que vivemos, para uma reflexão a partir da religação do corpo em movimento com o saber que pretendemos adquirir durante a vida e sobre a vida. Essa crise atinge profundamente a Educação Física, pois sendo uma área que se dedica à relação do ser humano com o movimento, ela perde suas referências quando não encontra fundamentos que unam o ser, com os outros seres, e com seu ambiente, mecanizando e dividindo-o em partes para conhecê-lo. A escalada, nesse contexto, é uma prática esportiva que recentemente ganhou adeptos e mostrou-se, na experiência do pesquisador, uma possibilidade de estabelecer uma união entre o ser bio-antropo-social. O pensamento complexo de Edgar Morin foi a linha mestre que teceu o conhecimento sobre a escalada apresentando-a em sua particularidade e multiplicidade reorganizadora do ser humano no ambiente vertical. A Epistemologia Qualitativa de Gonzalez Rey, por sua vez, permitiu verificar como esse reencontro se processava para um grupo de estudantes do ensino fundamental, que tiveram a oportunidade de vivenciar a prática da escalada na escola e em rocha. A partir das experiências vividas pelos sujeitos e das interpretações do pesquisador na pesquisa de campo, foi possível compreender que: a escalada é construída diariamente pelos seus praticantes, não estando presa exclusivamente à regras inflexíveis e universais; ela é uma prática interdisciplinar, pois ocorre necessariamente num ambiente imprevisível, arriscado e de relacionamento humano, sendo sempre um problema a resolver; ela também proporciona um conhecimento sobre o ser e o mundo, desde sua porção microscópica até a macroscópica, fornecendo abertura para uma visão planetária da vida. A escalada associa o movimento às relações auto, eco, feno, geno, re, organizacionais, isto é, do ser com si mesmo, com o meio ambiente, com as relações entre seres, com as relações biológicas de si mesmo, com a renovação de si e com a organização a partir do diálogo entre a ordem e a desordem. Todas essas relações podem dar algum sentido à existência dos escaladores, ou então proporcionar, nos momentos de ascensão, uma existência significativa que ganha valor pelo enfrentamento dos riscos inerentes a prática.

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